Pronunciamentos

João Carlos Leite, Presidente da Cooperativa de Crédito de Livre Admissão de São Roque de Minas - SICOOB SAROMCREDI.

Discurso

Comenta o tema do evento. Transcurso do Ano Internacional das Cooperativas.
Reunião 39ª reunião ESPECIAL
Legislatura 17ª legislatura, 2ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 23/11/2012
Página 18, Coluna 1
Evento Ciclo de debates: "Cooperar 2012 - Ano Internacional das Cooperativas."
Assunto INDÚSTRIA, COMÉRCIO E SERVIÇOS. CALENDÁRIO.
Observação No decorrer de seu pronunciamento, procede-se à exibiçã de "slides".

39ª REUNIÃO ESPECIAL DA 2ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 17ª LEGISLATURA, EM 6/11/2012

Palavras Sr. João Carlos Leite


Bom-dia a todos. Cumprimento o Deputado Antônio Carlos Arantes, em cuja pessoa saúdo toda a Mesa. É uma honra sair da Serra da Canastra e vir à Assembleia Legislativa para relatar a experiência dessa grande metrópole, São Roque de Minas, hoje em franco crescimento, com seus 3.700 habitantes. Para nós, é uma honra muito grande estarmos aqui.

Como é muita coisa, vou tentar resumir 21 anos de experiência no cooperativismo de crédito. Todo mundo fala que o cooperativismo de crédito é um agente de desenvolvimento econômico e social, de distribuição de renda, de geração de empregos e de felicidade. Acho que São Roque de Minas é esse modelo.

Para entendermos um pouco dessa história, nos seus 2.102km2 viviam cerca de 10 mil habitantes. Em 1990, essa população caiu para 6.300 habitantes. Por que aconteceu isso? O povo foi embora porque não havia emprego. Em São Roque, não há hospital até hoje. Não havia estrada, escola, telefonia, energia e não se produzia nada. O que era produzido em São Roque? Havia a pecuária leiteira. Havia pequenos produtores de queijo da Serra da Canastra, grande atividade econômica e financeira, que advinha da pecuária leiteira. A agricultura era de subsistência. Para piorar, o que produzíamos não era suficiente para o consumo da pequena população. Isso fez com que o povo fosse embora. Aos quatro anos, meu pai retirou-me da zona rural; fui estudar em Bambuí. Formei-me em Agronomia na Universidade Federal de Lavras, em 1987. Trabalhei um ano em Belo Horizonte. Em 1989, voltei para São Roque. Queria trabalhar lá. Meu pai me disse que eu estava ficando louco, que não havia nada para eu fazer ali. Ele me disse o seguinte: “Eu o fiz doutor, por isso tem de ficar em Belo Horizonte”. Senti que o meu mundo era lá e teimei com meu pai. Voltei e montei uma loja agropecuária.

Como pequeno empresário, abri minha primeira conta na extinta MinasCaixa. Perguntei ao Gerente se havia crédito para eu investir. Ele me disse que não, que a MinasCaixa só captava poupança. Que bom, ela captava recursos e os trazia para Belo Horizonte. Ficávamos ali sem nada. Mas foi bom.

Peguei dinheiro emprestado com os agiotas e montei minha loja. Peguei meu primeiro talão de cheques como empresário e me casei em 1990. Se estava bom ou ruim, não sei; só sei que estava feliz em São Roque. Eu olhava a região, via tanta riqueza que Deus havia colocado ali e não entendia por que havia tanta pobreza. Aquilo me incomodava. Estava lá começando a minha vida e, em uma bela segunda-feira, às 10 horas da manhã, todos chegaram, como era comum em todas as segunda-feiras. O pessoal veio da zona rural: os aposentados, os funcionários públicos, os produtores rurais, os queijeiros, aquelas pessoas que movimentavam a economia dos Municípios à porta da MinasCaixa. E lá havia uma cartolina branca afixada com os seguintes dizeres: “Liquidada pelo Banco Central do Brasil”. Isso causou um alvoroço. Muitos perguntavam: “Cadê o dinheiro? Cadê a poupança?”. “Sumiu, acabou, foi embora”. Perguntaram: “Que dia vai abrir novamente?”. “Não vai mais; liquidou, morreu, acabou”.

São Roque, que já não tinha nada, entrou em uma depressão violenta. As pessoas diziam que iriam embora, que era para todos irem embora, juntar seus cacos e ir embora. Alguém perguntou: “Você vai vender suas coisas para quem?”. Não havia quem comprasse o patrimônio que existia ali para as pessoas se mudarem de São Roque. Então, juntamos um grupo de pessoas, de comerciantes, pois fomos todos à falência, e pressionamos o Prefeito, que ligou para um Deputado daqui e marcaram uma reunião com o Superintendente do Banco do Brasil. Viemos pedir agência de um banco para São Roque de Minas. Mas ouvimos do Banco do Brasil, do Bradesco e de outros bancos que São Roque de Minas não era uma praça bancária. E aí? Fazer o quê? Mudar de São Roque de Minas foi o que sobrou para nós. Alguém falou: “Vamos constituir uma cooperativa de crédito?”. Então, resolvemos fazer isso. Falei demais e, como pinto novo em terreiro de galo velho não pode cantar, apenas piar, eu piei demais. Fui lá tentar contribuir com os caciques políticos e vi algo interessante: o PMDB estava de um lado e o PFL, do outro, coisa inédita, porque eles não se misturavam em São Roque de Minas. A classe política e econômica da cidade estava toda ali reunida, e eu lá tentando me ajeitar no meio daquele público. Acabei falando demais e saí de lá como Presidente da Cooperativa de Crédito Rural de São Roque de Minas. Daí, montamos um processo e o levamos para o Banco Central. Esperamos a aprovação do Banco Central, constituímos o quadro de funcionários e precisávamos treiná-los. Mas onde? Treinamos nas cooperativas vizinhas. Fomos para Medeiros aprender. Fui aprender a ser Presidente. O Wilson, que era mecânico, virou gerente. O Robson, que era dono de um boteco, virou contador. Ele nunca havia visto um plano contábil na vida dele; aprendeu contabilidade no porrete, no cacete - e olhem que são 21 anos de cooperativa e nunca recebemos uma carta do Banco Central por algum deslize na contabilidade. Pegamos um para ser caixa, outro ali, e montamos um grupo para treinar e aprender a tocar a cooperativa.

O que queríamos com essa cooperativa? Dignidade, só isso. Tentamos trazer para São Roque aquilo que havíamos perdido. Às 10 horas da manhã, toda a população de São Roque estava na Praça Padre Alberico, em Piumhi. Levamos toda a nossa economia para Piumhi, mas queríamos trazer de volta os serviços bancários, para que o povo pudesse voltar para dentro da sua comunidade e começar a movimentar seus recursos. Não vou nem dizer para vocês as dificuldades que enfrentamos, senão teria de ficar aqui duas horas falando a esse respeito. Só vale dizer que, no dia 28/10/91, em frente à Prefeitura, pois o prefeito cedeu 24m² e um banheirinho para nós, inauguramos a nossa cooperativa. Colocávamos o cofre em frente ao vaso sanitário. Então, a tesoureira tinha de se sentar no vaso para abrir o cofre. Mas, naquele dia, inauguramos a cooperativa, às 10 horas da manhã, um calor enorme de 30º. Todos falaram, agradeceram e tal. Quando eu estava falando, olhei para trás, e o computador estava pegando fogo, porque a energia de São Roque de Minas não movimentava o primeiro computador, um Pentium 186 que começou a funcionar lá. Não vou nem falar o resto para vocês.

O fato é que começamos a receber na segunda-feira os cooperados, que depositaram seu dinheiro na cooperativa. Isso aconteceu na segunda-feira, na terça-feira, nas semanas seguintes, nos anos seguintes, e nunca mais paramos. Em três anos, a cooperativa de crédito resgatou tudo aquilo que o Município havia perdido em movimentação financeira; principalmente, resgatamos a nossa capacidade de pensar que éramos autossuficientes para gerir o nosso destino; resgatamos a nossa autoestima. A cooperativa, então, foi crescendo.

Até 1994, as cooperativas, o sistema financeiro auferia parte de suas receitas, de suas sobras que advinham do “spread” inflacionário. Em 1994, com o Plano Real, isso acabou, e não havia mais cooperados para buscarmos em São Roque nem havia mais ativo financeiro. Esse foi um momento crítico para nós. Descobrimos que só tínhamos uma alternativa: investir no cooperado com o pouco que havíamos constituído de poupança interna para que ele produzisse. Como diz o meu conselheiro, o meu doutor, analfabeto de escola, mas PHD da escola da vida: “Cumpadi, só tem um jeito de crescer: é nóis prantando. Se nóis prantar, nóis colhe; colhendo nóis vende; vendendo, nóis deposita, e o banquinho cresce”. Ou seja, a cooperativa cresce.

A Saromcredi entende que, como cooperativa, tem de reinvestir no seu quadro de cooperados, para que tenham lucro e nós tenhamos sobra. A cooperativa investe na produção de milho. Éramos insuficientes nessa produção; 50 mil vacas se alimentavam de ração, e 60% do que se encontra nos sacos de ração são milho, e milho todo importado. Por que não produzir esse milho? Produzamos esse ativo financeiro aqui. Hoje, São Roque é autossuficiente em milho e ainda conseguimos exportá-lo, gerando a entrada de ativo financeiro na formação da nossa poupança interna.

Em 1991, 1992, tínhamos 300 mil pés de café, colhíamos 3 mil sacas de café, era uma cafeicultura de subsistência, de fundo de horta. Hoje temos mais de 15 milhões de pés de café, colhemos 100 mil sacas de café a um preço médio de R$400,00 a saca. Imaginem o que significa esse volume de dinheiro para um Município, com 6.800 habitantes, em franco crescimento!

Investimos na pecuária, na genética e, dessa forma, a cooperativa achou o seu caminho de desenvolvimento. Quanto mais investimos no cooperado, mais sobras a cooperativa tem. E víamos a enorme miséria, pobreza e desorganização social existentes. Com a cooperativa agropecuária quebrada, falida e com 28 títulos protestados, nós nela intervimos, mudamos a gestão e, hoje, temos uma cooperativa que comercializará 60, 70 mil sacas de café, que tinha 5, 6 funcionários e, hoje, tem 50. Restabelecemos o sindicato rural, que estava falido; fizemos parceria com o Senar, para levar tecnologia aos nossos produtores. E a cooperativa vai, de certa forma, organizar e fortalecer outras instituições.

Naquela época, não podíamos ter conta jurídica, e o empresariado, os pequenos comércios começavam a se movimentar, reclamando da falta de apoio. Então, criamos a Associação Comercial de São Roque de Minas, que fez parceria com o Sebrae, cujos consultores levaram tecnologia para o nosso comércio, que precisava acompanhar o ritmo do setor primário.

Havia um problema grave de educação básica em São Roque de Minas, e constituímos a Cooperativa Educacional de São Roque de Minas, que é custeada pelos recursos dos pais de alunos e pela cooperativa de crédito. Constituímos o provedor de internet e, hoje, temos mais de mil cooperados na zona rural e na zona urbana. O governo está falando em fazer inclusão digital, e todas as escolas rurais multisseriadas de São Roque têm internet e banda larga de graça.

A cooperativa foi crescendo, ajustando-se ao crescimento da sociedade, e a sociedade, espelhando-se na cooperativa para empreender, para gerar negócio. Esse foi o caminho, o foco, e é assim que entendemos o papel da cooperativa em São Roque de Minas. Tudo isso gerou resultados e ações; mudamos o conceito, o modo de viver de São Roque de Minas, que hoje é uma cidade empreendedora, que tem sede de crescimento e se encontra em plena expansão.

Vou tentar cumprir o meu tempo e apresentar resumidamente alguns dados, para que, diante dessas fotos e informações, os senhores percebam o caminho que trilhamos para o desenvolvimento.

Aquela era a São Roque dos anos 90; essa é a São Roque de 2012. Vê-se ali a sede da cooperativa - Agência Matriz de São Roque e Centro Administrativo. Começamos com 24m2, evoluímos para 80m2, 180m2, 360m2 e hoje estamos com 1.400m2. Nós nos preocupamos em respeitar as normas ambientais e também com a qualidade no trabalho. Esse prédio se chama Casa da Solidariedade Financeira e conta com sala, cozinha, etc. Os cooperados se sentam naquele local, fazem seus “catiras” em dois ambientes, vão para a cozinha, tomam café. Quer dizer, somos uma comunidade, uma família; interagimos dentro dessa casa e quisemos levar esse aspecto para o projeto arquitetônico.

A Saromcredi se expandiu. Depois de nos organizarmos em São Roque de Minas, o Município de Vargem Bonita, com 2 mil habitantes e sem agente financeiro, solicitou-nos que fôssemos para lá. A economia do Município registrava o garimpo de diamante do Rio São Francisco. Esse garimpo foi fechado, e o Município só não fechou também porque o Prefeito não colocou a chave na porta da Prefeitura - o resto foi a zero. Fomos para lá, abrimos um PA e começamos um trabalho de organização e desenvolvimento dessa comunidade. Inauguramos a sede em setembro deste ano, no Município que, hoje, conta com pouco mais de 2 mil habitantes, sendo 1.500 na zona urbana. Imaginem o povo chorando de alegria com a inauguração dessa sede! Mudou a cara da cidade, mudou o pensamento do seu povo, e a Saromcredi se sente orgulhosa por ter levado felicidade para a comunidade de Vargem Bonita. São 250m2 de construção, com respeito e dignidade a esse povo.

Hoje nossas agências estão em mais seis Municípios. Já estamos construindo a segunda sede do Município de Pratinha, nesses mesmos moldes. É um Município de 3 mil habitantes, mas que também não possuía um agente bancário que desse dignidade ao seu povo. Já compramos terremos em outros dois Municípios - termina uma construção, começa outra, e por aí vai.

Está registrada ali a evolução dos depósitos da cooperativa. Mostramos a partir de 1994, porque nem sei que moeda era antes. Estamos próximos a 45 milhões em depósitos. Pergunto: o que é isso? É parte da poupança interna que gerimos e gerenciamos na Serra da Canastra. Está aqui, para mim, o maior valor do cooperativismo de crédito: justificar o desenvolvimento econômico e social. O sistema financeiro brasileiro é um modelo dos mais conceituados e eficientes do mundo, porém dos mais concentradores, pois tira a riqueza dos São Roques de Minas da vida e a traz para os grandes centros. E nós, pequenos Municípios, continuamos, ano após ano, entrando em regime falimentar.

Vê-se ali a evolução do patrimônio: fechamos o mês de outubro com mais de R$16.000.000,00 de patrimônio. Pergunto: se tivesse ido para São Roque o Banco do Brasil, o Itaú, o Bradesco, seja lá que agente financeiro bancário fosse, haveria essa situação? Jamais. A evolução desse patrimônio é que dá sustentabilidade para a alavancagem dos negócios que realizamos hoje. O patrimônio nada mais é que a outra metade da poupança interna que gerimos e gerenciamos na Serra da Canastra. Isso tem crescido num percentual bastante satisfatório.

Fechamos outubro com mais de R$60.000.000,00 em operações de crédito e deveremos fechar o ano com mais de R$70.000.000,00 porque estão chegando mais R$5.000.000,00 de café. Em novembro e dezembro começam as operações de CPR e, com certeza, teremos até R$80.000.000,00 em operações de crédito. Vocês imaginem a capacidade de “alavancagem” que temos hoje. Vale ressaltar que o índice de inadimplência é menos de 0,5%, o que mostra a adesão do nosso cooperado. Temos problemas, é claro, todos têm. Mas a cooperativa, quando vê um associado com problema de inadimplência, procura a pessoa e cria um plano de resgate para esse cooperado. Em mais de 20 anos, não temos 10 operações ajuizadas. Esse dado é significativo, e é isso que faz com que as cooperativas de crédito entendam que, quanto mais elas aumentam a capacidade de geração de poupança interna, mais operações de crédito vamos fazer, mais empregos e mais negócios teremos, e a riqueza de São Roque entra em ritmo de PIB chinês.

Vemos um gráfico mostrando os ativos, os passivos e o capital de giro, mas o que interessa é o volume financeiro total, que fechou outubro com R$86.000.000,00. A nossa expectativa é fechar com mais de R$90.000.000,00. Imaginem o ritmo de crescimento de 20% a 30% ao ano. Neste ano vamos crescer 30%, o que é um crescimento astronômico. Às vezes falo à minha diretoria que tenha calma para não dar tanto resultado. Precisamos gerar sobras, mas nem tanto. Para ganhar muito, o cooperado paga a conta. Então, temos de pensar como Presidente do conselho que tem a incumbência de elaborar as ações estratégicas, e a diretoria, de fazer dar resultado. Eles querem resultado, e nós queremos a satisfação do nosso cooperado.

Fechamos outubro com 12.428 cooperados em sete Municípios em torno da Canastra. Já disse que temos a agricultura, a pecuária de corte, a pecuária leiteira como principais atividades econômicas. Em cima desse setor primário fazemos várias ações para aumentar a nossa poupança interna. Temos uma diversidade econômica, e a fruticultura está em franca expansão. Temos projetos voltados para o futuro. A Saromcredi sempre pensou no futuro, porque o presente e o passado sempre foram pobres. Então, só nos resta sonhar com o futuro. E, para sonhar com o futuro, temos de planejar a longo prazo, e a Saromcredi tem várias ações que geram desenvolvimento sustentável.

Quanto ao projeto Queijo Minas Artesanal, se hoje o Brasil vai ter uma legislação dos produtos agropecuários, acho que a Saromcredi é um dos grandes atores desse processo. Até outro dia era proibido produzir queijo de lei cru no Brasil, só se podia importar. Por que importar pode e produzir para a sociedade não pode? Era o grande questionamento. E a Saromcredi tem como uma das suas grandes ações estratégicas valorizar o queijo da Serra da Canastra. Vocês podem perguntar o que a cooperativa tem a ver com isso se o negócio dela é dinheiro. Sim, o negócio é dinheiro, mas o dinheiro advém do queijo. E aí existe um cálculo matemático simples para tirar qualquer dúvida, que é produzir mais de 70t de queijo por semana, vendido a R$8,00 ou R$9,00 o quilo. Os produtores que se enquadraram no projeto do IMA, do governo de Minas, com tantas entidades que são nossas parceiras, esses produtores que já qualificaram seus queijos, estão vendendo a R$20,00, R$25,00 o quilo. Imaginem se duplicarmos o valor desse queijo para o produtor. Irei triplicar a movimentação financeira dentro da cooperativa porque, como único agente financeiro, somos capazes de emitir moeda, chamada moeda escritural, em função da alta rotatividade desses recursos dentro do Município.

Então, a cooperativa de crédito tem a qualificação do queijo artesanal da Serra da Canastra dentro do seu planejamento estratégico, porque isso gera receita.

Outro dia recebi um consultor de São Paulo que queria fechar um contrato conosco. Ele perguntou o preço ideal para o queijo-canastra. E eu lhe disse que não sabia. Ele falou: “Nem eu, que sou especialista”. Então temos uma joia rara. Fechou-se o garimpo de diamante no São Francisco, mas teremos agora o diamante do queijo-canastra para a nossa economia.

Projeto de educação cooperativista. Temos já a cooperativa educacional. Conseguimos criar um modelo de desenvolvimento de educação cooperativista para os filhos dos cooperados. Descobrimos que temos um problema sério: dos 1.200 alunos de São Roque de Minas, temos somente 120, 130 alunos. Quer dizer, estamos tentando formar lideranças novas dentro de uma escola que, além de oferecer o ensino pedagógico normal, também oferece educação cooperativista e empreendedora, mas isso é insuficiente. Agora vamos criar, dentro das escolas municipais e estaduais, as cooperativas de alunos, para levar a educação cooperativista e empreendedora a esses jovens. Não queremos 100 alunos, queremos todos os alunos, os 1.200 alunos de São Roque de Minas. E, com certeza, esse projeto será reproduzido nos outros Municípios, que receberão educação empreendedora e cooperativista. Precisamos criar os futuros empreendedores e os futuros gestores. Temos um problema sério de gente em São Roque hoje. No passado, tínhamos gente, mas faltava serviço. Hoje falta gente para trabalhar em São Roque. E pior: sem qualificação. A cooperativa pensa lá na frente. Temos uma meta que, com certeza, terá de ser cumprida, por isso sabemos da necessidade de investirmos na educação para atingirmos essa meta.

São Roque também tem um potencial turístico. E a Saromcredi nunca se furtou a ajudar a desenvolver essa indústria do turismo. Temos a nascente do Rio São Francisco, o Parque Nacional da Serra da Canastra. Não poderia deixar de fazer isso, porque preciso aumentar meu fluxo financeiro e minha poupança interna: convido todos a conhecerem a Serra da Canastra. E quem já conhece deve voltar, gastar, consumir bastante, porque, no outro dia, o dinheiro de vocês estará na cooperativa de crédito, e vocês estarão ajudando no aumento da poupança interna nossa.

A nossa meta está aí. O nosso futuro está aqui. É um sonho? É. Mas queremos, a Saromcredi, atingir em 2031, da mesma forma que a Unimed atingiu em 40 anos, R$1.000.000.000,00 de ativos. Vocês podem falar que estou louco, mas louco já sou desde o dia em que aceitei entrar nesse negócio. Crescemos mais de 20% ao ano. São R$90.000.000,00 a 14%, 15% ao ano. Então, daqui a 19 anos, São Roque terá R$1.000.000.000,00 de ativos financeiros. Não me perguntem como daremos sustentabilidade para isso porque não sei. Mas que queremos chegar, queremos.

Para terminar - espero ter cumprido meu horário -, em vez de mudar de São Roque de Minas, resolvemos mudar São Roque de Minas. Termino com essa frase da D. Renilda para dizer aos senhores e a esta Casa que, se o Estado de Minas quiser ser o segundo - porque superar São Paulo é praticamente impossível, embora esse pudesse ser um sonho de Minas Gerais - sem levar o cooperativismo de crédito aos 853 Municípios mineiros, vamos continuar tendo bolsões de pobreza. Tem que se olhar a questão do desenvolvimento local, da capacidade de geração de poupança interna local e essa poupança ser reinvestida. Banco só fica em cidade pequena enquanto ela estiver produzindo ativo financeiro. No dia em que parar de produzir por um motivo qualquer, como se diz em São Roque, eles “juntam a trouxa e picam a mula”. São Roque já foi essa cidade. Já tivemos lá o Mercantil, o Bradesco, o Comind, a MinasCaixa.

Deixaria esse recado para esta Casa: olhe o cooperativismo de crédito como, se não a única, a maior alternativa para eliminar as desigualdades que existem dentro do Estado de Minas Gerais. Muito obrigado aos senhores.

- No decorrer de seu pronunciamento, procede-se à exibição de “slides”.