RÉGIS ARSLANIAN, Diretor-Geral do Departamento de Negociações Internacionais do Ministério das Relações Exteriores.
Discurso
Discursa sobre tema do evento.
Reunião
15ª reunião ESPECIAL
Legislatura 15ª legislatura, 1ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 06/09/2003
Página 32, Coluna 3
Evento Ciclo de Debates: "O Brasil na Área de Livre Comércio das Américas - ALCA".
Assunto ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. COMÉRCIO.
Observação Participantes dos debates: Alex Albuquerque Sette, Gilberto Ottoni Porto, Jesiane Aguilar Barbosa, Thiago Antônio Bittencourt Boschi, Armando Giaquinto, José Eduardo da Silva, Fernanda Borges, Oderige, Samuel Avelino Alvarenga, Almir, Roberta Rodrigues Marques da Silva, Kleider Luciano Barbosa Risso, Cyntia de Souza Cardoso, Celina Alves Areas, Marcus Miranda Marins, Evaristo Garcia de Matos.
Legislatura 15ª legislatura, 1ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 06/09/2003
Página 32, Coluna 3
Evento Ciclo de Debates: "O Brasil na Área de Livre Comércio das Américas - ALCA".
Assunto ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. COMÉRCIO.
Observação Participantes dos debates: Alex Albuquerque Sette, Gilberto Ottoni Porto, Jesiane Aguilar Barbosa, Thiago Antônio Bittencourt Boschi, Armando Giaquinto, José Eduardo da Silva, Fernanda Borges, Oderige, Samuel Avelino Alvarenga, Almir, Roberta Rodrigues Marques da Silva, Kleider Luciano Barbosa Risso, Cyntia de Souza Cardoso, Celina Alves Areas, Marcus Miranda Marins, Evaristo Garcia de Matos.
15ª REUNIÃO ESPECIAL DA 1ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 15ª
LEGISLATURA, EM 22/8/2003
Palavras do Ministro Regis Arslanian
Agradeço ao Deputado Adelmo Carneiro Leão e à Assembléia
Legislativa por ter-me concedido a honra de participar deste
seminário. O senhor não podia ter escolhido tema mais importante.
Realmente, é controverso, é polêmico. Tenho trabalhado em comércio
nos últimos 18 ou 19 anos e talvez nunca com uma agenda de
negociação tão controversa, que, como o senhor mesmo disse,
despertasse reações tão antagônicas quanto a questão da ALCA.
É uma iniciativa relevante um agente de Governo envolvido
diretamente nessas negociações poder vir à Capital de um Estado
importante como Minas Gerais para explicitar o que o Governo está
fazendo, de que forma o Itamarati está conduzindo essas
negociações da ALCA. Felicito a Assembléia Legislativa por essa
iniciativa.
Não é a primeira vez que venho a Minas Gerais falar sobre a ALCA.
Ano passado estive em um seminário organizado pela Câmara de
Comércio Americana. Depois fui convidado para falar sobre o
assunto em Varginha e, mais recentemente, em Uberlândia. Não fui
apenas para falar sobre a ALCA, sobre o que o Governo está
fazendo, mas também para aprender um pouco. Entendo que o agente
de Governo não deve ficar apenas em seu escritório em Brasília,
pensando em formulação de posições brasileiras, sem conhecer
melhor o interior do País, sobretudo um interior importante como o
de Minas. Também é um aprendizado para mim vir conversar com
vocês. Fui convidado para participar do debate, o que faço com o
maior prazer, porque poderei ouvir a opinião de todos vocês sobre
o que é essa importante negociação.
Não nos esqueçamos de que a ALCA é um projeto. Não há como dizer
se é boa ou ruim para o Brasil. Será boa à medida que for bem
negociada pelos negociadores brasileiros, que os interesses
brasileiros forem bem atendidos, que for benéfica para nós.
Saberemos se é boa ou ruim quando for concluída, se é que será
concluída.
Se amanhã a ALCA for concluída, bem ou mal, vamos estabelecer um
cenário para o comércio exterior brasileiro com implicações para a
política industrial e econômica brasileira para os próximos 20
anos. Não é uma rodada de negociações como a uruguaia, que
terminou em 1992. Ela vige até hoje. Temos disciplinamento,
regulamentos internacionais e multilaterais que prevalecem até
hoje. A rodada com o Uruguai começou a ser negociada em 1986,
terminou em 1992, e Deus sabe lá quando teremos nova rodada,
porque já estamos engajados numa rodada de Andorra, chamada de
desenvolvimento - que de desenvolvimento tem muito pouco, apesar
de ter sido classificada como tal. Deus sabe lá quando teremos
novo acordo multilateral, que forme e constitua novas disciplinas
multilaterais.
O mesmo será para a ALCA. Se amanhã tivermos um acordo de livre
comércio hemisférico que inclua todos os países, menos Cuba, isso
estabelecerá um cenário de comércio exterior de política
industrial e econômica com implicações sociais profundas nos
próximos 15 anos.
Não poderia deixar de ser polêmico, e é bom que seja. É bom que
desperte reações antagônicas, porque democratiza essa negociação e
a torna mais legítima. Ao se tornar mais transparente e
democrática essa negociação, quanto mais a sociedade puder
participar e dar subsídios, melhores serão os acordos que vierem a
ser assinados. Quando houver a eventual negociação da ALCA ela
será legítima.
É isso o que o Governo do Presidente Lula mais quer. Nesses 18
anos de negociação comercial, participei das reuniões
preparatórias de nível técnico para os diferentes nove grupos
negociadores da ALCA. Pela primeira vez os representantes de todos
os segmentos da sociedade civil participaram ativamente,
informando e discutindo as posições tomadas nas negociações. No
SENALCA, representantes não técnicos e políticos participam da
preparação das negociações e informam as nossas posições
negociadoras.
Hoje em dia, 50% do meu trabalho é dedicado à preparação de
informação do Congresso Nacional. O Ministro Celso Amorim e o
Secretário-Geral das Relações Comerciais estiveram no Senado na
semana passada, e tivemos que preparar as informações. Também
participaram da reunião de Vice-Ministros de São Salvador os
Senadores Capiberibe e Eduardo Azeredo. Essa reunião se realizou
há um mês e meio para preparar as negociações comerciais da ALCA.
O Senador Suplicy também participa deste seminário, iniciativa
tão importante da Assembléia Legislativa de Minas Gerais.
Estou aqui também participando deste seminário, desta iniciativa
tão importante da Assembléia Legislativa, deste envolvimento maior
de um Legislativo de um Estado tão importante como Minas Gerais.
Isso é fundamental, novo e inédito. Desde que foi lançado o
processo negociador da ALCA, em 1994, não via uma participação tão
grande da sociedade civil, do Congresso, de parlamentos, nesse
processo negociador que será tão importante para todos nós. Esse,
então, era o primeiro ponto que gostaria de esclarecer, para
mostrar quanto é importante essa participação e essa reflexão
sobre um tema fundamental para todos nós e para o Brasil.
Como dizia, a ALCA é um projeto. Há pouco, dizia em uma
entrevista que a ALCA não existe. Ela, como uma associação de
livre comércio, só existirá quando houver acordo dos 34 países por
consenso. Ou seja, todos os países deverão fazer um acordo e
assiná-lo, subscrevê-lo. A ALCA hoje é um projeto, um
empreendimento que pode ser aperfeiçoado, alterado ou,
simplesmente, não acontecer. Ela foi lançada em 1994 por
iniciativa dos Estados Unidos, como o senhor disse. Então, ela não
é nem boa nem ruim.
Agora, estamos nesse processo negociador que se iniciou em 1994,
como disse. Quer dizer, já são quase oito anos não de negociação,
mas de preparação para a negociação. Justamente agora, estamos em
um momento mais crucial da negociação em si, ou seja, a ALCA está
prevista para ser concluída em janeiro de 2005. Temos mais 16 ou
17 meses de negociações. Há uma agenda negociadora, um mandato de
negociação acertado entre os 34 países, e deveríamos concluí-lo em
janeiro de 2005. Estamos na etapa final da negociação, na etapa
mais crucial em que, realmente, nos sentaremos à mesa de
negociação e trocaremos ofertas e concessões. Ou seja, o Brasil
apresentará as suas possibilidades de negociação, os outros países
também apresentarão as suas, e faremos uma troca de concessões,
tentando, a partir dela, retirar o máximo possível de benefícios e
vantagens para os interesses do Brasil.
Vocês poderiam perguntar sobre o estado atual das negociações.
Esse, aliás, foi o segundo tema da agenda de negociação da reunião
de Vice-Ministros de São Salvador, a que me referi há pouco. É
importante que se saiba que, pela primeira vez, houve consenso da
parte dos 34 países participantes de que o estado atual das
negociação da ALCA não está bem. Sobre o processo negociador, os
34 países participantes da ALCA disseram que se ele continuar como
está evoluindo, em 16 meses não chegaremos a uma conclusão exitosa
sobre as negociações. Aliás os Estados Unidos fizeram uma
intervenção. A chefe da delegação americana disse que, realmente,
a negociação não estava indo bem, e corremos o risco de não a
concluirmos como gostaríamos. Por iniciativa do Brasil - e poucas
pessoas sabem disso porque tem sido pouco noticiado pela imprensa
-, os demais países do MERCOSUL apresentaram - e isso se tornou um
documento que a secretaria da ALCA fez circular oficialmente - uma
proposta de restruturação das negociações.
Nosso argumento, nossa posição apresentada em São Salvador, na
reunião dos Vice-Ministros, foi de que o estado atual das
negociações não está bom, não concluíremos essa negociação se
continuarmos dessa maneira, com esse desequilíbrio na agenda
negociadora. O Presidente Lula assumiu um compromisso com o
Presidente Bush, na visita que fez a Washington, de concluir
exitosamente essa negociação em janeiro de 2005. Portanto, é
preciso repensarmos o processo negociador, reestruturá-lo de
maneira a fazer com que a negociação seja mais realista, mais
pragmática a partir de agora. Temos uma agenda muito abrangente e
muito grande na ALCA, em que vários temas estão envolvidos em
todos os setores, como por exemplo propriedade intelectual,
compras governamentais, serviços e investimentos, e essa agenda
não nos satisfaz. Isso foi dito em São Salvador.
O encaminhamento da negociação não nos satisfaz, porque está cada
vez mais se evidenciando um enorme desequilíbrio no tratamento
dessa agenda, ou seja, os temas que são da maior importância para
o Brasil e também para o MERCOSUL não estão sendo tratados da
maneira como gostaríamos, por exemplo a agricultura, e sobretudo o
“antidumping”, que tanto afeta as siderúrgicas mineiras. Estive em
Washington durante quatro anos, como Ministro Conselheiro, e vi o
que foram as exportações de aço e as restrições que os Estados
Unidos impuseram sobre nossas importações de aço, por conta de
investigações absolutamente arbitrárias e injustas que foram
conduzidas pelo Governo americano, contra o nosso aço. E, com
isso, hoje em dia, não exportamos nem 1/4 daquilo que exportávamos
há dois anos.
O “antidumping” e os direitos compensatórios são dois temas
vitais para nós, numa negociação com a ALCA e, sobretudo, com os
Estados Unidos, se queremos ter maior acesso ao mercado americano.
A agricultura, por conta dos subsídios agrícolas. Os americanos,
até 2010, deverão gastar em torno de US$90.000.000.000,00 em
matéria de subsídios agrícolas, em apoio domésticos e em subsídios
internos, também como subsídios a exportações. E, com isso, nós,
que não temos recursos para subsidiar as exportações, somos
deslocados não só do mercado americano, como também de terceiros
mercados. Hoje em dia, não conseguimos vender, no mercado
americano, quase nada em matéria de produtos agrícolas, apesar de
sermos muito mais competitivos que eles. Se os Estados Unidos
tivessem de abrir mão dos seus subsídios, invadiríamos o mercado
americano, como também invadiríamos uma boa parcela do mercado
internacional, de onde somos deslocados por conta desses subsídios
e incentivos praticados pelos Estados Unidos. Não há como competir
com os US$80.000.000.000,00 ou US$90.000.000.000,00 de subsídios
em oito anos, fica muito difícil.
Esses dois temas são nossa prioridade e são vitais para nós. Se
queremos ter uma ALCA, uma área de livre comércio, temos que ter
maior acesso ao mercado americano, como também aos demais mercados
do hemisfério. Sem isso, como se disse em São Salvador, não vale à
pena, não interessa e não faz sentido continuarmos nessa
negociação. É preciso reestruturá-la e reformatá-la, de maneira a
fazer com que possa tornar-se mais equilibrada, se queremos
concluí-la em janeiro de 2005.
A proposta do MERCOSUL, feita por iniciativa do Brasil, foi
discutida durante uma tarde inteira pelos chefes da delegação. É
óbvio que não esperávamos que a proposta brasileira fosse aceita
pelos delegados logo de saída, foi apenas uma apresentação
oficial, foi tabulada como documento oficial, foi a única proposta
de reestruturação da negociação apresentada em El Salvador, foi a
primeira desde o início do processo negociador.
Portanto, não esperávamos que houvesse uma aceitação total. Todos
acolheram a proposta, e todas as delegações disseram que levariam
para suas capitais a proposta apresentada pelo MERCOSUL, que, após
estudo, voltaria a ser discutida na próxima reunião de Vice-
Ministros, em Trinidad Tobago, que se realizará no final de
setembro e princípio de outubro. Nessa reunião, esperamos que a
proposta do MERCOSUL, chamada pelo Ministro Celso Amorim de
proposta dos três trilhos, seja objeto de discussão. Mas haverá
outras propostas.
Os Presidentes do Brasil e dos Estados Unidos pediram às demais
delegações que apresentassem suas propostas e sugestões de
reestruturação. Haverá, portanto, uma discussão. O MERCOSUL e o
Brasil esperam que, na reunião ministerial, em Miami, que se
realizará em novembro, haja uma decisão final sobre a
reestruturação da ALCA. Portanto, não se discute mais se deve ou
não ser promovida uma reestruturação do processo negociador da
ALCA. Todos, em nível de delegação, de governo, todos os 34 países
estão de acordo em que algo tem de ser feito para mudar, tornar
mais realista e mais pragmática a negociação da ALCA, caso
queiramos concluí-la em janeiro de 2005. E será um período muito
interessante. Temos a proposta do MERCOSUL sobre a mesa, proposta
importante, de grande alcance, e haverá também outras propostas de
reestruturação. Em Trinidad Tobago, mais que uma discussão sobre
os nove grupos negociadores, sobre agricultura e sobre aqueles
temas a respeito dos quais não somos demandantes, como
investimentos, serviços, compras governamentais, política de
competição, mais que uma discussão sobre essas áreas mais
específicas, haverá uma discussão política, de como se vai
promover e implementar a reestruturação da negociação da ALCA.
Esperamos que haja essa reestruturação porque, caso contrário, a
ALCA não poderá ser bem-sucedida.
Em que consiste a proposta do MERCOSUL? Foi chamada, pelo
Ministro Celso Amorim, de três trilhos, porque dividiu a agenda
negociadora atual; todos os temas da agenda da ALCA foram
divididos em três vias, três caminhos. O primeiro seria uma via
bilateral, ou seja, teríamos os quatro países do MERCOSUL em
negociação bilateral com os Estados Unidos, em que se sentariam à
mesa cinco países, ou seja, quatro países do MERCOSUL e os Estados
Unidos, daí o chamado “quatro mais um”. E, da mesma forma, o
MERCOSUL se sentaria bilateralmente com os demais países, com o
México, o Canadá. Nessa via bilateral se discutiria apenas acesso
a mercado, ou seja, como abrir nossos mercados no que tange às
barreiras tarifárias. Aí estariam incluídas, por exemplo, a
abertura do mercado americano no que tange ao suco de laranja.
Hoje, os Estados Unidos impõem uma tarifa “ad valorem” de quase
55% sobre o suco de laranja brasileiro, tarifa que não praticamos
para nenhum produto de importação. Nosso produto de importação que
tem a maior tarifa é de 35%. Não praticamos 55% em nenhum produto
de importação. E os Estados Unidos, considerados um país aberto,
impõem 55% para nosso suco de laranja. Isso será discutido na
reunião bilateral, no formato quatro mais um, entre MERCOSUL e os
Estados Unidos.
Abrindo um parêntese, fizemos um estudo, na Embaixada do Brasil
em Washington, em que tomamos os 15 produtos de exportação
prioritária do Brasil para o mundo. Não seria ilustrativo
considerar os produtos exportados para os Estados porque, como há
tarifas proibitivas naquele país, há produtos que simplesmente não
exportamos para lá. Então, tomamos os 15 de exportação prioritária
para o mundo e sobre eles aplicamos a tarifa americana. O
resultado foi uma média tarifária de 43%. Da mesma forma, tomamos
os 15 produtos de exportação prioritária dos Estados Unidos para o
mundo e sobre eles aplicamos a tarifa brasileira, chegando a uma
média tarifária de 14%, que é absolutamente simétrica e equiparada
à nossa tarifa média para o mundo. Ou seja, de forma justa e
equilibrada, aplicamos para os Estados Unidos a mesma tarifa média
que aplicamos para o mundo, de 14%, ao passo que os Estados
Unidos, que dizem tanto que são o país mais aberto do mundo em
matéria de mercado, que são os mais liberais do mundo, aplicam
sobre os nossos principais produtos de exportação uma tarifa de
43%. Não é que não sejam abertos, mas, por infeliz coincidência,
justamente para os nossos principais produtos de exportação essas
são suas tarifas. E ainda há as restrições, as barreiras não
tarifárias, como as cotas em açúcar - temos hoje, no mercado
americano, uma cota menor do que a da República Dominicana. Então,
por infeliz coincidência, o mercado americano é fechado, e muito,
para o Brasil. Portanto, o argumento de que temos muito mais a
perder do que os Estados Unidos em matéria de redução tarifária
não é verdadeiro. Se entrarmos em uma negociação bilateral “quatro
mais um” com os Estados Unidos, não será o Brasil que terá de
rebaixar mais tarifas, mas os Estados Unidos, porque têm uma
tarifa média de 43% aplicada contra nós, quando temos uma tarifa
média de apenas 14% aplicada contra eles.
Mas estava falando da nossa proposta dos três trilhos. O acesso
ao mercado, então, entraria no trilho ou na via bilateral do
“quatro mais um” - como disse, poderá haver negociações bilaterais
do MERCOSUL com o Canadá, com o México e com outros países.
Na segunda via, o segundo trilho, que é o da ALCA, seriam
discutidas regras sobre excesso, ou seja, procedimentos de nação
mais favorecida, procedimentos fitossanitários, que também são
enormes restrições aos produtos brasileiros, como à nossa carne de
exportação. Atualmente, não exportamos carne congelada para os
Estados Unidos. Estamos lutando há seis anos com o Departamento de
Agricultura Americano, em um processo de licenciamento, e não
conseguimos a certificação, quando vendemos muita carne congelada
para a União Européia. Mas o mercado americano é fechado. E
esperamos tratar desse tema nessa via da ALCA multilateral, da
ALCA da segunda via, em que também discutiríamos procedimentos de
solução de controvérsias no âmbito da ALCA.
O terceiro trilho seria o da OMC. Ou seja, há alguns temas na
agenda negociadora da ALCA, como regras em matéria de serviços e
em matéria de investimentos, compras governamentais e propriedade
intelectual, que seriam transferidos para a OMC. Os Estados Unidos
dizem que não querem discutir na ALCA os temas relativos a
subsídios internos, apoio doméstico, enquanto a União Européia não
reduzir o seu apoio doméstico, alegando que, se o reduzissem no
hemisfério, seria um desarmamento unilateral em que levariam
desvantagem.
Ou seja, as duas grandes potências despendendo
US$80.000.000.000,00, uma; e US$60.000.000.000,00 ou
US$70.000.000.000,00, outra. Enquanto um não renúncia ao seu
subsídio, o outro também não quer renunciar, porque acreditam que
levarão desvantagem.
Então, serão postos, no trilho da OMC, temas relacionados a
regras investimentos e serviços, mais sensíveis a eles, e também a
nós.
Existem aqueles que pensam que, se não firmarmos um acordo com a
ALCA, perderemos espaço para outros países da América Latina. O
México já assinou o NAFTA, o Chile também acabou de assinar um
acordo. E, agora, os Estados Unidos estão contactando a Colômbia e
a ATPA.
Não podemos comparar o acordo assinado com o Chile com o modelo
de acordo assinado com o Brasil. Os acordos assinados com o México
e com o Chile não nos interessam. Não poderíamos assinar esses
acordos, porque o PNB do Chile é menor que o do Paraná. A infra-
estrutura econômica do Brasil não permite tomar, como modelo,
acordos que foram assinados com o México ou com o Chile. Somos um
País diferente, um País muito grande, por isso, caso venhamos a
ter um acordo bilateral com os Estados Unidos, que seja feito na
medida da importância do Brasil. Isso tem de ficar muito claro.
Muito obrigado.