FLÁVIA TISO, Nutricionista. Especialista em saúde pública.
Discurso
Comenta trabalho de educação nutricional para o combate à obesidade,
realizado no Município de Varginha.
Reunião
25ª reunião ESPECIAL
Legislatura 15ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 22/07/2006
Página 49, Coluna 4
Evento Fórum Técnico "Obesidade: desafios e perspectivas".
Assunto SAÚDE PÚBLICA.
Legislatura 15ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 22/07/2006
Página 49, Coluna 4
Evento Fórum Técnico "Obesidade: desafios e perspectivas".
Assunto SAÚDE PÚBLICA.
25ª REUNIÃO ESPECIAL DA 4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 15ª
LEGISLATURA, EM 7/7/2006
Palavras da Sra. Flávia Tiso
Bom dia, quero agradecer o convite e demonstrar minha satisfação
em estar aqui nesta troca de experiência porque, para mim, trocar
experiência significa sempre um crescimento. Vou passar para vocês
a nossa experiência na cidade de Varginha: a educação nutricional
no combate à obesidade.
Eu trabalho num programa de diabetes e hipertensão e tinha, na
época, 500 pacientes diabéticos. Fizemos um levantamento do perfil
nutricional desses 500 pacientes e percebemos que 75% deles eram
portadores de síndromes metabólicas. Eles não tinham simplesmente
diabetes. Para quem não é acostumado ao termo, síndrome metabólica
é um pacote de doenças induzido pela gordura abdominal. Temos dois
tipos de gordura, que é o tipo-pêra e o tipo-maçã. Essa gordura
acumulada na região abdominal causará a resistência à insulina e a
síndrome metabólica, que é um pacote de doenças, como diabetes,
colesterol elevado, triglicérides elevado, hipertensão e ácido
úrico elevado.
Essa obesidade era considerada típica do sexo masculino, mas a
maioria dos meus pacientes que apresentam gordura abdominal é do
sexo feminino. Verificamos que isso está relacionado com a
menopausa e com histórico de ovário policístico. Quando medimos a
cintura dos nossos pacientes, encontramos desde cinturinhas bem
finas até bem exageradas.
O tratamento para um paciente com diabetes tipo 2, causada pela
síndrome metabólica, é o seguinte. Ele terá de se submeter a
vários exames durante um ano: glicemia de jejum e pós-prandial,
hemoglobina glicosilada, glicemia capilar, hemograma completo,
colesterol e triglicérides, prova de função renal e mapeamento de
retina. Caso haja algum comprometimento renal ou na retina,
partirá para a realização de exames e tratamentos mais
sofisticados. Além de esse procedimento significar para o sistema
um ralo por onde escoará dinheiro, gerará uma confusão para esse
paciente, que terá de utilizar vários medicamentos. A maioria
desses pacientes é idosa e vive sozinha, com dificuldades de
enxergar e de fazer uso da medicação prescrita. Uma paciente nossa
tem de tomar diversos medicamentos para regular a pressão:
Metildopa, Enalapril, Sustate, Furosemida, Sinvastatina e
insulina. Outra paciente, em estado mais delicado, com 70 anos,
faz uso de: Furosemida, Metiformina, Diovan, Benicar, Apresolina,
Anafranil, AAS, Omeprazol e insulina. Esse caso é complicado, a
qualidade de vida da paciente torna-se péssima, e o custo do
tratamento para o sistema é alto.
Pensando nisso, resolvemos abrir um ambulatório de nutrição para
os pacientes com obesidade, mesmo que a diabetes ainda não esteja
instalada. Toda a equipe passou a incentivar a modificação no
estilo de vida desses pacientes, com uma alimentação saudável, a
prática de atividade física e um pouco de orientação para o
combate ao estresse.
A equipe é composta por uma nutricionista, uma psicóloga, uma
professora de educação física e enfermeiras. Além do atendimento
individualizado, passamos a desenvolver atividades paralelas, como
treinamento para os profissionais da saúde. Em Varginha, todos os
profissionais que trabalham na rede pública passaram a ter um
olhar diferenciado em relação à questão da obesidade. O auxiliar
que acompanha o desenvolvimento da criança e que faz a pré-
consulta na ginecologia tem esse olhar.
Foi muito debatido aqui o direito de tratar o paciente obeso, para
saber se seria do nutricionista, do endocrinologista, do nutrólogo
ou do clínico geral. Acredito que esse direito não seja de cada
um, mas um dever de todos os profissionais da saúde.
Como atividades paralelas, criamos as oficinas terapêuticas,
coordenadas pela psicóloga, onde os pacientes confeccionam
tapetes, colares e cachecóis de tricô. Eles passaram a vender os
produtos, melhorando a sua renda familiar, a qualidade de vida e a
auto-estima.
Temos também oficinas de artesanato. Esta imagem mostra uma
auxiliar de enfermagem da equipe, que usou a sala de espera da
consulta nutricional para ensinar artesanato com palha de milho. A
idéia é fazer pequenos presépios com palha de milho e vender no
final do ano.
Em parceria com as Secretarias de Saúde e de Esporte, oferecemos
também hidroginástica aos pacientes. A Secretaria de Esporte da
cidade utiliza a área de lazer de uma empresa que não existe mais.
Ela arrendou a área de lazer que era dos funcionários e criou
equipes para dar aulas de natação. Emprestou a piscina para nossos
pacientes.
Temos hoje 120 pacientes do programa fazendo hidroginástica. É
importante dizer que muitos deles nunca haviam colocado uma roupa
de banho nem entrado numa piscina. Como agora está fazendo muito
frio, alugaram a piscina aquecida da Apae para que pudéssemos dar
continuação a essa atividade.
Temos também as oficinas educativas, com teatros educativos para
crianças e pais. Organizamos palestras em salas de espera do
médico, do nutricionista e, principalmente, do ginecologista. Em
geral, essas palestras são feitas por estagiários de nutrição. As
gestantes de Varginha são muito bem orientadas para uma
alimentação saudável.
Fazemos reuniões mensais com sorteios de brindes. Essa imagem
mostra a confraternização do final do ano, em que servimos frutas
e sucos e fizemos sorteios de cestas de frutas. É uma forma de
valorizar a boa alimentação.
Dos 245 pacientes não diabéticos que procuraram o programa, 170
deles apresentaram perda de peso. O custo foi baixo, porque usamos
uma estrutura que já existia e profissionais que já existiam. Na
realidade, gastamos muito pouco com isso.
Os números significam muito. Esse garoto que vocês vêem nessa
imagem é o Ronan. Ele brigava demais e tinha sérios problemas na
escola. Hoje está muito bem. Depois vem a Zuleika, que, após
perder 30kg, conseguiu voltar a trabalhar, porque melhorou o
problema que tinha nos joelhos. Hoje está namorando e vai-se
casar. Aquela é Flausina, que perdeu 30kg e está muito bem.
Estamos tratando de sua netinha também. E esse é o Sr. Oliveira,
por quem tínhamos muito carinho. O Sr. Oliveira, sem a utilização
de medicamentos, perdeu 50kg. Foi obeso por mais de 10 anos. Mesmo
tendo emagrecido, parado de fumar e feito hidroginástica, ele
faleceu, porque o comprometimento cardiovascular era muito grande.
Cabe atentar para o fato de que, quanto maior o número de anos que
a pessoa permanece obesa, maior o comprometimento cardiovascular.
Encerro minha fala com uma frase da Madre Teresa de Calcutá: "Por
vezes, sentimos que somos uma gota de água no mar, mas o mar seria
menor se lhe faltasse uma gota". Costumo pensar que 170 pacientes
não fariam muita diferença nos milhões de obesos que estão no
mundo, mas tenho certeza de que, pelo menos para essas 170
pessoas, fizemos toda a diferença.
- No decorrer do pronunciamento, procede-se à apresentação de
"slides".