LYCIO CADAR, Cônsul da República Árabe da Síria.
Discurso
Transcurso do Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino.
Reunião
200ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 14ª legislatura, 2ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 13/12/2000
Página 25, Coluna 4
Assunto CALENDÁRIO. DIREITOS HUMANOS.
Legislatura 14ª legislatura, 2ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 13/12/2000
Página 25, Coluna 4
Assunto CALENDÁRIO. DIREITOS HUMANOS.
200ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 2ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 14ª
LEGISLATURA, EM 30/11/2000
Palavras do Sr. Lycio Cadar
Depois de ouvirmos essa triste, mas bela explanação do Embaixador
da Palestina, creio que a colônia árabe de Belo Horizonte não
poderia estar ausente desta, o que faço com muita honra. Como
representante de um dos maiores países árabes, que é a Síria, faço-
o com muito prazer e muita honra. As palavras que vou proferir
nada mais são do que o que a referência àquilo a que estamos
assistindo pela televisão, que estamos ouvindo pelos noticiários,
que sabemos dos povos de lá e que acabamos de ouvir do nosso
querido Embaixador. Peço licença aos Deputados e ao Presidente da
Mesa para expor simplesmente isso.
Sr. Presidente da Mesa, Deputado Marcelo Gonçalves, prezado
Deputado Rogério Correia, em nome dos quais saúdo todos os
componentes da Mesa, Srs. Deputados, senhoras e senhores, caros
patrícios, o mundo assiste estarrecido, há cerca de dois meses, a
mais uma habitual violência praticada contra o povo palestino.
Mediação e apelos nada têm resultado de prático para conter essa
escalada que deixou numerosos mortos e feridos, numa proporção bem
desfavorável para o povo palestino.
Em grande parte isso se deve à desigualdade de armas para a luta:
enquanto os palestinos dispõem de pedras, os que invadiram seu
território, e teimam em mantê-lo como sua propriedade, contam com
equipamentos bélicos de última geração, praticamente infalíveis
quando utilizados, mirando, indiscriminadamente, em direção à
população civil, crianças, mulheres e idosos.
Qual a razão para a luta do povo palestino? É, em primeiro lugar,
a perda de grande parte do seu território para formar um novo
País. Em segundo lugar, a ocupação de mais terras, agora sem
nenhuma autorização ou justificativa, sob o infantil pretexto de
desejar mais segurança, fazendo abortar o processo de paz,
intensificar e continuar a ocupação e obrigar os árabes a fazer
sucessivas concessões que os levariam, no final, a desistir
definitivamente de seus direitos, proporcionando aos invasores
realizar seu plano, cujo objetivo é a expansão e a apropriação das
potencialidades árabes.
Tão logo ocorreram esses fatos, a ONU, reconhecendo a violência
do despropósito dessa invasão, vem, ao longo de vários anos,
votando resoluções e mais resoluções, todas determinando a
retirada de tropas dos territórios ocupados.
Essas resoluções não se referem somente aos territórios
palestinos ocupados, mas também às Colinas de Golan, na Síria, e à
cidade de Shaaba, ao sul do Líbano, onde, há poucos dias, os
invasores foram obrigados a se retirar, por uma ação histórica de
uma população praticamente desarmada.
É extremamente lamentável observar que as práticas selvagens do
invasor não obtiveram o devido repúdio da comunidade
internacional. Ora, os árabes observam, com muita dor, como o
invasor reage violentamente quando algum soldado seu sofre
qualquer ferimento, por menor que seja, ao passo que vemos o
sangue de crianças árabes sendo derramado enquanto árabes
enfrentam as forças de ocupação de peito aberto, sem que se
observe qualquer manifestação daquelas nações que alegam defender
a democracia e os direitos humanos.
A desigualdade de tratamento da causa palestina é flagrante e
gritante. Enquanto as resoluções determinando a devolução das
terras que pertencem aos palestinos não surtem efeito, o contrário
ocorreu em relação ao Iraque. Após a anexação do Kuwait, a ONU
votou a resolução exigindo a retirada daquele país, estabelecendo
um curto prazo. Como não foi atendida, poucas horas depois uma
extraordinária formação bélica, já armada com antecedência, se
encontrava preparada, e, poucos minutos após o sinal verde da ONU,
teve início a ação militar contra o Iraque, cuja violência
ultrapassou muito os limites da convenção de Genebra para guerras.
O povo palestino está cansado de esperar a devolução de suas
terras. Pedidos de trégua são feitos a toda hora, mas a iniciativa
deveria partir de quem está com as mais sofisticadas armas, e não
de quem luta com pedras. Cada pedra atirada corresponde a um
bombardeio a alvos civis, inclusive hospitais.
Os palestinos combatem o bom combate, ou seja, lutam contra quem
ocupa militarmente suas terras e parecem dispostos a ali se
perpetuar. Estão lutando e defendendo a sua casa, a vida de seus
pais, irmãos e filhos, parentes e amigos, e não querem nada além
do que lhes foi tomado.
Por tudo isto, a instituição do Dia Mundial de Apoio ao Povo
Palestino tornou-se uma data comemorada em todo o mundo, e a
Assembléia Legislativa de Minas Gerais dedica esta sessão solene a
esta data.
Expresso ao nosso Embaixador o contentamento da colônia árabe de
Belo Horizonte em tê-lo conosco neste dia que marcará a história
da nossa colônia.
Os países árabes, dos quais todos eles, em maior ou menor número,
houve uma grande imigração para o Brasil, onde os seus membros
foram recebidos de coração aberto por todo o povo brasileiro,
agradecem aos representantes do povo mineiro por esta
manifestação, especialmente ao ilustre Deputado Rogério Correia,
autor da proposição que deu origem a esta sessão, e ao ilustre
Deputado Anderson Adauto, digno Presidente da Assembléia
Legislativa de Minas Gerais, aqui representado pelo Deputado
Marcelo Gonçalves, pela coragem de mostrar ao Brasil e ao mundo a
indignação do povo mineiro com os fatos que ocorrem no Oriente.
Esta sessão ajudará em muito o povo palestino, pois parte de uma
expressiva camada do povo brasileiro, ou seja, Minas Gerais, de
onde sempre partiram os grandes movimentos pela liberdade,
expressados em nossa bandeira “Libertas Quae Será Tamen”.
Liberdade é o lema pelo qual o povo palestino peleja: “Liberdade
ainda que tardia”.