GERMANO CORD NETO, Padre. Diretor-Geral do Colégio Loyola.
Discurso
Legislatura 17ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 21/06/2013
Página 3, Coluna 1
Assunto CALENDÁRIO. EDUCAÇÃO.
Observação O número que acompanha o Requerimento Sem Número, constante no campo Proposições, é para controle interno, não fazendo parte da identificação da Proposição referida.
Proposições citadas RQS 2261 de 2013
21ª REUNIÃO ESPECIAL DA 3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 17ª LEGISLATURA, EM 17/6/2013
Palavras do Pe. Germano Cord Neto
Palavras do Pe. Germano Cord Neto
Nesta noite em que nós, do Colégio Loyola, fomos honrados com a homenagem da Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais, gostaria de cumprimentar o Exmo. Deputado Adalclever Lopes, representando o Presidente da Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais, Deputado Dinis Pinheiro; o João Francisco Baêta Costa, nosso ex-aluno da primeira turma do Científico, em 1944; o nosso aluno Gabriel Trindade, representante dos demais alunos presentes e de todos os alunos do colégio; a nossa querida Profa. Mércia Campos Almeida, Diretora Acadêmica Pedagógica do Colégio Loyola e, na pessoa dela, os outros Diretores, como a Sra. Elisa e o Sr. Juliano, aqui presentes, os nossos educadores e professores, na sua diligente função diária de educar, e os outros funcionários que colaboram com o colégio na nossa missão educativa. Finalmente, quero cumprimentar o Deputado Dalmo Ribeiro Silva, autor do requerimento que deu origem a esta homenagem, por essa grande honra prestada ao Colégio Loyola.
Muito obrigado a todos vocês, pais, amigos e estudantes, que nesta noite estão vivendo conosco este momento de se homenagear a história de tantas pessoas, tantos educadores, tantos jesuítas, tantos funcionários, tantos alunos, tantas famílias que construíram de fato a história da nossa escola.
Dei o seguinte título a meu discurso: “A educação como bem de cidadania”. Receber hoje a homenagem desta Casa certamente nos implicaria, como Colégio Loyola, a aceitar o louvor da educação que oferecemos. Mas a verdade, senhoras e senhores, é que "ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”. Essa é uma frase bem esquisita diante da homenagem à educação que o Colégio Loyola provoca, mas ela diz, de fato, a verdade da educação. Ela é de Paulo Freire e nos explica por que o Colégio Loyola se fez escola de excelência. Em 1943, encontraram-se a tradição educativa dos jesuítas e o estofo cultural, isto é, as disposições favoráveis, os valores e o caráter da sociedade belo-horizontina e mineira. Assim, parece ser esse o motivo que nos reuniu hoje: essa parceria que contribui para a construção da cidadania mineira.
Tal estofo mostrou-se no momento mais crucial da fundação do colégio. Contarei aqui uma história. Diz a tradição oral que os padres que vieram do Rio de Janeiro para fundar o Colégio Loyola não conseguiram encontrar um lugar. Quando já voltavam para o Rio de Janeiro, comentaram o fato com um taxista, que os ouviu e comentou, consternado, com o Sr. Francisco Lobato, pai da família residente no casarão da Rua Gonçalves Dias com a Sergipe, onde foi fundado o colégio. Em questão de um ou dois dias, a família Lobato mudou-se da casa para um hotel e a cedeu para que os jesuítas estabelecessem ali o curso Loyola.
Essa história “fundante” mostra a parceria da sociedade mineira com os jesuítas na fundação do colégio. E é essa história, que hoje estamos aqui a comemorar, que me move a dizer algumas palavras sobre a educação como bem de cidadania. Esse tema parece-me relevante para ser manifestado numa casa como a Assembleia Legislativa de Minas Gerais. O primeiro ponto que eu quero ressaltar é que a educação deve preparar para a vida social e política de tal modo que essa é a sua razão de ser. O segundo ponto está na diferença entre escolas públicas e privadas. E, por causa disso, o terceiro ponto tratará da contribuição que a escola privada pode dar, junto com o Estado, para a construção da cidadania.
A educação deve preparar para a vida social e política. Em um país como o Brasil, com tanta desigualdade social, cultural e econômica, e mesmo em nossas grandes cidades, como Belo Horizonte, há uma nítida conexão entre falta de educação, falta de oportunidades sociais e econômicas e a desestruturação do tecido social. A construção da cidadania é um processo longo e frágil, e a educação é parte fundamental desse processo.
A experiência de muitas sociedades e os inúmeros estudos nos asseguram que a educação conta para a equidade e justiça social, e que, no século XXI, praticamente já não há mais caminhos para o desenvolvimento do cidadão sem escolaridade. A educação passou a ser um capital social, com nítido nexo entre ela e o desenvolvimento pessoal, num primeiro nível, e o desenvolvimento econômico, num segundo nível. Esse nexo só não acontece quando há disfunção política, como é o caso da crise política de alguns países e da falha na implementação de políticas públicas, como acontece muitas vezes no Brasil.
As falhas do sistema educacional brasileiro estão na qualidade, na repetência e no índice de evasão do ensino médio. Tais falhas são um dos gargalos do nosso desenvolvimento. No mundo atual, com a rapidez e a complexidade da tecnologia, a velocidade de adaptação está na boa escolaridade. A boa educação dá ao indivíduo maior capacidade para aprender ao longo da vida.
O resultado da baixa escolarização da população brasileira é que as pessoas podem ser tuteladas e, mesmo que atinjam bons níveis de produtividade, têm baixa capacidade para realizar tarefas mais complexas, liderar, criar novos conhecimentos e tomar decisões em situações mais complexas. Isso é particularmente grave, porque 20% do PIB brasileiro e 60% dos empregos gerados dependem das pequenas e médias empresas. Nesse caso, o baixo nível educacional de proprietários e funcionários os isola da modernidade, da informação, da tecnologia, das boas práticas de trabalho e gerenciais, resultando num outro conhecido problema: o baixo nível de produtos e serviços que enfrentamos em geral na sociedade brasileira.
A escola pública e a escola privada. No censo escolar de 2010, constatou-se que 85,4% dos alunos estão na rede pública, portanto é ela que realmente contribui para a média de escolarização da população. Além disso, a escola pública e de qualidade é garantia de democratização da educação e forma privilegiada de se assegurar a equidade e o direito à educação.
A educação brasileira, sabemos, vem conquistando melhoras significativas. Já se investe nela cerca de 5% do PIB, e a inclusão digital tem crescido paulatinamente. O analfabetismo geral caiu para 9%, mas a taxa de analfabetismo funcional, somente entre os jovens com idade de 15 a 17 anos, está em 20%. Algumas pessoas comentam que o analfabetismo funcional - dados de 2005 ou 2009, se não me falha a memória - na população em geral é da ordem de 69%, 70%.
É preocupante ver que em 2011 somente 10% dos alunos com boas médias no Enem vêm de escolas públicas. É preciso salvar a escola pública para não reproduzirmos na educação básica o jogo de interesses mercadológicos que se vê na educação superior, em que a rede privada recebe 80,8% dos estudantes, mas a qualidade está, salvo exceções, nas universidades públicas. Estudos recentes mostram que, em termos de desempenho escolar, a diferença entre escola pública e escola privada está na bagagem cultural e no contexto socioeconômico de cada aluno que essas escolas recebem. Em qualquer sistema educacional do mundo, os pobres estão sempre em desvantagem. A questão, para nós, para o poder público, para as pessoas envolvidas com educação, é saber qual o grau de desvantagem dos pobres e o que faremos para reduzi-lo.
Aprofundando esse questionamento, pesquisas sugerem que a diferença de qualidade na escola privada não está tanto na estrutura física, mas, principalmente, nas atitudes e no cuidado dos professores. O primeiro fator apontado nas pesquisas é que os professores da rede privada estão mais presentes e são mais dedicados no contato com os alunos, sendo que a relação é mais respeitosa. Além disso, os salários são melhores, o número de alunos por turma é melhor controlado e os pais se interessam mais pelo desempenho de seus filhos. Não existe na rede privada a aprovação automática. Isso é para destacar a importância de, em se pensando e se resgatando a educação pública, cuidar melhor dos professores da rede pública, conforme as pesquisas.
O meu último ponto é a contribuição da escola privada para a cidadania, posto que a educação é ponto decisivo para a formação política e social, posto que a escola pública faz a maior parte do trabalho de escolarização média na sociedade brasileira. Essa escola precisa ser salva, resgatada por nós, pela sociedade. Há também um lugar para a contribuição da escola privada para a cidadania. É o tipo de educação que tentamos realizar no Colégio Loyola.
O ensino privado no Brasil nasceu confessional, nos tempos de Colônia. Assim, as relações entre ensino privado e o Estado são, antes de qualquer coisa, legitimamente históricas. Hoje percebemos uma certa tentativa de negação dessa legitimidade histórica por parte de certo tipo de investida ideológica em alguns setores da intelectualidade e da academia, em alguns formuladores de políticas públicas ou entidades de classe. O estado atual da relação entre Estado e rede privada de ensino está bastante complexo do ponto de vista jurídico e não se tem claro onde termina a responsabilidade do Estado e começa o seu intervencionismo, levando a certa restrição da autonomia das propostas pedagógicas distintas das preconizadas pelo Estado.
Por sua vez, é importante que as instituições privadas de ensino sejam cada vez mais transparentes para que a sociedade e o Estado percebam em suas propostas não a mera busca de lucros e interesses de mercado, mas que percebam a real capacidade que as escolas têm de contribuir com os recursos educacionais do País e para a superação da desigualdade social, cultural e econômicas.
A escola privada, encontrando o seu lugar e tendo-o reconhecido pela sociedade, pode contribuir com sua competência pedagógica, sua gerência e com as tecnologias educacionais que desenvolve. Se as escolas privadas não se omitirem, poderão contribuir efetivamente com um pacto social pela educação, em conjunto com o Estado, com a sociedade e com o corpo organizado e mobilizado de seus educadores. Nesse pacto, a escola privada pode contribuir com modelos mais diversificados de educação e propostas mais autônomas. O Estado tem um papel importante em cuidar para que exista tal diversidade e autonomia de propostas educativas, enquanto se assegura de que as pessoas ou os grupos que estão em desvantagem ou correm risco de exclusão social e cultural sejam incluídas.
Finalizando, quero dizer que o Colégio Loyola sente-se honrado com esta homenagem da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Ela demonstra que o Estado reconhece a contribuição que nossa escola deu à sociedade mineira e ao seu desenvolvimento social e econômico, através de muitos dos nossos alunos.
Como nos educamos mutuamente, o Colégio Loyola tem a obrigação perene de andar no passo de Minas Gerais para contribuir com nosso Estado através de um corpo de educadores conscientes e responsáveis, com a excelência na formação humana e a alta qualidade acadêmica de seus alunos; com a valorização do professor; com a promoção das artes e humanidades. Colaborar com a cidadania, desenvolvendo um senso comunitário de participação social e política dos alunos e educadores, com a promoção do papel formador da família para a cidadania, e com a promoção de uma comunidade acolhedora, vibrante e mobilizada para o bem da sociedade. E, finalmente, com a promoção da fé e da transcendência através da confiança em Deus. Muito obrigado.