MARIA ELIANA NOVAES, Subsecretária de Desenvolvimento da Educação da Secretaria de Estado da Educação.
Discurso
Comenta o trabalho desenvolvido pela Secretaria de Estado da
Educação, como parte da apresentação do painel "A construção da política
de educação em direitos humanos em Minas Gerais."
Reunião
69ª reunião ESPECIAL
Legislatura 15ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 24/11/2005
Página 39, Coluna 3
Evento Ciclo de Debates "Educação em Direitos Humanos."
Assunto EDUCAÇÃO. DIREITOS HUMANOS. ADMINISTRAÇÃO ESTADUAL.
Legislatura 15ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 24/11/2005
Página 39, Coluna 3
Evento Ciclo de Debates "Educação em Direitos Humanos."
Assunto EDUCAÇÃO. DIREITOS HUMANOS. ADMINISTRAÇÃO ESTADUAL.
69ª REUNIÃO ESPECIAL DA 3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 15ª
LEGISLATURA, EM 11/11/2005
Palavras da Subsecretária Maria Eliana Novaes
Boa tarde. Na pessoa do Subsecretário João Batista de Oliveira,
cumprimento os integrantes da Mesa e a platéia.
Aproveito a oportunidade para, em nome da Secretaria, pedir
desculpas à Assembléia devido a nossa ausência na noite de ontem,
quando da abertura deste ciclo de debates. Estávamos em Diamantina
e houve um problema no retorno, por isso não conseguimos chegar a
tempo.
O principal desafio da Secretaria de Educação é porque ela, ao
mesmo tempo em que tem de prover um direito - a educação é um
direito básico de todo cidadão -, tem de fazê-lo de forma a adequá-
lo aos valores e também em quantidade suficiente para torná-lo
realidade. Então, além de prover o direito à educação, temos de
fazê-lo da forma mais adequada.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, no seu art.
26, estabelece o seguinte: “A educação é um direito de todas as
pessoas e tem por objetivo o pleno desenvolvimento da
personalidade humana e o fortalecimento do respeito aos direitos
humanos e às liberdades fundamentais”.
Ora, em 1948, já estávamos não só promulgando a educação como um
direito fundamental do cidadão, como também estávamos atribuindo à
educação a responsabilidade de formar um espaço para o respeito
aos direitos humanos. Isso significa que todos os cidadãos têm
direito à educação fundamental obrigatória e gratuita, um recorte
que a nossa Constituição de 1988 fez quando garantiu ao cidadão,
como direito subjetivo, a educação fundamental. Isso representa um
ganho na medida em que não se estipula a idade para o direito ao
acesso a essa educação. Portanto não só as crianças de 6 a 14
anos, mas também toda a população que não teve acesso à educação
fundamental tem direito garantido pela Constituição e poderá
requerê-lo na medida em que não tiver esse acesso.
É importante também salientarmos que, em Minas Gerais, esse
direito à educação fundamental está garantido, desde um decreto do
Governador, em 2003, não mais para a população a partir dos 7
anos, mas para a população a partir dos 6 anos. O ensino
fundamental, então, terá nove anos de duração.
A educação, como gestora na Secretaria de Educação, tem um grande
desafio com relação à diversidade de sua clientela, tendo que ser
universal. Nessa universalidade, tem que atender a sua diferente
clientela. Não pode discriminar, não pode deixar de atender
pessoas que não sejam tão iguais ou semelhantes. Efetivamente,
toda diversidade tem que ser atendida dentro de nossa rede.
Atendendo a essa clientela, estaremos, exatamente, preocupados
com aqueles grupos que, tradicionalmente, são excluídos. Não
podemos, então, fortalecer a exclusão. Muito pelo contrário, a
nossa preocupação tem que ser com a inclusão cada vez maior de
grupos que socialmente costumam ficar marginalizados. Para que
isso aconteça de fato, temos que nos preocupar com a eqüidade,
porque não poderemos nunca achar que um projeto com as mesmas
diretrizes será suficiente para dar conta dessa diversidade que
nossa clientela tem. Então, universalizar, considerando a
diversidade de nossa clientela, é, sem dúvida, o grande desafio
que nos é colocado quotidianamente.
A educação para todos significa a construção de um ambiente
escolar favorável à permanência e ao sucesso dos alunos. Se a
criança ou o jovem vai à escola, sente esse ambiente de forma
hostil e não consegue obter sucesso em sua vida escolar, a escola,
efetivamente, não está sendo bem sucedida. Significa também a
necessidade de implementarmos ações educativas voltadas para o
desenvolvimento humano e, ainda, a necessidade de tratarmos o tema
“Direitos Humanos” como um tema transversal na educação básica e
nas escolas estaduais, de uma forma especial, porque cabe à
Secretaria de Educação, além de gerir o conjunto das escolas
estaduais, supervisionar o trabalho das escolas privadas em um
grande número de Municípios, que, em sua maioria, não são sistemas
municipais de educação.
A Secretaria, além da sua política de garantia de vagas, de
acesso e de permanência na escola, desenvolve alguns projetos que
são voltados, de uma maneira mais especial, para determinadas
clientelas, com um foco mais específico nessa área de direitos
humanos.
A ampliação do ensino fundamental e a universalização do ensino
médio são tão importantes neste governo que constituem dois dos
projetos estruturadores do governo. Destaco a ampliação do ensino
fundamental, sobre o qual comecei a falar para vocês. Já atendemos
em torno de 103 mil crianças com 6 anos e, em 2004, atendemos um
outro contingente de 103 mil crianças. Lembro-me muito do Dr. João
Batista, quando o programa foi lançado, pois compareceu a uma
reunião solene do Cedica e pediu à nossa Secretária da Educação
que destacasse esse projeto como uma grande política na área de
direitos humanos. O enfoque que ele realçava, naquele momento, era
exatamente a questão da segurança e do cuidado oferecido a esse
contingente acolhido em nossas escolas.
Depois de um ano da implantação, realizamos uma avaliação do
projeto em maio deste ano. A Universidade Federal, por meio do
Ceale, procedeu a essa pesquisa. Ficamos muito satisfeitos,
porque, em maio, 65% das crianças que ingressaram na escola com 6
anos, no ano passado, já estavam alfabetizadas. A pesquisa foi
bastante extensiva. Professores de Belo Horizonte aplicaram um
teste de leitura e de escrita em 10 mil crianças de todo o Estado.
Conseguimos, efetivamente, um dado com uma boa base para
generalizarmos o sucesso da medida enquanto segurança e melhoria
dos resultados educacionais.
Em relação à expansão do ensino médio, dispomos de toda a
garantia para o atendimento dos alunos que concluem a 8ª série do
ensino fundamental na rede pública. Dispomos de vagas para toda
essa população. Desde 2003, convocamos aqueles que concluíram o
ensino fundamental em anos anteriores para ingressarem nos cursos
de educação de jovens e adultos. Isso é importante, pois estamos
cumprindo um papel do Estado e, efetivamente, garantindo esse
direito.
Enfrentamos um problema sério, principalmente nas cidades
maiores, em função do preço do transporte. Muitos alunos desistem
de prosseguir nos estudos em função da dificuldade de locomoção e
do custo das passagens.
Nas regiões periféricas e áreas rurais, o problema é a
dificuldade do transporte, considerando-se a precariedade das
estradas e dos meios de transporte.
O projeto Escola Viva, Comunidade Ativa começou a ser implantado
em Belo Horizonte, nas áreas que apresentavam um maior índice de
violência social, que coincidem com as áreas de maior favelização
da Capital. Nessas regiões, escolhemos um conjunto de escolas em
que o número de ocorrências policiais era muito alto. Por
coincidência, essas escolas apresentavam também níveis
educacionais muito baixos, constatados por meio de avaliação
externa.
A partir desse conhecimento obtido nessas escolas, passamos a
desenvolver várias ações integradas com a Polícia Militar, com a
Federação dos Clubes, com a Universidade Federal e com outras
instituições parceiras, para viabilizarmos não apenas a melhoria
daquele equipamento, pois as escolas passaram por um processo de
recuperação de rede física de capacitação dos professores, mas
também a abertura da escola para a comunidade. A maioria das
escolas já está funcionando nos finais de semana, acolhendo as
crianças e os seus familiares. Esse projeto contou com o apoio da
Unesco. Dessas escolas, 6 mil crianças estão sendo atendidas pelo
projeto de horário integral que estamos implantando
gradativamente. Não estamos colocando a escola em horário
integral, mas viabilizando acolhimento em horário integral para um
conjunto de alunos que estão em maior situação de risco, por meio
de atividades educativas e esportivas, em parceria com as demais
Secretarias. O projeto Xadrez na Escola, da Sedese, é muito
importante porque fortalece atitudes favoráveis à aprendizagem,
além de ter um papel lúdico muito importante para as crianças.
Os projetos Escolas-Referência e Escolas em Rede pretendem
melhorar as condições de funcionamento das escolas. O primeiro
está voltado para um grupo de 200 escolas e outras 200 associadas
a elas, as maiores e mais tradicionais do Estado, localizadas nos
maiores Municípios.
Estamos fortalecendo essas escolas com ações que passam pela
recuperação da infra-estrutura, capacitação de professores e
criação de condições mais favoráveis ao desenvolvimento da
educação e à melhor performance dos alunos. Há 4 mil escolas da
rede estadual no Escolas em Rede. Até dezembro, pretendemos ter
2.300 equipadas com computadores, “kit” tecnológico, interligação
em rede e acesso à internet, o que facilitará o trabalho com
alunos e professores, além do acesso a informações, agilidade no
pagamento de professores, etc.
Além de acolher alunos que já haviam paralisado os estudos,
realizamos, a cada ano - julho e dezembro -, dois exames, que
recebem, em média, 60 mil inscritos. Temos atendimento escolar a
crianças e adolescentes em situação de risco e restrições de
liberdade e em cumprimento de medidas socioeducativas. Esse
programa é feito em parceria com a Seds e atende crianças em
situação de risco e que estão em estabelecimentos prisionais. Uma
escola já foi criada, criaremos 27 para atender a essa parceria.
Na mesma linha, temos um trabalho de proteção às testemunhas, que
são atendidas em nossas escolas com o sigilo que a situação
requer. Há novas propostas de atendimento escolar a pessoas com
deficiência. Manteremos nossa rede de escolas especializadas. Em
Belo Horizonte, temos o Instituto São Rafael, a Escola Francisco
Salles e outras voltadas para o atendimento dos deficientes. Elas
serão mantidas e serão apoiadas para que se modernizem e sejam
mais bem equipadas.
Paralelamente, desenvolvemos um projeto para criar condições, em
cada Município, de termos, até o final do próximo ano, pelo menos
uma escola preparada para a inclusão. Até o final do próximo ano,
o projeto Incluir envolverá uma rede de 900 escolas, que terão
intervenção na área física com relação a acessibilidade,
equipamento e formação de recursos humanos.
Sobre o projeto Escolas em Rede, está sendo realizado o pregão
para a realização dos equipamentos e para a contratação dos
serviços para instalação desses equipamentos nas escolas. Quanto
ao projeto Incluir, realizaremos, na próxima semana, licitação
para instituições de ensino superior que promoverão a formação dos
professores que atuarão nessa escola. Ainda nessa linha, todas as
intervenções feitas nas escolas estaduais cuidam da acessibilidade
física, com construção de rampas, redução de escadas, colocação de
corrimãos e adequação dos banheiros, para facilitar o trânsito das
crianças e dos jovens.
O programa Proafro está voltado para a valorização da cultura
afro-brasileira na educação pública. Existe uma lei federal,
estamos trabalhando a partir das diretrizes do MEC, mas
pretendemos dar conotações locais e regionais. O objetivo do
programa é o fortalecimento da educação como instrumento de
promoção social, de cidadania e da valorização da diversidade
etnorracial. A educação tem sido o fator de mudança e de alteração
do “status quo” das famílias e da sociedade. É muito importante
que os grupos que se encontram na situação de marginalidade social
- não estou me referindo à questão criminal - sejam incorporados
na sociedade. Nossa preocupação é o combate ao racismo, às
discriminações e aos preconceitos; e o desenvolvimento de
atitudes, valores e respeito aos direitos humanos e à pluralidade
etnorracial brasileira. Criamos uma secretaria com assessoria
especial para cuidar dessa questão, e já publicamos uma resolução
que disciplina o ensino da história da África e da cultura negra;
e estamos promovendo a capacitação de professores e divulgando
materiais de aprendizagem.
Outro programa é a implantação de escolas nas áreas indígenas. Há
nove etnias no Estado e todas estão recebendo a educação
fundamental, em todas as regiões: Krenak, Maxakali, Pataxó,
Xacriabá, Kaxixó, Aranã, Xucuru-Kariri e Pankararu. Esse programa
i mais antigo, existe desde a década de 90, e hoje uma das etnias
já está recebendo escolas de nível médio. Todo o material foi
organizado com assessoria de professores e especialistas na área,
com grande apoio da UFMG, da Funai, do IEF e do MEC. O MEC está
apoiando um programa da UFMG de promoção da licenciatura de
indígenas que atuarão nos cursos de nível médio. O programa
iniciou com a formação de professores indígenas, que ministrarão a
educação fundamental nas áreas indígenas. O programa é bilíngüe,
na língua nacional e na língua de cada etnia.
A Secretaria desenvolve outras ações integradas: combate ao abuso
e exploração sexual das crianças e dos adolescentes; combate à
exploração do trabalho infantil; combate à violência e uso de
drogas. A Secretaria é sempre parceira da Sedese, da Seds, da
Polícia Militar e da Secretaria de Saúde.
Em relação à Secretaria de Saúde, temos uma parceria recente, que
possibilitará a ampliação de um programa nosso de educação afetivo-
sexual, que, além das informações que traz aos seus beneficiários,
tem preocupação muito grande com o combate à discriminação e à
adversidade.
Gostaria de encerrar, dizendo-lhes que o nosso grande desafio é,
sem dúvida, além de prestar serviços de qualidade, formar pessoas
eticamente comprometidas com essas questões, pessoas que, além de
falar e defender esses direitos, especificamente os pratiquem em
sua vida cotidiana. Muito obrigada.
- No decorrer do pronunciamento, procede-se à exibição de
“slides”.