FLÁVIA MOURÃO PARREIRA DO AMARAL, Secretária Adjunta de Meio Ambiente da Prefeitura do Município de Belo Horizonte - MG.
Discurso
Transcurso do Dia Mundial do Meio Ambiente.
Reunião
28ª reunião ESPECIAL
Legislatura 15ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 16/06/2005
Página 33, Coluna 3
Evento Ciclo de Debates Agenda 21 em Minas Gerais.
Assunto CALENDÁRIO. MEIO AMBIENTE.
Legislatura 15ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 16/06/2005
Página 33, Coluna 3
Evento Ciclo de Debates Agenda 21 em Minas Gerais.
Assunto CALENDÁRIO. MEIO AMBIENTE.
28ª REUNIÃO ESPECIAL DA 3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 15ª
LEGISLATURA, EM 9/6/2005
Palavras da Secretária Adjunta Flávia Mourão Parreira do Amaral
Bom dia a todos e, em especial, ao Deputado Doutor Ronaldo, em
cuja pessoa cumprimento os demais companheiros da Mesa. Bom dia,
companheiras e companheiros presentes em Plenário. Digo
“companheiras e companheiros” porque acredito que todos os
presentes estão especialmente ligados em torno desse objetivo de
conhecer e tentar construir as Agendas 21, sejam elas locais,
estaduais ou nacional. Cada um, na sua realidade.
Conhecemos a história de muitos que estão presentes e sabemos do
envolvimento deles. Sabemos, em especial, que há grandes desafios
a serem enfrentados, e muito mais fácil será enfrentá-los de forma
compartilhada.
Belo Horizonte é uma cidade relativamente nova e foi planejada.
Podemos dizer que ela foi inventada para ser a Capital do Estado,
um símbolo republicano, e tem pouco mais de 100 anos. Apesar de
ser uma cidade relativamente nova, ela não está isenta dos
problemas ocorridos nas demais cidades do Brasil e do mundo,
principalmente em decorrência de um crescimento, de certa forma,
um tanto quanto desordenado e de vários outros fatores,
principalmente o desenvolvimento econômico, a questão da
industrialização e o processo de urbanização. Assistimos a Belo
Horizonte, nas suas duas primeiras décadas, ultrapassar o limite
de população para o qual tinha sido projetada. Ela foi planejada
para 200 mil habitantes, e hoje somos 2.300.000. Então, pouco
depois da década de 20 já tínhamos uma situação de ocupação do
espaço urbano que ultrapassava aquilo planejado. Quer dizer, a
cidade tinha um traçado retangular, imitando grandes centros do
mundo e, de certa forma, até um pouco a cidade de Washington, mas
não foi possível manter a ocupação da forma planejada, até porque,
desde a fundação da cidade, ela não previa, em seus espaços,
aqueles destinados a abrigar os próprios trabalhadores que vieram
construí-la.
Então, Belo Horizonte é uma cidade pensada para ser sede
administrativa, sede do poder, centro cultural, centro de
atividades e serviços; no entanto, nem no começo foram previstos
espaços para aqueles que sustentariam todas essas atividades.
Assim, assistimos ao surgimento de favelas e ocupações
desordenadas já no início do século. Aliás, há favelas que
persistem até hoje, como a Pedreira Prado Lopes, identificada como
a mais antiga. E a essa ocupação desordenada muitos outros
problemas se somaram, como a própria falta de infra-estrutura
urbana; a ocupação de espaços que, ambientalmente, são
inadequados; a invasão de áreas verdes; a falta de ofertas de
serviços adequados em saúde, educação, etc. Esses problemas se
foram acumulando, mesmo porque, durante todo o tempo, a ação do
Estado sempre foi a reboque: em geral, chegava atrasado para
suprir com infra-estrutura um local e uma população que já
existiam.
Em algumas iniciativas, assistimos ao poder público induzir
processos de ocupação. De fato, fez isso na fundação da Cidade
Industrial, hoje pertencente ao Município de Contagem, em que
houve atuação nítida do Estado, e na criação do complexo do
conjunto arquitetônico da Lagoa da Pampulha, cuja ocupação
diferenciada preservou muito as características. Mas tudo isso não
foi suficiente para controlar o processo de ocupação. Considerando
o exemplo da Pampulha, bem cedo vimos a população ultrapassar os
seus limites e ocupar, de forma desordenada, áreas mais
periféricas ao norte e à noroeste da cidade.
A esses problemas, conflitos, confusões, a essa desordem urbana,
vários outros problemas sociais surgiram na época da realização da
Conferência Nacional do Meio Ambiente no Rio, a ECO-92. E foi esse
mesmo quadro que, em 1993, a administração democrático-popular
encontrou e, até hoje, tenta enfrentá-los. Nas décadas de 70 e 80,
houve uma grande efervescência de movimentos sociais e ambientais.
As pessoas que participaram deles e que construíram propostas que
foram discutidas, como a histórica reforma urbana da década de 60,
também participaram da discussão da Rio 92 e ajudaram, em Belo
Horizonte, a elaborar soluções que foram implementadas pela gestão
democrático-popular.
Vimos que várias ações foram propostas com o intuito de tentar
fazer reverter essa situação de exclusão social; de trazer uma
maior participação para a gestão da cidade, procurando uma gestão
democrática; e de buscar sustentabilidade para a sua
administração. Várias foram as ações e vários os programas e as
políticas desenvolvidas desde então. Tomo a liberdade para listar
algumas delas.
A primeira preocupação foi com o saneamento das finanças
municipais. Havia uma situação contraditória, porque era grande a
demanda por investimentos públicos e necessária a sustentabilidade
financeira, muito adversa, incompatível com os desafios da cidade.
Então, foi preciso implementar um programa de rígido controle das
finanças em busca dessa estabilidade, alcançando não só o
equilíbrio na arrecadação, mas o planejamento das despesas.
O fato é que hoje Belo Horizonte tem uma situação bem mais
favorável, permitindo contrair empréstimos, mesmo internacionais,
para financiar grandes obras estruturantes necessárias para
continuar um processo de correção dessa realidade anterior.
No que diz respeito à inversão de prioridades, o primeiro passo
foi buscar uma participação democrática, que se deu através de
vários processos participativos, como, por exemplo, o Orçamento
Participativo, sobre o qual qualquer um em Belo Horizonte sabe
falar; é uma grande realidade que atinge todos os setores da
cidade, e hoje todos falam que para demandar determinada
intervenção na cidade precisamos promover a discussão no Orçamento
Participativo. Interessante também o exemplo do Orçamento
Participativo, que não é um simples espaço de discussão de
demandas, de disputa, mas um espaço em que se privilegia a
transferência. A questão da participação popular vem sendo
examinada em Belo Horizonte não só simplesmente reunindo pessoas
para levantar demandas, mas reunindo pessoas para passar
informação, para dividir esses desafios e, a partir do
compartilhamento da realidade e dos desafios que temos de
enfrentar, analisar propostas e compartir responsabilidades.
Em todo esse processo de inversão de prioridades, já que ao longo
de todos esses anos a ocupação foi desordenada e houve um grande
acréscimo da população mais desfavorecida, procurou-se fazer com
que os principais investimentos fossem destinados a inverter essa
lógica de desordenamento nas áreas mais desprovidas, ou seja,
privilegiou-se o investimento nas áreas periféricas ou nas áreas
ocupadas inadequadamente, nas vilas e nas favelas. Logicamente,
esses investimentos não se dão de qualquer forma. É necessária a
definição de que áreas precisam realmente ser desocupadas, seja
porque apresentam grande risco geológico, seja porque são de
interesse ambiental, seja porque são necessárias para garantir a
instalação da infra-estrutura necessária àquele local, ou seja,
garantir questões de acessibilidade, garantir a infra-estrutura de
saneamento básico, etc.
Outro trabalho que vem sendo desenvolvido ao longo de todos estes
anos é a questão dos investimentos, das ações na segurança
alimentar. Citamos todas as experiências com relação à qualidade e
à ampliação da merenda escolar, ao Programa Abastecer, que leva
alimento a todas as regiões da cidade para venda, a custos reais,
aos restaurantes populares, sucesso absoluto, experiência copiada
por outros Municípios em todo o Brasil, e também a um banco de
alimentos, que visa a comercializar alimentos que talvez não sejam
considerados de grande qualidade para venda, mas que ainda podem
ser consumidos. Há todo um critério de seleção e de aglutinação
desses alimentos para serem redistribuídos.
Também na área da saúde e da educação há várias experiências ao
longo destes anos, sempre objetivando a inversão de prioridade, da
ampliação do atendimento e da inclusão de todas essas pessoas que
sempre foram mantidas à margem.
Na tentativa de integrar todos esses programas na área social,
temos o BH Cidadania, baseado na intersetorialidade, que trabalha
com áreas específicas, integrando os programas sociais. Citei o
Orçamento Participativo e a questão da participação, que vem sendo
examinada com muita preocupação e seriedade. Hoje, temos mais de
60 instâncias de participação popular, sejam elas locais,
regionais ou municipais, como são os conselhos da área urbana.
Temos Conselhos Municipais de Política Urbana, de Meio Ambiente,
de Saneamento, Deliberativo do Patrimônio Histórico e Cultural. Há
uma grande preocupação para que a sociedade se faça representar
nesses Conselhos, interferindo na decisão e na condução dos rumos
da cidade.
Ao lado das questões da participação popular, da inversão de
prioridades, do saneamento das finanças, vários projetos
estruturantes para mudar essa realidade vêm sendo elaborados e
implantados ao longo destes últimos anos. Citaria nossos programas
de recuperação ambiental, como o Propam e o Drenurbs, que
conseguiu financiamento junto ao BID de mais de US$70.000.000,00
para começar a recuperar os fundos de vales a céu aberto. E essa
recuperação significa promover a população ribeirinha, tanto no
sentido de reassentar aqueles que estão ocupando de forma
indevida, como também de desenvolver a educação ambiental, com a
conceituação dos valores a serem preservados pela comunidade e a
recuperação das margens e das encostas para garantirmos melhor
qualidade da água, sem falar na retirada do lançamento de esgoto,
que é feito indevidamente. Também na área da política habitacional
várias iniciativas podemos citar, não só a produção dos conjuntos
habitacionais com condições de salubridade e dignidade maiores,
como também programas de controle de áreas de risco. Temos o
programa Bolsa-Moradia, que sustenta a moradia da pessoa enquanto
o reassentamento estiver sendo feito; o Proas, que é o Programa de
Reassentamento da População Atingida por Obras de Saneamento em
áreas de risco; sem falar no próprio orçamento participativo de
habitação. Belo Horizonte é uma das poucas cidades que põem para
discussão popular a questão de investimentos na habitação. Não
estou falando tudo isso para fazer uma propaganda de Belo
Horizonte, mas para demonstrar que em Belo Horizonte temos uma
situação extremamente favorável para a implantação da Agenda 21.
Então, já temos uma série de processos participativos, formalmente
instituídos; temos várias políticas em que a questão ambiental é
trabalhada de forma transversal; e temos uma grande aceitação de
discutir soluções para a cidade de forma casada. Isso não quer
dizer que não precisamos da Agenda 21, muito pelo contrário.
Queremos uma Agenda 21 exatamente para ter um instrumento de
planejamento que consiga não só aferir e monitorar todos os
programas e políticas que estão sendo implementados, como também
permitir a integração de Belo Horizonte com outras unidades, com
outras cidades da região metropolitana, com outras cidades da
bacia a que pertencemos, com outras cidades do Brasil e com a
proposta da Agenda 21 global.
Buscando atingir nosso objetivo, tomamos várias iniciativas para
consolidar a nossa Agenda 21. Em 2000, um decreto municipal do
Prefeito Célio de Castro instituiu o Fórum da Agenda 21, que,
somente a partir de 2003, ganhou fôlego e vem-se reunindo
sistematicamente e promovendo discussões.
A Vereadora Neila Batista não é apenas entusiasta, mas também
grande apoiadora e líder do processo de formação da Agenda 21.
Neste ano foi aprovada a Lei nº 9.027, de sua autoria, que
formaliza a instituição do Fórum da Cidade para a Agenda 21.
Estamos programando várias atividades para resolver o problema da
comunicação, de que, aliás, o Dr. Shelley reclamou. Em Belo
Horizonte, apesar de todo o processo de participação, a Agenda 21
é pouco conhecida. Precisamos divulgar o conceito de Agenda 21
global e nacional, para, então, construir o temário da Agenda 21
de Belo Horizonte. É fundamental incentivar sua divulgação.
Este ano instituímos a Agenda 21 nas escolas municipais. Graças à
parceria entre os Ministérios do Meio Ambiente e de Educação, está
sendo desenvolvido um trabalho com a rede municipal de ensino para
instituir as agendas de cada escola. Cada uma terá seu núcleo e, a
partir dele, promoverá em seu estabelecimento e na comunidade
circunvizinha a discussão da Agenda 21 local.
Precisamos ampliar iniciativas e propostas. Nós, de Belo
Horizonte, queremos compartilhar nossa experiência passada e
garantir o compromisso de nos ligarmos a uma grande rede de
discussão para a compatibilização das propostas da Agenda 21 e de
agregar mais parceiros e entidades à sua formatação e ao nosso
compromisso.
A Agenda 21 não é apenas um documento, mas também um compromisso
sério. Não adianta apenas ter um documento elaborado, mas
precisamos de uma diretriz, de uma pauta e de um processo de
operacionalização para auferir tudo o que foi feito e, daqui para
a frente, ajustar o que for necessário.
É bom que fique claro que a Agenda 21 não é uma instância a mais
de participação. Temos certeza disso. A Agenda 21 será um
instrumento de planejamento, pelo qual tentaremos não só costurar,
do ponto de vista ambiental, todas as práticas e políticas
executadas no Município, mas também apresentar propostas e induzir
alterações nessas políticas, para que sejam cada vez eficazes na
transformação de nossa realidade, em busca da real
sustentabilidade e de uma cidade mais acessível aos moradores e
aos que a visitam.
Esse era o recado que queria lhes passar. O Liberato falará um
pouco mais sobre a experiência do fórum. Agradeço a atenção de
todos.