FRANCISCO ANDRADE MAIA, Presidente da Escola de Tradutores e Intérpretes de Minas Gerais - ETIMIG.
Discurso
Legislatura 14ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 05/06/2002
Página 31, Coluna 3
Assunto CALENDÁRIO.
Proposições citadas RQS 1672 de 2002
176ª REUNIÃO ESPECIAL DA 4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 14ª LEGISLATURA, EM 23/5/2002
Palavras do Sr. Francisco Andrade Maia
Exmo. Sr. Deputado Álvaro Antônio, Exma. Sra. Deputada Federal Maria do Carmo Lara, Sr. Mário de Assis, Exmº Sr. Deputado João Paulo, diretores, professores, instrutores, funcionários, demais autoridades, caríssimos alunos, amigos e familiares, como professor que sempre fui e continuo sendo, desde os meus longínquos 19 anos, quando comecei a lecionar em escola da periferia de Belo Horizonte, não poderia iniciar minhas breves palavras sem contar interessante episódio da minha infância. Não tinha mais que 8 anos, vivendo numa pequena fazenda no interior de Minas. Freqüentava a escola rural, para onde íamos todas as manhãs, eu, meus primos e alguns de meus irmãos. Tínhamos os pés descalços e levávamos ao ombro pequeno bornal de pano, onde púnhamos nossa merenda, alguns poucos livros e uma lousa. Essa lousa era algo como um pedaço de pedra-sabão ou ardósia, em que escrevíamos. Fazia as vezes dos cadernos e computadores que hoje todo estudante usa.
Era uma escola diferente, coberta de sapé, com bancos de tábuas de construção, chão de terra batida. Mas o mais interessante é que os alunos, não importando qual fosse seu grau de escolaridade ou sua idade, estudavam numa mesma classe, com uma única professora. E a gente aprendia. Aprendia de verdade, até mesmo porque uns ajudavam os outros, havendo veladas disputas para ver quem aprendia mais, mesmo quando a matéria era destinada aos alunos mais adiantados.
Era tudo uma festa, uma alegria, uma cantilena meio confusa de meninos e meninas aprendendo a ler, fazendo contas de somar ou multiplicar em voz alta, cantando o bê-á-bá ou soletrando “Ivo viu a uva”. Era tudo muito bacana!
Seria aquilo um protótipo da Escola Plural de hoje?
Mas o fato que quero lhes contar ocorreu ao final de um mês de agosto, em plena época de seca, quando saíamos da escola, lá por volta das dez e meia da manhã, que na roça tudo começa e termina muito cedo.
Em meio à longa jornada de volta para casa, entre brincadeiras e algazarras, alguém de nosso grupo teve uma idéia. Uma idéia boba, mas que ameaçava ser divertida para aqueles garotos sem muita experiência de vida, como, é claro, era de esperar que fossem.
A idéia era brincar de botar fogo em uma pequena moita de capim seco que margeava a trilha por onde passávamos. A gente achou que seria divertido, e que mal poderia fazer?! Afinal, todos estaríamos a postos para apagar o insignificante incêndio, se o fogo se propagasse. Tudo combinado, um dos meninos riscou um fósforo e ateou fogo à touceira ressequida. Umas primeiras chamazinhas crepitaram inocentes e fracas, quase apagadas pelo vento que soprava sem força, mas persistente. Logo o foguinho tomou corpo. Cresceu. Consumiu aquele amontoado de relva. Entretanto, com um apetite que não imaginávamos, se alastrou para o capinzal em volta. Cresceu. Parecia faminto. Atirava mil línguas viperinas em todas as direções, procurando alcançar até mesmo as folhas dos arbustos em volta.
Um incêndio havia começado. Apavorados, os meninos batiam galhos sobre as chamas, tentando inutilmente debelá-las. Parecia que os galhos funcionavam como foles numa oficina de ferreiro. E as chamas se avolumavam, se espalhando em um círculo cada vez maior. Impossível detê-las. Um grande incêndio havia se instalado. Em breve, toda a campina estava em chamas. As roças de milho tornaram-se como cinzas duma churrasqueira. Até as árvores dos bosques, que há pouco ainda estavam semiverdejantes, não eram mais que ramas retorcidas pelo imenso inferno em que se transformara aquela primeira faísca lançada pela inocência de ingênuos garotos debandando das salas de aula.
E pensar que tudo começou com a insignificante chama de um fósforo.
Senhoras, senhores, meus diletos alunos: Tudo começa pequenininho. Em nossa mente e em nossa vontade. Por vezes começa pequeno, mas já com o propósito de se tornar uma decisão concreta.
Em 1956, na mente de alguém que nossa frágil memória não pode mais apontar, nasceu uma faísca. Faísca que cresceu. Que virou labareda. Que incendiou milhares de pessoas, algumas delas presentes neste auditório.
Há quase meio século surgiu a idéia da criação da Escola de Tradutores e Intérpretes de Minas Gerais - ETIMIG. Deve ter sido apenas um lampejo de algum educador anônimo, como milhares de heróis desse tipo espalhados por nosso imenso Brasil, que queria ver a chama do saber crepitando na mente de tantos que não se contentam com os ensinamentos adquiridos na escola tradicional. Querem ter mais. Querem ser mais. Querem se aperfeiçoar na comunicação, seja através das línguas, seja através da informática que ajuda a globalizar as gentes e as nações.
Tudo nasce de uma idéia ou de um ideal. Aqui mesmo nesta Casa, nesta Assembléia Legislativa, onde pugnam tantos parlamentares ilustres - alguns deles nos honram em nos ouvir neste instante - aqui mesmo muitas idéias e ideais são iniciados por pequenas chamas que crepitam do cérebro de muitos parlamentares que vêem no Brasil uma grande Nação e em Minas Gerais um Estado líder do povo brasileiro.
Por certo muitos de nós nunca estivemos aqui neste Plenário, sendo autores ou meras testemunhas de quantas leis definem ou determinam a vida de uma sociedade democrática, em que o povo é quem reina, ou deveria reinar. No entanto, na impossibilidade de todo o imenso povo poder legislar, nomeamos nossos representantes: os Deputados. É certo que uma boa parte da população não se importa, ou não tem consciência, com que leis sejam votadas pelo engrandecimento ou pelo empobrecimento de nossa gente. Mas o fato é que aqui, nesta Casa, muitos representantes do povo pensam no povo e é para o povo que fazem leis, fruto da chama de idéias e ideais que inflamam sua mente de representantes do povo.
Neste Plenário, creio eu, já devem ter sido lançadas muitas faíscas que se tornaram incêndios incontroláveis, que, por inúmeras vezes, por certo, arrasaram muitas ervas daninhas que assolavam o nosso destino. Quantas vezes, no entanto, temos certeza, foram precisos heróicos representantes do povo para debelar muitos incêndios que ameaçavam nossas instituições democráticas, ameaçavam nossas finanças, ameaçavam nossa moral, ameaçavam jogar por terra as mais nobres tradições de nosso povo.
É por isso que necessitamos dos nobres representantes - os Deputados - preocupados com os rumos dos destinos de Minas Gerais e do Brasil.
Estando à frente de uma instituição de ensino como a ETIMIG, estou certo de que estamos ajudando muitos jovens e adultos a se prepararem para dar de si o máximo em benefício do povo. Quem sabe, no futuro, alguns de nossos alunos se tornarão Deputados!
Com certeza uma das figuras mais ilustres desta Casa e um dos mais eminentes de nossos ex-alunos da ETIMIG é o Exmo. Sr. Deputado João Paulo, que, na sua simplicidade, esconde o grande e ilustre homem que é, diversas vezes graduado e pós-graduado em nossas universidades, hoje representante de Minas Gerais no Brasil e no exterior.
Temos orgulho de já ter tido muitos ex-alunos ilustres.
Agora temos orgulho do nosso ex-aluno Deputado João Paulo.
Ao nosso ex-aluno Deputado João Paulo, agradecemos a oportunidade deste congraçamento de toda a comunidade etimiguiana. Que seus ideais em benefício do povo sejam chamas de progresso que incendeiem nossa querida Pátria.
Se eu fosse nomear um a um os que ajudaram a engrandecer a nossa querida ETIMIG nestes 47 anos de sua existência, estas minhas palavras já não teriam fim.
Que me perdoem aqueles aqui presentes, ou ausentes, que não tiveram o seu nome citado nesta reunião especial.
Mas saibam todos que estão no meu coração e têm todo o meu agradecimento, em nome de toda a sociedade mineira.
Portanto, muito obrigado a todos!