MARIA MADALENA FRANCO GARCIA, Subsecretaria de Desenvolvimento Metropolitano da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional e Política Urbana de Minas Gerais. Representante do Presidente do Núcelo Gestor das Copas do Governo do Estado de Minas Gerais, Tadeu Barreto.
Discurso
Comenta o tema do evento, dentro do 3º painel.
Reunião
64ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 16ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 11/09/2010
Página 74, Coluna 4
Evento Ciclo de debates: "Desafios da Mobilidade Urbana na Região Metropolitana de Belo Horizonte".
Assunto TRANSPORTE. TRÂNSITO.
Legislatura 16ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 11/09/2010
Página 74, Coluna 4
Evento Ciclo de debates: "Desafios da Mobilidade Urbana na Região Metropolitana de Belo Horizonte".
Assunto TRANSPORTE. TRÂNSITO.
64ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 16ª
LEGISLATURA, EM 25/8/2010
Palavras da Sra. Maria Madalena Franco Garcia
A Sra. Maria Madalena Franco Garcia - Boa tarde a todos.
Agradeço à Assembleia Legislativa o convite que me foi formulado.
Esta é uma excelente oportunidade para trazermos as questões que
estão sendo debatidas no âmbito do plano diretor metropolitano.
Utilizarei a tribuna para fazer uma pequena exposição e
contextualizar a fim de que o Roberto fale depois sobre as
propostas que estão sendo encaminhadas no plano diretor
metropolitano propriamente dito. Encontra-se aqui o mapa que
demonstra a Região Metropolitana. Percebemos que 86% da população
desta região estão concentrados nos sete Municípios destacados no
centro em amarelo. Na verdade, são os Municípios de Belo Horizonte
e os Municípios a ele conurbados. Vemos ali Belo Horizonte com
praticamente 50% da população da Região Metropolitana, Contagem
com 12%, Betim com 8%. Esses são os maiores Municípios. Os outros
têm população bem menor. Ou seja, são 27 Municípios com 14% da
população. Neste gráfico percebemos o que aconteceu no período
2001-2009. Enquanto a população cresceu 13,5% no período, a frota
de veículos cresceu 85%. Ou seja, a continuar nesse ritmo, como
foi dito pelos especialistas que nos antecederam, não haverá
espaço para tanto veículo na nossa Região Metropolitana. Ali vemos
até o aumento de carros e motos, principalmente de motos, que vêm
crescendo assustadoramente em todas as grandes cidades e que são
responsáveis pelo maior número de acidentes de trânsito. Mesmo no
interior, o crescimento do número de motos costuma ser maior do
que nas grandes cidades.
Aqui há uma repartição. Como as pessoas se deslocam na Região
Metropolitana? Isso é resultado da pesquisa origem-destino feita
em 2001-2002. Uma nova pesquisa deverá ser realizada a partir de
2011-2012. Na verdade, foi cogitada a possibilidade de se fazer
uma nova pesquisa neste ano, o que não é adequado, até porque a
Cidade Administrativa está em processo de consolidação, o que
resultará provavelmente em uma mudança na matriz de transporte da
Região Metropolitana. Hoje o que percebemos, no pico da manhã, são
os ônibus e o metrô indo lotados do bairro em direção ao Centro e
voltando vazios. A Cidade Administrativa poderá mudar essa
realidade de tal maneira que haja maior equilíbrio na utilização
do sistema de transporte. Ou seja, o ônibus indo e voltando cheio,
levando funcionários, servidores e demais pessoas à Cidade
Administrativa. Vemos aqui que 40% da população ainda usam o
transporte coletivo, 24% usam o transporte individual e 34% fazem
praticamente o deslocamento a pé. O percentual de quem usa
bicicleta é muito pequeno, até porque não temos topografia
adequada e, além disso, condições necessárias e seguras. Hoje o
volume de deslocamento a pé é muito grande porque as pessoas não
têm recurso para pagar as duas tarifas, que é o mais comum - a
pessoa vem de outro Município até Belo Horizonte de ônibus e
depois completa o percurso a pé. Aqui está a evolução das viagens.
Percebemos que, nas três últimas pesquisas, o transporte coletivo
vem caindo em relação ao transporte individual. Se não
investirmos, será uma tendência que continuará. As viagens
realizadas por motivo de trabalho somam 63,3%. Esse ir e vir é o
que consideramos como demanda pendular, aquela que vem para o
Centro no pico da manhã e retorna no pico da tarde. Aqui temos o
percentual de viagens por Município. Percebemos que 63% das
viagens se concentram em Belo Horizonte, 11% em Contagem, 6% em
Betim e o restante nos demais Municípios da Região Metropolitana.
Isso demonstra que a grande concentração de trabalho continua em
Belo Horizonte.
Este mapa mostra exatamente a produção e atração de viagens.
Quanto maior o círculo vermelho, maior a concentração de atração
de viagens. É ali que se concentra a maior parte do trabalho. As
pessoas se destinam prioritariamente àqueles locais para trabalho,
estudo, saúde. As grandes concentrações na Região Metropolitana
estão no Centro de Belo Horizonte, um pouco na região de Contagem
e Cidade Industrial e um pouco no Vetor Norte e na região da
universidade. A produção de trabalho está aqui, e isso reforça
cada vez mais o sistema de transporte convergindo para a área
central da Capital. Todas as linhas de ônibus acabam indo para o
Centro de Belo Horizonte. Percebemos neste mapa que, quanto mais
larga a linha, maior volume de tráfego, de transporte de
passageiros. São os corredores de transporte da Região
Metropolitana. Tudo converge para o Centro de Belo Horizonte. O
mapa mostra que não existem ligações entre os Municípios da Região
Metropolitana, tudo vem para o Centro. Se alguém no Município de
Confins quer ir para Sabará, deverá vir a Belo Horizonte para
pegar outra condução. Não existem ligações entre os Municípios da
Região Metropolitana, reforçando, cada vez mais, a vinda para o
Centro da cidade. O plano metropolitano vê essa questão e tem a
ideia de criar novas centralidades e opções nos sistemas viário e
de transporte da Região Metropolitana, para mudar essa realidade e
a convergência forte em direção ao Centro de Belo Horizonte.
O Osias comentava que não existe uma integração entre o uso do
solo e transportes. As duas coisas são pensadas de formas
dissociadas. As cidades foram construídas de maneira a haver uma
fragmentação do território urbano, com uma região de moradias,
outra de serviços, outra de lazer. Brasília e as grandes cidades
foram pensadas dessa forma, na década de 60. Há um distrito
industrial, uma área hospitalar, outra área residencial, o que
fragmenta o território e faz com que as pessoas precisem se
deslocar cada vez mais, gerando necessidade de transporte,
engarrafamento e congestionamentos. Teríamos que pensar em um
território em que as pessoas se deslocassem cada vez menos. Elas
deveriam trabalhar, estudar e atender suas necessidades de lazer e
saúde mais próximo de suas residências, reduzindo a pressão sobre
os sistemas viário e de transporte, com prioridade do sistema de
transporte coletivo. Com o crescimento urbano das cidades, aumenta
a mobilidade e a motorização. Isso significa aumento do uso do
veículo privado, redução da eficiência do sistema de transporte,
cada vez mais congestionado, necessitando de mais infraestrutura.
Então, surgem os túneis e viadutos, que a amplia e gera mais
congestionamento. Isso cria uma bola de neve, que é o incremento
do uso do veículo privado. As pessoas falam que gastam muito tempo
para se deslocar no transporte público e compram carros e motos, o
que alimenta o ciclo vicioso da mobilidade e do desenvolvimento
urbano. A ausência de um planejamento integrado leva a um
desordenamento. Cada sistema, isoladamente, tem uma lógica. Se
tomarmos o exemplo dos três Municípios com a maior demanda de
transporte - Belo Horizonte, Contagem e Betim -, o sistema isolado
de cada um é totalmente lógico. Mas se pensarmos o sistema
intermunicipal com esses sistemas, começamos a perceber que há uma
superposição de linhas de ônibus com o metrô e entre si, gerando
uma irracionalidade no sistema e um déficit operacional, com um
custo cada vez mais alto para o deslocamento.
Os pilares de um bom sistema de transporte são a ordenação do
território, as restrições ao veículo privado - incentivo ao “park
and ride”, que é um espaço para embarque e desembarque,
estacionamentos junto às estações de metrô e ônibus e sem
estacionamento nos principais corredores -, a criação de ruas de
pedestres, o incentivo ao uso da bicicleta, a promoção do
transporte público, de maneira a ser regular e confiável, para
atrair as pessoas do veículo privado para o transporte público, a
implantação de faixas exclusivas, reduzindo o tempo de viagem -
estamos apoiando o Município de Belo Horizonte na implantação dos
BRTs - e a integração atrativa física e tarifária entre todos os
modos de transporte existentes.
Pensamos em um sistema racional. Se colocarmos 60 pessoas para
serem transportadas de carro, percebemos o espaço que é ocupado.
A primeira foto mostra que para o transporte de 60 pessoas seriam
necessários em torno de 45 carros - se considerarmos uma pessoa e
meia por veículo - ou um ônibus, que gasta um espaço menor. Isso é
o uso racional do espaço urbano.
Concluindo, temos de pensar na substituição da lógica da expansão
- de se fazer cada vez mais infraestrutura - pela lógica da
gestão, do planejamento integrado do transporte. A integração é a
única forma de racionalizarmos o sistema de transporte em áreas
metropolitanas, mas quanto maior o número de entes envolvidos mais
complexa e difícil será a negociação para a compatibilização dos
interesses econômicos, financeiros e políticos. Por fim, é preciso
haver também a integração do transporte e do uso do solo, questão
em que temos de nos focar: a cidade não pode continuar se
expandindo cada vez mais para termos de levar transporte a
distâncias maiores e um transporte cada vez mais deficiente no
atendimento a uma mancha urbana que não para de crescer. É preciso
reduzir a nossa necessidade de viajar e as distâncias de viagem -
as cidades compactas são mais eficientes, ou melhor, o sistema de
transporte é mais eficiente em cidades menores -, mudar o
comportamento quanto à localização e zelar pelo uso eficiente das
infraestruturas de transporte.
Passo a palavra ao Roberto, que vai falar do trabalho que está
sendo desenvolvido no âmbito do Plano Metropolitano.