Pronunciamentos

JOSÉ THOMAZ NONÔ (PFL), Deputado Federal - AL. Representante da Câmara dos Deputados.

Discurso

Homenagem a Vítor Montenegro Wanderley, Diretor-Superintendente do Grupo Tércio Wandreley, Usina Coruripe pelo Título de Cidadão Honorário do Estado de Minas Gerais.
Reunião 54ª reunião ESPECIAL
Legislatura 15ª legislatura, 2ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 25/11/2004
Página 37, Coluna 2
Assunto HOMENAGEM.
Observação O número que acompanha o Decreto Sem Número, constante do Campo Norma Citada, é para controle interno, não fazendo parte da identificação da norma referenciada.
Normas citadas DSN nº 179, de 2003

54ª REUNIÃO ESPECIAL DA 2ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 15ª LEGISLATURA, EM 22/11/2004

Palavras do Deputado Federal José Thomaz Nonô


Sr. Presidente, Deputado Mauri Torres; Senador Aélton Freitas, meu particular amigo, que representa o Governador Aécio Neves; Secretário Danilo de Castro; Secretário Marcos Cordeiro; Deputado Márcio, meu parceiro e amigo; Deputado Anderson Adauto, que também é meu companheiro na Câmara dos Deputados e Prefeito eleito de Uberaba; Deputado Paulo Piau, autor do requerimento que deu origem a esta homenagem, na pessoa de quem cumprimento todos os Deputados Estaduais de Minas Gerais presentes; senhores da iniciativa privada; Presidente do Sindicato do Açúcar de Minas, Luiz Custódio, cujo nome faço questão de destacar; Presidente do Sindicato de Açúcar de Alagoas, Pedro Robério; familiares, empresários e amigos, não sei bem se estou aqui em nome da Câmara, dos meus conterrâneos, dos fornecedores de cana de Minas Gerais, categoria na qual me incluo há oito anos, ou como amigo do Dr. Vítor, como amigo que fui do seu pai, dos seus filhos e sou dos seus netos.

Entendo que estou aqui para dar um testemunho. O talento e a competência dos Deputados mineiros fizeram com que se exaurissem as virtudes de um discurso construído. Paulo Piau, em seu pronunciamento e na sua justificativa, que redundou na concessão desse título, exauriu o perfil do grupo e, mais do que isso, o perfil empresarial e humano do Dr. Vítor Wanderley. Anderson Adauto, Deputado brilhante, ex-Presidente desta Casa, ex-Ministro e homem da região, traçou o cenário da cana-de-açúcar.

Sou também um híbrido, sou agricultor em Alagoas e em Minas Gerais. O acaso e a generosidade dos alagoanos mandaram-me para a Câmara dos Deputados, onde estou há 22 anos. Se Deus quiser, ainda fico lá por mais 8 anos.

A vivência com pessoas distintas e com grupos empresariais e a singular oportunidade que Deus me deu de conviver com várias gerações dos Wanderley fazem com que eu me sinta completamente à vontade.

Tentarei traçar para os senhores um pouco também do significado desta homenagem. Já foi ressaltado que o título de cidadania mineira, além de honroso, é raro; que solenidades como essa, realmente significativas, são escassas. Só isso por si só já seria bastante para garantir o brilho, a relevância e a emoção que toma a todos nós, em uma noite tão singular. Mas é necessário dizer um pouco mais.

Quero cumprimentar o Deputado Paulo Piau, sobretudo, pela iniciativa, e o Governador Aécio Neves, por quem tive a honra de ser liderado na Câmara dos Deputados, pela concessão do título. É muito importante, neste Brasil tão controvertido, que se entenda que há e deve haver uma perfeita simbiose entre classe política, empresário e povo, até porque povo somos todos nós. Nós, políticos, Prefeitos, Vereadores, que nos honram com as suas presenças, temos de diferente apenas uma delegação popular - graças a Deus, transitória -, que nos obriga a ter cuidado com o que fazemos.

Entretanto, os empresários têm visão um pouco distinta, porque a obra deles é perene. Todo empresário, quando funda o seu pequeno negócio, quer fazê-lo para a eternidade, para crescer, ampliar, dar emprego, participar de um processo de desenvolvimento compartilhado por toda a sociedade; senão, é fadado ao malogro, desde o início. Para fazer isso é necessário que tenhamos pessoas dotadas, atentas, capazes, competentes, crentes. Crentes no sentido mais puro da palavra, porque começar, manter e, sobretudo, expandir um negócio neste País exige, antes de tudo, profunda convicção em si mesmo e nos outros.

O Grupo Coruripe nasceu com o Comendador Tércio Wanderley, empresário “sui generis”, sem precedentes na história do nosso Estado, e teve continuidade em suas sucessivas gerações. Todos sabemos que empresas familiares são difíceis de manejar, de crescer, de se afirmar no seu contexto empresarial e social específico. Esse grupo é uma exceção.

Dr. Vítor, já foi dito pelo Anderson, mandou para cá o que tinha de melhor: os seus filhos. Mas, como bom pai, veio para junto deles, para fiscalizar. Mandou os filhos e veio atrás ver o que estão fazendo. E os seus filhos buscam nele a inspiração, o rumo, a norma.

Se pudesse hoje destacar uma característica do nosso homenageado, diria que é um otimista contumaz. Ao longo de décadas, o açúcar foi um produto maldito, bendito, lucrativo, prejudicial. Mudou, como muda toda a economia nacional, ao sabor dos ventos do mercado. É preciso ter talento, companhia, empresa, família e crença para vencer essas sucessivas fases.

Mas, um dia, Alagoas ficou pequena para a Usina Coruripe. Nosso Estado tem apenas 28.000km2 e a terceira densidade demográfica do País, o que é um problema para suas gentes, e precisamos crescer. Há 10 anos, a Coruripe resolveu crescer em Minas Gerais, e vejam a primeira singularidade do processo. Outros Estados talvez fossem igualmente promissores, o Paraná, o Mato Grosso do Sul. Hoje já se fala em cana-de-açúcar no Tocantins, no Mato Grosso e em várias outras regiões. Há, aliás, algumas regiões do próprio Nordeste. Mas o Dr. Vítor optou por Minas Gerais, não apenas por suas riquezas naturais e potencialidades de mercado, mas, sobretudo, pela grandeza e pela generosidade de suas gentes.

Posso dizer isso porque vim atrás e me orgulho também de ser fornecedor de cana nessas Gerais há oito anos. Vencer aqui foi uma tarefa difícil, mas extremamente prazerosa. Hoje os alagoanos - e o Dr. Custódio talvez possa me corrigir - produzem mais de 50% do açúcar e do álcool de Minas Gerais. Mas não são mais os alagoanos, somos apenas brasileiros, da mesma forma que a cana, ao ser esmagada, deixa de ser cana para ser álcool ou açúcar.

Se formos a Iturama, a Campo Florido, com certeza a Limeira, e, bem cedo, a União, ouviremos um sotaque exótico. O Dr. Vítor ainda não consegue dizer “uai” e, muito menos, “trem”, mas está em marcha batida para aprender, é adepto convicto do pão de queijo e jura por Deus que Aécio Neves é o maior Governador deste Brasil. Seus negócios crescem de forma harmônica, em perfeita identidade e integração com o meio ambiente. Mais que respeito às araras, aos tucanos e a todas essas aves que borboleteiam nos nossos céus, com respeito às nossas gentes... Lá os sem-terra não são incômodos, mas parceiros. Lá os fornecedores de cana não são adversários, mas parceiros. Lá os políticos não são antagônicos, mas parceiros. E essa é a lição do empresário competente: envolver a tudo e a todos no seu projeto, que não lhe gera apenas riqueza. Até porque, a partir de um certo patamar, ela é absolutamente despicienda, se a ela não se agregar um componente de realização pessoal, de alegria e de ver que as pessoas crescem com o seu próprio crescimento, e esse é o grande mérito do empresário Vítor Wanderley.

Ele é também um catequista. De Alagoas, de Maceió para Iturama, onde começou a aventura mineira desse grupo, são mais de 2.000km. Para os mineiros, que possuem um Estado tão grande e tão rico e com a maior malha viária do País, como bem pode atestar o Anderson Adauto, essa distância talvez não seja grande coisa, mas, para nós, o lugar mais distante da Capital fica a 300km, e aventurar-se em negócios a dois mil e tantos quilômetros de distância era temerário. Mas o Dr. Vítor fez isso, e hoje boa parte dos fornecedores de cana de Iturama e da região são alagoanos. Aliás, não são mais alagoanos, mas triangulinos e brasileiros. Há oito anos freqüento Iturama e ando na região, e é curioso como os costumes se misturam. As primeiras levas de trabalhadores alagoanos que vieram a Iturama - e perdoem-me os senhores do instituto do meio ambiente - dedicaram-se ao esporte politicamente pouco correto de caçar tatu.

Foi uma verdadeira comoção, porque todos sabemos que a lei brasileira pune mais severamente quem matar um tatu do que quem matar um fiscal do IBAMA. Hoje, em Alagoas, não há operário mais respeitador do meio ambiente do que os que passaram por Minas e aprenderam a amar e respeitar suas circunstâncias. Da mesma forma, os que foram daqui para lá aprenderam a conhecer camarão, peixe do mar e morenas maravilhosas na orla marítima. Esse intercâmbio salutar melhorou alagoanos e mineiros.

O Grupo Coruripe é um exemplo dessa simbiose, desse aproveitamento do que há de melhor nos dois Estados, nos dois mundos, nas duas agriculturas. E só se faz isso, repito, quando se tem fé de catequista. Hoje, produzindo 7,5 milhões de toneladas de cana, um grupo que está entre os dez maiores produtores do País, é fácil dizer. A engenharia de obra feita é a mais sedutora e a mais enganosa. Difícil era crer quando não havia nada. Olhar os campos e o cerrado daquela região, já nas beiras do rio Grande, e imaginar um canavial onde não havia nada além de capim e cerrado. E hoje temos o canavial como uma realidade. Mas não é um canavial monopolista. Em Iturama, a superfície com cana-de-açúcar é 19% da superfície do município, ou seja, há harmonia com o gado, soja, algodão e as culturas tradicionais da região.

Por tudo isso, todos nós somos admiradores e amigos desse grupo, que, como já disseram o Anderson e o Paulo Piau, respeita a criança, os sem-terra, a comunidade, o meio ambiente, tudo que deve envolver uma atividade empresarial salutar.

Essa parceria estende-se também aos negócios de Estado. Vejo o Governo Lula querendo se lançar para as PPPs, que são as parcerias público-privadas, como se fosse algo novo e inusitado. Em Minas Gerais as PPPs estão em vigor há bastante tempo, com lucros sociais para os mineiros, retorno financeiro para as empresas e ganhos tributários para o erário de Minas Gerais.

No passado, fui Secretário de Fazenda e só ia a uma solenidade para verificar se maximizava minha arrecadação. Fiquei feliz em saber que, em Minas, os companheiros da Fazenda têm o olho corretamente voltado para a produção e uma sintonia perfeita com o próprio grupo, que redunda em pavimentação de quase 100km de estradas, com o aperfeiçoamento do processo produtivo e com ganhos socializados para todos os segmentos da economia.

A cana-de-açúcar tem uma característica peculiar, atendendo a duas matrizes: a energética e a alimentar. Pode ser açúcar, álcool, comida ou energia. E o cenário, meu caro Anderson, é bastante otimista no momento. O Protocolo de Kyoto, o recente despertar de uma consciência ecológica em todos os rincões do planeta, abre uma perspectiva sem precedentes para o álcool brasileiro.

Para ser absolutamente contemporâneo, todas as autoridades que nos visitaram - e foram muitas, nos últimos 15 dias, o Presidente Hu Jintao, da China; o Primeiro-Ministro da Coréia, o Primeiro-Ministro russo - acenam com perspectiva de negócios nesse setor.

Alagoas, quem diria?, virou um Estado exportador, mas a coisa que melhor exportamos para Minas Gerais é o Grupo Coruripe, personalizado no Dr. Vítor Montenegro Wanderley. E nos orgulhamos disso, porque esse processo não fez uma ruptura. Não há diminuição de Alagoas para crescimento de Minas Gerais. Ao contrário, pudemos demonstrar na prática que estamos crescendo juntos.

Lembrei-me do rio São Francisco, que nasce na serra da Canastra, mais ou menos perto de Campo Florido, e vai serpeando, serpeando, serpeando até terminar na divisa de Alagoas e Sergipe, a poucos quilômetros da Usina Coruripe. O São Francisco, que é o Rio da Integração Nacional, uniu Minas e vários outros Estados, que beija com suas águas. O Dr. Vítor é o São Francisco ao contrário: saiu da beira do mar e subiu o rio até depois da serra da Canastra.

Essa é a lição que temos e podemos revogar, se nos interessa, com carinho, afeto e trabalho, uma lei da gravidade geográfica. O que não podemos nem devemos revogar é o espírito de fraternidade que nos une. Essa é uma empresa familiar, que preza a família, antes de tudo. No entanto, há muito tempo deixou de pertencer a seus donos: é um patrimônio de Alagoas e, hoje, um patrimônio de Minas Gerais.

Conheço o Dr. Vítor, que está me olhando com os óculos para baixo, há 40 anos. No fundo está acanhado, constrangido, doido para que esta cerimônia termine logo. Mas eu, que sou da “oposição”, faço questão de brindá-lo com mais uma palavrinha: Dr. Vítor, cidadão de Alagoas, daqui para a frente mineiro, ou todos nós viramos “alagoeiros”, ou todos nós viramos “mineiranos”. Muito obrigado.