ITAMAR FRANCO (PMDB), Embaixador do Brasil na Itália. ex-Presidente da República. ex-Governador do Estado de Minas Gerais. ex-Senador - MG.
Discurso
Transcurso do 25º aniversário de fundação do Partido do Movimento
Democrático Brasileiro - PMDB.
Reunião
29ª reunião ESPECIAL
Legislatura 15ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 16/06/2005
Página 40, Coluna 2
Assunto CALENDÁRIO. REPRESENTAÇÃO POPULAR.
Legislatura 15ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 16/06/2005
Página 40, Coluna 2
Assunto CALENDÁRIO. REPRESENTAÇÃO POPULAR.
29ª REUNIÃO ESPECIAL DA 3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 15ª
LEGISLATURA, EM 10/6/2005
Palavras do Embaixador Itamar Franco
Exmo. Sr. 1º-Secretário da Assembléia Legislativa, meu prezado
amigo Deputado Antônio Andrade, que honra as tradições mineiras;
prezado Deputado Federal Saraiva Felipe; Sr. Governador Newton
Cardoso; Sr. Secretário-Geral do Diretório Estadual do PMDB,
Deputado Antônio Júlio; meu caro Armando Costa; meu caro
Presidente da Cemig, Djalma Morais; jovem líder, Deputado
Adalclever Lopes; Sra. Vereadora Marta, de Brumadinho; Sr.
Presidente do PMDB Jovem, João Alberto Paixão Lajes; Srs.
Deputados Federais; Sra. Deputada Federal, caros representantes do
Prefeito de Ipatinga, Sebastião Quintão; dos ex-Prefeitos, o ex-
Deputado e ex-Líder Tarcísio Delgado; dos Vereadores, o Vereador
Geraldo Félix; companheiros, moços e moças, ouvimos aqui a palavra
do Deputado Sebastião Helvécio, da Deputada Jô Moraes, da
Vereadora Marta, da querida Deputada Federal Maria Lúcia. Ouvimos
também as palavras candentes do jovem líder do PMDB; do nosso
querido Antônio Júlio sobre a necessidade de juntar nossas forças;
do Governador Moreira Franco, trazendo fé e esperança para a união
do nosso partido em nível nacional; do Presidente Saraiva, que
destacou bem seu esforço pela manutenção da fidelidade do nosso
Partido a seus princípios; do Governador Newton Cardoso, dizendo
que somar é preciso; do Prefeito Sebastião e do Vereador Geraldo
Félix.
É claro que, quando o assunto é a fundação do PMDB,
automaticamente nos reportamos a 1966, quando, em Juiz de Fora e
em outros rincões do Brasil, fundamos o MDB. Mas, fiquemos na
fundação do PMDB.
Em 1979, quando o Governo, que tinha maioria no Congresso,
resolveu extinguir a Arena e o MDB, impôs, de pronto e
arbitrariamente, uma condição: nenhum partido poderia ficar sem um
P à frente de seu nome; tal medida visava a nada mais nada menos
que evitar que a sigla MDB fosse reavivada. O Aloísio Vasconcelos,
que aqui se encontra, deve se lembrar bem disso.
Mas, inteligentemente, Franco Montoro - a idéia partiu dele -
sugeriu que apenas acrescentássemos um P à frente da sigla MDB. E
assim se fez.
Já em dezembro de 1979, Ulysses Guimarães, Pedro Simon e Teotônio
Vilela e tantos outros nos reunimos no Salão Verde da Câmara dos
Deputados, pensando no que faríamos para 1980. Em janeiro de 1980,
pela mão de Ulysses Guimarães, constituímos a Comissão Provisória
Nacional do PMDB, de que tive a honra de fazer parte. Vejo, aliás,
aqui muitos companheiros da primeira hora.
Caro Presidente, caro Felipe Saraiva, caros colegas do PMDB, não
foi fácil fundar o PMDB em Minas Gerais.
E por que não foi fácil fundar o PMDB em Minas Gerais, naquele
momento, sobretudo quando o lançávamos, na bela cidade de Ouro
Preto, aos 18 de abril de 1980? Porque naquele momento - e é com
todo respeito que o digo -, as grandes lideranças do nosso Estado
haviam formado o Partido Popular, e éramos, então, muito poucos.
Naquela noite chuvosa, em que estavam presentes Ulysses Guimarães,
Teotônio Vilela, Simon Brossard (?) e tantos outros, lançávamos
ali o nosso Partido, com dificuldades que não eram as mesmas de
agora, quando o PMDB já cresceu em Minas Gerais.
E, companheiros e companheiras, tive a honra de ser o primeiro
Presidente do PMDB regional, para iniciar uma caminhada em que
procurávamos, já de pronto, para em 1982, lançar candidato próprio
ao governo do Estado. Eis que de repente houve mais uma manobra do
governo federal. É preciso que se recorde isso, particularmente
para os mais jovens, os moços e as moças. O governo federal, com
uma medida, fez a verticalização partidária e, ao fazer isso,
obrigou... Já se disse aqui que, com a anuência sobretudo de Minas
Gerais e do Paraná, não dos outros Estados, foi permitido que
aqueles companheiros que, em determinado momento haviam ido para o
Partido Popular, regressassem à sua casa, que era o PMDB. Assim, o
PMDB juntou-se novamente, em uma argamassa, ao Partido Popular.
Demos início, então, a uma nova caminhada em nosso Estado, com
Tancredo Neves sendo candidato ao governo. O PMDB havia lançado a
minha candidatura ao governo para 1982, mas considerei que ele
tinha prevalência na vida pública e, embora alguns companheiros
não tenham gostado, disse a eles que ele seria o nosso candidato e
que, se o Partido desejasse, eu lutaria pela reeleição. Foi o que
aconteceu: Tancredo foi candidato em 1982, e eu fui candidato à
reeleição.
Essa pequena história, meu caro Antônio Andrade, é necessária,
porque muita gente pensa que surgimos do nada; que não lutamos
para fincar a bandeira do PMDB neste Estado e, sobretudo, para
fincá-la no cenário nacional, já que não só fui membro da comissão
provisória nacional, como lhe dei a nona assinatura, estando
presente também em momentos difíceis da vida nacional.
Àquela época, havia importantes pilares de nosso Partido que se
fazem presentes ainda hoje. A luta pelo Estado de Direito esteve
presente em todos os momentos do nosso Partido, particularmente
quando MDB, quando enfrentamos um regime forte, sendo que alguns
tiveram de deixar o País, banidos ou espontaneamente. Mas muitos
de nós ficamos para defender esse Estado de Direito, mesmo naquele
momento difícil em que tínhamos de esconder da polícia o livro(?)
do MDB, na cidade de Juiz de Fora, coisa de que o Prefeito
Tarcísio Delgado há de se recordar.
Portanto, a luta pelo Estado de Direito foi sempre o apanágio do
nosso Partido. A defesa dos interesses nacionais era uma bandeira
que o MDB e o PMDB carregaram ao longo de sua existência. A defesa
dos interesses nacionais, muitas vezes esquecidos; a busca tão
importante do resgate político e ético para esta nação; a luta
contra as injustiças sociais, visando à geração de emprego e
renda; a defesa da presença dos moços e das moças no nosso
Partido, particularmente face aos dias que atravessamos. Já àquela
época da fundação, um dos pilares do nosso Partido era a luta
contra a corrupção, viesse de onde viesse.
Hoje, prezados companheiros e companheiras, o rigor econômico não
pode e não deve sobrepor-se à eqüidade social, à luta dos menos
favorecidos na cidade ou nos campos, face a uma globalização
financeira por demais cruel. Eu, particularmente, defendo um novo
pacto federativo. E por quê? Já o falava quando assumi o governo
de Minas Gerais. Os Municípios e os Estados brasileiros não têm
como pagar essa dívida à União. É uma dívida impagável. Hoje,
outros elementos de outros partidos, particularmente o Prefeito de
São Paulo, já reconhecem que sua dívida é impagável. Mas àquela
época, há alguns anos, assumimos o governo de Minas e falamos que
a dívida era impagável, que não tínhamos recursos - vejo o
Deputado Mauro Lopes - para pagar a comida dos presos, porque o
nosso dinheiro a todo momento era confiscado pelo governo federal.
É uma dívida impagável. Dirijo minha palavra aos Deputados e às
Deputadas Federais presentes, quando falo em buscarmos um novo
pacto federativo. Particularmente também o defendo, não o meu
Partido.
As eleições de 2006 se realizarão. Esperamos que elas se
realizem, não esperaremos que mais uma vez esta nação assista ao
que assistimos no passado, quebrando a Constituição e as tradições
republicanas com a prorrogação de mandatos. Não devemos nos aliar
à prorrogação de mandatos, mas prego, particularmente, com a
eleição do Congresso Nacional e dos Deputados Estaduais, a
convocação de uma assembléia nacional constituinte exclusiva, com
um mandato de um ano para examinarmos o que já foi feito em
relação à reformulação constitucional, tão necessária nos dias que
o Brasil atravessa. São essas as duas observações que faço de
forma pessoal e não em nome do partido.
Caberá ao PMDB, se entender que deve defender o pacto federativo,
se entender que deva defender a convocação de uma assembléia
nacional constituinte, discuti-la nos fóruns apropriados. Aqui é
um fórum apropriado para transformar aquilo que penso nas idéias
dirigidas aos companheiros e companheiras do PMDB.
Em relação ao desejo do PMDB de ter uma candidatura em nível
nacional, disso não posso falar porque lá não estou. Só sei que
recordo 1988 com certa tristeza. Mas a hora não é para recordar
tristezas, mas alegrias. A hora é de recordar a criação, já há 25
anos, do glorioso PMDB.
Quando se fala, em Minas Gerais - ouvimos de todos os oradores -,
que o PMDB precisa lançar um candidato ao governo do Estado, nada
temos a opor a esse desejo. Mas é necessário, caro Presidente
Saraiva, caras companheiras e companheiros, que façamos, antes de
mais nada, um “mea culpa”, examinando o que tem acontecido com o
nosso Partido em Minas Gerais. Precisamos, queiram alguns ou não,
abandonar as nossas diferenças e buscar a unidade do Partido. Isso
não é dito apenas por mim, basta analisarmos as palavras dos
oradores que me antecederam. Conforme o representante do Partido
em nível nacional, é preciso reunir novamente o PMDB, que está
dividido. Aqui, em nossa casa, na casa do PMDB mineiro, precisamos
de união para alcançarmos a vitória.
Caro Presidente, Deputado Antônio Andrade, agradeço o convite que
V. Exa., os demais Deputados e o próprio Presidente do Diretório
Estadual do PMDB me fizeram. Vim, a esta Casa, com muita honra e
muita alegria no coração.
Olhando daqui, vejo tantos companheiros, vejo muitos rostos
jovens de mulheres e de homens. Aqui se falou nas mulheres. Nós,
do PMDB, sempre entendíamos e continuamos a entender que a mulher
brasileira, sobretudo a mulher mineira, nunca foi apenas
testemunha dos acontecimentos. Recordo-me que, desde o início de
minha vida política, como Prefeito de Juiz de Fora, tínhamos as
mulheres e os jovens nos acompanhando. A mulher mineira não é e
jamais será testemunha dos acontecimentos: quer marchar conosco,
em busca de um Brasil com mais eqüidade social e mais justiça.
Companheiras e companheiros, buscando um pouco daquilo que vai
ficando esquecido na minha mente, como estudioso dos conceitos
técnicos e matemáticos, da mesma forma que não podemos usar a
álgebra sem a idéia do zero - os gregos não souberam, durante
certo tempo, usar a álgebra, porque não conheciam o zero -, o
momento vai exigir, Presidente Saraiva Felipe, uma profunda
reflexão, uma profunda meditação sobre o que desejamos para o PMDB
de Minas Gerais. Obrigado.