LUIZ EDUARDO DE CARVALHO, Pesquisador do Departamento de Produtos Naturais e Alimentos da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ.
Discurso
Comenta o tema: "A Saúde e os Direitos do Consumidor".
Reunião
80ª reunião ESPECIAL
Legislatura 14ª legislatura, 2ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 29/06/2000
Página 35, Coluna 3
Evento Ciclo de Debates: "Minas Gerais e os Transgênicos".
Assunto AGROPECUÁRIA. SAÚDE PÚBLICA. DEFESA DO CONSUMIDOR.
Observação Participantes dos debates: Luiz Antônio Barreto de Castro, Sílvio Vale, David Hathaway.
Legislatura 14ª legislatura, 2ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 29/06/2000
Página 35, Coluna 3
Evento Ciclo de Debates: "Minas Gerais e os Transgênicos".
Assunto AGROPECUÁRIA. SAÚDE PÚBLICA. DEFESA DO CONSUMIDOR.
Observação Participantes dos debates: Luiz Antônio Barreto de Castro, Sílvio Vale, David Hathaway.
80ª REUNIÃO ESPECIAL DA 2ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 14ª
LEGISLATURA, EM 30/5/2000
Palavras do Sr. Luiz Eduardo Carvalho
Muito obrigado, Sr. Presidente. Inicio agradecendo a oportunidade
de estar aqui com vocês, a generosidade do convite. Estou muito
feliz de estar aqui e ter oportunidade de conversar sobre isso.
Abordarei 24 itens. Falarei muito rápido sobre cada um, para ver
se conseguimos ficar nos 25 minutos. É 1 minuto para cada um, pois
já gastei um minuto. O primeiro é com referência à pergunta que
quase encerrou o debate de ontem: “afinal, os transgênicos fazem
ou não fazem mal?” Foi cobrada da Mesa uma resposta. Responderia
com uma outra pergunta: comida faz mal? Depende. Se for com
glicose, faz mal para diabético; se for com cloreto de sódio, faz
mal para hipertenso; se for com proteína, faz mal para quem tem
gota, e, se for com agrotóxico, faz mal para todo o mundo. Se for
transgênico, não sei, mas tenho ainda que falar sobre 22 itens, e
falo claro.
Não darei aula de biotecnologia para vocês nem trarei a
legislação. Vou falar claramente do ponto de vista do consumidor,
porque o consumidor fala claro. O consumidor pergunta: o que é
transgênico? Eu não sei. Porém, não sei e digo, não enrolo.
Gostaria que alguém me dissesse o que é um transgênico. Já
perguntei isso mais de 200 vezes, em ambientes selecionados como
este. Se perguntei 200 vezes, obtive 200 respostas iguais, e todas
elas estão erradas. Se me responderem que um alimento transgênico
é aquele geneticamente modificado, com a inserção de um gene de
outra espécie, sinto muito, mas isso não é alimento transgênico.
Sei o que é alimento transgênico, mas não consigo convencer
ninguém da minha definição. Esse é o primeiro ponto.
O segundo é que não falo como geneticista. No Brasil, os
geneticistas não falam muito como geneticistas, falam como
toxicologistas e querem impor um parecer toxicológico. Por quê?
Não falo como geneticista, por isso não ficarei dando palpite
nisso. Aliás, por que não estão aqui os toxicologistas? Porque não
temos. Quando o Ministério da Saúde, a Agência Nacional de
Vigilância Sanitária convidam um grupo de professores da nossa
Universidade, esse “lumpemprofessorado” para opinar sobre
agrotóxicos ou sobre aditivos químicos, perguntam quem entende de
aspartame, e procuram nas universidades alguém que entenda de
aspartame para escrever a posição brasileira sobre o produto. O
máximo que acham, e mal, é alguém, um ou outro, que fez uma
análise para determinar quanto há de aspartame num refrigerante.
Há uma grande distância entre uma pessoa saber determinar quanto
há de aspartame num refrigerante e se o aspartame faz mal. Sinto
muito, a substância é a mesma, mas a profissão é totalmente
diferente.
Toda a sustentação do Ministério da Saúde nesse assunto é feita
por gente que sabe analisar quanto há de agrotóxico no alimento,
quanto há de sacarina, quanto há de outro elemento. Mas não é
gente que sabe discutir ou que algum dia, quando foi aluno ou o
que seja, tenha pegado um rato para fazer um teste, um ensaio
toxicológico. Deve haver uma exceção que só confirma a minha
regra.
O quarto ponto é muito chato; é intolerável ficar escutando
geneticista dizer que todo mundo é não-científico, tudo que vocês
falam não tem base científica, vocês só fazem política, essa
discussão é feita por várias ONGs que têm dinheiro do exterior e
são contra os transgênicos. Serão os geneticistas tão científicos?
Se eles fossem científicos, se soubessem tanto de transgênicos, a
patente seria da Monsanto? Por que não é brasileira?
Acho que eles deveriam provar que são tão cientistas, criando
patentes de produtos transgênicos, tentando impor na Europa a
nossa tecnologia, a nossa ciência, o nosso discurso científico. O
que escuto e o que sei - fiz engenharia na UNICAMP, pós-graduação,
mestrado, fiz o mesmo caminho que eles -, que na UNICAMP não
ensinam o que é ciência, na pós-graduação, porque as disciplinas
Filosofia da Ciência e Metodologia Científica não fazem parte dos
nossos doutorados, nas áreas biológicas e exatas, salvo exceções.
O que é PhD? Ph vem de quê? Vem de “philosofical doctor”. Mas que
“philosofical” é esse que não pensa. Se ele pensa tem definições e
tem conceitos. Qual é a definição de alimentos transgênicos? Não é
essa. Ele não sabe o que é uma definição. Não sabe o que é lógica.
Não sabe o que é metodologia científica e fica cobrando ciência
dos outros por isso mesmo, porque não sabe o que é. Pode haver um
geneticista, desculpem-me se for exceção, estou falando da regra
geral. Ele vem aqui e diz: “Vocês não são cientistas, vocês não
entendem e querem opinar. Vocês não devem, não podem opinar sobre
o que vão comer. Quem são vocês para opinar sobre o que vão
comer?” Parece o meu pai, quando eu tinha uns quatro, sete anos.
Ele me fazia comer bife de fígado. Na minha definição, bife de
fígado não é comida. Entenderam? Na minha definição, na do
Ministério da Saúde eu não sei. Não sei se o Ministério da Saúde
fará como o meu pai. Eu levava um tapa na cabeça e tinha que ficar
mastigando aquele bife de fígado, desesperado, porque não queria
engolir aquilo. O Ministro, de vez em quando, vai engolir ovo,
porque fica querendo enfiar transgênico na boca de quem não quer
comer. É ação e reação.
Esses nossos cientistas não sabem o que é uma falácia. É um
fundamento básico do método científico. O cara diz “A nossa
legislação de biossegurança é uma das três melhores do mundo”.
Isso é uma afirmação científica? Com que método ele pesquisou
isso? Quais são os indicadores? Onde está publicado? Isso é uma
falácia. Mesmo que fosse, não significaria que ela seja aplicada.
É uma falácia ao quadrado.
Ele diz “Os trangênicos são aprovados nos Estados Unidos. O FDA é
um órgão muito severo”. Ele não entende de FDA, porque ele tem um
intercâmbio permanente; ele é Diretor da General Food e Presidente
do FDA no ano seguinte; e trocam de cargo todo ano. Ele vem para
dizer que o FDA é um órgão cientificamente rígido. É uma falácia.
Só porque o FDA é inglês, seria o mesmo que acreditar numa
afirmação física porque o cara foi vizinho do Einstein. Outra
falácia.
Dizem “Na Europa não há FDA. Eles não têm tradição de vigilância,
por isso são contra”. Essa é uma afirmação científica? O cara
acabou de me acusar de não ser cientista, no entanto cospe 20
falácias seguidas. Assusta-me a rudeza desse cérebro científico.
Por último, não sei ser cartesiano, sem ser socrático, vou acabar
tomando cicuta, mas falo claro. Mas não há como falar claro sem
mostrar as contradições. Estava num debate na Fiocruz, na casa do
Oswaldo Cruz; ele não estava enterrado lá, senão ia se movimentar
no túmulo. Apareceu um cartum do Oswaldo Cruz sendo enforcado, no
tempo da campanha da vacina. Dizia assim, “hoje as pessoas nos
criticam, porque defendemos os transgênicos, Oswaldo Cruz também
foi muito criticado, vejam o `cartoom´. No fim, todos viram que
ele estava certo”.
A minha resposta, porque não sei ser cartesiano sem ser
socrático, foi “No porta-malas do meu carro tem uma “diet coke”,
vou buscar. Vou fechar essa porta e dar injeção de “diet coke” em
todos vocês. Não se assustem, Oswaldo Cruz também fez isso. Ele
estava certo. Gente, isso é uma falácia das mais grosseiras,
chamar o Oswaldo Cruz em vão para justificar qualquer coisa que
farei agora, inclusive dar injeção de “diet coke” para ver se
vocês emagrecem.
O quinto item já disse, se eles soubessem tanta genética fariam
os transgênicos, não seriam promotores de venda da Monsanto.
No ponto seis, o Ministério da Saúde, na CTNBio, votou e liderou
o movimento contra a rotulagem dos transgênicos. Não adianta
agora, depois da enorme pressão popular, querer apagar esse
passado, porque não dá para apagar. Não é preciso punir o passado,
mas eles continuam pensando a mesma coisa. Eles só mudaram o
discurso, não mudaram o desejo, não mudaram a vontade e não
mudaram a convicção.
Os Ministérios da Saúde e da Agricultura são contra a rotulação
dos transgênicos. Não adianta dizer que são a favor; são contra e
estão fazendo o impossível para não rotular os transgênicos. Um
projeto de lei de transgênicos sobre rotulagem tem basicamente
dois artigos. O primeiro eles já engoliram. "Todo alimento
transgênico será rotulado obrigatoriamente”. Eles já aceitaram,
porque perderam. Mas moveram a batalha para um segundo cenário,
que é o art. 2º dessa lei. O art. 1º é: “Todo alimento transgênico
será rotulado”. Vamos ter de engolir. O art. 2º: “Entende-se por
alimento transgênico ...” Esse é o problema, eles vão rotular o
que entendem por alimento transgênico. O que é um alimento
transgênico?
Não posso responder a pergunta - “Alimento transgênico faz mal?”
-, a não ser com outra pergunta: “O que é alimento transgênico?”.
O Ministério da Saúde, na CTNBio, confunde o seu caráter, se é
que ele tem. Acho que vivemos uma crise de caráter. As coisas não
têm a sua personalidade, a sua definição. Quem sou eu? Novamente,
é um problema filosófico. O que estou fazendo aqui? Eu posso ter
essa dúvida, não sei como apareci aqui, mas o Ministério da Saúde
foi criado, tem de saber para que foi criado. Quem criou tem de
saber para que criou. Deus deve saber quem eu sou e o que estou
fazendo aqui. Mas não foi Deus que criou o Ministério da Saúde,
foi outra entidade.
O Ministério da Saúde confunde o seu caráter de saúde pública,
vigilância sanitária, proteção do consumidor com o caráter de
fabricante de vacina. As pessoas que o representam na CTNBio têm
uma origem de tecnologia, de produtor de vacina. Vão representar a
saúde, na CTNBio, preocupados com a industrialização de vacinas.
Se o Ministério da Saúde é uma fábrica de vacinas, por via da
FIOCRUZ, deveria se associar à ABIFARMA. Já tem representante na
CTNBio quem fabrica a vacina. Quem não tem representante é o
consumidor. Não há um órgão do Estado preocupado com o consumidor.
O oitavo item se refere às minhas polêmicas com a EMBRAPA, que
vêm do milênio passado. A EMBRAPA inventa umas coisas, e não há
quem consiga convencê-la do contrário. Uma delas foi o macarrão de
milho. No “Fantástico”, no “Jornal Nacional”, a EMBRAPA perturbou
muito com o pão de milho, o macarrão de milho e o leite de soja. O
Presidente Figueiredo, tão mal-falado, pelo menos teve a
espontaneidade de dizer que era ruim. Isso apareceu no “Jornal
Nacional”, e não ousaram dar a ele o macarrão de milho. Mas a
EMBRAPA resolveu o problema dizendo: “O Brasil gasta
US$1.000.000.000,00 por ano com o trigo; vamos transferir esse
dinheiro para subsidiar o macarrão de milho”. Conseguiram tirar
US$1.000.000.000,00 de subsídio para o pão - o pobre comia pão
barato -, que subiu, e o macarrão de milho não apareceu. Gastaram-
se milhões em seminários, em passagens e diárias.
E quanto à banana-vacina? Houve outro debate na FIOCRUZ, em que a
defendiam. Aí, eu disse: “Eu não sei nada. Expliquem-me vocês, que
são geneticistas, o que é essa banana-vacina”. Eles disseram: “A
banana-vacina é fantástica contra diarréia”. Eu disse: “Eu sei.
Quero saber apenas como ela funciona. Os pobres do Nordeste vão
plantar uma bananeira no fundo do quintal e, se estiverem com
muita fome e comerem cinco, estarão ingerindo cinco vacinas? O
cara vai tomar vacina o dia inteiro?”. Eles disseram: “Não, você
está com gozação. Estamos falando sério. Não é assim. O Governo
vai distribuí-las nos postos de saúde”.
Eu vi no “Fantástico”, no domingo, que o Governo jogou fora
milhões de vidrinhos de remédios comprados com validade de dois
anos. Esse prazo venceu, e o remédio não foi distribuído. Agora,
ele vai fazer uma licitação para comprar banana-vacina, estocando-
a no armazém central da Capital de todos os Estados brasileiros e
distribuir essa banana de caminhãozinho para todos os municípios
de Minas Gerais? O Estado é realmente muito pequenininho, e os
caminhões vão distribuir rapidinho, chegando ao posto de saúde em
três dias. Será que o Governo vai fazer isso tudo que ele não faz
com o remédio, que dura dois anos, e a banana não vai amadurecer?
Eu nunca ouvi dizer que remédio amadureça e fique cheio de
mosquitinho em volta, como acontece com a banana. Mas o Governo
vai distribuir banana-vacina. Aí, o cara que está com fome pode
entrar na fila três vezes para comer mais banana. Realmente não
consigo entender a lógica dos cientistas ditos “assumidos”.
Depois, vem “golden rice”, o arroz amarelo com vitamina A, como
se as pessoas com carência de vitamina A tivessem arroz para
comer. A 11ª coisa é o arroz com ferro, para combater a anemia. No
Brasil, quando a pessoa tem arroz, junto com ele, come um
pouquinho de feijão. Então, o arroz já vem com ferro. É
automático. Ora, se tem arroz e não tem feijão... Um país que não
tem feijão para comer com arroz não merece ter transgênicos. Não é
possível. Isso é muito sofisticado. Um país que não consegue
produzir feijão vai produzir arroz transgênico?
Vou pular algumas coisas que já abordei aqui. Vamos para o nº 13
: o nosso Ministério da Saúde. Chegamos ao mercado e encontramos
produtos “diet”. São esses produtos que irão regulamentar a
rotulagem dos transgênicos. Encontramos, por exemplo, o chocolate
“diet”. Se um chocolate desses faz emagrecer, posso comer uns
cinco para emagrecer cinco vezes mais? Aí, encontramos o Gatorade,
que é indicado para quem corre. Vem a Parmalat e faz o Active: a
pessoa corre, e ainda é “activo”. O conceito é de que aquilo é um
soro fisiológico, ou seja, glicose, potássio e sódio. Quem é que
vai tomar isso? Muito gente. Então, o que é que o fabricante faz?
Começa a alardear o conceito: coloca vitaminas e minerais e sabor
rascante de carambola verde para matar a sede. Aquilo fica tão
áspero que mata a sede. No fim, aparece o Active “diet”, que não
tem mais a glicose. Ou seja, o produto original, que era o soro
para o atleta repor a glicose depois da corrida, não tem mais essa
glicose, porque é "diet”. É uma questão de caráter, ou seja, o
produto é, mas não é. E a gente chega ao (...), no Atomic Energy
Drink, que é vendido na farmácia, e não, no camelô. Não vem do
Paraguai. Eu comprei em uma farmácia 24 horas, na Savassi. Então,
está escrito: “Energy Drink - energético ligth”. Ele é altamente
energético e contém 0 cal. Realmente, física não é só genética.
Física também não é o forte do Ministério da Saúde. Daqui a pouco,
vou mostrar um “slide” para mostrar que aritmética também não é.
A agricultura permite que você chegue a um restaurante e coma uma
“pizza” de mussarela de búfala, uma salada com mussarela de
búfala. No supermercado também encontramos mussarela de búfala.
Aí, a gente pensa: “Eles não mentem”. Mas, se você olhar o rótulo,
ali não existe nada que comprove que ela foi feita com leite de
búfala. Está escrito: leite. E, quando se escreve “leite”,
significa que o leite é de vaca. Para o Ministério da Agricultura
e para a lei brasileira, leite é de vaca. Quando for de outro
animal, é necessário escrever. Então, na embalagem da mussarela de
búfala está escrito: leite. Aí, você entende que seja leite de
búfala. Essa é a norma.
Vou passar uns “slides”, pode ser?
- Procede-se à apresentação de “slides” durante o pronunciamento.
O Sr. Luiz Eduardo Carvalho - Quem estiver longe, vai ser
prejudicado. Para que serve um rótulo? Por que todo rótulo fica no
meio da lata, e o de “catchup” fica em cima? Para esconder a
oxidação no topo do produto. Você precisa dar aquela pancada para
o ”catchup” cair. Então, o rótulo serve para esconder a oxidação.
Agora, o vidro já não é mais transparente e não há problema em
colocar o rótulo em cima. Ele pode ser colocado em qualquer lugar.
O rótulo também serve para dizer que fécula de mandioca tem o nome
de “arrozina”. Se o amido fosse de arroz, chamar-se-ia
“mandioquina”, provavelmente. Vem, depois, o Cremogema. A pessoa
pensa que uma colher equivale a uma gema de ovo. Mas isso é um
fubá sem ovo. O pão de mel também não tem fraude. Ele está deste
tamanho. Se você ler os ingredientes usados em sua produção, verá
que ele não contém mel nem sequer o aroma artificial de mel. O
aroma artificial que ele contém é de imitação de baunilha. Ele
contém açúcar, farinha de trigo, xarope de glucose, gordura
vegetal... Não tem mel. A palavra “mel” é um nome de fantasia.
Poderia ser pão de mal, pão de mol, pão de mul... Por um acaso,
chama-se pão de mel.
Chegamos ao Frutiforça: a televisão mostra um caminhão lotado de
bananas. Deve ser a tal da vacina. Ele desce uma ribanceira e
capota, enchendo todo mundo da rua de banana, para fazer
propaganda do Frutiforça. A gente lê o rótulo, onde existe a
propaganda da banana, o nome do produto é Fruta, ele está cheio de
bananas no rótulo, o destaque é “sabor natural de banana”. Mas, se
você conseguir ler, na vertical, na parte de trás do rótulo, verá
que ele diz: “Contém sabor natural de fruta. Não contém fruta”.
Isso fica escondido naquele canto. E existe o anúncio: “Fruta e
força. Toda a força da fruta, sem fazer força”. Só que não tem
fruta. Agora, mudaram para “sabor e força”. O nome mudou. Chegamos
à frutose, onde está escrito: “açúcar natural”. Todo mundo pensa
que a frutose é o açúcar de fruta, retirado do morango, não é? Mas
a frutose é feita de milho com ácido clorídrico, com pressão, com
alta temperatura, que vira o Karo, para depois virar quimicamente
frutose.
E são as mesmas pessoas que administram essas informações que
querem administrar transgênicos. Eu não sei muito bem o que é
transgênico, mas sei quem são as pessoas e como elas atuam com as
informações. E sei que não posso confiar nessas instituições.
Outra maneira de eles trabalharem é assim: no refresco artificial
de laranja, eles escrevem a palavra “laranja” bem grande. A
palavra “artificial” não está ali. Colocam um monte de folhinhas
de laranja, porque não podem colocar a laranja. Ou colocam um copo
em forma de laranja. E já que ninguém fala nada, está liberado, o
copo vira uma laranja, não é? Ou então, vejamos o suco 100%
natural. De acordo com a legislação européia, o rótulo já irá
conter: “alimento 95% não transgênico”, ou “99% não transgênico”.
Do jeito como os geneticistas andam, daqui a pouco vai existir um
cara 63% macho, a mulher 95% grávida, fora os 38% virgens.
E o chocolate suíço “suggarless”, ou seja, sem açúcar? Não existe
chocolate dietético, mas hoje encontramos tudo dietético, como,
por exemplo, a feijoada dietética. Depende da dieta que você
fizer. Se for para engordar, pode comer feijoada dietética todo
dia. A palavra “dietético” não existe. Na Europa, em todo
chocolate está escrito qual é a dieta. É para diabético. Tem que
especificar para que dieta ele é recomendado. Mas, no Brasil,
temos o chocolate dietético sem açúcar e com as contas todas
erradas: 37% de carboidrato, 40% de lipídios. Se a gente
multiplicar, verá que isso equivalerá a 600Kcal. Mas eles
escrevem: 310 cal. Não é caloria, é quilocaloria. Então contém
mais do que o dobro. Esse produto é “diet”, sim, mas por outro
motivo. Ele é tão caro que se pode comer apenas um pedacinho. Aí é
fácil ser “diet”.
Então chegamos ao Corpus para provar que, além de eles não
saberem nada - genética, nutrição, bioquímica, física -, o
Ministério da Saúde também não sabe aritmética. A embalagem do
Corpus contém, em sua lateral: “Este iogurte contém duas vezes
menos...”. Esse negócio de duas vezes menos não existe. Isso é
primário e mal feito. Existe 1/3, 1/4, 2/5, 7/8, mas cinco vezes
menos, oito vezes menos... Quer dizer que, quando for quebrado,
será 8,33 vezes menos? Não sei o que é duas vezes menos.
Realmente, “vezes”, para mim, significa multiplicação. Mas o
rótulo exibe: "Este iogurte `diet´ contém duas vezes menos
calorias que o iogurte comum”. Isso é verdade se você colocar duas
colheres de açúcar no iogurte comum. Aí é diferente, mas isso não
é possível.
Como é que a Coca-Cola, nos Estados Unidos, informa quando coloca
sacarina? O rótulo frontal da Coca-Cola diz: “Este produto contém
sacarina, que tem sido observada como causadora de câncer em
animais de laboratório”. Isso o FDA faz, aquele FDA de que já
falamos mal. No Doce Menor, que é um adoçante, também vem o mesmo
alerta: causa câncer. Na geléia de tomate, o rótulo frontal também
diz que a sacarina causa câncer.
No Nordeste do Brasil, longe dessa ciência dos transgênicos,
voltando ao mundo real, no açude de Sobradinho, onde se seca o
peixe ao sol, repleto de moscas e pontos contaminantes, ali vemos
o intermediário que compra esse peixe salgado e troca na economia
brasileira, ainda na base do escambo, ninguém fala em dólar ou em
reais. Ele troca 2kg de sal por lkg de peixe. Isso ainda faz parte
do Brasil. E quando troca sal por peixe, ensina as boas práticas
de salga do peixe e diz: “Para cada saco de sal que você colocar
no peixe, coloque uma colher de Malation”. E o intermediário já
vende o Malation, um agrotóxico que se coloca no sal a ser passado
no peixe a fim de que a mosca não pouse nele; caso pouse, para que
não bote ovos, e, botando ovos, para que não virem larvas. Essa é
a tecnologia.
Por que essas pessoas que não querem rotular transgênicos também
não querem rotular a energia atômica? Porque, provavelmente, estão
reservando a palavra “atômico” para esse tipo de produto: pó para
refresco atômico. Ou então estão reservando para isso daqui:
“energy drink atomic”. Agora, rotular que foi conservado por
energia atômica eles não querem. Provavelmente estão reservando a
palavra “transgênico” para alguma outra coisa, por isso não querem
rotular o alimento transgênico. Como disse o Sílvio, talvez seja
para xampu. Já existe xampu com DNA. Ora, DNA de quê? Aqui é uma
Casa de alto nível, e não vou falar de que é, mas suponho que é de
um outro tipo de pêlo, que é para o cabelo ficar enroladinho.
Para encerrar, vou falar qual é a definição de transgênico. Óleo
transgênico de soja, margarina transgênica de soja, aguardente
trangênica de milho, óleo transgênico de milho, é assim que vão
rotular? Ou será o contrário: óleo de soja transgênica, óleo de
milho transgênico, margarina de soja transgênica? Não existe óleo
transgênico de soja nem margarina transgênica. O transgênico foi a
soja. Se a soja transgênica não está no óleo, como já foi dito na
exposição anterior, não vão querer rotular o óleo, porque não tem
soja transgênica no óleo. O óleo não é transgênico, é óleo de soja
transgênica. Se a soja, se o DNA, se a proteína não estão mais lá,
eles não vão querer rotular. Não tem como fazer uma pessoa
rotular, porque a definição deles de alimento transgênico é:
aquele que contém o DNA transgênico. Como já foi dito aqui, o DNA
não está no óleo. Sendo assim, não está na margarina. Se não está
na margarina, não está em lugar nenhum.
A minha definição de transgênico é: aquele que contém algum
ingrediente de origem transgênica, que tenha DNA ou não, ou
qualquer alimento que contenha um aditivo de origem transgênica,
mas ainda é pouco para mim. Alimento transgênico é também aquele
alimento que não contém nenhum ingrediente, nenhum aditivo de
origem transgênica, mas que, no seu processo, em algum momento lá
atrás, teve um coadjuvante tecnológico de origem transgênica. Por
exemplo: queijo feito com coalho transgênico. É o queijo que
estamos comendo. Como é o coalho que é transgênico e não o leite
nem o queijo, você come sem saber. Não precisa bater na sua cabeça
porque você não tem na boca como saber se é ou não transgênico.
Isso é totalitarismo, é obrigar você a comer uma coisa que não
quer. Ora, já é ruim não poder comer o que quero, porque o
dinheiro não dá, porque engorda ou porque mata. Nós, como
cidadãos, como consumidores, temos o direito de saber se o
alimento é transgênico ou não dada essa definição de que em algum
momento alguma coisa transgênica encostou nesse alimento. Muito
obrigado.