MARCOS KOWARICK, Assessor Especial do Gabinete da Presidencia do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA.
Discurso
Comenta os temas: "Diagnóstico da Reforma Agrária no Brasil" e
"Reforma Agrária em Minas Gerais".
Reunião
35ª reunião ESPECIAL
Legislatura 15ª legislatura, 1ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 06/12/2003
Página 43, Coluna 4
Evento Fórum Técnico: "Reforma Agrária em Minas:Impasses e Perspectivas."
Assunto REFORMA AGRÁRIA.
Observação Participantes do debates: Lúcio José Vieira, Hosana de Faria, Marcilene Aparecida Ferreira, José Fernandes Pacheco, Luzia Maria Alves de Castro, Evaristo Garcia de Matos, Roberto Mozart Gomes, Neula Maria Souza, José Ferreira dos Santos, Cida Miranda, Dayana Mezzonato.
Legislatura 15ª legislatura, 1ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 06/12/2003
Página 43, Coluna 4
Evento Fórum Técnico: "Reforma Agrária em Minas:Impasses e Perspectivas."
Assunto REFORMA AGRÁRIA.
Observação Participantes do debates: Lúcio José Vieira, Hosana de Faria, Marcilene Aparecida Ferreira, José Fernandes Pacheco, Luzia Maria Alves de Castro, Evaristo Garcia de Matos, Roberto Mozart Gomes, Neula Maria Souza, José Ferreira dos Santos, Cida Miranda, Dayana Mezzonato.
35ª REUNIÃO ESPECIAL DA 1ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 15ª
LEGISLATURA, EM 24/11/2003
Palavras do Sr. Marcos Kowarick
Bom dia, Sras. Deputadas, Srs. Deputados, representantes do
movimento social, senhoras e senhores. Trago, em primeiro lugar,
as desculpas do Presidente do INCRA, Dr. Rolf Hackbart. Pela
intensidade dos trabalhos deste final de ano, o próprio Conselho
Diretor do Instituto está com a agenda aberta desde quinta-feira,
para tomar as últimas decisões a respeito das desapropriações e
aquisições de terra. Como vocês sabem, o Orçamento será fechado em
15 de dezembro, e, se não forem tomadas com rapidez as
providências necessárias, perderemos uma grande quantidade de
recursos passíveis de serem aplicados na reforma agrária, ainda
este ano.
Exmos. Srs. Deputado Gil Pereira; Secretário Marcelo Gonçalves;
Deputado Rogério Correia, autor do requerimento que deu origem a
este fórum técnico, a quem parabenizo pela iniciativa em nome do
nosso Presidente; Marcos de Abreu e Silva; Marcos Helênio; Luís
Antônio Chaves; Alexandre Antônio de Miranda; Alvimar Ribeiro,
farei uma exposição sintética para situar a compreensão deste
Governo a respeito da reforma agrária.
Antes, quero fazer algumas considerações. O lançamento do plano e
das metas do Governo foi feito pelo Presidente Lula na última
sexta-feira, na presença de quatro mil lideranças de trabalhadores
rurais e de toda a equipe governamental, no Parque da Cidade, em
Brasília. Foi anunciada meta de assentamento de 400 mil famílias
até 2006, por meio da desapropriação das terras improdutivas, e
125.500 famílias, por meio da aquisição de terra pelo crédito
fundiário, além da regularização fundiária de todas as ações
decorrentes da concessão desse benefício a 500 mil famílias. Essas
são as metas mais gerais anunciadas pelo Presidente da República.
Tomemos por base o plano elaborado pelo Dr. Plínio, intelectual e
militante da reforma agrária bastante respeitado no País, e sua
equipe. Esse plano foi debatido exaustivamente por mais de três
meses no INCRA e no Governo, principalmente com a Fazenda e o
Planejamento, para que o Presidente da República anunciasse as
metas.
A primeira é resgatar os compromissos de campanha do Governo
Lula, cujo programa Vida Digna no Campo define a concepção de
reforma agrária deste Governo. Uma reforma agrária ampla,
massificada e não pontual, atomizada, em que a figura isolada do
assentamento é o retrato que temos hoje. Uma reforma agrária com
ordenamento territorial, baseado no zoneamento econômico e
agroecológico que todos os Estados do País têm ou estão
concluindo.
A segunda é entender a reforma agrária não como um programa
social, de compensação social. Investe-se muito no capital, na
concentração de terras, na mecanização, nos avanços tecnológicos
da agricultura e dispensa-se a mão-de-obra. Assim, sobram
trabalhadores nesse processo, como há 500 anos. Depois, dá-se uma
cesta, uma política compensatória qualquer. Não é essa a concepção
e não será essa a nossa ação.
Nosso programa é um programa de Estado para desenvolver postos de
trabalho no campo, contribuir com as políticas de soberania
alimentar, de combate à pobreza e de consolidação da agricultura
familiar. A agricultura familiar deixa de ser um problema para o
País para se tornar objeto de políticas públicas para o seu
fortalecimento e desenvolvimento.
A reforma agrária é fundamental para dinamizar as economias
locais e regionais. É uma luta histórica, colocada, àquela época,
como prioridade estratégica do Governo, que tem no seu centro o
desenvolvimento nacional, da soberania deste País, e o combate à
exclusão social.
A reforma agrária teve um período crescente de 1995 a 1998,
dentro dessa concepção de assentamentos, tendo avançado no segundo
ano do Governo Fernando Henrique Cardoso. Entretanto, como mostra
o gráfico, de 1995 a 2003 a execução orçamentária da reforma
agrária tem sido decrescente.
Em 2003, no primeiro ano da reforma agrária do Governo Lula, o
centro da ação do Governo foi a estabilização da economia
brasileira, para se evitar um colapso e apontar para o crescimento
sustentável, vetor maior do nosso desenvolvimento, combatendo o
desemprego, as desigualdades sociais e, conseqüentemente, a
exclusão social.
Então, até setembro, tínhamos 21.693 assentamentos em
processamento dentro do INCRA; e, com o processo desapropriatório,
83.886 famílias. É por isso que temos pressa e queremos terminar o
ano com o aumento significativo dessa meta.
A violência no campo é fruto desse processo de exclusão e da
dificuldade econômica por que vêm passando os agricultores
familiares, e a própria economia do País tem crescido. O número de
mortos aumentou nos últimos anos. De 2001 a 2003, esse número foi
crescente, chegando a 32 mortes no campo.
Famílias acampadas no Brasil: estamos trabalhando com 171.288
famílias, segundo levantamentos de que o Governo dispõe. Aí, temos
a localização espacial dos municípios onde há acampamentos. Esse
mapa demonstra claramente que nos Estados onde existe maior
concentração de terras improdutivas há maior concentração de
acampamentos. Vê-se que o problema é nacional, excetuando-se a
região próxima de Manaus. Não é um problema regionalizado.
Quais são as diretrizes que ainda devemos apontar nesse breve
diagnóstico? O País, que é a 10ª economia do mundo, mantém, por
causa dessa situação, a 76ª colocação em desenvolvimento humano e
índices sociais. Também há no País 6.100.000 de pessoas em
situação de pobreza absoluta; mais da metade delas encontra-se em
situação de indigência, ou seja, 3.300.000 pessoas.
As diretrizes do plano estão aqui enumeradas: reforma agrária
integrada a um projeto nacional de desenvolvimento. Não se trata
de medida compensatória, mas de medida de desenvolvimento
econômico e social.
É uma reforma agrária massificada que vai indicar sua qualidade
geradora de trabalho e produtora de alimentos. A agricultura
familiar é, sim, grande produtora de alimentos.
Dotar o Estado dos instrumentos para gerir o território nacional.
Foi desmontado o cadastro do INCRA. Ele foi disperso dentro da
estrutura. O País não se conhece, não dispomos de informação. No
século XXI, não conhecemos o nosso território. Temos três números
no IBGE que mostram a deficiência que temos do conhecimento do
nosso território.
A recuperação dos atuais assentamentos e a implantação de um novo
modelo. Quando se fala em modelo, não se trata de uma forma, mas
de uma nova proposta de assentamento baseado na viabilidade
econômica, na sustentabilidade ambiental e no desenvolvimento
territorial. Se a reforma agrária for massificada, vai trabalhar
territórios, vai trabalhar regiões e áreas, e não apenas alguns
pontos. O que a reforma agrária faz é fabricar agricultores
familiares, propiciar sua formação. Mas, se, por outro lado, a
política de juros e a falta de apoio à agricultura familiar
acontecem, vamos ficar, como diz o nosso trabalhador rural,
enxugando gelo. Assentamos de um lado e a política econômica
“desassenta” de outro. É o que acontece nítida e claramente no Sul
e no Sudeste do País.
Desenvolvimento, nessas diretrizes, de diversos instrumentos
fundiários adequados a cada público e a cada região. Será
regionalizada, territorializada, específica, de acordo com cada
situação. É óbvio que, para esse nível de reforma agrária, nossas
instituições, incluindo o INCRA, não foram feitas para isso, mas
para assegurar a reforma agrária, trabalhando a colonização, e, em
alguns momentos, até fazendo a anti-reforma agrária.
Está em curso o remodelamento do INCRA, de sua concepção
administrativa e de gestão, com adequação normativa para uma
intervenção rápida e eficiente de instrumentos agrários. Em nossa
instituição temos vários freios, normas e instruções que se
sobrepõem aos cinco “S” para que o órgão não atrapalhe a execução
da reforma agrária e obedeça às leis, com uma forma de
gerenciamento mais moderna, efetiva e prática.
Há necessidade de que nosso projeto seja ligado ao projeto
nacional de desenvolvimento, de um forte envolvimento dos Governos
Estaduais, das Prefeituras e dos movimentos sociais.
Esse novo modelo é diferente, pois trabalha em conjunto as
políticas públicas deste País, acabando com a sobreposição das
ações de Estados e municípios ou a não-coordenação na ação
conjunta. Para isso, o plano de reforma agrária está integrado às
ações do IBAMA, da FUNAI, que tem mais de 120 mil famílias de
agricultores familiares nas áreas indígenas, junto com os
Programas Fome Zero e Luz no Campo, do Ministério das Minas e
Energia; do BNDES, todos alistados, e serão acompanhados pelo
Governo Federal para que as grandes barragens e estradas não
expulsem a agricultura familiar e que a população do entorno
desses grandes investimentos não seja excluída, mas incluída no
projeto. Há determinação do Governo Lula ao Ministro Ciro e ao
BNDES para que isso ocorra. É por aí que se indica uma diretriz da
mudança da qualidade na reforma agrária do Governo Lula.
Apresentarei as metas e os custos de assentamento, para se ter
uma ordem. Os custos básicos estão em torno de R$31.000,00 por
família. Com o aporte de todas as demais políticas públicas, de
energia, saneamento, chegamos em torno de R$60.000,00 por família,
com um conjunto de custos do Estado. Agregado só à reforma
agrária, à ação básica, o custo é em torno de R$31.000,00 por
família.
As metas estão aqui colocadas. Desculpem-me, pois uma não foi
alterada ainda, porque isso foi aprovado na sexta-feira e não deu
tempo para mudar o Power Point: são 400 mil famílias assentadas;
regularização fundiária, 500 mil; crédito fundiário, 125.500
famílias, num total de mais de 1 milhão de beneficiados no Governo
Lula.
Prevê-se também uma segunda etapa do desenvolvimento, numa visão
de planejamento estratégico de mais de dez anos, para atingir em
torno de 3 milhões de famílias por meio dessa integração das
políticas públicas do País.
O novo modelo de assentamento significa fazer bem-feito o básico
que as políticas públicas pretendem fazer. É fazer de forma
coordenada e com a diretriz única de combater a exclusão no campo.
Serão projetos regionalizados, levando em conta os grandes biomas
brasileiros, a saber: projeto produtivo integrado com
desenvolvimento territorial e, sempre que possível, ligado a um
processo agroindustrial, familiar ou não; incentivo à produção e à
agregação de valor, de forma cooperada; e formação de núcleos
habitacionais.
A implantação e o desenvolvimento do assentamento serão feitos em
etapas distintas. O início da produção dar-se-á imediatamente após
a entrada na área, e será garantida a assistência tecnossocial
desde o início da produção.
Dados sobre a renda total, conforme o tipo de propriedade: os
últimos estudos do IBGE, da FAO e do Banco Mundial mostram
cabalmente que a propriedade familiar, com o mínimo de tecnologia
e sustentabilidade, é mais eficaz e mais produtiva que a grande
exploração agrícola. Compararam o desenvolvimento regional de todo
o País, e não o agricultor familiar do Sul com o citricultor de
São Paulo.
A ocupação por hectares é muito melhor. A análise da estrutura
fundiária mostra que só as terras férteis conhecidas deste País
perfazem mais de 32.000.000ha, e estão improdutivas.
As terras devolutas são outro grande problema de nossa Federação.
Os Estados federados não conhecem ainda seu próprio patrimônio -
daí o fato de haver 500 mil famílias para serem regularizadas em
todo o País. Minas Gerais é um exemplo do que acabo de dizer:
possui aproximadamente 11.000.000ha de terras devolutas e não tem
domínio sobre seu patrimônio.
Estamos caminhando para, nestes quatro anos, garantir que os
assentados, os posseiros regularizados, os arrendatários, os
quilombolas e as populações tradicionais caminhem integrados nas
políticas públicas, em busca da universalização da saúde, da
assistência social com um único projeto. O objetivo é que se ponha
fim à exclusão social.
Uma meta bem singela desse programa é conseguir que 1 milhão de
famílias saiam da posição de indigentes e de pobres e alcancem a
renda familiar de três salários mínimos.
Este fórum técnico é um grande passo para a discussão da próxima
etapa do PNRA, que abordará os planos regionais. É a integração
dos entes públicos e das políticas públicas com as necessidades e
as demandas do movimento social, para que se possa, de forma
organizada e prioritária, avançar no desenvolvimento da reforma
agrária em cada Estado, de acordo com suas especificidades, sua
cultura e sua base produtiva, integrando, evidentemente, as
políticas públicas.
O Governo brasileiro liberou R$5.000.000.000,00 para a
agricultura familiar, desde a de alta tecnologia integrada, como a
dos agricultores da Sadia, da Perdigão ou de qualquer outro
sistema agroindustrial bem sucedido do País, até o agricultor
familiar do Nordeste, que está integrado ao pequeno mercado local,
em que inexiste a agroindústria. E isso, a juros subsidiados.
E mais, também uma diretiva clara para os Bancos públicos de que
se trata de dinheiro público, que tem de ser empregado com
responsabilidade. Mas sabemos que neste País os Bancos não foram
feitos para os pobres, não foram feitos para os agricultores
familiares. Esse dinheiro público tem de ser gasto com
responsabilidade, mas a burocracia tem impedido a quitação dos
débitos. Todos os Bancos têm a clara informação de quem está mais
em dia com o crédito rural neste País, do ponto de vista relativo
e absoluto: é quem pega menos, o agricultor familiar, não a outra
ponta, que sempre encontrou abertas as portas dos Bancos e as
superintendências de desenvolvimento regional deste País.
Eram essas as minhas ponderações. Muito obrigado. Coloco-me à
disposição para os debates.