Pronunciamentos

REPRESENTANTES DAS MULHERES DE MINAS GERAIS

Discurso

Pronunciamentos das representantes das diversidades das mulheres de Minas Gerais, na "Plenária Sempre Vivas 2022 - A importância da representatividade das mulheres na política".
Reunião 2ª reunião ESPECIAL
Legislatura 19ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 01/06/2022
Página 14, Coluna 1
Evento Sempre Vivas - Mulheres e Política: por representatividade, justiça e respeito
Assunto ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MINAS GERAIS (ALMG). EVENTO. MULHER.
Observação Participantes: Ãgohó Pataxó Hã-Hã-Hãe, Alessandra Martins Cordeiro, Aline Ris, Ana Maria, Ana Paula Lemes de Souza, Arlete Alves de Almeida, Bárbara Ravena, Bruna Camilo, Carmen Teixeira Soares e Lima, Makota Celinha Gonçalves, Claudilene da Costa Ramalho, Cleide Maria Santos Vieira, Cláudia Maciel Ferreira, Daisy Ferrarezi Moura, Denise de Paula Romano, Dirlene Marques, Edwiges, Lemmp, Elivânia Felícia Braz, Valéria Morato, Elza Melo, Fernanda Fernandes, Francielly Vieira Cabral, Gilsa Santos, Grazielle Mendes, Hannah Abranches, Helen Perrella, Iara Pimentel, Isabel Cristina de Lima Lisboa, Maria Helena Fornoga dos Santos, Isaura Madalena, Melissa Maria, Jade, Joana Maria de Jesus Villela, Joeliza Aparecida de Brito Almeida, Juliana Normand, Karina, Morais, Maria Florguerreira, Keila Jacqueline, Laíssa Gomes de Miranda, Leiliane Laura de Almeida, Letícia Imperatriz, Andréia Lucienne, Maria das Graças do Valle Librelon, Maria Zilah de Mattos, Marlene Geraizeira, Maria Consentino, Marcela Viana, Márcia Araújo, Maria Edna Fernandes, Maria Rita Ornelas Murta, Marina Dias Nunes, Marli Beraldo, Miriam Aprigio, Suzana Villas, Bôas Micska, Neila Batista, Patrícia Queirós, Paula Rita Bacellar Gonzaga, Rafaela Cunha Sena, Solange Simões, Thaís Cláudia D'Afonseca, Valéria Carneiro, Waldicéia Reis, Yany Mabel, Rita

2ª REUNIÃO ESPECIAL DA 4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 19ª LEGISLATURA, EM 27/5/2022

Palavras das Representantes das Mulheres de Minas Gerais

A presidente – Vamos chamar a nossa primeira convidada, Ãgohó Pataxó Hã-Hã-Hãe, mulher, mãe, avó, professora e cacique da aldeia Katurama, de São Joaquim de Bicas.

A Sra. Ãgohó Pataxó Hã-Hã-Hãe – Jeneató(?), jokanas e cacussus(?). Boa tarde, homens e mulheres. Eu sou a cacique Ãgohó. Sou da comunidade Katurama do povo pataxó e pataxó hã-hã-hãe. Vim aqui saudar com gratidão essas mulheres guerreiras, que hoje estão aqui nos representando, nesta Casa, e também saudar cada um de vocês, mulheres, mães, esposas, filhas e avós.

Venho aqui hoje falar da minha demanda como mulher, mãe, mulher indígena e defensora da mãe terra. Hoje habitamos uma área de 36ha, onde as deputadas tiveram o privilégio de nos visitar. Hoje, a gente faz parte, juntamente com a deputada Andreia de Jesus, do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, porque a gente está correndo perigo de vida por defender um território, defender um território onde habitam hoje 34 crianças, 89 adultos, uma área que estava toda sendo devastada por grileiros e mineradoras.

A minha comunidade também sofreu com o crime da Vale, no dia 25/1/2019. Hoje, na minha comunidade, a gente vive debaixo de barracas de lona. A gente ainda não tem o básico, que é a água para as nossas crianças sobreviverem. Eles tiraram de nós o que a gente tinha de mais sagrado, que é o nosso Deus, que é o nosso Txopai, as nossas ervas medicinais, os nossos modos de vida tradicionais. E hoje eu, como cacique daquela comunidade, só luto por uma coisa: eu luto pela educação e pela reconstrução da minha comunidade.

Em meio a essas dificuldades, através das deputadas Beatriz Cerqueira e Andréia de Jesus, a gente conseguiu inaugurar ali, na nossa comunidade, no dia 29 passado, a primeira escola bilíngue da região metropolitana, onde a gente está fazendo o resgate das nossas crianças. Nitxi awery! Muito obrigada.

A presidente – Convidamos agora Alessandra Martins Cordeiro, mulher negra e ativista integrante do Movimento Nacional da População em Situação de Rua.

A Sra. Alessandra Martins Cordeiro – Boa tarde a todos, a todas e a todes. Com grande prazer, estou aqui, hoje, representando várias pessoas que, perante os olhos de muitos, se tornam pessoas invisíveis; são as pessoas que vivem em situação de rua, debaixo de marquises, nas calçadas. Eu falo porque venho desse lugar. Hoje eu estou aqui para poder dar voz a essas mulheres que vivem em situação de rua, às pessoas que vivem em situação de rua. Estou aqui para dizer que a gente não escolheu estar em situação de rua. Muitas vezes, a gente perde o caminho que a vida mostra. Muitos não conseguem encontrar o caminho de volta; eu encontrei. Por isso é que estou aqui dando voz a essas pessoas, para mostrar, para poder falar que a gente só precisa de um apoio, de chances, porque para muitos a vida não sorriu. Muitos perderam esse sorriso, desde nascença. E a gente vai parar nas ruas em busca de soluções para sobreviver. Então eu estou aqui, com grande prazer, para dar voz a tantas mulheres que, para muitos, ainda são tratadas como a minoria. A gente não é mais minoria. Por isso hoje estamos todas aqui reunidas.

A bandeira que eu defendo hoje é a luta por direito à moradia, é a luta por permanência com as suas famílias, o direito de ser mãe, o direito de exercer a maternidade, porque muitas perdem esse direito a partir do momento em que faltam políticas intersetoriais. É isso. Muito obrigada a todos e a todas.

A presidente – As participantes podem ficar à vontade para cumprimentar a Mesa. Vamos convidar agora Aline Risi, escrivã da Polícia Civil do Estado de Minas Gerais, diretora da Confederação Brasileira de Trabalhadores Policiais Civis e assessora do Sindicato dos Servidores da Polícia Civil do Estado de Minas Gerais.

A Sra. Aline Risi – Boa tarde a todas e a todos os presentes nesta plenária maravilhosa, composta só por mulheres. Se Deus quiser, vamos ter muito mais.

Deputada Beatriz Cerqueira, a gente sempre está na luta, não é, Beatriz? Gente, é com muita alegria e imenso senso de responsabilidade que eu venho aqui falar sobre os desafios do trabalho das mulheres dentro das forças de segurança pública. E não é porque somos policiais que sofremos menos violência que as demais mulheres e tampouco sentimos menos o assédio, seja moral, sexual ou outros tipos de agressões.

Para fora das delegacias e dos quartéis, sentimos o peso da desconfiança de uma sociedade que tem dificuldades de aceitar que a mulher tem força para enfrentar a violência urbana e os desafios da segurança pública. E, para dentro dos espaços de trabalho, não é diferente. Diuturnamente temos que provar o nosso valor, inclusive pelas mulheres colegas também policiais. Quando eu estava grávida, condutas que configuravam assédio moral se fizeram presentes em vários momentos da minha vida. As piadinhas e a postura de desconfiança eram rotina, mas foi após o nascimento do meu filho que as cobranças internas não pararam. As consultas de rotina com o meu filho eram pecado mortal para mim, mas para os outros não eram.

Nesta sociedade em que os homens ainda matam suas companheiras e ex-companheiras porque não podem ser contrariados e não aceitam que nós podemos não querer alguma coisa, a todas nós isso é permanente. Portanto, nós temos que ocupar as assembleias legislativas para a luta não parar, temos que ocupar das câmaras ao Congresso Nacional. Então o nosso lugar é na política.

É preciso garantir às mulheres da segurança pública que estão de licença-maternidade escalas de serviço compatíveis com a condição que apresentam, assim como seu retorno à mesma lotação durante os seis meses para a possibilidade de planejamento. Além disso, é preciso capacitar gestores quanto à prevenção do assédio, promover campanhas educativas para todos os servidores.

Bom, eu risquei meu texto quase todo, mas quero agradecer muito. Obrigada pela companhia de todas vocês aqui. Só gostaria de cumprimentar minha mãe e agradecer a ela, que veio me ver: Ângela Risi, que está na plenária. Muito obrigada.

A presidente – Ouviremos agora, de forma remota, a participação da Profa. Ana Maria. (– Pausa.)

A Sra. Ana Maria – Estão me ouvindo? (– Pausa.) Deu para ouvir? (– Pausa.)

A presidente – Sim, Ana. Estamos te ouvindo.

A Sra. Ana Maria – Boa tarde a todas e todos. Eu sou a Profa. Ana Maria e queria dizer que é uma honra estar participando desta plenária. É uma pena que eu ainda não possa estar aí pessoalmente, mas estou aqui e me sinto muito orgulhosa por estar representando o segmento da educação.

Eu queria parabenizar, em especial, a deputada Ana Paula Siqueira por todo empenho e dedicação que ela tem tido com esse evento. É isso aí, viu, Ana Paula? Fico muito feliz em ver sua luta, acompanho-a muito e torço muito por você.

Como estou representando a educação, queria falar um pouco rapidinho dos problemas que afetam a educação, problemas que a gente enfrenta nas escolas. Em primeiro lugar, estão as famílias desestruturadas. Isso é um problema muito sério e, a cada dia, a gente tenta resolver com os pais, com o Cras, com as pessoas. Às vezes, aquelas crianças estão ali, e, quando vamos verificar a situação da família, vemos que é muito, muito, muito triste. Violência e drogas é o que a gente encontra no ambiente escolar, principalmente no turno da noite, com os adolescentes. É um problema muito sério para nós, e nos sentimos um pouco impotentes, porque a cada dia vemos que essa situação da droga está tomando conta e não estamos tendo a ajuda que precisaríamos ter do governo. A gente se sente um pouco abandonada. E, com esse problema da pandemia também, o pessoal está sentindo muita falta; a evasão dos alunos, principalmente do turno da noite, está muito grande.

Então o que eu acho que precisa melhorar na educação: a gente deveria distribuir melhor o dinheiro público para as escolas. Nós, professores, sentimos que estamos muito desamparados. A valorização profissional do professor também é uma situação muito triste pela qual passamos agora mesmo. Eu não estava presente, mas, nas manifestações que os professores têm feito, eles foram agredidos com chutes por guardas-municipais. Eu acho que os governantes deveriam ter um pouquinho mais de respeito com a nossa classe. Eu acho que num professor ou numa professora não se bate nem com uma rosa. As nossas manifestações são de paz, são pacíficas. Não precisava acontecer tanta coisa como tem acontecido. E a (– Inaudível.) educacional não só na conscientização do estudante quanto aos seus direitos. Os estudantes também têm que entender o cumprimento dos seus deveres. É o caso dos alunos que agridem professores. Eu acho que deveria haver uma pena maior para eles.

Gente, é muita coisa que a gente tem que falar, mas eu agradeço muito. Nós estaremos aí nessa luta. Obrigada.

A presidente – Obrigada, Profa. Ana Maria, da Rede Municipal de Belo Horizonte. Convidaremos agora também para participar remotamente a Ana Paula Lemes de Souza, advogada, ambientalista, escritora e doutoranda em direito pela Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ela é do Município de Cambuquira, Sul de Minas, e não está aqui conosco em função de contaminação por Covid.

A Sra. Ana Paula Lemes de Souza – Muito obrigada. Gostaria primeiramente de cumprimentar e parabenizar a deputada Ana Paula Siqueira pelo excelente trabalho e dizer que eu estou muito honrada de estar aqui hoje. Prezadas, é com muita alegria que participo desse “mulherar” hoje aqui, na Assembleia Legislativa de Minas, não apenas com as nossas parlamentares, mas também com tantas mulheres representativas de tantas frentes de luta.

A mulher tem sido definida em termos de falta. No caso, da falta do “falo”, o que lhe tirou o lugar da fala e o direito de ocupar a polis. Mas hoje 77 mulheres ocupam esse lugar de fala e vêm aqui na força de ressonância e de germinação na potência de outras mulheres, porque somos múltiplas, porque somos portadoras do amanhã.

A minha luta, enquanto mulher ambientalista, é contra esse apetite insaciável de mundos que acometeu os homens modernos. Nós nos esquecemos de que nossos corpos pulsam a terra. E essa é uma luta de mulheres pela oikos, pela casa que é o corpo. O ambientalismo não pode se desgarrar enquanto luta pelo território, por todos os seres viventes e por tudo o que flui e está em equilíbrio com a Mãe-Terra. Não à toa o corpo da terra, assim como o corpo das mulheres, têm sido violentado e estuprado. O que se perde é essa raiz ancestral.

A minha luta tem sido por esse líquido amniótico do qual flui a vida, que é a água. Enquanto povo da água que sou, mulher mineira nascida e moradora do Circuito das Águas da Mantiqueira, terra de águas curativas, a minha luta é contra a mercantilização e a mineração de águas. A água, como sangue que flui dentro do nosso corpo, precisa circular, não pode simplesmente ser apropriada por empresas. Considerando que no circuito as águas minerais constituem o elemento identificador principal da população local, popularmente conhecida como povos das águas, venho pedir que a Assembleia Legislativa, na representatividade dos partidos aqui presentes, consideradas as singularidades das suas estâncias hidrominerais, proteja o parque e suas fontes de águas termais e minerais, discutindo uma legislação policêntrica, democrática e sustentável, fundada numa política ambiental de ética biocêntrica. A água é vida, é direito ancestral e não é mercadoria. Muito obrigada a todas aqui presentes por este momento de fala.

A presidente – Obrigada, Ana Paula, defensora das águas de Minas Gerais. Convidamos agora a Sra. Arlete Alves de Almeida, pedagoga, educadora popular, associada ao Movimento do Graal no Brasil.

A Sra. Arlete Alves de Almeida – Boa tarde! Cumprimento a Mesa e todas essas lindas mulheres aqui presentes.

Eu quero dizer que a violência contra mulheres e meninas não pode ficar invisível. É com essa afirmação que eu quero referendar que nós estamos vivas, que nós precisamos continuar vivas e que nós não podemos nos deixar matar, nós não podemos morrer nesse âmbito de violência que tomou conta deste País. É com essa força de mulheres das águas, mulheres das florestas, mulheres urbanas e rurais, que eu digo a cada uma e a cada um dos senhores que estão aqui presentes que estamos pela resiliência, pela resistência e pela coragem de enfrentar.

Digo também a todas as mulheres, especialmente às mulheres pretas tão pouco representadas neste Parlamento, que isso não pode continuar assim. Que haja mulheres do campo, das florestas, das águas, urbanas e rurais, nessa representatividade; e que essa representatividade das mulheres na política não fique somente em eventos e as nossas vozes ecoem neste Parlamento. E, dizendo uma frase que não é minha: “Quantas somos? Talvez duas, talvez três, talvez quatro, talvez cinco ou cinco mil, e cujos restos encheriam doze terras”, fecho aspas. E digo: este Parlamento faz parte dessas terras. Que o ocupemos! Obrigada.

A presidente – Convidamos agora a Sra. Bárbara Ravena, graduada em ciências políticas e presidente estadual da União Brasileira de Mulheres de Minas Gerais.

A Sra. Bárbara Ravena – Boa tarde. Boa tarde, gente! (– Manifestação nas galerias.) Vocês estão dormindo? Está doido! Gente, como fui apresentada aqui pela Ana Paula, sou Bárbara Ravena e atualmente presidente da União Brasileira de Mulheres. Saudação às deputadas. Eu lhe peço licença, Ana Paula – a você, como presidente da Mesa –, para cumprimentar todas as mulheres, especialmente as mulheres negras que estão presentes neste Plenário.

Depois de dois anos de pandemia, é com imensa alegria que estamos aqui fechando o ciclo de debates que iniciamos em março, para falar sobre as diversas violências contra as mulheres no Estado de Minas Gerais. Como pensar na nossa participação política? Pensando ainda que... Recentemente a gente conversou e você disse que esta Casa ainda não tinha o projeto de licença-maternidade. Você é mãe de dois filhos e teve que entrar com licença-saúde, ou melhor, três filhos e você teve que entrar com licença-saúde para poder exercer a sua maternidade. Como pensamos em políticas públicas para as mulheres se a Casa, que é do povo, não tem um projeto de licença-maternidade para as deputadas? Como a gente quer ser inserida na política se, em todos os locais aonde as mulheres vão, elas não são bem aceitas e são hostilizadas? Como a gente pode pensar na política para as mulheres mães? Porque não dá para a Ana Paula ficar usando a licença médica, não dá para as outras deputadas que vierem no ano que vem usarem a licença médica em vez da licença-maternidade para exercer a sua profissão.

Fechando minha fala, porque, se deixar, eu falo demais, precisamos interiorizar as políticas públicas. Nós estamos aqui representando 853 municípios e temos aqui 77 deputados eleitos. Esses deputados estão fazendo o que pelos nossos municípios? Nós estamos lutando aqui. Nós, mulheres, somos a maioria da população e sub-representadas na política. Não adianta a gente ter nove deputadas nesta Casa. Nós precisamos ter 9, 10, 11, 12 deputadas mulheres que se interessem e reajam pela luta das mulheres, porque não podemos ter esse discurso de que precisamos eleger mais mulheres, mas, sim, que tipo de mulheres vamos eleger. Nós precisamos eleger mulheres comprometidas com a luta de todas as mulheres que tenham um feminismo emancipacionista, que tenham um feminismo que agregue. Que tenhamos mulheres, gente, que nos representem de fato, para que não morramos porque não queremos ficar num relacionamento, para que não estejamos em subempregos e para que possamos exercer, de fato, a nossa maternidade. Estou falando de maternidade porque sou mãe. Eu tive de fazer malabarismo para o meu filho ficar com outra pessoa, que o olha, a fim de estar aqui hoje e fazer esse discurso para vocês.

Então é isso. Que a gente possa, nas casas legislativas deste estado, trabalhar bem para que as creches tenham horário acessível. Não adianta haver uma creche integral, que começa no horário de 8 horas e termina às 4 horas da tarde, porque nós somos mães e mulheres trabalhadoras. Então a gente precisa lutar. Deixo aí para as deputadas. O deputado foi embora, ele fez um discurso muito bacana, mas eu queria ver o discurso dele na prática. É isso. Obrigada.

A presidente – Ganhei aqui o lencinho da Bárbara. Obrigada, Bárbara.

Vamos ouvir agora Bruna Camilo, que é professora e cientista política.

A Sra. Bruna Camilo – Boa tarde a todas as pessoas. Peço desculpas pela voz, estou me recuperando de uma gripe. Não é Covid, testei, a gente tem que se cuidar e cuidar das nossas. Gostaria de saudar as deputadas: a deputada Beatriz, a deputada Ana Paula, a deputada Andréia de Jesus também.

Bom, gente, falar de política também é falar de sobrevivência, é falar de comida no prato, é falar de segurança, segurança dos corpos das nossas companheiras. E nós, da Marcha Mundial das Mulheres, seguimos diariamente cercadas de desafios. Desde o início do governo Bolsonaro, gente, a violência contra as mulheres aumentou, e o governo Zema esconde esses dados – as nossas deputadas podem nos confirmar isso. E com o que a gente tem que se preocupar agora, na pandemia? Essa violência escancarou, as mulheres têm sofrido mais violência, elas têm passado mais fome. E nós, da Marcha Mundial das Mulheres, com a nossa diretriz de emancipação, de revolução, preocupamo-nos, e, junto com o Periferia Viva, percorremos Minas Gerais levando cestas básicas, levando kits de higiene, levando álcool em gel, máscaras e um panfletinho falando sobre violência doméstica. Porque a gente sabe o que as mulheres têm sofrido dentro de suas casas, tendo que conviver com seus agressores. Então é um grande desafio ainda continuar com essa campanha. A Marcha Mundial das Mulheres tem se preocupado, cada vez mais, com a vida das mulheres, porque a pandemia não acabou. E existe uma pandemia pior, gente, que é o feminicídio, que é a morte das mulheres, que é a violência de gênero que assola principalmente os nossos corpos.

Então, como disse muito bem a nossa deputada Beatriz Cerqueira, seguiremos em marcha até que todas sejamos livres. E não vai ser o Zema, e não vai ser o Bolsonaro que vai nos parar. Nós nem começamos, nós vamos continuar a nossa luta até quando for necessário. Que mais Andréias de Jesus, que mais Leninhas, que mais Anas Paulas, que mais Beatrizes Cerqueiras estejam aqui, nestes espaços. Não basta ser mulher; tem que ser mulher feminista, tem que ser mulher que vai bancar as nossas pautas. Tem que haver mulher preta, tem que haver macumbeira. Quando a pessoa abriu este Plenário, falou de Jesus, e eu falo de Oxalá, eu falo de Exu, eu falo da minha mãe Iansã. Então que este estado seja laico, que ele aceite todos os corpos. Obrigada.

A presidente – Convidamos agora a Sra. Carmen Teixeira Soares e Lima, educadora, supervisora pedagógica da Escola Estadual Barão de Macaúbas em Belo Horizonte e presidente do Sindicato dos Profissionais de Especialista em Educação do Ensino Público de Minas Gerais – Sindespe-MG.

A Sra. Carmen Teixeira Soares e Lima – Meus cumprimentos à presidente da Comissão dos Direitos da Mulher, agora presidente desta Mesa; meus cumprimentos também à deputada Beatriz Cerqueira, presidente da Comissão de Educação, e eu faço parte da educação; e aos demais presentes. Sou Carmen Teixeira, presidente do Sindicato dos Especialistas em Educação de Minas Gerais, o Sindespe, e supervisora pedagógica da Escola Estadual Barão de Macaúbas.

Inicio minha fala citando Jó Pereira, deputada estadual de Alagoas – abrem-se aspas: “As mulheres do passado lutaram pelo direito ao voto, pelo direito de serem votadas. Eu acho que o papel desta geração é ocupar espaços” – fecham-se aspas. E é isso que estamos fazendo hoje aqui, ocupando o nosso lugar nesta Casa, lembrando a todos e a todas sobre a importância da nossa representatividade na política, em nossa realidade, em nosso país, na sociedade.

Nós, mulheres, reais, aqui presentes, representadas por políticas, ativistas, escritoras, sindicalistas, pedagogas, professoras, artistas, advogadas, enfermeiras, policiais, médicas, engenheiras, donas de casa e tantas outras mulheres trabalhadoras, precisamos ser a voz. Que todas nós tenhamos voz.

Louvo a iniciativa da deputada Ana Paula Siqueira, presidente da Comissão dos Direitos da Mulher, desse encontro que promove ações afirmativas, reforçando que o lugar da mulher é representando a sua classe, assumindo o seu papel em qualquer espaço e circunstância.

Eu venho do chão da escola, meu lugar de trabalho, de resistência e luta, lugar em que todos os dias vivenciamos a repressão, o assédio, a agressão e a violência simbólica. Nesse espaço, na função de pedagoga, educo e luto todos os dias para deixar um legado mais humano, mais justo, mais respeitoso.

Nesse encontro intergerencial, busco, como tantas profissionais na minha área de atuação, transmitir a mensagem de igualdade, inclusão e respeito. Como toda mulher, sou múltipla e falo também de outros lugares. Hoje trago aqui minha representatividade sindical. Sou presidente do Sindicato dos Especialistas em Educação de Minas Gerais.

O legado das mulheres foi e sempre estará representado neste momento de resistência. Em meu lugar de pedagoga, professora e sindicalista e em nome do Sindesp, saúdo todas as pessoas aqui presentes e convido para a luta que acabou de começar.

A presidente – Convidamos agora a Sra. Célia Gonçalves, Makota Celinha.

Makota Celinha Gonçalves – Ei, gente! Boa tarde. Minha bênção a todas e todos. Eu agradeço às mulheres deputadas – é bom falar “deputadas” – desta Casa o convite.

Eu sou Makota Celinha Gonçalves. Sou coordenadora-geral do Cenarab, o Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira. É um prazer estar aqui. A minha demanda que trago para vocês é tão simples: eu quero poder. Eu quero me ver no poder. Essa é a minha maior demanda. Eu sou uma mulher preta, periférica, mãe de um jovem negro rastafári, maior capital de risco da minha vida, porque filho preto é assim, você investe, investe, e não sabe se a violência vai destruir. Todo dia a gente reza o triplo. É a diferença do meu filho preto para o filho da mulher não negra. Eu quero me ver no poder enquanto essa mulher. E quero que tenha muitos espelhos. Quando eu falo que eu quero me ver no poder, não é porque eu sou candidata não. Nunca pretendi isso. Eu quero ter espelhos nesta Casa nos quais eu possa me ver. O espelho é principalmente ver mulheres negras ocupando este espaço de poder. Então, eu não quero arrombar portas, sabe, gente? Eu sempre falo que eu quero a chave da porta, porque nem sempre quem arromba a porta faz com muito honestidade e nós não somos isso. E se alguns podem ter a chave porque nós não podemos ter essa chave? Então, eu não quero mais ter no meu vocabulário: “Eu vou arrombar a porta”. Não, eu quero a chave. Se uns têm eu também quero ter. Historicamente a gente sabe que muitos têm essa chave do poder, e o poder é bom. O poder é bom e eu também o quero. Afinal, para mim, quem distribui pobreza e miséria é o capital. Eu quero distribuir poder, eu quero dividir o poder, a riqueza, a alegria. Então, essas são as minhas demandas. Eu quero colocar fogo no parquinho do machista, principalmente os machistas da Assembleia. Eu fico muito triste quando vejo a forma como vocês são tratadas, em muitos momentos, nesta Casa, onde não deveria ser assim.

Eu quero propor aqui também, ousar, propor um quilombo eleitoral. Eu acho que nós temos que ousar, politizar o voto preto neste estado. Essa coisa de que não vamos arrombar a porta e que nós queremos a chave é queremos eleger os nossos, queremos nos ver no poder. Eu acho que esse quilombo eleitoral vem fortalecer essa questão da identidade. Nós somos a maioria da população brasileira. Eu confesso para vocês que, em 2016, eu não vi ninguém votar pelo impeachment de uma presidenta eleita legitimamente em nome de Exu, mas eu vi votar em nome de Deus, da família, da propriedade, até porque se a gente estivesse no poder nós não votaríamos contra a democracia.

Finalizando, eu trago a proposta, enquanto mulher, negra, macumbeira, macumbeira de esquerda, porque eu sou mesmo, que nós possamos ter pós-eleição um Estado verdadeiramente laico em Minas Gerais, um Estado que não reze, mas que nos permita rezar e àqueles que não querem o direito de não rezar, porque quem reza preserva a vida, a democracia, e não faz arminha com a mão. Muito obrigada.

A presidente – Convidamos agora a Sra. Caroline Correia, ela que é mãe e empreendedora. Uma correção, a Caroline não está conosco, vamos convidar agora, pela participação remota, a Sra. Cláudia Maciel Ferreira, que representa aqui o segmento das donas de casa.

O áudio da Cláudia. Cláudia, só um momentinho por favor. Cláudia, precisamos que você habilite o seu microfone. Claudinha, conseguiu aí? Claudinha, eu vou chamar uma pessoa que está conosco aqui presencialmente para que você possa ser orientada a habilitar o seu microfone. Só um momentinho, por favor. Enquanto a Claudinha vai se organizando, vamos chamar aqui a Claudilene da Costa Ramalho, que é membra do Grupo de Mulheres Organizadas do Mucuri e do Observatório dos Direitos das Mulheres do Vale do Jequitinhonha e Mucuri, e professora do curso de serviço social, na Universidade Federal dos Vales do Mucuri e Jequitinhonha, câmpus Mucuri.

A Sra. Claudilene da Costa Ramalho – Boa tarde a todas.

A presidente – Boa tarde.

A Sra. Claudilene da Costa Ramalho – Boa tarde, em especial, às deputadas. Já fui apresentada, mas sempre quando vou falar, embora hoje tenha 2 minutos, gosto de me apresentar de outra forma. Sou Claudilene, sou de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, e moro no Vale do Mucuri em Teófilo Otôni. Sou uma mulher negra, mãe do Victor, de 6 anos, que ficou em casa, e tivemos que fazer uma ginástica, como mãe solo, para que eu pudesse participar aqui. Então eu queria agradecer inicialmente a todas as mulheres que contribuíram para que eu estivesse aqui e também agradecer a todas as mulheres que vieram antes de mim e que fizeram com que eu estivesse hoje ocupando este espaço. Eu queria agradecer a essas mulheres.

Como grupo de mulheres organizadas do Mucuri, grupo este que também tem uma atuação lá no Vale do Jequitinhonha, e ainda como universidade também, quero dizer que nós temos demandas nos vales, e uma das várias demandas diz respeito à saúde da mulher, já que são muitas as demandas referentes à mulher. Há mulheres que chegam ao nosso movimento de mulheres e que são mulheres que foram vítimas de estupro e que não conseguiram acessar, por exemplo, o direito ao aborto legal. Há mulheres que chegam ao nosso grupo de mulheres e que não conseguiram fazer um pré-natal de forma adequada e que também não conseguiram ter um atendimento adequado referente à saúde da mulher. Então eu queria chamar a atenção para a temática da saúde da mulher, principalmente para as mulheres do interior, porque, no interior, são poucos os recursos.

Muitas vezes quando a gente fala: nós estamos num período de pandemia, a questão da saúde ainda se faz presente, mas a gente não busca alternativas em torno da saúde da mulher. Então eu queria propor que fossem criadas – Araçuaí tem uma experiência como essa – unidades de atendimento à saúde da mulher para que, em um só lugar, fossem ofertados os exames, as especialidades e todo o atendimento. É inaceitável, mesmo tendo o direito constitucional ao aborto legal, que as mulheres não consigam acessar esse direito e sejam revitimizadas. Também é inaceitável o fato de muitas vezes não conseguirmos acessar um ultrassom e os exames básicos.

Este símbolo que estou mostrando é o símbolo do nosso movimento de mulheres, o Grupo de Mulheres Organizadas do Mucuri – Gmom. (– Mostra camisa.) Trouxe comigo esse símbolo porque ele representa a nossa união e toda a nossa luta que vem desde 2016.

A presidente – Muito bem, obrigada! Será que a Claudinha conseguiu habilitar o microfone? Claudinha! Não, gente, ela ainda não conseguiu, e vou pedir à equipe técnica da Casa para fazer contato e orientá-la. Enquanto isso, vamos convidar a Sra. Cleide Maria Santos Vieira, catadora de materiais recicláveis na Cooperativa de Material Reciclável da Pampulha, filiada à Redesol, e mobilizadora social.

A Sra. Cleide Maria Santos Vieira – Boa tarde a todas e a todos. Cumprimento todas e todos nas pessoas dessas mulheres lindas aqui da Casa. Bom, quero começar apresentando a minha faixa: #mulheresguerreiras. (– Mostra faixa.) Somos catadoras e saímos de casa, às vezes, às 4h30min, 5 horas da manhã, e vamos para os galpões onde triamos os materiais que muitos acham que é lixo. Trabalhamos com materiais recicláveis, que é de onde tiramos o sustento das nossas casas. Muitas mulheres hoje mantêm o custeio da sua casa através desse serviço, e o que pedimos, inclusive por meio da fala da nossa companheira Bárbara, é que a gente venha a ter apoio a creches onde a gente possa deixar os nossos filhos e que a gente tenha também o respeito. Quando falo que sou uma catadora, misericórdia! Muitas pessoas se espantam. Então o que pedimos à sociedade é o respeito para com essas mulheres que sustentam o seu lar.

Hoje as cooperativas geram trabalho e renda, e nós cuidamos do meio ambiente onde todos nós estamos. Então o que a gente pede aqui é realmente o respeito e a valorização pelo trabalho de nós, mulheres, catadoras de materiais recicláveis. Obrigada.

A presidente – Convidamos agora, de forma remota, a Claudinha, Cláudia Maciel Ferreira, que é dona de casa, moradora do Bairro Alto Vera Cruz. Claudinha, agora é com você. (– Pausa.) Microfone. (– Pausa.) Aí, Claudinha, agora sim.

A Sra. Cláudia Maciel Ferreira – Boa tarde.

A presidente – Boa tarde.

A Sra. Cláudia Maciel Ferreira – Meu nome é Cláudia Maciel Ferreira, moradora do Bairro Alto Vera Cruz. Defendo todas as pessoas com deficiência, iguais a minha pessoa, porque sou deficiente há mais de 50 anos. O que eu posso fazer pelas pessoas, faço, ajudo e gostaria de muito respeito com nossas pessoas que são deficientes. São muitas as pessoas que não respeitam a nossa deficiência, não se importam, gostam de pensar que são melhores que a gente, mas eu me sinto mais capaz que eles, sou melhor que eles. O que eu faço, eles não fazem, e se acham no direito de pensar que nós não temos capacidade de fazer igual a eles. Mas nós, deficientes, fazemos mais do que qualquer um que é normal. Eles não gostam de se comparar a nós, mas não precisam se comparar mesmo, não, porque nós, deficientes, somos melhores que eles até. O que eu faço, eles não fazem. Eu ajudo muita comunidade, ajudo com tratamento, com medicamento; tem a ajuda pessoal da minha comunidade; eu ligo para o posto para ajudar na consulta. O que eu posso fazer para ajudar as pessoas normais, eu faço e mesmo aqueles que não são normais, porque eles acham que nós, deficientes, não somos normais. Uma boa tarde e muito obrigada.

A presidente – Muito obrigada, Claudinha. É uma alegria recebê-la aqui na nossa plenária. Vamos convidar agora a Sra. Daisy Ferrarezi Moura, que é tenente-coronel, comandante da 1ª Companhia de Prevenção à Violência Doméstica da Polícia Militar de Minas Gerais.

A Sra. Daisy Ferrarezi Moura – Boa tarde a todas e a todos. Eu cumprimento todos e a Mesa e agradeço a oportunidade de estar aqui. A minha palavra é a abnegação. Então eu vim aqui contar um pouquinho da nossa história enquanto policial feminina na Polícia Militar de Minas Gerais. Na década de 1980, as Forças Armadas e as forças policiais de diversos estados brasileiros passaram a autorizar o ingresso das mulheres nas fileiras militares. Então nós somos recentes numa instituição bissecular de Tiradentes. Em Minas Gerais, no ano de 1981, o comando da Polícia Militar propôs ao governador a criação da polícia feminina. E aí nós começamos a ocupar os espaços. Com a aquiescência do nosso governador, a comissão designada pelo comandante-geral, composta por homens policiais militares e por duas professoras para poder falar sobre as necessidades da mulher na Polícia Militar, começou a propor ações estratégias para recebê-las no curso de formação de sargentos. Do alojamento aos armários para guardar os pertences da sala de aula, o fardamento, que era composto por uma blusa, uma saia, um salto, um chapeuzinho e uma bolsa para acondicionar o nosso armamento. Tudo foi pensado para nós e até hoje o é. No ano passado, como uma das estratégias do comando, foi estudado um colete à prova de balas e uma arma menor que pudesse nos atender porque, às vezes, a nossa mão é menor, para que o armamento ficasse melhor acondicionado na nossa mão.

A decisão de incluir a mulher nas fileiras da corporação foi um olhar prospectivo considerando, na década de 1980, a atuação da Polícia Militar com foco no cidadão e na participação comunitária. Não foi por mero acaso que o emprego das nossas primeiras policiais foi na região central de Belo Horizonte, nas imediações da rodoviária. E hoje ocupamos todos os postos e graduações e estamos nos mais diversos serviços, na rádio-patrulha, na base de segurança comunitária e no serviço que represento: a Patrulha de Prevenção à Violência Doméstica, serviço esse que nos permite, enquanto mulher, criar pontes e caminhar com as vítimas de violência doméstica na rota crítica, de forma a auxiliá-la a romper o ciclo da violência doméstica.

O nosso maior desafio enquanto policial militar feminina é manter a nossa força e a leveza diante das mais diversas ocorrências e circunstâncias com que nos deparamos durante a nossa profissão. E faço aqui um apelo para as vítimas de violência doméstica: precisamos de políticas públicas que apoiem, que busquem, que acolham essas vítimas, porque muitas vezes existe uma dependência emocional muito grande que não lhe permite romper com esse ciclo. E faço um apelo às mulheres vítimas de violência que estão na invisibilidade dos lares: não se calem. Denunciem. Muito obrigada.

A presidente – Obrigada, Daisy.

Convidamos agora a Sra. Denise de Paula Romano, coordenadora-geral do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais – Sind-UTE – e dirigente da CUT-Minas. Queridas, nós da Mesa vamos pedir desculpas pela indelicadeza de, às vezes, cumprimentar uma pessoa e já convidar outra para falar, porque o nosso tempo está corrido. Somos 77 mulheres, queremos ouvir todas, então, à medida que uma encerra, a gente já convida a outra, que já vai se posicionando, e vamos cumprimentando. (– Intervenção fora do microfone.) Exatamente. Pessoal da feira que está nos acompanhando, nos aguardem que vamos todas.

A Sra. Denise de Paula Romano – Também quero ir à feira. Vou pedir licença, cumprimentar as deputadas-presidentas de comissão e saudar as três companheiras que estão compondo esta belíssima Mesa de mulheres.

Vou pedir licença também para quebrar o protocolo porque “protocolo” é uma palavra masculina, e nós hoje, como estamos aqui ocupando o espaço com a nossa pauta, vamos quebrar o protocolo. Aprendi, no Vale do Jequitinhonha, que tudo lá no Vale é celebrado cantando: a luta, a alegria, a tristeza. Então quero convidar vocês. (– Canta:) “Companheira, me ajuda, que eu não posso andar só. Eu sozinha ando bem, mas com você ando melhor. Companheira, me ajuda, que eu não posso andar só. Eu sozinha ando bem, mas com vocês ando melhor”. Obrigada, gente. Palmas para nós.

Quero dizer que esta Casa deveria ser a Casa das 77 mulheres, de 77 mulheres deputadas, mas não só de 77 mulheres deputadas, de 77 mulheres deputadas comprometidas com a política para o bem comum, 77 deputadas que pensam na vida do povo e que pensam em políticas públicas para melhorar a vida do povo. E nós temos a oportunidade, neste ano de 2022, cada uma com a sua candidatura, de trazermos mais mulheres para esta Casa, para que nos respeitem, para que não nos expulsem e para que a gente ocupe o lugar da política que merecemos e em que devemos estar.

Eu sou Denise de Paula Romano, sou professora. Trouxe aqui a bandeira do meu sindicato, que é o Sindicato Único das Trabalhadoras em Educação, trabalhadoras e trabalhadores, mas hoje vou dizer “trabalhadoras” também, trabalhadoras em educação da rede estadual de Minas Gerais.

A nossa palavra é o piso salarial. Queria dizer que nós sofremos violência na escola também. Sofremos violência na escola, sofremos violência como mulheres, professoras, trabalhadoras em educação, que lutam por melhores condições de trabalho. Nós sofremos violência em todos os espaços onde estamos.

Eu me lembro da primeira atividade da qual fui participar – já concluindo –, representando o Sind-UTE, em que foi feito um cartaz. Queriam me apresentar no cartaz e colocaram: Denise, esposa, mãe e sindicalista. E eu disse: “Não. Eu sou mãe, tenho companheiro, mas não é isso que me define como coordenadora do meu sindicato. O que me define como coordenadora do meu sindicato é que eu sou uma professora”. Uma professora negra, uma professora que está na coordenação do maior sindicato do Estado de Minas Gerais. E nós não podemos nos silenciar, porque sempre querem deixar claro que nós estamos atrás de algum homem, e nós não estamos atrás de nenhum homem. Não tem nenhum homem que nos traz aos espaços onde nós estamos. É a luta coletiva, é o compromisso de construção coletiva que nos traz para esses espaços.

Para finalizar, Minas Gerais precisa de um governo que pense nas mulheres, que pense nas professoras, que pense nas trabalhadoras, nas mães solo que existem neste estado, um governo que possa voltar a sonhar e que faça para o povo e não para os empresários, não para os milionários, como nós temos enfrentado aqui, no Estado de Minas Gerais. Muito obrigada.

A presidente – Convidamos a Sra. Dirlene Marques, professora, militante feminista dos movimentos sociais e integrante da Rede Nacional Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos e do 8M Unificado da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Gente, a Dirlene está por aí? Ela estava aqui agora, eu a vi. Ah, está aguardando ali. Joia! Dirlene, daqui nós não a vimos, viu?

A Sra. Dirlene Marques – Cumprimento a Mesa, as companheiras homenageadas. Para mim, é uma alegria muito grande estar aqui, neste espaço, que representa a diversidade das mulheres, mas não só isso, a diversidade com que normalmente todos os movimentos dos quais faço parte trabalha.

Não vou falar muito das pautas do movimento no qual atuo, porque já está na carta que aqui foi colocada. A minha vida inteira, na realidade, eu me assumi como socialista e feminista; como profissão, sou economista. Sempre participei de organização como essa, em que há a representação das diversidades de posições, da diversidade territorial e da diversidade que todas nós e a sociedade brasileira temos, como foi o caso da luta da anistia, o caso da construção de partido político de esquerda, da auditoria da dívida e da Alca. Atualmente estou no 8 de Março Unificado e no Polo Socialista Revolucionário, mas sempre estamos nessas pautas, nesses espaços, lutando contra o capitalismo e contra o machismo. Estamos vivendo hoje uma crise tão profunda que construir o socialismo se impõe como uma necessidade. Não é mais nenhum sonho, mas uma necessidade para todos nós que lutamos para preservar a humanidade. Para nós, feministas e socialistas, sabemos que só nos resta um caminho: o caminho de organizar a nossa sociedade, de investir na mobilização por direitos e, só assim, conseguiremos derrubar Bolsonaro e o bolsonarismo. Foi essa pauta que o 8 de Março Unificado que levou para as ruas, no Dia Internacional das Mulheres, que é o dia 8 de março. Por isso faço parte desta homenagem... Aqui estou representando uma homenagem a todas as mulheres que participam do 8 de Março Unificado. Em todos os espaços em que estou, eu gosto de levar algo que, para mim, representa essa luta contra o machismo e o capitalismo.

Vou aqui colocar uma música, imitando a Denise. Desculpe, mas é a Internacional Socialista, que eu acho que representa todas aquelas feministas que estão na luta por direitos, na luta por uma outra sociedade. Estamos juntas! Vamos construir uma outra sociedade. Obrigada.

A presidente – Convidamos agora a Sra. Edwiges Lempp, administradora e coordenadora-geral do Coletivo Mães pela Liberdade.

A Sra. Edwiges Lemmp – Boa tarde a todas, a todos e a todes. Todes é um pronome neutro. Eu agradeço o convite que recebemos da mesa para esta iniciativa tão importante que é esta plenária Sempre Vivas. Eu sou coordenadora-geral deste Coletivo Mães pela Liberdade. A minha palavra inclusive é a liberdade, estampada na nossa logo, porque esse coletivo é constituído de mães e também de pais de filhos LGBTQIA+. Nós acreditamos – e isso está estampado também na nossa camiseta – que quando o amor transborda se transforma em ação.

Eu sou mãe de uma filha trans. Foi dito e lido aqui que o Brasil é o País que mais mata pessoas LGBTQIA+. A expectativa de vida da minha filha, hoje, com 26 anos de idade, é de 35 anos apenas. Então não é fácil para uma mãe saber que, quando seus filhos, suas filhas estão na rua, principalmente se são da população LGBTQIA+, elas estão sujeitas, hoje, de forma recrudescida, à LGBTfobia, à transfobia. A questão da segurança é uma pauta presente no nosso dia a dia.

Então o nosso coletivo acolhe as mães e também os pais, que, num primeiro momento, têm um impacto quando seus filhos chegam dizem: “A minha orientação sexual é esta”, ou “A minha identidade de gênero é esta”. Há um impacto inicial para essas famílias. Muitas vezes, esse impacto é fruto de um preconceito que a sociedade tem de exclusão, de tentar fazer com que os corpos de nossos filhos não sejam aceitos. Nós, que somos do Mães pela Liberdade, esperamos e acreditamos que essa diversidade é parte, é humana. Nós queremos que nossos filhos vivam, possam sair e não sejam agredidos, não sejam mortos por causa de sua orientação sexual ou por causa da sua identidade de gênero. Então nós, mães, pais, avós, tios, acolhemos esses filhos. Nós acolhemos essas mães dando-lhes força, formando essas mães para que elas possam estar junto de seus filhos. Esta é uma luta de todas nós. O nosso coletivo atua em todo o Estado de Minas Gerais. Atualmente estamos presentes em 36 cidades do Estado.

Fica aqui o convite a todas as mães que tenham filhos LGBTQIA+ a entrarem neste Coletivo Mães pela Liberdade. Eu agradeço pela oportunidade. Muita obrigada a todos.

A presidente – Nós que agradecemos, Edwiges. Seguindo inclusive a orientação do papa Francisco, acolhemos os nossos filhos.

Convidamos agora a Sra. Elivânia Felícia Braz, advogada, presidente da Associação Mulheres em Ação de João Monlevade – AMA e vice-presidente da 75ª Subseção da OAB-Minas Gerais. Eu não sei como se pronuncia. Fale ao microfone, por favor.

A Sra. Elivânia Felícia Braz – Boa tarde a todas.

Como Ana Paula me apresentou, eu sou Elivânia Braz, presidente da AMA, Associação Mulheres em Ação de João Monlevade e vice-presidente da 75ª Subseção da OAB de João Monlevade. Então, boa tarde a todas, a todos e a todes. Eu gostaria de cumprimentar a mesa diretora desta plenária, na pessoa da deputada Ana Paula Siqueira. Para mim é uma alegria e uma honra imensa estar aqui hoje nesta plenária.

Como Ana Paula disse, eu estou presidente da AMA, Associação de Mulheres em Ação de João Monlevade, criada no ano de 2012, exatamente pela ausência de mulheres no nosso Legislativo municipal. E hoje, 10 anos depois, continuamos sem uma mulher no nosso Legislativo municipal. Então é muito importante para nós estarmos aqui neste momento, neste espaço, participando deste movimento. É preciso que nós, mulheres, percebamos a importância de participar ativamente da política. Além do voto, nós precisamos de mais participação nos espaços de poder, nos debates políticos. Nós trabalhamos na AMA com a formação e o empoderamento das mulheres e, em maio de 2020, em razão da pandemia, assim como vários outros movimentos, nós criamos um braço da AMA chamado Basta, um coletivo de psicólogas e advogadas voluntárias para acolher e orientar as mulheres vítimas de violência doméstica e familiar.

Como já disse o pensador Sérgio Vaz, não devemos confundir briga com luta. Briga tem hora para acabar, uma luta é para a vida inteira. Mais mulheres na política significa mais política para as mulheres. Por mais representatividade, igualdade e respeito. Meu muito obrigado.

A presidente – Convidamos agora a Sra. Valéria Morato, presidenta da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil e do Sindicato dos Professores de Minas Gerais – Sinpro Minas.

A Sra. Valéria Morato – Boa tarde. Quero cumprimentar cada uma que está aqui hoje, através das nossas três representantes deste Parlamento: Ana Paula, Bia e Leninha. Eu fico muito feliz em participar desta plenária sobre a importância da representatividade das mulheres na política, sei o quanto isso é caro para nós. A baixa representatividade das mulheres tanto nos Legislativos como nos Executivos acaba por se traduzir na ausência de políticas públicas que nos atendam. E aqui eu falo especialmente sobre a mulher trabalhadora; a mulher que cumpre três jornadas; a mulher que não encontra suporte na família, na sociedade ou no Estado para que possa viver com dignidade sua vida pessoal, o seu trabalho e a sua maternidade; que enfrenta preconceito no trabalho por ser mãe, mas que chefia quase metade das famílias brasileiras; que não encontra creche para os filhos e se desdobra no subemprego; que, depois de longas jornadas de trabalho, ainda cuida do lar. Milhões dependem de empregos precários e informais, ganhando menos e tendo que sustentar as suas famílias. Elas estão em maior risco de pobreza e exploração.

Um levantamento do censo de políticas sociais da Fundação Getúlio Vargas mostrou que 47% das mulheres do nosso país vivem em situação de insegurança alimentar. Como fazer com que essa mulher trabalhadora, mas que não tem seus direitos garantidos, tenha atuação política e social? Precisamos lutar por ações afirmativas e por políticas públicas que mudem esse cenário, que proporcionem às mulheres acesso à educação, ao emprego decente, à saúde de qualidade, à segurança. Nós precisamos da revogação da reforma trabalhista que agravou a precariedade das relações de trabalho e retirou os direitos que traziam estabilidade e segurança.

Eu saúdo a todos e todas que estão dispostos a fazer essa discussão e que acreditam na importância da atuação das mulheres em todas as instâncias de participação e decisão. Só assim teremos uma sociedade mais justa para todos. Fora, Bolsonaro!

A presidente – Vamos receber e ouvir agora a professora titular da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais e coordenadora do Programa Para Elas – Por Elas, Por Eles, Por Nós, querida Elza Melo, que fará uma participação remota. Eu quero registrar aqui, gente, a satisfação, a alegria de receber a Profa. Elza, que falará conosco do hospital. Recentemente ela passou por um transplante renal e está aqui vigorosa, firme e garantindo a participação, a luta e a defesa de nós, mulheres.

A Sra. Elza Melo – Oi, gente! Se eu chorar, vocês me perdoam? Eu estou aqui, como ela falou, no leito de um hospital. Fiz um transplante com graves complicações, mas queria estar aqui com vocês para expressar a minha solidariedade e dizer que estou sempre, estarei sempre com vocês. As coisas por aqui não estão muito fáceis. E, considerando um cenário mais amplo, elas não estão fáceis para ninguém. Mas eu também sei que, mesmo nas condições mais adversas, nós sempre somos e estamos sempre vivas.

Eu sou a Profa. Elza, coordeno o Projeto Para Elas, que cuida de mulheres em situação de violência e vulnerabilidade, venham elas de onde vierem, sejam elas quem forem, estejam elas onde estiverem. É um projeto que participa e que luta com as mulheres pelos seus direitos, que desenvolve sempre junto com elas processos que contribuam para a promoção da sua autonomia na luta pela superação da violência, da opressão, da desigualdade e da exclusão. Estamos nessa luta e estaremos sempre nessa luta até que cada uma e todas as mulheres assumam com plenitude e de fato o papel social, político, econômico e cultural que lhes cabe e que pode e deve haver em toda a sociedade. Eu tenho a mais total convicção de que essa luta implicará justiça universal para todos os seres humanos do planeta Terra. Espero estar com vocês muito em breve. Quero contar para vocês que as bravas mulheres do Para Elas já estão todas aí nesse evento, participando dos bazares e participando conosco dessa luta que não pode terminar enquanto houver uma só mulher em condição de violência e vulnerabilidade. Beijo para vocês. Obrigado por me permitirem estar aqui nessas condições. Até breve. Eu espero estar sempre aí com vocês. Beijos.

A presidente – Bom, gente, após essa fala forte, inspiradora e de esperança que a Elza traz para a gente, nós vamos agora aproveitar a oportunidade e fazer uma foto aqui do nosso Plenário. Todas vocês estão com uma hashtag. Gostaríamos que essa hashtag pudesse ser levantada para que deixássemos registradas na nossa foto todas as mensagens que estão traduzidas também na nossa carta de intenção.

Eu vou convidar as senhoras deputadas para que possamos nos posicionar aqui junto às nossas representantes das mineiras para que a nossa foto possa ser completa, com todas nós.

– Procede-se a registro fotográfico.

A presidente – Retomando os trabalhos, quero convidar agora a Sra. Fernanda Fernandes, mãe da Ester, vítima de feminicídio.

A Sra. Fernanda Fernandes – Boa tarde a todos. A Ana Paula já me apresentou. A minha filha foi vítima de feminicídio pelo ex-namorado dela, na minha frente, e eu sofri a tentativa de feminicídio por tentar defender a minha filha. Então eu venho aqui falar que a Lei Maria da Penha precisa de mudanças urgentes. E quero dizer que o Estado não apoia a família vítima de feminicídio, o governo não nos apoia. Os postos de saúde não têm condições de nos acolher. Se você não tiver condições de ter um tratamento, de fazer um tratamento digno, fica ao deus-dará, enlouquece. Porque você perder uma filha na sua frente não é fácil, você ter que pegar a sua filha morta na sua frente! A sociedade não a ampara. O feminicídio não é brincadeira.

E o feminicídio começa com sinais, infelizmente nós não percebemos. Todo agressor começa a agir psicologicamente, e nós não vemos isso. A família do agressor não passa isso para você, para a família da vítima; ela acoita o agressor, infelizmente. Temos que mudar isso no País. E temos que ter, sim, mais mulheres na política, mas mulheres que vão fazer a diferença, que vão mudar as nossas leis, e não mulheres que vão se assentar e só ganhar o dinheiro.

Quando conheci a Ana Paula, eu tive esperança de mudança, porque vi que ela coloca a mão na massa. Então não pense que o Estado faz alguma coisa por você, porque ele não faz nada para impedir o feminicídio, nada para a vítima de violência, nada para a vítima de violência doméstica. A Delegacia de Mulheres não a acolhe, não acolhe vítima nenhuma. Simplesmente ela vai lá e faz uma queixa, há uma medida protetiva que não a protege. Eu tenho acompanhado várias vítimas, e não são protegidas. Mulheres têm morrido com a medida protetiva. E o que adianta? A medida protetiva é apenas um papel. Muitas mães deixam seus filhos, e o Estado não dá uma renda para mãe nenhuma. O Estado não acolhe os filhos da vítima de feminicídio. E o feminicídio mata todos os dias três, quatro mulheres em todo o Brasil. Isso aqui não é só para Minas Gerais. Eu tenho conversado com mães do Brasil todo, e todas querem justiça.

Temos, sim – desculpem-me, eu ultrapassei, mas vou falar –, uma proteção dos direitos humanos para os presos, mas não temos direitos humanos para a família que sofre feminicídio. Nós não temos isso. E os presos, os assassinos têm direitos humanos. Isso é justo? É uma lei justa? Não é. Agora mesmo a família luta por visita. O assassino da minha filha então vai ter visita? Eu não vou carregar um neto da minha filha nos meus braços. O pai do assassino vai carregar o neto do filho dele nos braços. É justo? Essa lei é justa? O assassino difama a sua filha no júri popular. É justo? O assassino tinha que entrar mudo e sair calado. Onde está a Justiça do País? Onde estão os governadores? Onde está o presidente? Não há. Este é um país que precisa mudar. E as mulheres precisam saber votar, porque nós somos a maioria. Mudem a maneira de votar, o pensamento para votar. Obrigada.

A presidente – Fernanda, por favor. Nós vamos convidar agora Francielly Vieira Cabral, uma jovem tatuadora, artista e grafiteira.

A Sra. Francielly Vieira Cabral – Bom, primeiramente, boa tarde a todas, boa tarde a todos. É com muita felicidade que ocupo este espaço de fala e de representatividade da mulher artista, da juventude e da arte de rua. Muito prazer. Eu me chamo Francielly Vieira Cabral. Tenho 20 anos de idade. Como a Ana Paula mesmo citou, sou tatuadora, muralista, pintora, grafiteira, artista.

Hoje eu venho falar da principal problemática enfrentada atualmente pela minha classe, que afinal tem como principal adversidade a falta de apoio e de incentivo a projetos que nos capacitem e nos estimulem não só artisticamente, mas também financeiramente. E que esses projetos também nos ensinem sobre empreendedorismo, gestão de negócios, tendo como foco principal o trabalho autônomo, (– Inaudível.) da nossa profissão.

Então, dessa forma, projetos nessa temática tornam-se extremamente necessários para esse público que muitas vezes é marginalizado, banalizado e pouco favorecido. O artista é nada mais do que o intérprete da vida no qual corporifica a arte. Dele, cria-se o mistério no qual é indecifrável. E, da mulher artista, a arte surge como um gesto materno que carrega no colo sentimentos e os transcende para o mundo em forma abstrata. Para ela, não representar significa morrer. Ela somos nós, que percorremos entre séculos, e ousam nos silenciar em fração de segundos. Obrigada.

A presidente – Eu passo agora a presidência dos trabalhos para a deputada Beatriz Cerqueira.

A presidente (deputada Beatriz Cerqueira) – Dando continuidade, nós queremos convidar agora Gilsa Santos, professora e vereadora em Governador Valadares.

A Sra. Gilsa Santos – Com a licença dos mais velhos e dos mais novos, quero cumprimentar a presidenta Ana Paula, a deputada Beatriz Cerqueira, a deputada Leninha também e a deputada Andréia, que precisou se ausentar.

Eu quero pedir licença à Mesa para cumprimentar as minhas assessoras que estão ali em cima, Vera Luci(?), Babi Mino(?), que são mulheres que me acompanham e fortalecem minha caminhada. Na figura delas, cumprimento cada uma de vocês que estão na frente de lutas em nossas cidades, em nossas comunidades e movimentos.

Estou bastante nervosa, gente. (– Risos.) E esse lugar do nervosismo é do tamanho da responsabilidade que a gente assume. A amiga me disse ali: “Você não está sozinha, foram muitas com você para aquele lugar para falar”. Então eu vou falar de todas elas, por todas elas, com todas elas.

Em nosso país, somos a maioria da população e não devemos ser minoria em lugar nenhum, especialmente nos lugares de representatividade, nos espaços representativos. Legislativo, Executivo, devemos ocupá-los. Quem cede a vez não quer vitória. Não recuaremos. Nós, vereadoras, somos 34% no País, mas em Minas Gerais ainda há 188 municípios sem nenhuma representação feminina, sem nenhuma mulher ocupando uma cadeira legislativa. As eleitas que se posicionam firmemente, que fazem a defesa, que representam o cargo que ocuparam sofrem diversas violências, da interrupção da palavra à interrupção da vida. Marielle, presente!

Por mais mulheres na política, por mais políticas que garantam que as mulheres eleitas permaneçam em seus cargos, que tenham a sua vida protegida e que puxem outras mulheres. Para que esse número se equipare a um lugar de representatividade nas casas espalhadas pelo nosso país, requer-se que nós sejamos vozes que ecoam por Minas Gerais, pelo Brasil, pelo mundo. Axé!

A presidente – Vocês perdoem essa metodologia do abraço que foi instituída pela Mesa sem estar previamente prevista no Regimento Interno. O afeto, em termos de violência e desesperança, é revolucionário, e a gente não encontra nem abraça muitas mulheres no dia a dia da Assembleia Legislativa. Então vocês perdoem essa ação fora do Regimento Interno da Casa. Queremos convidar a jornalista, servidora da Assembleia Legislativa de Minas Gerais e representante do Coletivo de Mulheres da Assembleia, Grazielle Mendes.

A Sra. Grazielle Mendes – Boa tarde a todas. Obrigada, deputadas, pelo espaço. O Coletivo de Mulheres da ALMG que eu represento aqui hoje fala por todas as trabalhadoras desta Casa, servidoras efetivas, de recrutamento amplo, terceirizadas, estagiárias, adolescentes trabalhadoras. Faço questão de dizer isso porque o cerne da nossa demanda, das nossas pautas, é justamente equidade, um olhar de equidade para as nossas pautas, um tratamento institucional que leve em conta a equidade. Não podemos perder de vista esse conceito, porque ele leva em conta as nossas diferenças. Nós não somos mulheres iguais e não somos mulheres iguais também aqui dentro, com oportunidades e acessos iguais.

A Assembleia Legislativa de Minas avançou muito nos últimos anos com espaços e com a criação de canais institucionais de acolhimento, discussão e encaminhamento das nossas demandas, como a própria Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, que realiza este ato histórico aqui hoje. Há também a Procuradoria da Mulher, com meios e mecanismos de encaminhamento de denúncia, acolhimento e resolução de casos de assédio dentro da Casa, diga-se de passagem, fruto de uma memorável mobilização do nosso coletivo e das servidoras e dos servidores da Assembleia. Mas a gente precisa se perguntar, e a Casa precisa perguntar às mulheres desta instituição quais delas conhecem esses canais, acessam esses canais e, mais importante, se se sentem seguras, confiantes para acessar todos esses meios de acolhimento. Se nós pensarmos num dos vínculos mais frágeis entre nós, e frágeis do ponto de vista socioeconômico das relações de poder, porque esta é uma Casa pautada por relações de poder, ainda que equilibradas pela participação popular, nós temos, por exemplo, as colegas da limpeza. É preciso perguntar a elas quais desses canais elas conhecem, acessam e se sentem seguras para acessar, porque, sem isso, nós não caminhamos juntas. Nós teremos todos esses avanços, deputadas, mas com todas as colegas andando juntas, sem deixar nenhuma delas para trás. Obrigada.

A presidente – Queremos agora convidar a quadrinista e ilustradora Hannah Abranches.

A Sra. Hannah Abranches – Boa tarde, deputadas; boa tarde a todas que estão aqui presentes. Primeiramente gostaria de agradecer a oportunidade de estar aqui, o que para mim foi uma surpresa, porque sinceramente não me acho tão incrível quanto todas essas mulheres que estou vendo hoje. Mas esta é a melhor parte deste evento: celebrar as mulheres comuns. Somos trabalhadoras, somos sinônimo de força e resiliência.

Estar aqui é mais do que nascer menina, é mais do que nascer com útero, é abraçar uma luta coletiva, é se tornar mulher ao longo da vida. E essa luta é principalmente das mulheres artistas, das mulheres quadrinistas, que todos os dias enfrentam um mundo majoritariamente dominado por homens, um mundo onde temos que levantar a cabeça e seguir em frente.

Alegra-me, no meio desse caos todo em que estamos vivendo com essa pandemia, trazer lazer e momentos de alegria para as pessoas, e me alegra também estar aqui sendo a voz, mesmo que por 1 minuto, dessas mulheres artistas em meio desse governo que, todos os dias, tenta nos sabotar, mas nós não seremos esquecidas. Muito obrigada, gente.

A presidente – Nós é que agradecemos. Devolvo a presidência dos trabalhos à nossa presidenta Ana Paula Siqueira.

A presidente (deputada Ana Paula Siqueira) – Obrigada, deputada Beatriz, e Hannah, obrigada pelas palavras. Quero aproveitar e registrar e deixar o meu abraço para a minha querida professora Mônica Abranches, assistente social, minha professora na PUC Minas. Leve o meu abraço a ela, por favor.

A Sra. Hannah Abranches – Não precisa, porque ela está ali em cima. Mônica Abranches, apareça!

A presidenta – Onde? Obrigada, professora, e seja muito bem-vinda.

– Procede-se a registro fotográfico.

A presidente – Vamos ouvir agora, de forma remota, a também querida companheira Helen Perrella, coordenadora da Rede de Enfrentamento à Violência contra a Mulher do Alto do Jequitinhonha e integrante da União Brasileira de Mulheres do Estado de Minas Gerais.

A Sra. Helen Perrella – Boa tarde, deputada Ana Paula Siqueira; boa tarde, deputada Beatriz Cerqueira e deputada Leninha. É uma honra e um prazer estar com todas aqui, mesmo que de forma remota. Foram longos meses de trabalho com a comissão, não é, deputada? E ver esta Casa lotada de mulheres, essa pluralidade, é muito importante e muito significativo. É uma honra participar com todas vocês, mesmo que de forma remota. Não posso deixar de, neste momento, dizer que espero vê-las, isto é, que espero ver várias das mulheres presentes aí na próxima legislatura.

Quero trazer também um pouquinho da pauta de que sempre falo nas nossas reuniões e nos nossos encontros, que é a importância da interiorização das políticas paras as mulheres, principalmente as mulheres em vulnerabilidade e em situação de violência. Falo do Vale do Jequitinhonha, mais precisamente do Alto Jequitinhonha, e a nossa região tem uma carência, como a carência existente em vários outros locais do Estado de Minas, os municípios de Minas Gerais, de políticas públicas voltadas para a proteção das mulheres e das meninas vítimas de violências de todas as formas.

Então fica aqui o meu registro e o meu apelo à Casa Legislativa, bem como às deputadas e às futuras deputadas. Espero ver esta Casa repleta de deputadas no ano que vem para que haja esse olhar, essa atenção e esse carinho com o interior de Minas Gerais. É muito importante as mulheres do interior estarem amparadas por todas as políticas públicas: de emprego, de segurança, enfim, de todas as formas. Nosso muito obrigado pela parceria de sempre, em especial da deputada Ana Paula, que preside a comissão, o Sempre Vivas, e por esse olhar e essa atenção para o interior de Minas Gerais. Obrigada, deputada.

A presidente – Obrigada, Helen, que fala direto de Diamantina.

Vamos convidar agora a Iara Pimentel, que é professora e vereadora do Município de Montes Claros. Com a palavra, a vereadora Iara Pimentel.

A Sra. Iara Pimentel – Boa tarde a todas, todos e todes. Eu quero saudar esta Mesa potente, as nossas deputadas que, em um ato revolucionário, uniram nesta Casa mulheres que lutam por terra, teto, trabalho, dignidade, direitos e fazem a defesa da democracia. E, dessa forma, eu saúdo todas as presentes nesta tarde.

Sra. Presidenta, a palavra que me foi reservada é “resistência”. Essa palavra tem muito a ver conosco, com todas as mulheres, em especial com as norte-mineiras, da região de onde eu venho. Isso porque nós enfrentamos, muitas vezes, o coronelismo, nós enfrentamos a violência institucional, e enfrentamos isso muito próximo da gente.

Eu quero usar este espaço para saudar as mulheres das ocupações e, neste espaço, eu quero lembrar a Ocupação Marielle Franco, em Montes Claros, onde há companheiras que lutam e resistem, que lutam pelo direito de existir, de comer, de ter um teto. Elas não estão sozinhas. Nós estamos juntas nessa luta. Quero saudar em especial também as professoras e dizer ao governo do Estado e aos municípios, aos prefeitos, que nós, professoras, resistimos esse tempo todo e resistiremos. Resistiremos e resistimos à precariedade; resistimos e resistiremos lutando pelo pagamento do piso salarial nacional na sua integralidade e contra esse Projeto Mãos Dadas, que propõe a precarização, a municipalização. Seguimos juntas aí nessa luta por direito, por trabalho. E nós seguimos também nessa mesma toada, lutando pela democracia. Este ano é ano de virada.

A presidente – Muito bem. Convidamos agora a querida amiga Isabel Cristina de Lima Lisboa, integrante do Coletivo Municipal de Mulheres do Partido dos Trabalhadores de Belo Horizonte e da Rede de Enfrentamento à Violência contra a Mulher de Minas Gerais.

A Sra. Isabel Cristina de Lima Lisboa – Boa tarde, queridas amigas de luta, do Plenário, das galerias, amigas da Mesa, todas três e Andréia de Jesus, companheiríssimas das várias lutas. Estamos juntas neste dia importante.

E aí eu vi minha frase, e ela me despertou uma questão recorrente: a gente que luta… O Brasil hoje é exemplo de um dos piores países na representatividade de mulheres, e a gente sabe, sabemos dessa questão. Nós, que somos mulheres da política, que fazemos política, tentamos articular várias mulheres no poder; somos mulheres que tomamos partido e, por isso, estamos militando e não podemos ficar caladas nessa discussão.

A violência em política de gênero vitimou – vitimou não, tentou vitimar nossa presidenta Dilma, com adesivos em carros; também Isa Penna, companheira importante; Manuela D'Ávila, com ameaça à sua filha Laura; e outras mulheres aí pelo Brasil. Atingem principalmente as mulheres negras e LGBTQIA+. Essa é uma discussão que a gente não pode permitir mais. São tentativas de assédio sexual, assédio moral. Até da nossa roupa falam. Há deputadas na Mesa, inclusive, que pela cor vermelha da roupa foram criticadas em Plenário. A cor vermelha representa uma posição política também. Mas fazem isso conosco. Fazem isso com os homens? Fazem isso com os homens que estão aqui? Não fazem, não! Fazem isso com nós, mulheres. As meninas já foram ameaçadas de morte, ameaçadas de espancamento, algumas pela cor da pele, outras pela simples razão de existir. A maioria de nós é isso.

Então fica aqui meu pleito para a Assembleia Legislativa, com vocês hoje, presidência desta sessão. O pedido: não vamos assinar. Nós não vamos nos calar. Não vão nos silenciar. Então, prestem atenção, deputados, todos: colocar, impedir, silenciar as mulheres vítimas de violência é outra violência.

Nós vamos estar atentas, mulheres. Este ano é ano de eleição. Então eu queria terminar dizendo que esse é meu pleito, além do pleito de “Fora Bolsonaro e leve o Zema junto”, porque nós queremos um país de fraternidade, de igualdade. Queremos voltar com os direitos das mulheres. A minha faixinha é bem a representação disso: “Mais mulheres no poder”. Beijo para todas. Estamos na luta.

A presidente – Muito bem, Bel. Muito bem! Vamos convidar agora a Sra. Maria Helena Fornoga dos Santos, que é pastora. Na pessoa dela, aproveito para registrar a participação da nossa colega deputada Delegada Sheila, que justificou conosco os motivos da sua ausência. Ela não pôde estar conosco, mas envia aqui os cumprimentos a todas as mulheres presentes.

A Sra. Maria Helena Fornoga dos Santos – Quero dar um boa-tarde a todos e a todas, às nossas amigas deputadas. Que o Senhor abençoe vocês! Com a licença da nossa deputada, quero mencionar alguns agradecimentos por esta homenagem. Gostaria, neste momento, de fazer um agradecimento. Em primeiro lugar, a Deus por tudo o que me tem dado e porque tem me abençoado. A palavra hoje é “dignidade”. Um dia, eu não tinha nome, eu não tinha endereço. Eu venho de uma periferia, do Bairro Ipiranga, Juiz de Fora, Minas Gerais. Eu venho do tráfico. Eu venho da maconha. Eu venho da cocaína. Não tinha família. O Senhor me permitiu. Com licença, deputadas, meu esposo me abraçou. São 23 anos juntos, com 3 filhos: Isaque, Ronaldo e Lucas.

A nossa deputada Sheila tem reconhecido nosso trabalho em Juiz de Fora, o qual nos deu a oportunidade de estar neste Plenário dizendo que você é um milagre. Nós somos um milagre. Juntas somos mais fortes, deputadas, delegadas, mulheres guerreiras. Uma só força, um só momento como este.

Com mais uma licença, quero aplaudir todas que estão aqui, porque vocês são um milagre. Quero aplaudir vocês e peço que se coloquem de pé; quero aplaudir a vida de vocês, porque sei que juntas vamos conseguir alcançar política, Plenário, alcançar mulheres que estão lá fora e que precisam dessa voz feminina, não só pastoras, mas vocês, que estão aí sentadas nas suas casas, assistindo a uma live como esta. Isto aqui é importante porque um dia o Senhor sonhou com este lugar, e você está aqui. Agradeça a Deus. Quero aplaudir a sua vida e dizer que você é um milagre, que o senhor conta com você, não só o Senhor, mas todas nós. Independentemente de credo religioso, nós somos um milagre da parte de Deus. Quero aplaudir a sua vida porque creio que em breve, muito em breve, mulheres estarão de pé e vão assim permanecer. É só você decidir, em nome de Jesus.

A presidente – Muito bem. Vamos convidar agora a Sra. Isaura Madalena, conselheira de saúde com formação em gestão pública e aposentada na área de educação.

A Sra. Isaura Madalena – Boa tarde a todos e a todas, às nossas deputadas Ana Paula e Bia.

Gente, que emoção estar aqui! Falo com muita emoção porque o que ouvi a Fernanda Fernandes falar aqui me emocionou tanto. Sou mãe solo, sou mãe por opção, uma mãe adotiva e, quando vejo uma mãe clamar tanto quanto aquela, me sinto fraca da memória, me sinto adoecida. Por isto militei no caminho da saúde: para que pudéssemos construir, na nossa região de Venda Nova, um centro de saúde e atenção à mulher para amparar essa Fernanda que perdeu sua filha, porque no SUS, nas nossas unidades de saúde, não temos quem a ampare; não temos psicólogo, não temos assistente social e, quando há, é um para atender várias regiões. Por isso derrubamos, com muita luta, nós, conselheiros de Venda Nova, nós, militantes da comunidade, derrubamos a tal de Maternidade Leonina Leonor, que tanto foi propagada internacionalmente. Derrubamos para acolher, para criar um centro de atenção para nós, mulheres, independentemente de sermos pretas, pardas ou brancas. Nós o criamos para todas as mulheres de Belo Horizonte, e isso espera você, Fernanda.

Conto com o auxílio, com o apoio das nossas deputadas para que não vejamos ocorrer aquilo que vimos nessa semana que passou: uma mãe, ao dar à luz, em vez de ser acolhida num leito, seu filho se debruçou sobre a terra e levou 11 pontos na cabeça. A terra não espera ninguém ao nascer, mas, sim, quando deixar de respirar. E é isso que repudiamos e não aceitamos lá em Venda Nova. Esperamos você, Fernanda Fernandes – aliás, não só você, mas todas as mulheres que assim necessitarem. Repúdio a essa Maternidade Leonina Leonor, que estava sendo imposta a uma comunidade. Mais de 300 mil habitantes estavam sendo obrigados a receber uma maternidade de luxo que não cabia na nossa realidade. Portanto, eu me emociono, sim, e vou permanecer na luta para garantir a nós, mulheres, uma saúde com dignidade. E salve Marielle! Somos todas Marielle e vamos caminhar juntas. Ninguém vai tirar de nós a esperança e o direito de ser mulher. Muito obrigada.

A presidente – Muito obrigada, Isaura. Vamos convidar agora, gente, uma querida participante que veio trazer para nós a voz das crianças e dos adolescentes, das nossas meninas. Vamos ouvir Melissa Maria, moradora do Município de Nova Era.

A estudante Melissa Maria – Olá! Boa tarde! Como Ana Paula disse, eu sou a Melissa. Tenho 12 anos e sou de Nova Era. Vou iniciar o meu assunto falando que há uma grande desvalorização das mulheres em diversos setores, e um deles é a educação. Mesmo com esses avanços, ainda há grande preconceito contra as mulheres. Podemos ver uma situação muito precária em várias escolas públicas de nosso país. Vejo isso, pois sou aluna da rede pública, em que há grande desvalorização.

Também faço parte de um projeto de robótica que se chama Na Mochila. Quando iniciei, fui a única menina a participar. Hoje vejo que influenciei muitas meninas a participarem desse projeto incrível. Por isso sempre devemos acreditar nos nossos objetivos e sempre devemos correr atrás, e a educação é a base de tudo.

Gostaria de agradecer à Ana Paula o convite e também à minha mãe e ao meu pai por terem me apoiado para eu chegar até aqui. Obrigada.

A presidente – Venha cá, Melissa. Olha, gente, que gracinha a nossa adolescente de 12 anos trazendo para a gente a importância da educação, a importância do curso de robótica, do projeto Na Mochila, do qual ela participa no Município de Nova Era. Quero mandar um abraço para o Prof. Pechincha, que vem desenvolvendo esse trabalho belíssimo lá. Muito obrigada, viu, Melissa?

Enquanto a gente se prepara para a foto com a Melissa, vamos convidar a Jade, trabalhadora sexual, fundadora e coordenadora do Coletivo Clã das Lobas e integrante da Comissão IST/Aids. (– Pausa.) A Jade está aí? Cadê a Jade?

A Sra. Jade – Boa tarde! Boa tarde, deputadas; boa tarde a todo mundo. Vou fazer uma ratificação: quando falam que sou trabalhadora e que faço parte da Comissão IST/Aids, isso é importante, e eu faço, mas também sou conselheira municipal, faço parte do Comeg e da Rede de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres e sou fundadora da primeira casa de acolhimento para as trabalhadoras sexuais.

Estou aqui para fazer tipo uma provocação. O trabalho sexual é legalizado? É, nós estamos na CBO. Mas vim aqui para provocar as deputadas, as mulheres a entenderem que nós precisamos de uma legalização. É regulamentada, nós estamos numa classificação na CBO – Classificação Brasileira de Ocupação. É como se fosse uma ocupação da mulher ela ser uma trabalhadora sexual. Por que eu não me chamo prostituta e puta? Porque eu estou lutando pela legalização do trabalho sexual, porque trabalho sexual é trabalho, é o que nos define. Nós somos arrimo de família, somos mães, somos mulheres, votamos, contribuímos com impostos e geramos renda ao redor de onde trabalhamos, no meu caso, na Guaicurus. Então o da Guaicurus é mantido pelas trabalhadoras sexuais. Por quê? Nós deixamos o nosso dinheiro em farmácia, padaria, em todo o entorno. Nós comemos, fazemos compras no supermercado, vamos ao cabeleireiro. Então nós também movimentamos a economia do centro.

O que estou pedindo aqui às deputadas, as que vieram... Porque agora há muito povo evangélico que vem... Em vez de legislar, de achar que eu vou para o inferno porque exerço esse trabalho sexual, deixe isso entre nós e Deus. A gente se entende. Quem vem para cá tem que vir é para legislar. Então eu acho que está na hora de se criar um PL para a legalização do trabalho sexual. E nós estamos falando com vocês para nos chamarem. Isso não deve ser feito por deputados e não sei o quê. É preciso chamar as trabalhadoras para criar o PL. Então vim aqui para provocar e dizer a vocês para nos chamarem. Nós somos dois coletivos e uma associação aqui, em Belo Horizonte. Chamem-nos, chamem as trabalhadoras para criar um PL, porque nós entendemos a nossa luta. Então é isso. Muito obrigada.

A presidente – Nós é que agradecemos. Obrigada, Jade. Agora nós vamos convidar a Sra. Joana Maria de Jesus Villela, que é liderança comunitária, foi dos movimentos de associações comunitárias de bairro, é uma lutadora, guerreira, moradora do Bairro Vera Cruz. Com a palavra, Joana Villela.

A Sra. Joana Maria de Jesus Villela – Boa tarde. Fui presidente da Associação dos Amigos e Moradores do Bairro Vera Cruz por 14 anos. Estou aqui a convite da deputada estadual Ana Paula Siqueira, quase uma filha, uma grande amiga e uma companheira de luta pelos moradores da região Leste.

Agradeço imensamente o convite para esta linda homenagem às mulheres deste movimento Sempre Vivas, que valoriza a participação das mulheres na política e em outros espaços de representatividade. O meu muito obrigada a todos e uma boa noite, gente.

A presidente – Vamos convidar agora a Sra. Joeliza Aparecida de Brito Almeida, representante do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas e do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Riacho dos Machados. Com a palavra, a Sra. Joeliza.

A Sra. Joeliza Aparecida de Brito Almeida – Boa tarde a todos e a todas. Eu venho lá do Norte de Minas. É um prazer enorme estar aqui com vocês, nesta tarde. Obrigada, meninas do Plenário; obrigada, Leninha, minha companheira, minha parceira de luta de muitos anos, e agora, na política, em defesa dos nossos direitos e principalmente da nossa cidadania, que tem passado momentos desafiadores. Como mãe e mulher, em nome das companheiras trabalhadoras rurais em especial e de todos os povos e comunidades tradicionais, quero aqui lembrar, na condição de mãe, o que a Mãe-Terra tem passado nos últimos tempos. Sei, companheiras, que não são vocês as causadoras. Sabemos que vocês são a minoria. Muitos desses desafios passam por esta Casa, como o processo minerário no Norte de Minas. Nossa Mãe-Terra está sendo sangrada no Norte de Minas e também os povos indígenas, e isso tem trazido para nós um grande desafio. Afinal, quem somos nós sem água? A água, que é a nossa fonte de vida, é que nos dá sustentabilidade. Não existe vida sem água e isso não tem sido levado em conta no Norte de Minas, ameaçando a nossa forma de viver.

O projeto agroecológico nosso está sob ameaça, porque nós não trabalhamos com o agrotóxico, mas ele já está na água e na terra. Como podemos fazer para não parar o processo, porque ele é necessário, mas também garantir que ele não seja tão agressivo com os povos e comunidades tradicionais? Então, esse é o desafio que trago a esta Casa para que as pessoas possam rever muitos pontos minerários que estão sendo decididos e que trazem uma ameaça muito grande aos nossos povos.

A outra questão que trago aqui é sobre o verbo esperançar. Gente, nós, mulheres, somos a maioria e somos mães da outra metade, então nós é que somos donas dessa situação. Vamos mudar a nossa forma de votar, vamos mudar a nossa forma de agir e a nossa forma de pensar, principalmente de nos condenar. Nós precisamos ser livres e votar em pessoas que defendem o nosso projeto de vida. E nós somos responsáveis pela vida. Então, se o nosso país se encontra na condição em que está, nós também somos responsáveis. Vamos repensar e fazer mobilização para que tenhamos um Brasil e uma Minas Gerais melhores. Um abraço a todos. Muito obrigada.

A presidente – Vamos ouvir agora a querida amiga Juliana Normand, advogada com atuação no enfrentamento da violência doméstica contra a mulher.

Queridas mulheres, eu quero registrar que vamos ouvir todas as nossas companheiras aqui. Como vocês perceberam, estamos seguindo a ordem alfabética, mas algumas estão nos sinalizando aqui situações de problemas com transporte, razão pela qual a gente está remanejando a ordem em função dessa solicitação. No entanto, queremos que todas tenham a certeza de que serão ouvidas.Esta nossa atividade está sendo transmitida e gravada aqui, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

Está com você a palavra, Juliana.

A Sra. Juliana Normand – “Aquelazinha, a louca da sua advogada”. Muito prazer! Meu nome é Juliana Normand. Tenho a honra de dedicar 17 anos da minha carreira defendendo mulheres e de estar entre vocês, cada uma com uma luta tão importante quanto a outra. Sim, deputado Arlen, precisamos ser protegidas, mas só seremos quando efetivamente formos ouvidas. É muito isso, Bárbara: discursos lindos, mas saídas a francesas persistem antes que nos ouçam.

Por mais mulheres como você, Ana Paula, que cria um lugar de fala para outras mulheres. Obrigada. Fernanda Fernandes, você tem toda razão na sua fala. Hannah, você é muito incrível, sim. Você já nasceu incrível, você é mulher.

A minha indignação aqui vai ao Judiciário. Enquanto o Judiciário ratificar a supremacia masculina em decisões patriarcais, em suas tentativas de aplicar justiças restaurativas ou menosprezando a capacidade lesiva do agressor, o nosso direito não será efetivado. A mudança de paradigma deve ocorrer nas decisões evitando-se a propagação do sentimento de impunidade, que vem garantindo ao agressor a continuidade de suas investidas contra nós, mulheres. Lugar de mulher é onde ela quiser. E eu espero que nós possamos definitivamente ocupar o Legislativo, pois precisamos mudar a legislação. Obrigada.

A presidente – Convidamos agora a Sra. Karina Morais, historiadora e militante da Marcha Mundial das Mulheres.

A Sra. Karina Morais – Boa tarde a todas. Cumprimento a Mesa, cumprimento toda a plenária. Como o tempo é curto, durante a minha fala eu trago alguns trechos do posicionamento nacional da Marcha Mundial das Mulheres a respeito do ano eleitoral e da necessidade de respondermos a esse projeto de morte que se estabeleceu em nosso país. A gente sabe que desde o golpe de 2016, que foi neoliberal, racista e patriarcal, criaram-se condições para que em 2018 um genocida assumisse o poder. A catastrófica situação econômica, social e política do País também foi impulsionada pela ascensão da extrema direita internacionalmente, com apoio das corporações transnacionais, como é o caso da BHP e da Vale aqui, em Minas Gerais sobretudo, que seguem impunes a tantas violações dos direitos, levando milhares de famílias atingidas pela lama tóxica do capital. No Brasil, as privatizações e diversas políticas antipovo, como o congelamento dos investimentos em educação, saúde, assistência social, ciência e tecnologia, vêm destruindo o Estado e a soberania nacional. Em Minas Gerais o bolsonarismo tem costas quentes, vide governo Zema, que recém-congelou o pagamento de direitos aos servidores em meio ao contexto de pandemia e encabeçou a aprovação da PEC nº 55, a reforma da Previdência, que retrocede profundamente em direitos trabalhistas. A vida das mulheres, principalmente das mulheres negras, só piorou. Vivemos em um país sob a influência do militarismo, do conservadorismo, do agronegócio, das mineradoras e com o apoio da maioria do Congresso Nacional. Olhamos para Minas Gerais, cada vez mais um campo minado. Crescem a intolerância, as violências de gênero, o racismo e a precarização da vida. Na crise sanitária, foram as trabalhadoras e os trabalhadores que atuaram para salvar vidas, apesar de todas as tentativas de destruição do SUS. Nunca deixamos de lutar. Nossa saída foi e segue sendo ir às ruas por um Brasil sem machismo, sem racismo e sem fome. O momento exige unidade e urgência. E a solidariedade foi e deve ser a nossa ferramenta de luta para a reconstrução deste país. A nossa tarefa é derrotar o bolsonarismo nas urnas e para além das eleições, nos municípios e nos Estados, combatendo os seus aliados, para que tenhamos a possibilidade efetiva de lutar pela retomada do Estado Democrático de Direito e construir um projeto popular feminista, socialista e antirracista para o País. Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres.

A presidente – Muito bem. Convidamos agora a Sra. Maria Florguerreira, indígena da etnia pataxó, educadora, intercultural indígena, plantadora de árvores e engravidadora de sonhos.

A Sra. Maria Florguerreira – Boa tarde, boa noite, bom dia, bom tudo para nós, mulheres de luta, mulheres guerreiras de todos os lugares. Eu sou Maria Florguerreira, engravidadora de sonhos e plantadora de árvores. Sou da etnia pataxó, Maria como todas as outras Marias que nos antecederam. Então eu estou aqui com as minhas Marias e com as suas Marias. Vim aqui defender não as mulheres indígenas, mas todas nós, mulheres, porque, em alguma interseccionalidade, nós nos encontramos; porque, enquanto houver uma mãe vendo um filho passar fome, seja de qual cor for, a gente vai sofrer. Então, eu não vim aqui esquartejar nada, pedir nada para o meu povo. Eu só peço que nos respeitem, que coloquem, na carta, indígenas, povos originários, tradicionais – e tradicionais não substituem originários, muito menos indígenas. A minha hashtag é o que é para todos nós: #território. Território para nós, indígenas, não é terra; território é sentido de pertencimento, território onde nós praticamos nossas culturas, nossas ações. Nós precisamos defender o nosso território afetivo. Afeto! Não dá para a gente ficar se separando porque é junto que a gente é forte.

Então, eu gostaria que houvesse mulheres indígenas na carta. Há todas as outras mulheres e está lindo, mas eu preciso dizer para vocês que nós, mulheres indígenas, existimos, resistimos e estamos com vocês. E a Serra do Curral precisa ser defendida porque ela também é mulher.

A presidente – Convidamos agora a Sra. Keila Jacqueline, liderança comunitária que atua no atendimento a crianças e no suporte às mães da comunidade que precisam deixar os seus filhos para trabalhar.

A Sra. Keila Jacqueline – Boa tarde a todas, a todos e a todes. Quero cumprimentar esta Mesa na pessoa da deputada Ana Paula Siqueira e falar um pouquinho de mim e do meu trabalho. O meu nome é Keila Jacqueline. Sou mulher, mãe, avó, negra, moradora da periferia, tenho três filhos lindos: Marlon, Marcos e Matheus, todos negros. Não é fácil viver em periferia e ter filhos negros.

Bom, quero falar também de um trabalho que é muito importante, que é empregar as mulheres mães, mães como eu, mãe solo e mãe solteira, dentro da periferia. Eu participo de um projeto. Sou coordenadora voluntária de um projeto que hoje atende 200 crianças. Aqui, sentada neste Plenário, eu tive a resposta de uma ampliação desse projeto ainda para este ano, que, além de atender 200 crianças, a capacidade de 200, nós vamos ampliar para 350 crianças e, em tempo integral, com quatro alimentações por dia. Esse projeto se chama Centro Infantil Mops, do qual tenho muito orgulho de fazer parte e que teve, no seu começo, a nossa deputada Ana Paula Siqueira, que sempre teve, desde o início, antes de chegar a este Parlamento, um olhar para as comunidades, para a periferia. Então, eu me orgulho muito de fazer parte desse projeto e falar que, além de atender, tenho 40 funcionárias, 40 famílias empregadas dentro da comunidade. Nessa ampliação, a gente deve chegar aí a umas 60 famílias empregadas dentro da comunidade. Isso me alegra muito. Eu agradeço a Deus por essa oportunidade de fazer parte disso.

Há também um histórico aí de mulher que viveu em periferia, que sofreu violência. Eu lembro que, numa noite, ouvi a seguinte frase – e eu vou ser breve –, abro aspas: “Hoje você morre!”. E eu tive que pular do carro em movimento. Gente, eu não sei, mas Deus é que me deu força para correr, e correr muito. E hoje eu estou aqui viva para contar que, vivas e juntas, nós somos fortes e somos muito mais fortes. Obrigada, Ana Paula, por estar aqui nesta tarde. Obrigada a vocês.

A presidente – Obrigada, Keila Jacqueline. Nós vamos ouvir agora a Sra. Laíssa Gomes de Miranda, militante do Movimento dos Atingidos por Barragens.

A Sra. Laíssa Gomes de Miranda – Boa tarde. Vou fazer a saudação às mulheres que estão na Mesa e às demais companheiras de luta que estão também na Mesa. Para mim é um prazer estar aqui. Eu sou Laíssa, mais conhecida como Flor, do Movimento dos Atingidos por Barragens. E nós, do MAB, estamos nessa luta, em especial com as mulheres, já faz muito tempo. Porque, toda vez que acontece algum crime, as mais atingidas são as mulheres, são elas que mais sofrem violações de direito.

No crime da Bacia do Rio Doce, as mulheres sequer foram reconhecidas enquanto atingidas. Elas não tiveram direito a auxílio emergencial, ficou no nome dos homens. E a gente sabe, quando isso acontece, o perigo que é. E aqui, na Bacia do Paraopeba, com muita luta, muita resistência, a gente conseguiu que o auxílio fosse no nome das mulheres atingidas também. Mas não basta só isso. A gente tem muita luta aí pela frente. Minas Gerais é um estado em que a mineração... A gente conhece, não é só em Minas Gerais, o modelo de mineração no Brasil é predatório, é assassino. Infelizmente a vida não vale nada para essas mineradoras. E o crime segue. Nesse período que a gente teve das enchentes, as mulheres e as famílias tiveram, de novo, a lama tomando as casas. A gente vê o crime se renovando.

A companheira indígena falou da importância da Serra do Curral, e a gente também frisa essa luta. Nós, mulheres atingidas por barragens, não queremos a mineração na Serra do Curral. Chega de mineração! Nós queremos um modelo de mineração em que os povos falem, em que os povos tenham essa autonomia de falar: “Eu não quero aqui, aqui não, mineração aqui não!”. Nós queremos um projeto energético popular. Nós queremos soberania, distribuição da riqueza e controle popular. Nós não queremos esse modelo de mineração. Nós somos “fora Zema”, que compactua com esse tipo de modelo assassino. Nós somos também “fora Bolsonaro”. Então nós, mulheres atingidas por barragens, estamos também na resistência, e nós também lutamos pela vida. Somos defensoras dos direitos humanos.

(– Canta.): A mulher quer ver seu povo como classe libertada, recriando um mundo novo, sem haver gente explorada.

Mulheres, água e energia não são mercadorias. Obrigada.

A presidente – Obrigada, Laíssa. Vamos convidar agora a vereadora da cidade de São Domingos das Dores, líder de bancada partidária e agricultora, Leiliane Laura de Almeida.

A Sra. Leiliane Laura de Almeida – Boa tarde. Que emoção estar aqui, gente! Mulheres, que força vocês passam para a gente.

Cumprimento a senhora deputada Ana Paula Siqueira, pela qual eu tenho muito carinho, gratidão e admiração pelo trabalho que faz, pela força que tem. Cumprimento também todas as mulheres e as suas representatividades. Cumprimento também, de forma muito carinhosa, a população de São Domingos das Dores, da minha cidade querida. Cumprimento também, com a sua licença, Sra. Deputada, o meu esposo e o meu filho aqui presentes, porque família é base. Eu fico muito feliz de poder contar com esse apoio. Eu sou Leiliane. Tenho 36 anos. Sou mãe, esposa, agricultora com muito orgulho e estou vereadora no primeiro mandato, na cidade de São Domingo das Dores.

Eu escolhi como tema a voz. Por que a voz? Porque, enquanto vereadora, eu tenho de representar a minha comunidade. Eu tenho de representar, com fervor, com amor, com compromisso e determinação. Tenho de representar, de forma muito respeitosa, as mulheres, as famílias, as crianças. Até fiquei assim um pouquinho mexida quando entrei aqui, até preparei uma forma de falar, mas, enquanto legisladora, enquanto representante da voz da comunidade, da voz das vereadoras do Estado de Minas Gerais, da voz das mulheres na política, eu não poderia deixar a minha voz calar, Sra. Deputada.

Sabe o que eu senti aqui? Eu senti falta. Falta do quê? Viajei, acordei às 3 horas da manhã, como muitas mulheres que estão aqui, que certamente estão cansadas. Elas se prepararam. Eu recebi o e-mail em dezembro. Então há muito tempo que eu estou me preparando para estar aqui, como certamente as senhoras também. E eu senti uma falta muito grande dos senhores deputados desta Casa para nos receberem, porque nós... Obrigada. Isso porque nós somos a voz, nós lutamos com dignidade e compromisso na representatividade. E hoje eu senti essa falta. E digo isso a quem perdeu a oportunidade de ouvir cada mulher falando, a adolescente aqui falando, o que foi muito importante, as autoridades. Certamente às vezes se esquecem que nós, mulheres, sabemos fazer política. Eu gosto de política, e muitas mulheres também gostam. Então o que eu falo? Qual o recadinho que eu deixo? Nós não estamos sós, nós estamos sempre vivas. Muito obrigada. Obrigada aos funcionários desta Casa, a todos aqueles da organização que fizeram contato comigo e com as outras mulheres aqui presentes, que nos respeitaram e foram muito carinhosos conosco. Muito obrigada, Sra. Deputada e todas as presentes.

Gostaria, Sra. Deputada, se a senhora me permitir, de entregar um café especial, feito pela mão de uma das agricultoras da minha cidade, que pediu que eu o entregasse, porque esse café passou pelas mãos de muitas mulheres, homens, jovens, porque são muitos grãos para fazer um café especial. Se a senhora me permitir, eu gostaria de fazer a entrega do café Belas Cafés Especiais, da minha amiga agricultora Claudiane e de sua família. Posso?

A presidente – Claro, Leiliane, vereadora.

A Sra. Leiliane Laura de Almeida – Obrigada, gente.

A presidente – Gente, o café é bom demais. Vou representar vocês aqui no consumo. Ouviram?

Vamos agora convidar a Sra. Letícia Imperatriz, coordenadora adjunta da Aliança Nacional LGBTQI+, em Minas Gerais.

A Sra. Letícia Imperatriz – Boa noite a todas, a todes e a todos. Quero agradecer à Mesa o convite e dizer que cada degrau que eu subi não foi fácil, porque grande parte dos homens que nos representam aqui certamente utilizam o nosso corpo enquanto objeto sexual, mas não nos representa. Então, que todas as mulheres trans de Minas Gerais estejam juntos e juntas comigo simplesmente porque eu sei a importância deste convite que recebi da deputada Leninha, que sabe o quão necessário é este espaço para a gente. E hoje, para mim, esta palavra “sobrevivência” não me representa mais porque eu quero viver. Eu não quero ser uma estatística. Não quero ser mais um dado estatístico e também não quero ser mais um número dentro dos noticiários enquanto número subnotificado. Quero agradecer à responsável pela Mães pela Liberdade por estar aqui. Admiramos muito o seu trabalho e esperamos que esse trabalho possa se multiplicar na vida de todas as mulheres que estão aqui, até mesmo porque as nossas lutas são indissociáveis.

Eu gostaria de dizer que nós mulheres trans não somos diferentes e também não estamos distantes de tudo que vocês vivem, pelo contrário, nós estamos na luta com vocês, acreditando na possibilidade de permanecer nessa luta. Então, por isso, eu rasguei o meu papel, porque eu não quero mais sobreviver, eu quero viver, assim como vocês. Eu quero que a minha expectativa de vida não seja com 35 anos, mas que eu possa ter 60 anos, 70 anos, 80 anos e que eu posso gozar da vida, assim como vocês. Obrigada.

A presidente – Venha cá, Letícia, nos cumprimentar. Enquanto nos organizamos para cumprimentar a Letícia, eu quero convidar a Andréia Lucienne, que é missionária da Comunidade Missionária de Vilarregia, aqui, em Belo Horizonte.

A Sra. Andréia Lucienne – Estou muito honrada e agradecida à deputada Ana Paula, amiga, e a cada uma de vocês. Em muitos momentos, eu fiquei emocionada, muito emocionada mesmo. A palavra que eu trouxe aqui para significar um pouco uma necessidade no mundo de hoje é uma identidade do pontificado do Papa Francisco: “Nós somos todos irmãos”. Somos todos irmãos. Eu sou missionária católica e acredito que, se a gente acreditasse realmente nessa palavra da fraternidade, a gente se respeitaria mais, se amaria mais, trabalharia mais em parceria e em cumplicidade. Este momento aqui é muito enriquecedor, e eu não tenho palavras para agradecer. É um espaço de escuta.

Eu represento as mulheres com dedicação exclusiva, a tempo pleno, pela construção do reino, um reino onde todos tenham vida e vida em abundância; não qualquer vida, que todos tenham uma vida em abundância, e isso se vive com fraternidade. Se a gente conseguir ser mais irmão, a gente vai conseguir se escutar mais. Uma palavra muito amada por nós é a palavra hebraica “shema”, que significa escuta. A escuta é uma expressão feminina. A escuta comporta delicadezas. Uma das violências mais dolorosas que a gente sofre é a falta de escuta. É quando você está falando e o outro está ali, mas não está, não escuta você. A falta de escuta. Se nós conseguirmos nos escutar, nós aqui presentes, a gente vai se enriquecer muito, a gente alimentará o nosso lado transcendente, o nosso lado maior, o nosso lado mais pleno, a nossa existência. Escutar é difícil, escutar é uma ação política. Então, a demanda que eu trago aqui, deputada Ana Paula, é de uma escuta verdadeira. Ela não cabe neste contexto porque este é um contexto de escuta.

Agradeço às deputadas aqui presentes a possibilidade de escuta recíproca que aqui está sendo oferecida. A escuta, quando é verdadeira, pede decisão, tomada de posição e uma ação conjunta. Não dá mais para trabalhar pelas mulheres ou para as mulheres, é preciso trabalhar com as mulheres. Mas é preciso uma cumplicidade, uma parceria. Nós juntos, sem conflitos entre homens e mulheres, na escuta.

Obrigada pela escuta, obrigada de coração, e que a gente viva mais a fraternidade.

A presidente – Muito bom, Andréia. Vamos convidar agora a Sra. Maria das Graças do Valle Libreron, mãe, avó, servidora pública aposentada e artesã.

A Sra. Maria das Graças do Valle Librelon – Boa noite a todos; boa noite às deputadas. Estou muito feliz de estar presente nesta Casa, hoje. Fiquei aqui por 18 anos, e, no ano passado, precisei me dedicar um pouquinho mais à família. Hoje, quando cheguei aqui, senti uma emoção tão grande que falei: “Por que sai?”. Eu queria voltar. Mas acho que chegou a hora. Aliás, Ana Paula, agradeço-lhe muito, assim como também agradeço às deputadas, mas agradeço muito à Ana Paula.

Quando a deputada Ana Paula Siqueira chegou à Assembleia, eu já estava aqui, e aí ela me aceitou, confiou no meu trabalho, e eu fui trabalhar com ela e aprender muitas coisas com a Ana dedicada, a Ana persistente, a Ana que não tem desânimo para nada e que se levanta de madrugada para fazer um bolinho para trazer para o gabinete, e isso me alegrou demais. A minha palavra hoje é #Luta (– Mostra papel.) Sempre estou lutando pela vida, pela minha saúde, pela minha família, por todos os meus amigos e pessoas que me cercam.

Então quero pedir às deputadas, agora, já com a minha idade, que lutem e procurem alguma coisa para beneficiar os idosos, não é? Já estou na idade de pessoa idosa. Agradeço muito a vocês, um abraço para todas, felicidades para todas, e que possamos ver, nos próximos anos, esta Casa sempre cheia. Durante todo o tempo em que estive aqui, posso dizer que esta Legislatura é a que teve mais mulheres, e parabenizo todas por isso. Obrigada.

A presidente – Obrigada, querida Graça. Por motivo de deslocamento para a região Norte de Minas, em função do horário do ônibus, convido agora, gente, a Sra. Maria Zilah de Mattos. Ainda temos mais três pessoas aguardando. Vamos dar a palavra agora à Sra. Maria Zilah de Mattos, assistente social e integrante da Comissão Pastoral da Terra e dos movimentos sociais do campo. Na sequência, vamos ouvir Marlene Geraizeira, que é trabalhadora rural e geraizeira. Ambas têm retorno marcado agora para o Norte de Minas.

A Sra. Maria Zilah de Mattos – Boa noite a todos e a todas. Depois de beber dessa fonte de água viva das companheiras, a emoção da gente aumenta, não é? Talvez, nem vamos dar conta de falar. Quero cumprimentar as valentes e resistentes companheiras de caminhada e cumprimentar todas nós, homenageadas. Com a benção de Deus, também quero pedir a luz para continuar iluminando os nossos caminhos. Também gostaria de parabenizá-las pela organização deste evento num momento histórico e de grandes desafios para os brasileiros que atravessam uma situação muito difícil.

É uma gratidão, uma alegria e uma emoção muito grande ter agora esta oportunidade aqui, porque estou há mais de 50 anos acompanhando a organização, a luta e a resistência das mulheres camponesas de comunidades e povos tradicionais: ribeirinhas, quilombolas e geraizeiras da região do Vale do Mucuri, do Jequitinhonha e do Norte de Minas. Para mim, esta homenagem não é minha, ou não é somente minha, ela é de tantas outras mulheres com quem caminhei essa longa caminhada. E eu queria compartilhar e dedicar aqui esta homenagem às mulheres que resistiram, que lutaram, que sofreram todo tipo de violência, de opressão, de discriminação, de perda de direitos. Muitas delas tiveram que sepultar seus maridos, seus filhos, seus parentes, porque foram mortos defendendo os seus territórios sagrados. E agora, depois de tanto tempo, poder celebrar e esperançar por meio de muitas mulheres que permaneceram de pé, essa diversidade agora, aqui, de companheiras caminhando na luta, que continuam construindo um processo de libertação e acreditando que é possível mudar a história deste país, para ter mais justiça, liberdade e dignidade. Isso nos faz reforçar a nossa caminhada e dizer que este país vai mudar. E as mulheres vão continuar fazendo história, cantando na dor, na morte, na alegria e na vitória, como se faz agora na caminhada do povo. E aí vocês podem até cantar o que a gente canta todo dia: (– Canta:) “Para mudar a sociedade, do jeito que a gente quer, participando sem medo de ser mulher”. Um abraço a todas.

A presidente – Muito obrigada, Maria Zilah. Ouviremos agora a Marlene. (– Pausa.) É preciso microfone porque estamos ao vivo na TV.

A Sra. Marlene Geraizeira – Obrigada. Eu sou Marlene Geraizeira. Sou do Distrito de Vale das Cancelas, Grão-Mogol.

Essa palavrinha “serpente” aqui é a SAM, Sul Americana de Metais. Pela honra e glória do Senhor, ela não vai para o Distrito de Vale das Cancelas, Grão-Mogol. E essa palavrinha “guerreira” aqui... Eu quero agradecer, deputada Ana Paula, Andréia de Jesus, Beatriz Cerqueira e Leninha. Eu abraço vocês, Leninha e Beatriz, que conhecem o nosso território tradicional geraizeiro com 27 comunidades tradicionais reconhecidas pelo Estado de Minas Gerais. Mas há um complô com o Zema e alguns deputados. O deputado Arlen Santiago... Eu gostaria que ele estivesse aqui, mas não está, e eu sei que ele está me ouvindo. Ele pediu para que eu e meu marido estudássemos, mas existem algumas pessoas que sabem ler e que são analfabetos. E aí o Dr. Arlen Santiago, juntamente com o presidente da Amams do Norte de Minas Gerais e os prefeitos do Norte de Minas Gerais, está em um complô para assinar a autorização da licença ambiental do Norte do Estado. Nós não queremos mortes mais. Queremos o cancelamento das duas audiências públicas que foram feitas no Norte de Minas Gerais, em Grão-Mogol e Fruta de Leite, nos dias 10 e 11 de maio.

Só mais um minutinho. Só vou dar esse recadinho.

Existe a Lei Mar de Lama Nunca Mais, mas essas duas audiências públicas vêm infringir essa lei. E gostaria, Beatriz, Leninha e Ana Paula, que fosse aberta uma CPI contra a Semad e a Sedese, que foram lá compactuar com essa infração em relação aos povos e comunidades tradicionais, abrindo a Resolução nº 1, de Minas Gerais, pactuada com os deputados. Isso é inadmissível para os povos e comunidades tradicionais! Nós temos uma lei. Isso aqui são as mulheres que nos representam no território tradicional geraizeiro, são as mulheres que nunca aceitaram a SAM, a Norflor, a devastação que existe no Norte de Minas Gerais. Então são mulheres, e elas nos representam.

Gostaria também de deixar um documento aqui para cancelarmos essa audiência pública. Eles publicaram no jornal do Norte de Minas agora que existem uns geraizeiros falsos apoiados pelos prefeitos do Norte de Minas Gerais. Eles não nos representam porque lá existiam geraizeiros que nascem na terra e que se criaram lá. Muito obrigado. Estou muito feliz por esse convite, e as mulheres das minhas comunidades sintam-se representadas por mim, guerreira.

A presidente – Muito obrigada, Marlene. Traga aqui para nós o documento para, inclusive, registrarmos a foto. Convido agora, para o seu pronunciamento, a Sra. Maria Consentino, juíza aposentada, advogada especialista na defesa da mulher, professora e escritora.

A Sra. Maria Consentino – Boa noite a todas e a todos. Cumprimento especialmente as duas deputadas, Ana Paula e Andréia, que tão bem representam as mulheres mineiras nesta Casa. É um orgulho muito grande para mim. Sinto-me muito honrada de participar deste evento, desta plenária.

Quero dizer a cada mulher que está aqui que a luta de vocês é a luta de toda a sociedade desperta. É a minha luta. Como mulher cis, branca, que teve oportunidade de estudo, eu me vejo em cada uma de vocês, porque, quando me tornei juíza da violência doméstica, escutando mulheres todos os dias me relatando todos os tipos de dores pelas quais passam nos lugares que deveriam ser respeitadas e amadas, comecei a despertar. A partir daí comecei a me tornar uma ativista no aposento do Poder Judiciário e me tornei como vocês, somando a minha luta com a de vocês contra um sistema milenar que se chama patriarcado, que nos causa tantas dores e, muitas vezes, dores invisíveis – são violências naturalizadas que as pessoas, a sociedade como um todo não percebe e pratica e reverbera como se fosse tudo muito natural.

A minha luta, o meu propósito se tornou, então, o despertar, o despertar da nossa sociedade, o despertar de cada mulher para que retome o seu poder, porque conhecimento é poder quando você começa a conhecer. Então, uso as redes sociais para expandir toda a minha experiência como magistrada e como mulher para cada uma retomar o seu poder, que é através de reconhecimento de tipo de violência, violência obstétrica, violência institucional, violência dentro do Poder Judiciário. A minha luta é para trazer efetividade maior à Lei Maria da Penha. Lá de dentro sei o quanto temos um Judiciário machista. Nossa, o tempo passa rápido. Não sabia.

Então, agradeço imensamente a oportunidade de estar aqui neste lugar de fala, na jornada. Contem comigo nessa jornada de vocês, que é minha também. Gratidão.

A presidente – Muito obrigada, Dra. Maria Consentino. Convidamos, agora, a Sra. Marcela Viana, educadora social e redutora de danos.

A Sra. Marcela Viana – Boa noite a todos e a todas.

E com o maior prazer que estou aqui, representando aqui um lugar tão especial. Sou Marcela Viana, 39 anos. Vivi na rua 10 anos, usuária de álcool e outras drogas. Sou mãe de cinco crianças: quatro delas vivem comigo, e uma foi sequestrada na maternidade, tirando o meu direito de ser mãe. Essa situação foi muito triste para mim e me fez sofrer muito. Agora mudou: agora tenho um emprego, tenho a minha casa e os meus filhos. Com muita luta, consegui o meu emprego. Como é difícil ser uma mulher negra, uma mãe solo, arrumar um emprego e um lugar para deixar as nossas crianças! A minha luta, como redutora de danos e educadora social, é por mais vagas nos espaços públicos para mulheres que já estiveram em situação de rua, por mais maternidades capacitadas para receber essas mães que vêm de situação de rua e por mais espaços, mais feiras para as mães artesãs colocarem seus artesanatos.

Eu quero agradecer às minhas colegas do projeto Abraço e Apoio. Gente, desculpem-me, estou muito nervosa. Obrigada e boa noite.

A presidente – Muito obrigada, Marcela. Obrigada pela sua presença e pela sua mensagem.Vamos convidar agora a querida amiga, Sra. Márcia Araújo, poeta e ativista cultural.

A Sra. Márcia Araújo – Boa tarde a todas e a todos. Cumprimento à Mesa e já agradeço o convite.

Quem não se apaixonou pelos versos de Adélia, quem não se viu nos versos de Cora, quem não se entristeceu diante do espelho como Cecília, quem não se viu representada pelas Lígias, Clarices, Ildas, Carolinas, Zélias, Marinas, Conceições, exemplos para citar somente algumas das grandes mulheres da nossa poesia e literatura. O espaço para se escrever e publicar sempre foi masculino. Por quê? Eles têm mais histórias, capacidades, emoções? Claro que não. Nós, mulheres, sempre sofremos mais o impacto das pressões socioculturais. E, com as escritoras, não poderia ser diferente. Várias usaram pseudônimos masculinos.

No século XIX, Amandine Dupin usou George Sand. No século XX, Nair de Teffé usou Rian. E pasmem, no século XXI, hoje, JK Rowling escondeu o seu primeiro nome, Joanne, para publicar os seus livros da série Harry Potter. E. E. James, autora de Cinquenta tons de cinza, escondeu atrás de iniciais o seu nome. Por essas e outras, a produção literária feminina sempre foi numericamente inferior a dos homens, inclusive nos dias atuais. É inquestionável que a presença de mulheres na literatura é tão fundamental quanto em outras tantas áreas. As dificuldades encontradas na história da mulher na literatura são talvez as mesmas encontradas na música, nas artes plásticas, em toda e qualquer forma de manifestação artística, mas hoje temos voz em espaço como este, neste momento.

Usamos o nosso direito de expor pensamentos e opiniões diante da sociedade. Não foi uma conquista fácil, mas a duras penas estamos conseguindo. Mas queremos mais, muito mais representatividade. Como conseguir? Trago algumas sugestões: inclusão de textos femininos de todas as épocas, nacionalidades e condições sociais em escolas, causando assim uma naturalização e uma valorização da escrita feminina e incentivo a outras meninas a escreverem; difusão da literatura feminina em feiras, escolas, saraus, publicações; valorização da literatura feminina independente do tema, gênero ou abordagem através de políticas públicas; e criação de espaços para apresentação, reflexão e divulgação da literatura produzida por essas escrituras. Muito obrigada.

A presidente – Muito obrigada, Márcia. Vamos convidar agora Maria Edna Fernandes, estudante de direito, diretora de Relações Institucionais do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal de Juiz de Fora e ex-aluna do Parlamento Jovem de Minas.

A Sra. Maria Edna Fernandes – Boa noite a todos. Cumprimento a Mesa. O meu nome é Maria Edna, tenho 21 anos. Sou estudante de direito da Universidade Federal de Juiz de Fora, coordenadora-geral e diretora de Instituições Públicas do DCE, diretora de Políticas Públicas da União Estadual dos Estudantes, faço parte do movimento da União da Juventude Socialista – UJS – e da JS Feminista.

É um prazer estar aqui. A última vez que eu estive, nesta Casa, foi em 2018, em que ocupei aquela cadeira, presidindo um dos grupos de trabalho do Parlamento Jovem no tema “Violência contra a mulher”, em que presidi o tema “Violência doméstica e familiar”. Sou da cidade de Capelinha, no Vale do Jequitinhonha, uma cidade extremamente coronelista, patriarcal, onde nós mulheres não temos representatividade política. Na minha cidade, não tínhamos nenhuma vereadora na câmara e, hoje, temos uma vereadora eleita, com muito custo. O Parlamento Jovem foi onde iniciei toda a minha formação cidadã em política. Eu agradeço muito ao projeto, que é um projeto desta Casa, porque foi através dele que estou aqui, hoje; através dele que eu me ingressei na universidade. Sou aluna de escola pública a minha vida inteira. Para quem está me assistindo, na minha cidade, para as meninas jovens do meu Parlamento Jovem, eu sempre digo a elas: “Acreditem em vocês! Vocês podem chegar aonde vocês quiserem”.

Como estudante, acho muito importante levantar a pauta aqui das jovens estudantes em defesa da universidade pública gratuita, de qualidade, das estudantes que são mães, que precisam de apoio na universidade, como auxílio-creche, num ambiente dentro da própria universidade, para que elas consigam seguir a sua carreira.

Encerrando, falaram aqui sobre a questão da roupa. Pensei mil vezes, e isso é ser mulher, quando coloquei essa roupa vermelha de ombros de fora para vir aqui, nesta Casa. A gente que é mulher precisa pensar mil vezes com que roupa vai sair na rua, porque a gente sabe que, em qualquer esquina, em qualquer lugar, até mesmo dentro de casa, nós estamos sujeitas à violência. A minha roupa é muito simbólica, é vermelha. A minha palavra é esperança, porque a música já diz: “Acesa a esperança vive”. Fora, Bolsonaro! Obrigada.

A presidente – Muito obrigada! Obrigada, Maria Edna. Vamos convidar agora Maria Rita Ornelas Murta, diretora da Escola Estadual Guimarães Rosa, em Belo Horizonte.

A Sra. Maria Rita Ornelas Murta – Boa noite a todos e a todas.

A presidente – Boa noite.

A Sra. Maria Rita Ornelas Murta – Boa noite à Mesa; boa noite, Bia, companheira; Ana Paula; e Leninha. A Ana Paula e a Bia, a gente já se conhece da escola, não é? Eu sou Maria Rita, da Escola Guimarães Rosa, no Bairro Pindorama. Gostaria de cumprimentar todas vocês, mulheres; todas que estão aqui.

Vou falar um pouquinho sobre o nosso trabalho na escola, hoje. Sempre foi difícil, mas pós-pandemia está muito complicado. A nossa escola hoje tem 847 jovens, de 12 a 17 anos. É uma escola de periferia, em que 80% dos nossos adolescentes é da comunidade Pindorama. Então a luta é muito grande. Depois que passou a pandemia, os problemas se multiplicaram. As nossas adolescentes, hoje, têm crises na sala de aula, crises de ansiedade, e os professores não estão mais dando conta. Elas têm crise de ansiedade, automutilam-se dentro da sala de aula, e o professor vai correndo chamar a gente. Então são problemas emocionais grandes, graves.

Eu sei que a Beatriz acompanha esse trabalho da escola. A Ana Paula também faz um trabalho com a gente lá na escola. Ela até dá um suporte na dança, não é, Ana Paula?

Mas o que eu peço mesmo é apoio. Eu até achei mesmo que aqui estaria lotado de deputados para a gente pedir apoio. O que a gente precisa, hoje, na escola é de profissionais da área da saúde, infelizmente, porque o nosso trabalho de educador está deixando a desejar. A gente fica na parte da escuta, mas escuta não vai resolver. O que vai resolver são profissionais da área de saúde para ajudar essas jovens. Então eu peço a vocês apoio nesse setor. Muito obrigada, Leninha, Ana Paula e Beatriz.

A presidente – Maria Rita, vamos acrescentar aqui também a nossa luta e acompanhamento para a implementação da lei federal que inclui os assistentes sociais e psicólogos na educação. Vamos convidar agora Marina Dias Nunes, que é estudante do curso de engenharia agronômica, filha de agricultores familiares e colaboradora do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Jordânia.

A Sra. Marina Dias Nunes – Boa noite a todos. Como foi citado aqui, meu nome é Marina Dias Nunes, sou da cidade de Jordânia, Minas Gerais. Sou estudante do curso de engenharia agronômica pelo Instituto Federal Norte de Minas Gerais – IF Campus Almenara. Estou aqui representando Teresa Lima, vereadora e presidente do Sindicato de Jordânia, que não pôde estar presente hoje devido à agenda, mas pede para agradecer à Fetaemg, na pessoa da diretora de Mulheres, Alice, o convite e a indicação.

Eu sempre cresci e morei no campo, juntamente com os meus pais. Eu sempre vi, desde muito cedo, a importância da mulher na política, no comando à frente de propriedades rurais e diversas outras áreas. E, a cada dia que se passa, através de muita luta, estamos conseguindo ocupar esses espaços, mas vale pontuar o preconceito que a gente sofre enquanto mulher por estar à frente de propriedades rurais, onde o coronelismo, como foi citado aqui, os mais velhos sempre colocam que a gente não tem tanta autoridade de estar naquele ponto. Pouco a pouco, eu vejo, acompanho muitas mulheres, pelo Instagram, que trabalham com campo, que se mostram à frente de propriedades rurais. Isso é de muita importância. Além do mais, como o próprio tema da nossa plenária já diz, a mulher na política é de muita importância, mas ainda somos minoria. E devemos lutar para que, a cada dia, as mulheres ocupem mais espaço nessa esfera. Quem sabe, na próxima eleição, a gente tenha mais cadeiras aqui sendo ocupadas por mulheres, tanto aqui, na Assembleia, como também em prefeituras e em diversas outras localidades. Espero que a gente sempre se mantenha viva, para que a gente consiga ocupar todas as esferas que existem no nosso mercado, no nosso país.

O lugar de mulher é onde ela quiser. Muito obrigada.

A presidente – Muito bem, Marina. Obrigada. Vamos ouvir agora a Sra. Marli Beraldo, presidenta da Associação de Catadores de Materiais Recicláveis de Sarzedo – Acamares.

A Sra. Marli Beraldo – Boa noite. Eu queria cumprimentar as deputadas. Queria cumprimentar a Bia. Estou um pouco emocionada. Eu tenho facilidade de fala, mas estou bem emocionada hoje. Quero cumprimentar a Beatriz Cerqueira, pois a gente tem uma história de caminhada juntas, não é, Bia? Quando o tema vem por representatividade, justiça e respeito, ser convidada para participar dele é muito bacana para mim.

Leninha, parabéns pela representatividade e força. A Andréia de Jesus é uma figura que mora no meu coração. É aquela coisa, se me perguntarem: “Você se sente representada?”. Demais por você – viu, Andréia? –, com todo respeito às outras. A Ana Paula foi uma grata surpresa para mim. Conheci Ana Paula na luta, no abraço no Centro Mineiro de Referência em Resíduos Sólidos. Então eu já conhecia a Ana na resistência, e ela ganhou o meu respeito, viu, Ana? A gente tem trombado aí nas lutas dos catadores.

Meu nome é Marli Beraldo e sou da cidade de Sarzedo. Estou emocionada porque estão ali os meus colegas de trabalho. É muita luta no dia a dia, não é, gente?

A Acamares tem uma história de resiliência e luta no território da mineração, no território onde há o maior incinerador da América Latina e onde aconteceu o crime da Vale, e a gente não pode deixar de falar disso. Nas falas das pessoas aqui, vimos muita representatividade. Ana, que coisa bonita ver como você conduziu isso, viu? Eu acho muito bacana ver mulheres com uma potência, um registro de movimento tão grande, mas também com uma leveza, uma poesia na forma de fazer política e na condução da Mesa, não é? São nove deputadas, mas a forma de conduzir esta Casa... Estou muito bem representada por vocês. Vejo essa empatia, essa energia para fazer as coisas. Então, é muito bom, depois de resistir neste tempo de Bolsonaro, que é um governo que nos mata e nos agride, estar aqui no Sempre Vivas. É um presente, viu? Deixo um abraço para todas as mulheres que estão aqui. É muita pauta, não é, gente? Só que umas pautas aí são caras. Eu fiquei muito emocionada com cada fala que ouvi aqui.

Mais uma vez, quero agradecer à Acamares e às amigas. Quero agradecer também às mulheres do Município de Sarzedo, que agora à noite estão lá em um momento meio festivo – mas estão lá, não é? E é isso. Vamos ocupar o Legislativo, votar em mais mulheres que tenham pauta, mulheres que tenham história de resiliência – resiliência veio para mim, olha, e gostei demais, viu? –, mulheres que tenham história de resiliência e luta. Marielle vive. Eu quero cumprimentar também as meninas ali. Eu esqueci o nome dela. Você aí, de azul, a sua fala mexeu muito comigo. Eu gostei quando você falou: “A gente não tem só que sobreviver, não”.

Então eu sou a Marli, sou catadora de materiais recicláveis...

A presidente – Concluindo, Marli.

A Sra. Marli Beraldo – Tenho muito orgulho de ser filha de Ana Martins de Siqueira, uma mulher negra. Nasci em BH, no Morro do Papagaio, fui acolhida em Sarzedo, através de uma ação dos vicentinos e levo a minha vida com isso, com muita resiliência. Muito obrigada, gente.

A presidente – Muito obrigada, Marli, guerreira. (– Manifestação nas galerias.) Uhu!

Vamos convidar agora a senhora... (– É interrompida.)

A Sra. Marli Beraldo – Economia solidária sempre – viu, gente? –, para continuarmos resistindo em nossos territórios.

A presidente – Quero convidar a deputada Andréia de Jesus para tomar assento à mesa conosco e também a Sra. Miriam Aprigio, quilombola, historiadora, professora e representante da Rede Quilombola da Região Metropolitana de Belo Horizonte.

A Sra. Miriam Aprigio – Boa noite a todos, a todas e a todes.

Bom, sou Miriam Aprigio. Um salve aos ancestrais. Eu sou porque eles foram e seguem a ancestralizar. Sou ativista quilombola e dos direitos humanos, oriunda de um território preto que resiste na cidade desde o século XIX, hoje conhecido como Quilombo dos Luízes, o primeiro quilombo reconhecido em contexto urbano.

Bom, pensando também na importância das confluências, me represento aqui como membro do Trono Coroado da Irmandade Ciriacos e saúdo a todos. Salve, Maria, para quem é de salve Maria, axé pra quem é de axé, amém para quem é de amém. Que assim seja! Ficou lá na mesa o meu papelzinho, mas a minha hashtag é território. Nós, povos e comunidades tradicionais do Salve as Parentes, sabemos o quanto é essencial para nós o direito ao território. É sobre o território que se processam nossas práticas, que são preservadas as nossas tradições e os nossos costumes. Uma questão muito vinculada ao território do qual nós, povos tradicionais, somos zeladores, é a vida, a vida que ali se processa, sem a intervenção do Estado – muito bem, obrigada. Como foi colocado aqui, sem a intervenção do Estado, nós vivemos, e com a intervenção estatal, nós temos que lutar por sobrevivência. Então, nós estamos aqui hoje especialmente para reivindicar, a despeito de tudo o que a mineração, os empresários do agronegócio, as grandes construtoras têm feito para promover a retirada do nosso território. A gente está aqui é com o pleito desse direito de preservar essa conquista que nós conseguimos assegurar aí desde os tempos coloniais.

Foi feita uma pergunta para nós: o que nós poderíamos sugerir como solução para esse problema? A resposta está na representatividade. Eu acredito que há dois ou quatro anos, não me lembro muito bem, eu fiz aqui nesta Casa um curso em que a gente trabalhava a questão da representatividade feminina na Assembleia. É isso! O que falta para resolver os nossos problemas é vontade de política. E se a gente quer transformação, quem vai ter que arregaçar as mangas e começar a promovê-la somos nós mesmas. Força, mulheres! Que haja transformação e que comece por nós.

A presidente – Muito bem. Nós vamos convidar agora a Sra. Suzana Villas Bôas Micska, que é artesã. Aproveito para saudar e cumprimentar a mãe dela, a Sra. Ruth Villas Bôas, que está aqui também conosco. Há 54 anos ela é feirante da feira hippie aqui de Belo Horizonte. Muito obrigada pela presença de vocês que fizeram a exposição. Suzana, a palavra está com você.

A Sra. Suzana Villas Bôas Micska – Boa noite a todas e a todos. Eu deixei a minha palavra ali, mas é um orgulho estar representando as artesãs de Minas Gerais. Sou a Suzana Villas Bôas, artesã da feira da Afonso Pena, filha de Ruth Villas Bôas, artesã há mais 50 anos, quando a feira ainda era na Praça da Liberdade. Gente, a feira é o cartão-postal de BH. Hoje são em torno de 40 mil pessoas que frequentam lá todos os domingos. Pode ser muito mais. Precisamos de uma parceria forte das autoridades governamentais na parte de publicidade semanal, com propaganda, seja na rádio, na televisão ou nos jornais, fazendo a feira ser reconhecida novamente, colocando os clientes a par dos nossos produtos, do que fazemos, que eles possam ser incentivados a vir e a comprar e assim fazer a economia regional girar. Precisamos de um policiamento mais ostensivo lá. Os ladrões estão puxando as nossas mercadorias, as nossas barracas estão indo ao chão. É uma vergonha o que está acontecendo lá aos domingos. Em época de chuva precisamos que a prefeitura nos forneça tendas ao longo de toda a Afonso Pena para que a gente possa ter tranquilidade para vender os nossos produtos e os clientes possam comprar com tranquilidade também. Se possível, eu reivindico aqui, mais pessoalmente, um dia a mais de feira, como era antigamente, aos domingos e às quintas-feiras. O cliente que não puder ir aos domingos tem a oportunidade de ir outro dia para comprar, O.K.? Gostaria de falar que isso é uma via de mão dupla, porque não só a gente sai ganhando, mas todos ganham, a cidade também, e a feira volta a estar no topo, como era antes. Por favor, não deixem essas reivindicações caírem no esquecimento.

Só mais uma coisa. Parabenizo todos os dirigentes da prefeitura que organizaram esse novo layout da feira. Por favor, não deixem que volte ao layout anterior. Está maravilhoso. Todos os clientes, sem exceção, estão gostando, assim como a maioria dos feirantes.

Obrigada pelo carinho com que fui recebida aqui. Um abraço carinhoso em todas vocês. Sou muito fã e tenho um carinho muito grande pelos índios. Sou prima dos irmãos Villas-Bôas. Queria dizer que vocês não deveriam estar aqui reivindicando nada, mas, sim, estar numa redoma, sendo protegidas por nós. Meu carinho grande por vocês. Um beijo.

A presidente – Muito obrigada. Convidamos agora a nossa querida Neila Batista, assistente social e dirigente partidária.

A Sra. Neila Batista – Resistindo aqui bravamente, não é? Mas Parlamento também é lugar de resistência.

Acho que há algumas questões que são fundamentais. Uma delas é que a gente precisava agregar a essa Carta de Minas o manifesto dirigido a todas as eleitoras para só votarem em candidaturas de mulheres e de alguns homens – vamos dizer assim – que assumam o compromisso de lutar, apoiar e defender que a próxima legislatura, no Congresso Nacional, mude a Constituição Federal, garantindo a composição paritária de gênero nas casas parlamentares do País; convocando também os eleitores homens democratas que assumam tal proposta. Nós somos a maioria no País e queremos pelo menos 50% desse espaço nos parlamentos. Sem esse quantitativo, sem ocupar esse espaço efetivamente, nós não vamos mudar tão rapidamente aquilo que precisamos mudar na vida de todas nós, mulheres.

Então, esse é um chamado importante às leitoras e aos eleitores: que votemos em mulheres comprometidas com essa alteração – e aos homens também, a gente sabe que existem alguns que são comprometidos com isso –, para que tenhamos essa paridade nos parlamentos do nosso país para mudar efetivamente a vida de todas nós, mulheres. É isso.

A presidente – Muito obrigada, Neila.Vamos convidar agora a Patrícia Queirós, que é mulher trans, profissional da beleza e moradora do Município de Japaraíba.

A Sra. Patrícia Queirós – Boa noite a todos. Eu vim aqui pela luta contra o preconceito, não é? Quero parabenizar todas vocês que já estiveram aqui em cima e falaram umas lindas palavras, como aquela moça, não é? Ficamos até emocionadas ao ver aquela senhora numa maca lá no hospital.

Eu vim falar sobre o preconceito à mulher trans na área de trabalho pela população, tipo assim, em geral na... Espere aí, gente! Trabalhos em geral, públicos. Eu já sofri um preconceito. Fiz um.... Como eu posso falar? Eu fiz um teste para trabalho e não fui chamada por ser trans. Isso me magoou muito. Eu tive que caçar os meus meios de conseguir alguma coisa para fazer. Hoje em dia trabalho para mim na área da beleza. Sou maquiadora e faço extensão de cílios. É isso! Queria parabenizar todas vocês e agradecer à Ana Paula o convite. Muito obrigada.

A presidente – Muito obrigada, Patrícia, lutando aí por respeito e empregabilidade!

Vamos convidar agora a Paula Rita Bacellar Gonzaga, que é psicóloga e professora do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais.

A Sra. Paula Rita Bacellar Gonzaga – Boa noite. Quero começar agradecendo às que permanecem aqui, na resistência, como a colega disse; e também a plenária às deputadas, por proporem este espaço. Quero dizer que todas as lutas que nós citamos hoje não começam nesta sessão. Então quero honrar as mulheres que seguiram em luta para que hoje nós pudéssemos estar aqui. A palavra, o segmento que me foi direcionado foi saúde mental, e, na semana passada, nós tivemos o Dia da Luta Antimanicomial. Estávamos lá falando que saúde não se vende e que loucura não se prende. Para falar de atenção à saúde mental, nós precisamos reconhecer que saúde mental e sofrimento mental são fenômenos produzidos na sociedade, produzidos nas relações desiguais que nós alimentamos, muitas das quais foram faladas e denunciadas aqui, hoje. O sofrimento mental é muito mais frequente do que a saúde mental porque a nossa sociedade desigual repele as pessoas consideradas diferentes; cria situações em que a existência de muitas de nós, de mulheres negras como eu, de mulheres trans, de mulheres mais velhas, de mulheres com alguma deficiência, de mulheres que vivem na zona rural, de mulheres indígenas seja impossível. E isso é adoecedor. Se este estado e se este país não nos permitem existir na nossa pluralidade; se este estado e se este país violam os nossos modos de vida, a nossa cultura; se este estado e se este país continuam um projeto de genocídio, de epistemicídio, de etnocídio, realmente não há como falarmos de saúde mental como iniciativa que vai afetar apenas indivíduos, que vai ser produzida apenas para indivíduos. Nós precisamos pensar em políticas públicas que efetivamente controlem esses modos de extermínio e que permitam a nossa existência na sua forma ampla, e com toda a magnitude que isso significa.

Quero repetir aqui algo que eu acho que é muito importante: nesta semana, uma semana depois da luta antimanicomial – eu já vou concluir –, nós assistimos, mais uma vez, ao Estado brasileiro matando pessoas negras. Eu não posso sair daqui sem dizer: é difícil ter saúde mental quando assassinam, todo dia, pessoas parecidas com a maior parte da população deste país. Eu não posso sair daqui sem dizer: vidas negras importam. E é muito cansativo que mulheres negras sejam a maioria das que morrem nos hospitais, sejam a maioria das que morrem nas periferias, sejam a maioria das que morrem por mortalidade materna. Vidas negras importam, a gente não pode esquecer disso. Vidas indígenas importam, vidas trans importam. Nós não somos minoria, nós somos maioria submetida a relações violentas de exploração, de opressão e de genocídio. Nós não vamos ficar em silêncio até que isso se reverta. Obrigada.

A presidente – Muito bem, Paula. Obrigada.

Vamos convidar agora Rafaela Cunha Sena, advogada, vice-presidenta da 12ª Subseção da OAB – Minas Gerais e presidenta da Comissão da Mulher Advogada da 12ª Subseção da OAB – Minas Gerais.

A Sra. Rafaela Cunha Sena – Boa noite a todas. Vou cumprimentar a Mesa na pessoa da Ana Paula. Apesar de ter sido apresentada como vice-presidente da OAB e presidente da Comissão da Mulher Advogada, eu estou aqui representando a Rede de Mulheres do Alto Jequitinhonha. A nossa luta é contra a violência doméstica. No Alto Jequitinhonha, a gente tem uma deficiência, uma carência na verdade financeira muito grande e a gente tem uma deficiência jurídica. A gente não tem uma defensoria pública atuante. Pensando nisso, junto com outra colega advogada, criamos o projeto Advogada Amiga da Rede, em que atuamos gratuitamente para mulheres que passam por violência doméstica e que não têm condições financeiras de arcar com advogado. A gente precisa ajudar essas mulheres a sair do ciclo de violência doméstica e empoderar essas mulheres. Junto com a rede, a gente trabalha o psicólogo e os advogados, totalmente de forma voluntária. É um serviço de formiguinha, que a gente brinca que a gente tem, necessário. E a gente precisa um pouco de o poder público olhar para o interior do Estado, principalmente para o Jequitinhonha, o nosso vale, que é carente. Eu agradeço a todos. Muito obrigada. Boa noite.

A presidente – Muito obrigada, Rafaela. Convido agora a Sra. Solange Simões, que é professora da Universidade do Leste de Michigan, copresidente eleita do Comitê de Pesquisa Mulher, Gênero e Sociedade da Associação Internacional de Sociologia e delegada da Organização Sociólogas pelas Mulheres, na Sociedade do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas.

A Sra. Solange Simões – É com muito orgulho e prazer que eu estou hoje, aqui, representando a minha colega, a professora Marlise Matos, professora da UFMG e coordenadora do Nepem – Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre a Mulher. A Marlise não pôde estar aqui hoje, mas, na minha breve fala, eu abordarei ideais e ideias que nós compartilhamos enquanto feministas acadêmicas e professoras universitárias.

As mulheres e suas lutas estão em todos os lugares. Conquistamos e avançamos em muitas arenas e, numa delas, somos responsáveis por promover verdadeiramente uma revolução silenciosa, a escolarização. Hoje podemos comemorar que as mulheres são mais de 60% daquelas que se formam no ensino superior no Brasil. E esse fenômeno é mundial. Em meio século, o abismo educacional entre homens e mulheres foi transposto. Essa foi uma luta de nossas avós e, sobretudo, de nossas mães. O conhecimento, o saber liberta.

O que sabíamos dos riscos e das ameaças reais sobre os nossos direitos, sobre os direitos das gerações de mulheres que virão depois de nós é que não nos é permitido voltar um passo sequer. A universidade tem um compromisso firmado com as mulheres brasileiras. A UFMG tem um compromisso firmado com cada jovem mulher que chega e que ainda vai chegar. Nós, feministas acadêmicas, temos o compromisso genuíno com a reconstrução de um saber que seja justo para com as mulheres, seus saberes e suas lutas.

As professoras e feministas acadêmicas são trincheiras de resistência contra os retrocessos nos direitos das mulheres. E, acredite, não daremos um passo sequer para trás. Nenhuma escola sem partido ou ameaça de condenação por ideologia de gênero vão nos amordaçar. Cada uma das 77 mulheres representadas nesta plenária tem uma professora guardada no coração, aquela que um dia acreditou em você quando ninguém mais o faria.

Represento hoje as feministas acadêmicas, mas cada uma de vocês também é uma educadora comprometida com a justiça social e de gênero, tão urgentes para o mundo e que serão geradas por nossa mente e nosso corpo. Estamos conscientes dessa missão a ser realizada com nossos saberes, sempre juntas, sempre lutando e sempre vivas.

Queria agradecer aqui e também fazer uma homenagem à minha mãe, que apenas teve curso primário e que dizia que o maior sonho da vida dela ela estudar. Muito obrigada.

A presidente – Qual o nome da sua mãe, Solange? Qual o nome dela? Registrando aqui a homenagem feita pela Solange à sua mãe. A mãe dela se chama Cecília.

Eu vou fazer a leitura da mensagem da Sra. Stella Ferreira, que é vice-presidenta da Associação Nacional de Pós-Graduanda(os) e covereadora da Coletiva BH. A Stela deixou aqui para a gente: “Tive que ir, mas gostaria de deixar registrado meu agradecimento por poder participar de espaço tão potente para nós, mulheres. Sigamos ocupando e transformando o poder. Que as mulheres cientistas tenham mais direitos à acesso e permanência na pós, que nosso estado crie políticas para fortalecer as meninas e mulheres na ciência. O que nossas universidades estaduais... Em 2022, queremos mais mulheres ocupando esta Casa. Sigamos em marcha até que todas sejam livres”. Stella Ferreira.

Vamos convidar agora a Sra. Thaís Cláudia D'Afonseca, advogada e professora de Direito do Trabalho da PUC-Minas.

A Sra. Thaís Cláudia D'Afonseca – Boa noite a todos. Cumprimento as deputadas da Mesa por este excelente evento de muita representatividade. Antes de falar na condição de advogada e professora, como foi anunciado, eu quero dizer que eu estou aqui nesta tribuna de muita representatividade como mulher, como membra da comunidade LGBTQIA+, casada com uma mulher com quem eu formo uma família, com as minhas duas filhas adolescentes, um enteado e uma enteada. Também sou dona de casa, feminista, antirracista, sindicalista, diretora, vice-presidente do Sindicato dos Professores de Minas Gerais.

As mulheres sempre sofreram e sofrem desigualdade também em termos de direitos trabalhistas. Mesmo que exista a letra da lei, a Constituição, na realidade, nós vivemos essa desigualdade nos contratos de trabalho. A pandemia, por exemplo, mostrou isso. Os trabalhos invisíveis e indesejáveis socialmente foram exercidos na pandemia, expondo o vírus às mulheres, às enfermeiras, às cuidadoras, às empregadas domésticas, às caixas de supermercado. O trabalho na pandemia, o trabalho que expôs ao risco, foi um trabalho que tem gênero.

Desde sempre, o trabalho da mulher sofreu os piores efeitos em tempos de crise. Por exemplo, a partir do golpe misógino de 2016, foi possível implementar a reforma trabalhista que trouxe diversos retrocessos e as mulheres sofreram mais os efeitos da legislação reformista. Recentemente, a gente pode observar que o Legislativo vem retirando direitos com a convalidação do Judiciário. Eu coloco aqui, como exemplo, mais um ataque aos direitos das mulheres. O TST retirou a garantia de emprego da mulher gestante nos contratos de trabalho temporário terceirizado, e pasmem, nesse julgamento, era um processo de uma mulher trabalhadora contra uma empresa que é produtora, uma indústria de fraldas descartáveis para bebês. É um tempo de luta e resistência também no cenário trabalhista, especialmente no contrato das mulheres. É por isso que há a necessidade de representatividade e de unidade, essa nossa diversidade aqui. A minha palavra é a palavra de isonomia, de igualdade. Nós só vamos conseguir igualdade e isonomia com o poder, exercendo o poder nos centros de poder, nas lideranças das comunidades, nas lideranças dos movimentos sociais, nas presidências dos sindicatos, nas direções das empresas e, acima de tudo, nas Casas Legislativas, como vereadoras, como deputadas, como senadoras, como deputadas como estas aqui. Então, juntas, precisamos nos unir para, nas próximas eleições, votarmos em mulheres. Fora, inominável! Marielle presente!

A presidente – Thaís, venha aqui para a gente lhe dar um abraço. Vamos convidar agora a querida, mulher, lutadora, brava, representante das agricultoras do assentamento da reforma agrária de Brumadinho, querida Valéria Carneiro.

A Sra. Valéria Carneiro – Boa noite a todas. Boa noite a todas as deputadas. Boa noite! Acho que na história desta Casa nenhuma mulher sem-terra subiu neste espaço. Quero cumprimentar as minhas filhas que estão ali persistindo até este horário. (– Emociona-se.) Eu me emociono porque sou mulher, atingida pelo crime da Vale e aqui trago comigo as mulheres assassinadas pela mineração e as mulheres assinadas e tombadas pela luta da reforma agrária – Mulheres que não tiveram a oportunidade que tive de estar aqui, neste espaço.

Quero deixar o meu repúdio aos machos patriotas escrotos que ocupam essas cadeiras e que não vieram nos ouvir, aliás, que nunca nos ouvem, mas que dependem de nós o tempo todo. As mulheres nunca são ouvidas. Nós vivemos de persistência. Não quero me delongar na minha fala porque sei que aqui há muitas mães, muitas avós, muitas senhoras que, depois daqui, têm a outra jornada em casa para cumprir: um filho querendo um colo, um marido para ser psicóloga e uma casa para cuidar. Além disso, eu, que sou agricultora, ainda vou levantar amanhã, às 3 horas da manhã, para trazer comida aqui para a capital.

Quero deixar registrada a relevância de ser mulher, de me considerar negra e de ser agricultora de um espaço machista e excludente, que nos deixa sempre para trás e que na maioria das vezes nos vilaniza e traz a culpa de sermos mulheres. Por tudo que acontece, a culpa é da mãe.

Por fim, muito obrigada. Quero agradecer à Leninha, à Bia e à Ana Paula, que são guerreiras que já conheço de outras datas. Muito obrigada e obrigada a vocês que persistiram neste espaço até agora.

A presidente – Gente, nós ainda temos mais algumas mulheres para trazer sua mensagem aqui, mas antes vou fazer um parêntese aqui porque quero falar para quatro homens especiais. Quero falar para o João Luca, para o Antônio, para o Manoel e para o meu marido Alan: a mamãe ama todos vocês. Não sei se a mamãe vai dar conta de falar, mas acabei de receber aqui, gente, uma foto dos meus meninos que estão em casa assistindo à nossa plenária, e quero dizer para o João, para o Antônio, para o Manoel e para o Alan que esse trabalho que estamos hoje coroando aqui, na Assembleia Legislativa de Minas, com a presença de muitas mulheres que representam as nossas mineiras, as nossas mulheres e meninas mineiras, é um trabalho que vai certamente promover uma sociedade mais justa e igualitária para todas e para todos. E vocês, queridos filhos, João, Antônio e Manoel, vão ter o prazer de desfrutá-la, graças a Deus. Muito obrigada, mamãe ama vocês!

Waldicéia Reis, tive que passá-los na frente aqui porque você já os conhece e sabe que eles já gritam e esperneiam nas rádios, então fiquei à vontade para poder falar. Mas agora vou convidar a minha querida amiga, ela, que é radialista e representante da força das mulheres do Médio Piracicaba, a querida Waldicéia Reis, para falar conosco daqui da tribuna.

A Sra. Waldicéia Reis – Vamos lá aos 2 minutos. Boa noite, gente. Como a Ana falou, eu sou a Waldicéia Reis. Eu atualmente trabalho como radialista e locutora numa emissora da cidade de Nova Era – o estúdio fica lá, mas nós atingimos a casa de, mais ou menos, 600 mil ouvintes. E vocês devem estar se perguntando: nessa era da tecnologia, o rádio ainda existe? Existem pessoas que escutam rádio? Sim. E é esta a nossa alegria: saber que, mesmo com a internet chegando, o rádio está aí para alegrar, para levar informação e muita coisa boa para todas as pessoas.

Eu estou muito emocionada, porque, para mim, está sendo uma honra participar deste evento representando a mulher no meio de comunicação. Agradeço à deputada Ana Paula Siqueira o convite, porque foi uma luta para chegar até aqui: muito preconceito, muito machismo, piadas terríveis do tipo “tem a audiência porque é mulher”, “conseguiu patrocinador porque é mulher”. Para uma mulher chegar aonde eu cheguei, como radialista, não é fácil. Também sou formada em pedagogia, fiz pós-graduação em psicopedagogia e extensão em psicologia clínica. A minha paixão é o rádio, sempre foi o rádio. Hoje eu estou na Rádio Alfa FM, onde eu apresento um programa, e a deputada tem participação. É um programa muito gostoso, toda quinta-feira, o De bem com a Vida. Com ela eu pude ter mais voz. Eu queria ter voz. Infelizmente, hoje falam que a imprensa pode, mas existem horas em que a gente fica meio calada. Quando a deputada chegou para fazer parceria comigo nesse programa, foi ótimo, porque ela veio com tudo detalhado, o que é lei e o que não é, e isso me deu mais oportunidade para falar para as mulheres.

Então, agradeço à deputada por fazer parte da minha vida. Estou muito emocionada de estar aqui hoje. Gente, que honra, que delícia estar nesta Casa às quase 7h30min da noite! Estou cansada? Sim, mas o reconhecimento paga tudo. E, nesta tarde, o meu pagamento maior foi quando eu coloquei uma foto no meu status, e minha filha de 17 anos me mandou: “Mãe, parabéns pela mulher incrível que você é”. Nossa, aquilo ali mexeu comigo. No mês de maio, mês das mães, foi um presentão para mim – embora seria em março – receber essa mensagem da minha filha. Foi maravilhoso.

Agradeço a todos vocês presentes. Já faço o convite para sintonizarem a Rádio Alfa FM, 105.3, na internet www.radioalfa.com.br. Um beijo para todas vocês. Obrigada. Sempre Vivas, estamos juntas!

A presidente – Isso aí, Waldicéia Reis. Agora vamos convidar a Sra. Yany Mabel, que é jornalista e gestora cultural.

A Sra. Yany Mabel – Saudações, mulheres que aqui estamos até agora! Saudações às companheiras deputadas. Mulheres de todo o mundo, uni-vos!

Eu inicio a minha fala saudando as que vieram antes de nós. Eu começo pela minha “mãinha”, Profa. Maria das Dores. Eu saúdo aqui a minha avó Orora, radiante como o nascer do dia e com a força do dia, e a minha bisavó Saninha. Eu saúdo todas as mulheres, honro todas as nossas ancestrais, que hoje nos abrem espaço. Estou aqui por Gaia Maria, a minha bebê de 1 ano, 1 mês e 10 dias. Forte, lutando contra o machismo, contra o patriarcado, por todas que estão por vir. Forte como uma mãe e forte como a minha mãe, que também é uma mulher de luta. Seguiremos em marcha, resistindo e persistindo pela ocupação dos espaços de decisões políticas, porque a minha palavra que trago hoje é vida, é vida, é vida para e por todas e todas e todos, é vida para todas as mulheres. Precisamos construir as políticas para as mulheres com as mulheres, na presença dessas mulheres. Sabemos das nossas necessidades para que essa geração que está aí, pela geração que está por vir não siga sendo violada, violentada, assassinada porque é uma mulher. Pela vida das mulheres negras, pela vida das mulheres trans, pela vida das mulheres LGBTQI+, pela vida da grande mulher mãe Terra, tirem o pé da nossa serra. Seguiremos em luta. Seguiremos em luta por uma mátria livre, por uma mátria livre. Seguiremos e venceremos, porque estamos juntas. E por isso, por nossas vidas, se faz necessária a ocupação de todas essas cadeiras. E que assim seja. Temos opção. Então, que votemos conscientes, com desejo de transformação. Que coloquemos mulheres aqui que defendam os nossos direitos.

Meu nome é Yany Mabel. Sou da cidade de Minas Novas, Alto Jequitinhonha. Tenho a honra de ter a primeira mulher vice-prefeita da cidade, que foi minha mãe, em uma terra onde o coronelismo reina, mata, persegue, expulsa. Assim como tantas companheiras do Norte de Minas e do Vale do Jequitinhonha que tiveram suas falas aqui, respaldo aqui e honro cada companheira da minha região. Nós sabemos o que é ser mulher no Vale do Jequitinhonha e como somos perseguidas pelo coronelismo, mas seguiremos. A cada companheira tombada, nem 1 minuto de silêncio. Lutaremos e gritaremos até que todas sejamos livres. Obrigada.

A presidente – Muito obrigada, Iane.

Aproveito para, na sua pessoa, saudar a querida Das Dores, Profa. Maria das Dores, assistente social, grande amiga.

Gente, com essa fala potente, inquietante da Yany, encerramos agora as manifestações das nossas representantes, das 77 representantes aqui das mulheres mineiras.

Antes de passar adiante para as considerações das minhas colegas deputadas aqui presentes, quero registrar uma homenagem a todas as mulheres trabalhadoras aqui da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, a todas que estão aqui que são servidoras da Casa, às servidoras de todos os gabinetes legislativos, especialmente dos gabinetes aqui representados, especialmente as nossas assessoras do gabinete da deputada Ana Paula Siqueira. Sem elas, confesso que esse evento não teria sido tão bonito, tão rico e tão completo como foi.

Mas quero, na pessoa da Sra. Rita, que não está conosco aqui neste momento, fazer um agradecimento especial. Ela está aqui? Venha cá.

Então, gente, quero inclusive pedir a todos aqui presentes que possamos ficar de pé e bater uma salva de palmas para a Rita, que é essa mulher que passou a plenária inteira nos dando condições de fazer uso do microfone, higienizando. Ela faz isso todos os dias permitindo a voz de deputadas e deputados.

A presidente – Como todas nós fizemos e bem feito o uso da palavra, nós vamos agora conduzir a Rita a falar pelo menos o agradecimento dela, ali na tribuna.

A Sra. Rita – Boa noite, gente. Estou com vergonha, mas representando as meninas da limpeza aqui, agradeço o reconhecimento. Obrigada.

A presidente – Muito obrigada, Rita. E é assim, não é, gente? Nós mulheres, por muitas vezes, estamos fazendo e atuando de forma fundamental, essencial, elementar, mas estamos invisibilizadas, e a nossa plenária acontece justamente no sentido de quebrar a invisibilidade de tantas mulheres fantásticas que existem em Minas Gerais afora.

A Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais manifesta os agradecimentos às autoridades, às convidadas, a todas e a todos que acompanharam a plenária Sempre Vivas 2022, sobre a importância da representatividade da mulher na política.

Eu passo agora, para as considerações finais, às nossas colegas deputadas, e peço-lhes que aguardem mais um pouquinho. Passo a palavra agora à deputada Andréia de Jesus para suas considerações finais e saudação.