Pronunciamentos

JOSÉ MÚCIO MONTEIRO FILHO

Discurso

Agradece, na condição de homenageado, o Título de Cidadão Honorário do Estado de Minas Gerais.
Reunião 12ª reunião ESPECIAL
Legislatura 17ª legislatura, 1ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 01/06/2011
Página 68, Coluna 3
Assunto HOMENAGEM.
Observação O número que acompanha o Decreto Sem Número, constante no campo Norma Citada, é para controle interno, não fazendo parte da identificação da Norma referida.
Proposições citadas RQN 1387 de 2011

Normas citadas DSN nº 6721, de 2011

12ª REUNIÃO ESPECIAL DA 1ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 17ª LEGISLATURA, EM 26/5/2011

Palavras do Sr. José Múcio Monteiro Filho

Exmos. Srs. Deputado Dinis Pinheiro, Presidente da Assembleia Legislativa do Estado meu prezado e velho amigo Alberto Pinto Coelho, Vice-Governador do Estado nesta solenidade representando o Governador Antonio Anastasia; Conselheiro Antônio Andrada, Presidente do Tribunal de Contas do Estado a quem agradeço pela honrosa homenagem de que fui alvo hoje; meu velho e prezado amigo Robson Braga de Andrade, Presidente da Confederação Nacional da Indústria; Dr. Olavo Machado Júnior, Presidente do Sistema Fiemg; meu prezado e velho amigo Romeu Queiroz, com quem tenho uma amizade de muitos anos de bem-querer, imune à distância, aos mandatos e às querelas políticas, autor do requerimento que me homenageia e a quem homenageio, assim como a sua família; minha prezada companheira Deputada Federal Jô Moraes, ilustre representante de Minas e ilustre Líder da bancada feminina no Congresso Nacional; prezado Deputado Federal Fabinho Ramalho, homem de Malacacheta, a quem tive a honra de acompanhar até lá; prezado Deputado Alexandre Silveira, a quem agradeço pela presença; prezado amigo e municipalista Deputado Federal Vitor Penido; prezado e querido amigo Deputado José Militão, a quem, sempre que encontro, registro a falta que fez naquela casa; prezado e velho companheiro do “nortão” deste Estado maravilhoso, Deputado Federal Cleuber Carneiro; prezado amigo Walfrido dos Mares Guia, líder, um dos maiores homens públicos que conheci e que Minas Gerais emprestou a este país, a quem assisti e com quem muito aprendi a resolver problemas com diálogo, com carinho e com respeito, tratando a todos como se fossem iguais e tivessem tido as mesmas oportunidades; prezado amigo Roberto Brant, Deputado e ex-Ministro, a quem homenageio aqui também; prezado amigo Roberto Hilton; Srs. Deputados Estaduais; funcionários desta Casa; boa noite. Quero fazer uma homenagem e agradecer também ao Jack Corrêa, velho amigo mineiro, um irmão, que me homenageia também com sua presença; aos funcionários desta Casa; ao meu filho Múcio; ao meu sobrinho Fernando e ao meu cunhado Luciano.

Sr. Presidente, componentes desta Mesa, senhoras e senhores, quis fugir do lugar comum dos que agradecem sempre quando são distinguidos. Há uma razão maior de eu me sentir com toda a emoção, e gostaria que estivessem aqui todos os meus filhos, minha mãe, minha família, e vocês vão entender o porquê. Política é destino - alguém já disse isso -, é vocação, é oportunidade, é sorte. Não era meu propósito ser político. Sou fruto de um casamento de dois jovens que muito cedo resolveram se casar. Aos 18 anos do meu pai, ele já tinha o primeiro filho. E ele passou para mim todos os seus projetos e sonhos, como se materializasse no seu filho tudo aquilo que ele não tinha conseguido ser. Era desejo dele - já contei isso ao prezado Alberto Pinto Coelho, Vice-Governador - que eu fosse engenheiro mecânico. E eu, para fazer o gosto de meu pai, fui ser engenheiro mecânico. Lembro-me muito bem - e não me arrependo disso - de quando lhe disse que gostaria de ser advogado. Ele, carinhosamente, sendo que naquela época não havia psicólogos, disse: “meu filho, depois que você for engenheiro mecânico, você escolhe a profissão que quiser”. Formei-me em engenharia e comecei minha vida profissional trabalhando numa empresa de Minas. E começa aí a minha relação com Minas. Fui engenheiro da Construtora Rabelo por alguns anos. Trabalhei numa barragem de Tapacurá, com o prezado Hugo, que me homenageia aqui com sua presença, um engenheiro renomado de Minas; depois fui transferido para o Rio de Janeiro, onde trabalhei na ponte Rio-Niterói por um curto espaço de tempo. Fui promovido para trabalhar na Rio-Santos. Por um acidente, meses depois que me encontrava no Rio, perdi meu pai e tive de voltar. Daí começa a razão por que termino aqui esta noite. Fui viver com o meu avô, um homem duro, mas que foi quem me fez homem. Trabalhei com ele no interior, quando, num belo dia, ele chegou na empresa e disse: “Você será candidato a Vice-Prefeito de Rio Formoso”. Eu disse: Mas, vovô! “Ele disse: “O rapaz da propaganda já vem amanhã, assim como o fotógrafo. Você está registrado no partido tal, e felicidades”. Então fui Vice- Prefeito de Rio Formoso em 1976. Em 1982, meu tio Armando Monteiro Filho, pai do ex-Presidente da CNI, era do então MDB, e meu avô, um governista desses empedernidos, que não gostava da atuação política, por mais que admirasse o filho, o querido e predileto, como sempre fez questão de demonstrar, disse um dia: “Seu tio está achando que quem manda na política de Rio Formoso é ele”. Daí lançou um candidato pelo partido dele, e disse: “Você é candidato a Prefeito”. E lá fui eu ser candidato a Prefeito. Noventa dias depois de estar na Prefeitura, o então Governador Roberto Magalhães me convocou para presidir a Companhia Energética de Pernambuco, onde passei exatos 28 dias. Numa madrugada, ele me chamou no Palácio e disse: “José Múcio, tenho uma tarefa para você. Você será Secretário de Energia, Transporte e Comunicação do Estado”. Eu tinha 32 anos e comecei a viajar pelo Estado. Comecei a ver que a política é o melhor dos instrumentos para quem quer servir. Vi que as estradas sobre as quais eu tinha estudado poderiam se transformar em caminhos, em avenidas, para que pudéssemos resolver o problema dos injustiçados; que as pontes poderiam ser maiores que as pontes de concreto. Nós poderíamos juntar pessoas, juntar ideias, estabelecer resultantes, tirar um pouco de cada um uma ideia onde cada um se sentisse participante. Visitei cada palmo do meu Estado e fui começando a tomar gosto pela política, sentindo que, para aqueles que queriam servir, que se sentiam estimulados em materializar suas indignações diante das injustiças, nada era melhor que a política, na mão dos bons, para se resolverem os problemas. E me questionava sobre os absurdos, os abusos. Eu não poderia me sensibilizar, por conta dos abusos, e não enveredar pelo caminho do bom uso. Comecei o maior desafio da minha vida aos 36 ou 37 anos, ao enfrentar o maior líder de esquerda voltando do exílio, o Dr. Miguel Arraes de Alencar. A nossa eleição é um paradoxo: eu tinha 36 anos, era a cara do passado, ele tinha 70 anos, era a cara do futuro. Eu tinha 36 anos e era a cara do que o povo queria mudar, ele tinha 70 anos e era a cara do que o povo queria para o País. Contribuí no processo democrático, fizemos uma eleição elegante. Lembro-me: tão elegante que, no meio da campanha, os marqueteiros entregaram o lugar, porque não conseguiram convencer-me que eu tinha de tratá-lo por você. Ele tinha história, tinha passado. Eu admirava a sua coragem, os exílios, as prisões, lutando por aqueles que não tinham, quando eu sabia pouco disso, porque, como eu tinha nascido tendo, não sabia a dor dos que não tinham. Ele era sensibilizado pelos necessitados, eu o ouvia dizer. Eu tinha tido escola, tinha tido comida, tinha tido todas as oportunidades com que sonhara, porque nasci bem. Disputamos a eleição do governo, uma eleição elegante. Ao final da eleição, havíamos feito uma amizade. Fiz-lhe uma visita após a posse, passei quatro anos me autoexilando em Goiás. Era tão novo que não sabia qual a minha cor preferida, o meu time predileto. Os marqueteiros mexem com a cabeça da gente. Eu precisava voltar a ser um cidadão comum, fazer feira, ir a supermercados, levar filhos a colégios, mas a política estava em meu sangue. Era meu destino. Fui morar numa cidadezinha distante, no norte do Mato Grosso, Vila Tapiraguaia, que, na época, era um Distrito. Juntei-me à comunidade: isto aqui não pode ser um Distrito, isto aqui tem de transformar-se em Município. Lá estava eu fazendo política de novo. A Vila Tapiraguaia virou Município do Estado do Mato Grosso. O povo de Pernambuco, pela conduta que tivemos, deu-me cinco mandatos de Deputado Federal. Tive a honra de conviver com a valorosa bancada de Minas Gerais e com seus ilustres representantes, que, hoje, estão aqui me homenageando. No quarto mandato, fui líder do PTB, creio que por dois mandatos, quando me aproximei mais do Ministro Walfrido dos Mares Guia. Tive a chance, a convite do Ministro, de ser Líder do governo Lula. Essa talvez seja, em toda a minha história, a parte mais importante, Sr. Presidente. A despeito das querelas partidárias, das matrizes ideológicas, dos posicionamentos eleitorais, ninguém pode discordar que este Brasil viveu nos últimos anos uma das maiores experiências da história do mundo. O Brasil, que teve 39 ou 40 Presidentes de República, via sempre o poder mudar de mãos, mas sempre para as mãos de quem tinha nascido tendo. Um partido de oposição, um partido de governo, mas quem quer que fosse o vencedor, eram homens que tinham nascido em maternidade, eram homens que tinham nascido em maternidade, eram homens que tinham casa, eram homens que tinham tido comida, que puderam estudar. Sempre o poder mudava de mãos, mas sempre para as mãos de quem havia nascido com poder. O Brasil usava os pobres, como outros países subdesenvolvidos, para encher os palanques, fazer as campanhas, carregar

bandeirinhas, para gritar os “slogans”, mas nunca foram atores principais da democracia que tanto preconizávamos. De repente, aqueles lá de baixo, que tinham sido apenas atores coadjuvantes da história da democracia brasileira, resolveram fazer uma revolução sem desferir um tiro sequer: colocaram um pobre na Presidência da República. Pela primeira vez alguém que tinha passado fome falava de fome; pela primeira vez, alguém que não tinha casa falava de quem não tinha casa; pela primeira vez, alguém que tinha nascido sem ter o pai ao seu lado, sem comida na mesa, pela primeira vez ocupava a Presidência da República alguém que falava das mazelas deste país, porque ele próprio as havia experimentado. Um homem que não guardava rancor das pessoas nem da vida. Um homem que não carregava mágoas em seu coração, que apenas desejava servir por servir. Sr. Presidente, meus irmãos de Minas Gerais, aí, sim, entendi o sentido da política. Todas as armas partidárias desarmadas, as palavras embainhadas, as espadas embainhadas, todos trabalhando para que o Brasil deixasse de ser sempre aquele país do futuro. Nós e nossos filhos precisávamos de que, em algum momento, esse futuro chegasse e que pudéssemos dele usufruir. Aprendi com esse homem simples, para o qual não fiz campanha, porque pertencia a outro grupo político, que poderíamos fazer política com grandeza.

Eu, Presidente, trabalhei com todas as bancadas do Brasil. Tive a honra de conhecer de perto os bem-intencionados e aqueles que usavam a política para dela se servir. Enaltecia sempre aqueles que usavam a política para minorar dores para juntar pessoas. Façam justiça a essa bancada de Minas, que se assemelha à de Pernambuco, pois, passada a eleição, chegavam aos meus gabinetes sempre pedindo por Minas. É fácil servir a Minas, Sr. Presidente, basta zelar pela liberdade e lutar pela democracia plena. Pernambuco e Minas se parecem. Foi pelo sangue de Frei Caneca lá e pelo sangue de Tiradentes cá que consolidamos a nossa democracia e que estamos todos hoje aqui fazendo um ode à liberdade que os senhores colocaram na sua bandeira. A qualquer hora, nem que seja tardia. Mas sempre é muito fácil servir a Minas. Um dia, o Presidente disse: “Múcio, qual é o seu projeto político?” Eu disse: “Nunca mais pedir um voto.” Ele disse: “Mas você sai do Ministério das Relações Institucionais, substitui Walfrido, vocês tão amigos, você precisa se candidatar a alguma coisa.” Eu disse: “Quero ter de volta o meu gesto. Quero fazer política sem precisar pedir voto. Quero servir sem precisar ser votado. Quero fazer política trabalhando todo dia.” Ele disse: “Vou colocá-lo no Tribunal de Contas da União.” E é lá

que estou, Sr. Presidente. E por que estou aqui? Há um verso de um mineiro de que gosto, Wilson Pereira, com os seguintes dizeres: “O que guardo de Minas em mim é o sonho de subir montanhas e garimpar estrelas”. O que guardo de Minas em mim, Sr. Presidente, é muito mais. Guardo de Minas as suas montanhas e as suas estrelas, como o poeta, mas guardo de Minas as suas fronteiras, que são permanentes fontes de inspiração e estímulo. A fronteira da cultura, dos versos de Drummond, dos versos de um Fernando Brant, de um Pedro Nava, de um Fernando Sabino; a fronteira da cultura de Aleijadinho, a fronteira da industrialização, a fronteira do comércio. Mas o que mais guardo de Minas, Sr. Presidente, Sr. Governador, senhores parlamentares, senhores e senhoras, o que mais me cativa em Minas é o mineiro. É o jeito de ser. Mineiro é mais que nascer aqui, é um estado de espírito. Mineiro é uma forma de ser. Mineiro é um homem que leva à exaustão o diálogo. O que mais gosto em Minas é a simplicidade de Minas, é a simplicidade do mineiro, é o jeito de o mineiro ver o Brasil. Minas tem um papel importante para este país. Disse e repito, é fácil servir a Minas, Sr. Presidente; é servir à democracia e fortalecer as suas liberdades. Guardo de Minas o gesto desta noite. Os senhores hoje, aqui, mais que o título de cidadão de Minas, me dão um diploma, um certificado. Foi por isso que deixei que meu coração se sentisse à vontade para dizer, da forma que ele se sentisse melhor, o tamanho da minha gratidão. Esse não é igual aos outros títulos que recebi. Esse é um título maior, porque toca na profundeza da minha alma. Mais que cidadão de Minas, recebo aqui um certificado de 30 anos de vida pública, em que prevaleceu o diálogo, o respeito aos que não tinham, dando oportunidade àqueles que não tinham; daqueles que acham que a política é para os bons, embora os maus tenham tanto sucesso nela. Os melhores da família deveriam ser obrigados a ser políticos, porque ninguém pode saber mais que nós, que fazemos política, o quanto é duro, arriscado, complicado, quanto sacrifício traz à família se dedicar a cuidar dos outros. Ao político não interessa os filhos na escola, interessa que todos tenham escola. Ao político não interessa a sua casa, interessa que todos tenham casa. Nós temos um coração maior que aqueles que só pensam em si.

Sr. Presidente, os senhores hoje me dão, sim, um título de Minas e, de certa forma, sinto-me recebendo aqui uma certidão de nascimento, porque meio mineiro eu já me sentia, e esta Casa está cheia de irmãos meus. Saio daqui oficialmente mineiro, grato pelo gesto, pelas presenças que, cada uma em si, já valeu a noite e por cada uma já valeu a pena ter vindo aqui. Quero continuar a servir a Minas, e servir a Minas é fácil, é simples. Servir ao mineiro é simples: é zelar pela liberdade, é dar oportunidade aos que não a têm, é lutar pela plena democracia e servir ao País. Muito obrigado aos senhores.