Pronunciamentos

IÁCONES BATISTA VARGAS, Pesquisador da história da Diocese de Luz. Associado efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais.

Discurso

Transcurso do 100º aniversário de fundação da Diocese de Luz.
Reunião 4ª reunião ESPECIAL
Legislatura 18ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 11/04/2018
Página 19, Coluna 1
Assunto HOMENAGEM. RELIGIÃO.
Proposições citadas RQO 3176 de 2018

4ª REUNIÃO ESPECIAL DA 4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 18ª LEGISLATURA, EM 9/4/2018

Palavras do Sr. Iácones Batista Vargas



Palavras do Sr. Iácones Batista Vargas

Vivendo a alegria do Evangelho, celebramos um centenário de luz. Exmos. Srs. deputado Fabiano Tolentino, que neste ato representa o presidente da Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais, deputado Adalclever Lopes; deputado Antonio Carlos Arantes, autor do requerimento que deu origem a esta reunião especial em homenagem à Diocese de Luz; deputado Dalmo Ribeiro Silva, 2º-vice-presidente desta Casa; secretário de Estado de Cultura, Angelo Oswaldo Araújo Santos, que neste ato representa o governador Fernando Pimentel; bispo diocesano de Luz, nosso querido Dom José Aristeu Vieira; vice-presidente e corregedor regional eleitoral do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais, nosso conterrâneo honorário da cidade de Luz, desembargador Pedro Bernardes de Oliveira; prefeito de Luz, Ailton Duarte; vice-presidente da Câmara Municipal de Luz, vereador Aldair Paula Duarte; bispo emérito de Porto Nacional, Tocantins, Dom Geraldo Vieira Gusmão; presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, desembargador Aluízio Alberto da Cruz Quintão; presidente emérito do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, Casa de João Pinheiro; Wagner Colombarolli, diocesano de Luz. Nas pessoas de V. Exas. cumprimento todas as dignas autoridades civis, militares e eclesiásticas, os reverendíssimos sacerdotes, os caríssimos religiosos e religiosas, os seminaristas, os agentes de pastoral de nossa diocese, os distintos convidados, o querido povo de Deus da Diocese de Luz, todos os senhores e as senhoras presentes neste Plenário Presidente Juscelino Kubitschek, além dos telespectadores que nos acompanham pela TV Assembleia. Faço um cumprimento especial a nossa gloriosa, quase centenária, banda de música Lyra Vicentina Aterradense, da qual tenho a honra de fazer parte há quase 20 anos.

É com grande honra e elevado espírito de responsabilidade, cônscio do dever que me pesa aos ombros, que subo a esta tribuna importantíssima da Casa do povo mineiro para agradecer, em nome de toda a Diocese de Luz, a especial homenagem que lhe é prestada pela Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais por ocasião do seu primeiro centenário, conforme proposição do Exmo. Sr. deputado Antonio Carlos Arantes.

Agradeço também a deferência de nosso bispo aos fiéis leigos, por ocasião deste Ano do Laicato, escolhendo um não consagrado para essa nobre missão. Sinto-me por demais honrado em servir de porta-voz da gratidão de nossa igreja particular à Casa Legislativa de Minas Gerais por esta homenagem que muito alegra a centenária diocese luceatina.

“Somos o povo de Luz. Viemos de tantos lugares. Em torno do altar, para poder celebrar! Queremos contar nossa história e cantar as memórias deste povo de Luz!” Senhor Presidente, senhoras e senhores, o Bispado Luceatino, presente no coração de Minas Gerais, é composto atualmente por 53 paróquias, que congregam 623 comunidades, espalhadas nos quase 25.000km² dos 33 municípios onde vivem mais de 460.500 pessoas, numa das regiões mais prósperas e, ao mesmo tempo, mais tranquilas de nosso estado. Essa mesma região, no passado, abrigou a quase totalidade da rede de quilombolas liderada pelo célebre Quilombo do Ambrósio, destruído tragicamente em 1769, 20 anos antes da Inconfidência Mineira, quando se intensificou o povoamento do território da Diocese de Luz, que, naquela época integrava os Bispados de Mariana, em Minas Gerais, e – acreditem! – de Olinda, em Pernambuco.

Nosso povo simples possui uma fé grandiosa capaz de operar milagres. Foi assim desde os primeiros tempos, quando, na virada do século XVIII para XIX, as orações de uma piedosa mulher foram ouvidas e, com o auxílio da Virgem da Luz, foi pacificado o conflito entre os fazendeiros Cocais e Camargos, dando origem ao Arraial de Nossa Senhora da Luz do Aterrado. Foi assim, movidos pela fé, que os aterradenses, liderados pelo benemérito Pe. Joaquim das Neves Parreiras, atendendo ao anseio então rejeitado pelas principais e mais importantes paróquias da região, conseguiram transformar o pequeno arraial na sede da Diocese do Oeste de Minas, idealizada por Dom Silvério Gomes de Pimenta, arcebispo de Mariana. Reconhecendo o valor da fé de nossos antepassados, o papa Bento XV, por meio da bula Romanis Pontificibus, de 8/7/1918, criou a Diocesis Aterradensis, com sede no antigo Arraial de Nossa Senhora da Luz do Aterrado, então distrito do Município de Dores do Indaiá. Fato inédito no mundo: a criação de bispado num simples arraial, então elevado à condição de capital religiosa das cidades do Oeste mineiro, como canta Dom Belchior.

Foi com muita fé e sacrifício que, guiado pelo primeiro bispo de Aterrado, Dom Manoel Nunes Coelho, nosso povo construiu, no tempo de 6 anos menos 36 dias, em plena Segunda Guerra Mundial, a majestosa Catedral de Luz, um dos mais belos templos do interior do Brasil. Foi também, num gesto de fé, coragem e ousadia incríveis de nosso segundo bispo, o saudoso Dom Belchior Joaquim da Silva Neto, que a Diocese de Luz conseguiu inédita e especial autorização, concedida pelo Papa Paulo VI, para a instituição do Ministério Extraordinário da Sagrada Comunhão. Logo após o Concílio Ecumênico Vaticano II, em 1968, há exatos 50 anos, permitiu-se, pela primeira vez na história da Igreja Católica, que 10 leigos da Diocese de Luz, homens de piedade comprovada, auxiliassem os sacerdotes na distribuição do sacramento eucarístico, na pregação da palavra e em tantas outras importantes atividades pastorais, assumindo maior protagonismo na vida da Igreja.

A Diocese de Luz também apresenta grandes riquezas e belezas naturais, conhecidas internacionalmente e que fazem o Estado de Minas Gerais ainda mais admirado, conforme lembrou o deputado Antonio Carlos Arantes. A Serra da Canastra, com a nascente do São Francisco, rio da integração nacional, e sua esplêndida cachoeira Casca d’Anta estão na Diocese de Luz. O famoso queijo canastra, patrimônio cultural imaterial do povo brasileiro, é produzido na Diocese de Luz. O gado girolando, disputado nacionalmente, tem o seu berço na Diocese de Luz, cuja vocação para a pecuária consagrou-a como a maior bacia leiteira do Brasil durante décadas e décadas. Os cobiçados diamantes do Abaeté e do Indaiá foram e continuam sendo explorados na Diocese de Luz. A capital mundial do calcário, Pains, com as maiores jazidas calcárias do planeta, integra a Diocese de Luz. Santo Antônio do Monte, o único centro tecnológico em pirotecnia da América Latina, com produção de mais de 90% dos fogos de artifício utilizados no Brasil, faz parte da Diocese de Luz. Quando degustamos o café do cerrado, das regiões de Piumhi e Campos Altos, brindamos a Diocese de Luz. Quando nos maravilhamos nas águas de Furnas e de Três Marias, com seu turismo náutico, abraçamos a Diocese de Luz.

Sr. Presidente, minhas senhoras e meus senhores, Furtado de Menezes, em 1936, em sua obra Clero mineiro, lembrava que “O nosso episcopado, cuja missão é toda de paz, toda de caridade, procura conservar-se acima das competições partidárias, fora das lutas políticas”. Contudo, desde os tempos do Império, antes mesmo de existir, a Diocese de Luz já despontava sua importância política no cenário provincial e nacional, seja com os barões do Indaiá e de Piumhi, seja por meio de seu clero secular. Isso mesmo, dos 56 sacerdotes que tomaram assento na antiga Assembleia Provincial de Minas Gerais, quase 10% deles paroquiavam freguesias que viriam a compor o futuro Bispado de Aterrado: Pe. Francisco d’Anunciação Teixeira Coelho, deputado por duas legislaturas, era vigário em Formiga; Pe. Francisco Alexandrino da Silva, deputado também por outras duas legislaturas, foi o primeiro vigário de Santo Antônio do Monte; Pe. José Florêncio Rodrigues, vigário em Piumhi e em São João Batista do Glória, exerceu mandato por uma legislatura; Pe. Modesto Luiz Caldeira, vigário em São Roque de Minas, exerceu mandato em três legislaturas; e o Pe. Miguel Kerdole Dias Maciel, vigário em Bom Despacho, Dores do Indaiá, Rio Paranaíba, São Gotardo e Tiros.

Além desses clérigos, já no tempo republicano, dezenas de outros diocesanos de Luz tiveram atuação nesta Casa do Povo Mineiro, nos governos estadual e federal, bem como ocuparam importantes cargos no Judiciário, muitos dos quais ainda formam a igreja peregrina neste mundo.

Dos que já completaram sua carreira terrestre, destacamos o ministro Francisco Campos, de Dores do Indaiá, e uma família inteira de ilustres políticos da Diocese de Luz – os quatro irmãos Faria Tavares, prefeito Reginaldo Cardoso, da sua Córrego Danta, três deles com assento neste Parlamento: o Dr. Carlos de Faria Tavares, embora não nascido na Diocese de Luz, foi o primeiro presidente da Minas Caixa e deputado nesta Casa Legislativa entre 1955 e 1959; o Dr. Dario de Faria Tavares, presidente do Ipsemg e secretário de Saúde nos governos Aureliano Chaves e Tancredo Neves, foi deputado federal e conselheiro do Tribunal de Contas de Minas Gerais; o José de Faria Tavares, deputado estadual, pela UDN, na primeira legislatura
após a redemocratização de 1947, foi relator da Comissão do Regimento Interno desta Casa, secretário de Educação e de Segurança Pública e, posteriormente, senador da República e presidente do Tribunal de Contas de Minas Gerais; e, completando a irmandade, o Dr. Expedito de Faria Tavares, diretor da Casemg, deputado estadual por três mandatos consecutivos na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, de 1963 a 1975, era líder da UDN e também eleito pela Arena, foi presidente da Comissão de Constituição, Legislação e Justiça e honrou esta Casa Legislativa como seu presidente no biênio 1971-1972, tendo sido, ainda, secretário do Interior e Justiça no governo Rondon Pacheco. O Dr. Expedito foi sucedido na presidência dessa Mesa pelo Dr. Rafael Caio Nunes Coelho, parente de Dom Manoel Nunes Coelho, primeiro bispo de Luz.

Esses são apenas alguns dos muitos laços da Assembleia Legislativa para com a nossa querida Diocese de Luz, que também já deu ao Estado de Minas Gerais nada menos que dois grandes governadores: Olegário Dias Maciel, nascido em Bom Despacho, e José de Magalhães Pinto, de Santo Antônio do Monte, líderes nas Revoluções de 1930 e 1964, respectivamente.

Sr. Presidente, meus senhores e minhas senhoras, o nosso bispo de Luz, Dom José Aristeu Vieira, durante todas as comemorações deste ano centenário, costuma dizer que devemos celebrar este jubileu com dois olhares: um olhar sobre o passado, celebrando as inúmeras conquistas e bênçãos vividas por nossos diocesanos, e um olhar para o futuro. Nesse sentido, se, em 1918, ao se criar o Bispado de Aterrado, o Papa Bento XV escreveu que “Aos pontífices romanos jamais algo esteve mais ao coração que prover as necessidades espirituais dos fiéis em todas as circunstâncias”, atualmente temos desafio semelhante e mais largo. Ao povo brasileiro jamais algo esteve tão premente quanto prover as necessidades éticas e morais de nossa gente em todas as circunstâncias.

Diante da preocupante situação experimentada pela nação brasileira nos últimos tempos, desejamos, Srs. Deputados, que, neste Plenário e em toda esta Casa Legislativa, os nobres parlamentares que aqui exercem seus mandatos possam aprovar leis que verdadeiramente sejam orientadas pelos princípios cristãos de amor ao próximo e atenção aos mais necessitados. Possam os nobres parlamentares desta Casa servirem de exemplo para as demais unidades federativas, sendo luz a orientar os passos do Brasil rumo ao novo futuro que se anseia, em que a paz, a justiça, a ética e a solidariedade sejam constante realidade na construção do verdadeiro bem comum capaz de concretizar o Reino de Deus neste mundo, que há de ser um lar mais feliz para nossas famílias, para os nossos filhos e para as futuras gerações. Que juntos, pois, possamos todos nós, não somente a Diocese de Luz, mas todo o povo do Estado de Minas Gerais, construir um mundo melhor, vivendo a alegria do Evangelho e celebrando os novos centenários de luz. Para Minas, para o Brasil e para o mundo sejamos: sejamos luz, sejamos luz! Em nome do nosso querido bispo diocesano, Dom José Aristeu Vieira, e de toda a Diocese de Luz, agradecemos, de coração sincero, a honrosa homenagem hoje prestada ao Bispado Luceatino no seu centenário. Que a luz divina paire sobre esta Casa Legislativa e ilumine todos os seus integrantes. Deus abençoe o povo e o Estado de Minas Gerais. Deus abençoe os destinos do Brasil. Muito obrigado.