Pronunciamentos

LUIZ SOARES DULCI, Vice-presidente do PT Nacional. Representante do ex-presidente Lula.

Discurso

Transcurso do 52º aniversário de fundação do Movimento Democrático Brasileiro – MDB.
Reunião 2ª reunião ESPECIAL
Legislatura 18ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 29/03/2018
Página 30, Coluna 1
Assunto HOMENAGEM.
Proposições citadas RQO 3173 de 2018

2ª REUNIÃO ESPECIAL DA 4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 18ª LEGISLATURA, EM 26/3/2018

Palavras do Sr. Luiz Soares Dulci

O Sr. Luiz Soares Dulci - Bom dia, senhoras e senhores. Vou me dispensar de fazer a saudação a todos e a todas integrantes da Mesa, porque já foi feita aqui. Mas queria, nas pessoas do presidente da Assembleia Legislativa, deputado Adalclever Lopes, do vice-presidente da Câmara dos Deputados, Fábio Ramalho, do ex-governador Newton Cardoso, e da deputada Jô Moraes, saudar a todas as pessoas presentes.

Aproveito para registrar que toda a bancada do meu partido, o Partido dos Trabalhadores, está aqui presente por reconhecer, antes de mais nada, a importância do MDB na condução dos destinos de Minas e do País.

É com muita alegria que represento a direção nacional do Partido dos Trabalhadores e, em particular, o presidente Lula, com quem estava, até ontem, na caravana pelo Sul do País. Ele me pediu que trouxesse sua palavra de saudação às importantes lideranças estaduais e nacionais aqui presentes, e acabou de falar um dos homens públicos mais representativos do nosso país e um grande orador, o senador e ex-governador Roberto Requião. Mas temos aqui também – e eu como mineiro da Zona da Mata, vi vários aqui – prefeitos de todas as regiões de Minas, vereadores e vereadoras de todas as regiões. Uma das características do MDB, no país como um todo, mas, em especial, em Minas Gerais, um Estado fortemente interiorano, sempre foi a sua capilaridade. O MDB sempre foi um partido com bases municipais fortíssimas em nosso estado e no País. Então, é com muita alegria que represento o nosso partido e o presidente Lula nesta solenidade.

Solenidade fruto do talento, da perspicácia do presidente Adalclever e dos deputados já mencionados da bancada do MDB na Assembleia, mas que é muito justa e muito oportuna, porque o MDB é um patrimônio da sociedade brasileira. O verdadeiro MDB lutou contra a ditadura, pela redemocratização, contra a injustiça social, pela dignidade dos trabalhadores e do conjunto da população. Esse MDB lutou pela soberania nacional. Eu era adolescente, na minha cidade de Santos Dumont, e o MDB tinha o senador Oscar Passos, por exemplo, em uma época em que era muito difícil ser do MDB. Muita gente foi cassada por ser do MDB.

Esqueci-me de mencionar os secretários de Estado que estão aqui, nosso Angelo Oswaldo, da Cultura, Sávio Souza Cruz, da Saúde, e Odair Cunha, secretário de Governo. Quero também registrar a presença deles.

Mas era muito difícil ser do MDB. Houve gente que perdeu o mandato só por ser do MDB naqueles anos do início do regime militar. Houve gente que foi isolada, que perdeu eleição por ser do MDB, por ter feito uma escolha pelo lado da democracia, quando era mais fácil apoiar a ditadura, quando era mais conveniente apoiar a ditadura. Eu, por exemplo, apoiei, quando jovem na Zona da Mata de Minas, uma pessoa que fez essa opção, o ex-deputado Tarcísio Delgado, de Juiz de Fora, uma belíssima liderança do MDB, que depois chegou a ser secretário nacional do MDB. Apoiei-o na eleição para prefeito de Juiz de Fora, onde vivia naquela época, em 1972, o ex-governador Itamar Franco, uma personalidade muito importante também na história do MDB, um senador importante que resistiu às privatizações indevidas. Ele resistiu à venda do patrimônio público a preço de banana, como se queria fazer naquela época e se quer fazer agora novamente. Ele resistiu para impedir a privatização do setor elétrico brasileiro, como se quer fazer novamente.

O MDB tem uma história muito bonita, pois, ao longo das décadas de 1960 e 1970, articulou a resistência à ditadura, perdendo eleições, sabendo perder eleições, o que, em uma democracia, é decisivo. O MDB nunca deu o golpe, em seu passado digno. Perdia e, no dia seguinte, estava novamente lutando para defender suas causas, porque sabia que, em algum momento, o País seria redemocratizado. E foi redemocratizado com uma contribuição decisiva do MDB.

Tive a honra de acompanhar depois, já como adulto – fomos colegas na Câmara Federal na legislatura de 1983 a 1987 –, o deputado Mauro Lopes. Naquela época, o deputado Adalclever Lopes era adolescente. Vamos ficando velhos e sendo superados legitimamente. Aliás, vejo uma pessoa aqui, um ex-deputado desta Casa, Manoel Conegundes. Pude testemunhar a sua luta em Barbacena, enfrentando as oligarquias tradicionais e construindo o MDB nas ruas, contra a máquina, contra o aparato do Estado. Ele está em pé ali, no fundo.

Depois, dando um salto, naturalmente – pois não vim contar história, porque vocês a conhecem muito mais do que eu, já que participaram e foram sujeitos, atores e atrizes –, depois, participamos ativamente juntos da belíssima campanha das Diretas Já no País e em Minas Gerais, na capital e no interior. Tive a honra de, naquele momento, ser o coordenador-geral adjunto. O coordenador-geral da campanha das Diretas Já em Minas foi o falecido deputado Joaquim de Melo Freire. Estávamos juntos, com pessoas de linhas e trajetórias diferentes, alguns mais avançados, outros mais tradicionais, mas sem nunca abrir mão da defesa da democracia e sem nunca compactuar com os golpes, fossem militares, fossem civis.

Depois houve a luta pela Constituinte soberana. Peemedebistas ilustríssimos tiveram papel nessa luta em Minas Gerais, como Tancredo Neves, que faleceu, mas lutou por essa causa. A Constituinte foi presidida por Ulisses Guimarães. Aliás, tive a honra de ser presidido por ele quando fui deputado. Ulisses tinha posições, mas sabia agregar. Nesse sentido, ele era muito parecido com o presidente deputado Adalclever Lopes, que sabe agregar e que se empenha nisso, mas que, nem por isso, deixa de ter posições claras em defesa da democracia e da justiça social. Isso é muito importante.

A política no Brasil está muito desqualificada, mas a arte da política é imprescindível para a democracia. Faz parte da arte da política saber agregar, saber integrar e saber conviver com todos, até com a oposição. Não por acaso, o deputado Adalclever Lopes foi eleito e reeleito com os votos também da oposição nesta Casa. A oposição não votou nele pela identidade com as suas ideias e seus valores, que são progressistas e transformadores, mas certamente porque, ao presidir a Casa, ele respeita todos os setores e partidos, até os de oposição. Isso é o que deve ser feito em um parlamento digno do nome.

É muito justa a celebração dos 52 anos do MDB em nível nacional e estadual. No Estado, resistimos, governamos juntos em alguns momentos e estivemos separados em outros. Recentemente, fizemos uma parceria muito importante, que faz com que Minas Gerais, ao contrário de outros estados do Brasil, funcione. Minas enfrenta problemas enormes, até porque a atual administração herdou um Estado que, longe de ter tido um choque de gestão, na verdade estava quebrado. Mas Minas funciona. O Rio de Janeiro e o Espírito Santo não funcionam, mas Minas Gerais, com todas as dificuldades e limitações, funciona. Isso foi fruto de uma parceria entre os nossos partidos.

Queria encerrar dizendo a vocês que uma parte da minha vida passei votando no MDB. Eu poderia lembrar outras pessoas, mas lembrarei apenas uma da terra do senador Requião, que foi cassado pela sua verdadeira coragem. Refiro-me ao Alencar Furtado, grande liderança do MDB. Ele foi cassado pelas suas qualidades e não pelos seus defeitos.

Em geral, as pessoas foram cassadas. Em Minas, foram vários que, depois, filiaram-se ao MDB. Vou citar apenas o Dr. Sebastião Fabiano, que foi deputado desta Casa e prefeito de Nova Lima, cassado em 1965, por 20 anos proibido de exercer a medicina, que depois voltou a Nova Lima e, enfrentando seis adversários, teve 90% dos votos em sua cidade, e sem um tostão de ninguém, sem nenhum tipo de aparato.

Santos Dumont, minha cidade, sempre foi fortemente peemedebista e hoje é administrada pelo MDB, após duas administrações do meu partido. Vocês têm muitos motivos de orgulho e terão tanto mais motivos quanto mais prevalecerem no País as ideias do programa do MDB, quanto mais prevalecer no País o compromisso do MDB com a democracia. Esse é o grande desafio de todos nós, de todos que querem o bem do País, de todos que têm verdadeiro amor ao País, que querem fazer com que ele retome o caminho da democracia, interrompido em período recente, e, sobretudo, o caminho do desenvolvimento com inclusão e justiça social. O verdadeiro MDB é o dos direitos do trabalhador, e não o de uma reforma trabalhista para precarizar, para vulnerabilizar os trabalhadores e muitas outras coisas que vocês sabem.

É impossível retomar o desenvolvimento deste país sem o verdadeiro MDB, sem as ideias, sem os valores, sem as causas e a paixão democrática dos emedebistas e das emedebistas. Por isso, para mim foi uma honra o presidente Lula me pedir para vir representá-lo. Ele disse: “Dulci, além das coisas que você vai falar, pois sempre foi uma pessoa que aprendeu a admirar o MDB, diga que, além de todos os méritos do verdadeiro MDB, foi o partido que me deu” – por razões práticas foi vice por outro partido, mas sempre foi emedebista de coração – “o melhor vice-presidente que alguém pode ter tido na história deste país, José Alencar Gomes da Silva. Devo isso ao MDB, que, inclusive, entendeu que, naquela circunstância, para que pudesse ser meu vice, não poderia sair formalmente por ele, mas no coração sim, e na mente também”. José Alencar foi emedebista a vida inteira. Ele não entrou no MDB para ser candidato; ele entrou para lutar contra o regime autoritário, para lutar em Ubá, em Caratinga, em Muriaé, no Estado como um todo pelas causas que o MDB sempre defendeu e pelas quais o Brasil sempre lhe será grato.

Quero encerrar agradecendo muito pelo convite e dizendo que nós, do PT nacional, queremos ser permanentemente parceiros do verdadeiro MDB, que é representado em muitos estados do País e, mais do que em qualquer outro Estado, em Minas Gerais, na nossa queridíssima Minas Gerais. Queremos ser do partido de vocês na luta pela resistência, em defesa da democracia, da soberania nacional, do Estado Democrático e também na luta pela afirmação. Pensamos como vocês: a melhor maneira de resistir é superando essa situação decepcionante que o País vive, recolocando o País nos trilhos e fazendo com que o nosso Brasil volte a ser plenamente democrático. E que tenhamos, como já tivemos no passado, desenvolvimento com inclusão social e plena soberania nacional.

Dou parabéns ao MDB, a todos vocês, à pessoa mais modesta que está aqui, no Plenário, nas galerias, da mais humilde cidade de Minas.

O verdadeiro MDB sempre foi um partido dos mais humildes deste país e será sempre um grande partido, que nunca se esquece disso e abandona o seu compromisso com a democracia e com o povo humilde. Muito obrigado.