JULIÁN EGUREN, Diretor-Presidente da Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais S/A. - USIMINAS.
Discurso
Legislatura 17ª legislatura, 2ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 06/11/2012
Página 6, Coluna 1
Assunto CALENDÁRIO. INDÚSTRIA.
Proposições citadas RQS 1954 de 2012
38ª REUNIÃO ESPECIAL DA 2ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 17ª LEGISLATURA, EM 29/10/2012
Palavras do Sr. Julián Eguren
Palavras do Sr. Julián Eguren
Senhoras e senhores, boa noite. Exmo. Sr. Deputado João Leite, representando o Deputado Dinis Pinheiro, Presidente da Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais; Exma. Sra. Eliane Parreiras, Secretária de Estado de Cultura, representando o Governador do Estado de Minas Gerais, Antonio Anastasia; Exmo. Sr. Deputado Federal Eduardo Azeredo; Exmo. Sr. Deputado Federal Marcus Pestana; Exmo. Sr. Deputado Federal Ademir Camilo; Exmo. Sr. José Antônio Cafiero, Cônsul-Geral da República Argentina em Belo Horizonte; Exmo. Sr. Raphael Andrade, Secretário Adjunto de Desenvolvimento Econômico, representando o Prefeito Municipal de Belo Horizonte, Marcio Lacerda; Exmo. Sr. Olavo Machado Júnior, Presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais – Fiemg -; Exmo. Sr. Luiz Carlos Miranda, Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Ipatinga e autor do requerimento que deu origem à homenagem pelos 50 anos da Usiminas; Exmo. Sr. Paulo Penido, Presidente do Conselho Administrativo da Usiminas; Exmo. Sr. Bertoldo Machado Veiga, ex-Presidente do Conselho de Administração da Usiminas; Sra. Conceição Soares, esposa do Sr. Rinaldo Campos Soares; e Exma. Sra. Rita Rebelo Fonseca, Presidente da Caixa dos Empregados da Usiminas, agradeço especialmente à diretoria e aos empregados da Usiminas que hoje nos acompanham. Também agradeço aos pioneiros da Usiminas, conhecidos como os “sete samurais”, e também ao resto dos familiares que hoje nos prestigiam com sua presença. Investido de orgulho e consciente de minhas responsabilidades, ocupo a tribuna maior desta Casa, onde o espírito democrático dos mineiros se consagra pela ação e pelo diálogo. E aqui me sinto ainda mais gratificado, justamente pelos contornos especiais que ora nos reúnem aqui: o reconhecimento a um percurso histórico muito bem situado no memorial afetivo da terra de JK - Juscelino Kubitschek -, os 50 anos da Usiminas.
A ocasião é verdadeiramente oportuna. Afinal, nas terras de Minas, um grupo de idealistas estabeleceu um sonho: ver as riquezas minerais deste solo serem transformadas em aço, o insumo básico para a industrialização do País. De fato, o espírito corajoso que se estabeleceu em Ipatinga, há 50 anos, materializou-se em uma obra fundamental para o desenvolvimento do Brasil e da siderurgia latino-americana. Constituída a partir de uma extraordinária força binacional, Brasil-Japão, a Usiminas soube atravessar os desafios da história como expressão do valor de sua equipe e da união de forças políticas e econômicas, que a tornaram um projeto possível.
Desde 1962, quando o Presidente da República João Goulart acendeu o alto-forno 1 na usina de Ipatinga, muitas transformações nos levaram até estes 50 anos. Construir um complexo industrial em uma região ainda carente de infraestrutura, a questão da mão de obra, as negociações políticas, muitos foram os desafios. Todavia, em que pesem as transformações econômicas e políticas vividas pelo Brasil nos últimos 50 anos, a Usiminas transformou-se no maior complexo siderúrgico de aços planos da América Latina.
Em Minas Gerais, a Usiminas dispõe de uma planta siderúrgica capacitada para produzir uma linha completa de aços planos. Temos o mais moderno centro de pesquisas da América Latina, referência internacional em processos e desenvolvimento de novos produtos. A Usiminas Mecânica, a Automotiva Usiminas e a Mineração Usiminas, além de centros de serviço e distribuição, também operam no Estado. Podemos afirmar, portanto, que Minas Gerais possui um sistema industrial de classe mundial, capaz de ir da extração sustentável do minério de ferro à fabricação de bens de capital com o mais alto patamar tecnológico.
Nos últimos cinco anos, a Usiminas investiu mais de 11 bilhões de reais na modernização de suas unidades e no aumento da produção de aços de maior valor agregado. Apenas como exemplo, o Vale do Aço ganhou recentemente uma nova coqueria; a linha de galvanização foi dobrada para atender ao crescimento do setor automotivo, e foi adquirida a tecnologia de resfriamento acelerado para produção de chapas especiais para o mercado de óleo e gás e naval. Posso lhes dizer que, apesar da crise econômica mundial, nenhuma outra empresa em nosso mercado investiu tanto na melhoria de seus produtos e serviços, a fim de contribuir para o crescimento econômico do Brasil.
Nosso desafio agora é fazer valer esses investimentos, transformá-los em resultados e, consequentemente, gerar maior valor econômico para o País. Paralelamente, atuar fortemente na busca por processos industriais mais eficientes e por maior integração com os nossos clientes. Todavia, todo esse esforço de investimento e gestão será insuficiente se não encontrarmos um ambiente propício ao crescimento industrial. A carga tributária, a burocracia, o alto custo do trabalho e a ineficiência logística rebaixam o potencial competitivo do País.
A partir de 2004, a participação do valor agregado do setor industrial no PIB brasileiro caiu de 19,2% para 14,6%, em 2011. A participação do valor agregado industrial no PIB dos países asiáticos é notavelmente superior: em 2010, na China, a participação foi de 29,6%; na Indonésia, de 24,8%; na Tailândia, de 35,6%, e, na Coreia, de 30,6%. Todos os países da região possuem um forte déficit no comércio de produtos industrializados. O saldo comercial internacional de bens manufaturados do Brasil começou a cair em 2005, ficou negativo em 2011 e piorou rapidamente. Passou de um superávit de 7 bilhões de dólares, em 2005, para um déficit de 90 bilhões de dólares, em 2011.
A cadeia de valor do aço está particularmente exposta a esses riscos: muitos dos nossos concorrentes no mercado mundial são empresas estatais para as quais não são relevantes critérios como rentabilidade, decisões de investimentos ou escolhas comerciais. Existe ainda um fenômeno mais preocupante que se soma à importação direta do aço: é a importação de produtos com alto conteúdo de aço, que ameaçam toda a cadeia de valor do nosso sistema industrial. O comércio indireto do aço brasileiro praticamente dobrou desde 2009, passando de 2,7 milhões de toneladas para um valor histórico de 5 milhões de toneladas em 2011, valor superior à produção anual da usina de Ipatinga.
Hoje, no Brasil, o consumo aparente de aço é de 130kg “per capita”, menos que a média mundial, que é de 197kg. É também muito menos que o consumo atual da China, que é de 465kg “per capita”, ou da Coreia, que é de 1.170kg “per capita”.
Há 10 anos, a China tinha um consumo de aço similar ao brasileiro, que era de 120kg “per capita”. Uma década de crescimento econômico, de investimentos em infraestrutura e de integração industrial permitiram aos chineses triplicar o consumo de aço “per capita”. Nosso desafio é o de promover a mesma transformação no Brasil. Para vencer esse desafio é necessário agir internamente, com investimentos na estrutura industrial que permitam introduzir inovações nos produtos e nos processos produtivos, além do incremento na formação dos nossos recursos humanos. Nesse cenário, consideramos muito bem-vindas as últimas medidas governamentais de apoio à competitividade industrial. Estamos no caminho certo. Mas sabemos que ainda há oportunidades na criação de um ambiente de maior isonomia competitiva. E, principalmente, oportunidades de promoção do crescimento do mercado interno, a partir de um ciclo de investimentos na infraestrutura do País.
Com as cadeias industriais enfraquecidas, senhoras e senhores, o Brasil perde competitividade mundial, e deixa de investir e gerar novos postos de trabalho. Somos hoje milhares de trabalhadores que se dedicam, dia a dia, a fazer da Usiminas líder no mercado interno de aços planos. São empregados qualificados, formados mediante investimentos em treinamento e capacitação de padrão internacional. Recentemente uma parceria do nosso Centro de Desenvolvimento de Pessoal com o Sistema Fiemg acaba de criar a maior unidade do Senai em Minas Gerais, com capacidade para treinar 3 mil trabalhadores no Vale do Aço; uma prova do compromisso da Usiminas de desenvolver melhores oportunidades profissionais.
Diante de todo esse contexto, que gostaríamos de reforçar, precisamos unir os nossos esforços em prol da melhoria da competitividade de nossa indústria. Essa não deve ser uma bandeira apenas do empresariado, mas também da sociedade civil organizada, dos sindicatos, dos Poderes Executivo e Legislativo. Afinal, o crescimento equilibrado da indústria, com equidade tributária, não depende apenas da iniciativa e do esforço próprio do setor, mas igualmente da eficiência global do País.
Reflexões como essas ensejam uma questão maior, que transcende a própria Usiminas. Que tipo de crescimento queremos para o Brasil? Que tipo de crescimento queremos para Minas Gerais? Por isso, nos 50 anos de um extraordinário empreendimento industrial que nasceu em Minas, fruto do desejo político e industrial de mineiros, gostaríamos de deixar essa indagação para todos, na esperança de apoiarem o setor produtivo na busca por um ciclo de crescimento sustentado e por uma matriz de custos mais equilibrada no Brasil.
Senhoras e senhores, nesses meses tive a oportunidade de visitar, com muita frequência, nossas usinas e escritórios, como também nossos clientes e nossas comunidades. Tive encontros com os representantes das nossas instituições e entidades de classe, conversas com parceiros e líderes de opinião. Em todas as vezes, fui recebido com atenção e respeito. Além disso, senti uma grande expectativa em relação a nossa empresa. O Brasil torce para que a Usiminas esteja à altura dos desafios do País e da sua própria história. Essa é uma grande responsabilidade para todos nós, e depende só de nós, da nossa força, confiança e determinação. Tal como nos últimos 50 anos, a Usiminas continuará dando sua contribuição fundamental ao progresso do Brasil e Minas Gerais.
Quero, por fim, reiterar o meu imenso orgulho de liderar uma empresa com esse padrão no momento de seu cinquentenário. Minha vida tem sido percorrer diversos países da América Latina até conhecer o Brasil. Nessas andanças, sempre ouvi falar da Usiminas, do padrão Usiminas, da qualidade Usiminas. Isso se fixou em minha mente. Que orgulho o destino me reservou, de poder continuar a obra dos que me antecederam - e em particular gostaria de mencionar os Drs. Amaro Lanari e Rinaldo Campos Soares, pioneiros, que atravessaram o tempo com determinação, vencendo desafios de todos os tipos e, acima de tudo, sendo fiéis aos seus sonhos de origem.
Manifesto o nosso agradecimento ao Presidente e ao Deputado Luiz Carlos Miranda, pela iniciativa de homenagear a Usiminas no dia de hoje. O gesto de V. Exa. acolhe generosamente os nossos colaboradores, aos quais também reverenciamos.
Repito: muitos são os desafios. Mas, com a união de todos os setores políticos e da sociedade, o calor que acendeu o alto-forno 1 na usina de Ipatinga manterá acesa, para sempre acesa, a chama que impulsionará os próximos 50 anos. O futuro terá a dimensão que os nossos sonhos alcançarem. Saberemos construí-lo, juntos, com ação e trabalho. Contem conosco. Muito obrigado.