EDILSON CORRÊA DE MOURA, Presidente do Sindicato dos Médicos do Estado de Minas Gerais.
Discurso
Discursa sobre o tema do evento.
Reunião
137ª reunião ESPECIAL
Legislatura 14ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 19/07/2001
Página 18, Coluna 1
Evento Ciclo de debates: "Acupuntura e Terapias Afins: Métodos Complementares de Assistência à Saúde".
Assunto SAÚDE PÚBLICA.
Legislatura 14ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 19/07/2001
Página 18, Coluna 1
Evento Ciclo de debates: "Acupuntura e Terapias Afins: Métodos Complementares de Assistência à Saúde".
Assunto SAÚDE PÚBLICA.
137ª REUNIÃO ESPECIAL DA 3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 14ª
LEGISLATURA, EM 25/6/2001
Palavras do Sr. Edilson Corrêa de Moura
Bom dia. Quero cumprimentar a todos os presentes, para que esta
reunião tenha a representatividade que vejo aqui. No Sindicato dos
Médicos, na gestão que está se iniciando agora - assumi há pouco
mais de um mês -, temos a política de estarmos, se possível, onde
se debater a questão da saúde. Tenho falado, nos locais a que
tenho ido, que o setor de saúde é importante e que este apagão que
todos estamos vivendo - o brasileiro vive sob a égide de um
apagão, da falta de energia - já acontece há muito tempo, na área
da saúde. Se, ao invés de estarmos aqui reunidos, tivéssemos o
discernimento de percorrermos alguns postos de saúde de Belo
Horizonte e de outros municípios, com certeza, iríamos presenciar
coisas que seriam inimagináveis no século passado. Trabalho num
grande hospital público de Belo Horizonte, o Hospital Júlia
Kubitschek, e sou pneumologista. Trata-se de um hospital
referência para o tratamento de tuberculose e de várias outras
doenças pulmonares, e estamos sem tumógrafo há quatro anos. O mais
interessante é que aquilo que o Estado já pagou à iniciativa
privada, em exames, daria para ter comprado três ou quatro
tumógrafos. Essas questões são importantes. Neste momento, o setor
de saúde carece de uma militância, porque é uma questão que diz
respeito a todos nós. Seria importante se estivéssemos debatendo
sobre qualquer tema e tivéssemos a garantia de que, se nossos
familiares tivessem algum problema de saúde nesse momento, teriam
a garantia de acesso e bom atendimento médico. Mas, infelizmente,
isso não tem acontecido. É importante denunciarmos isso. A questão
da saúde em Belo Horizonte e em Minas Gerais precisa ser abordada
com mais responsabilidade.
Parece que houve uma dificuldade na organização deste evento.
Inicialmente, soube do que se tratava por volta de quinta ou sexta-
feira e já estava com uma viagem marcada. Estamos fazendo o
lançamento da nova tabela do SUS pelo interior de Minas Gerais, e
fui comunicado de que seria uma plenária sobre acupuntura e
terapias afins. Inicialmente, perguntei-me qual seria o sentido de
um convite feito ao Presidente do Sindicato dos Médicos do Estado
de Minas Gerais para debater sobre uma questão muito específica.
Não sou acupunturista, embora conheça, até pela literatura médica,
a eficácia do tratamento de acupuntura, de medicina chinesa. O que
está em questão aqui não é se a acupuntura serve ou não, pois
existe uma comprovação científica a esse respeito. Estranhei o
fato de, na relação dos debatedores, não ter sido comunicado à
Associação Médica de Minas Gerais que existe um departamento onde
há um médico acupunturista responsável, de formação médica. Depois
de tomar ciência do que seria este debate, contactei esses colegas
e soube que não tinham sido convidados para esta plenária. Acho
que a presença deles, como especialistas, talvez até mais que a
minha, poderia enriquecer este debate, fazendo alguns
contrapontos.
Vou reproduzir o que está escrito no “folder” do fax do convite.
No último parágrafo, está escrito: “Ancora-se, também, no fato de
que uma lei, com objetivos semelhantes, já se encontra em pleno
vigor no Estado do Rio de Janeiro. Tais técnicas contribuem para
uma efetiva melhoria da saúde do Estado”. Essa questão diz
respeito ao exercício profissional. Não cabe à Secretaria de
Estado do Rio de Janeiro criar uma lei que regulamente a prática
profissional da acupuntura no Brasil. Tanto isso é verdade que
tenho, publicado no diário oficial, o documento em que essa
portaria - que esse “folder” afirma que já é praticada no Rio de
Janeiro - foi dissolvida. É uma resolução da Secretaria de Estado,
de nº 1.517, assinada pelo médico Dr. Gilson Cantarini, Secretário
da Saúde do Rio de Janeiro: “Resolve suspender, até ulterior
deliberação, os efeitos da Resolução nº 1.439, de 30/12/99. Esta
resolução entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as
disposições em contrário”. Então, esse “folder” divulga algo
inverídico.
Sou médico, fiz um curso de Medicina durante seis anos, cinco
anos de especialização e exerço a medicina desde 1992. Não são
poucas as vezes em que um paciente entra no meu consultório, senta-
se diante de mim, começa a relatar suas queixas, o examino e, no
final da consulta, reflito: não sei o que este paciente tem,
preciso reexaminá-lo, pedir exames complementares, discutir com
colegas mais experientes e recorrer aos livros de medicina. O ato
médico é, sobretudo, de responsabilidade e deve ser encarado como
tal. A acupuntura é uma especialidade médica desde 1995. Na
opinião das entidades médicas - estou aqui representando o
Sindicato dos Médicos, mas tenho a ousadia de reproduzir o que
acho que seria a afirmação do Dr. José Guerra, Presidente da
Associação Médica, e do Dr. Francisco Caldeira Reis, Presidente do
Conselho Regional de Medicina -, a acupuntura é um ato médico e
deve ser exercida por médicos com formação. Aliás, ontem,
conversando com colegas, eles demonstraram uma grande preocupação
quanto ao que estaria por trás desta reunião. Em determinado
momento, tínhamos tomado a posição política de não participar, mas
pessoalmente achei deselegante e agora acho que tomei a posição
correta, vendo a participação efetiva da platéia. É uma reunião
representativa e, por isso, acho que fiz bem em ter vindo, até
para discutirmos o que realmente está por trás. Estamos com o
setor de saúde dilapidado, sucateado. Não podemos incorrer no
risco de promover a saúde de pobre para pobre. O acesso de
profissionais não médicos no setor público para exercer a
atividade de acupuntura, no meu entender, é uma saúde de pobre
para pobre.
A acupuntura - e tenho vasta documentação aqui -, como toda
terapêutica, tem efeitos colaterais. Tenho aqui uma folha com
referências de complicações com a prática da acupuntura, e essas
complicações só podem ser resolvidas por médicos, que são
profissionais capacitados, pelo menos teoricamente, porque
ultimamente temos visto uma proliferação de escolas de Medicina
sem a menor condição de funcionar. Estão formando médicos a partir
da necessidade de um mercado, e esse mercado, neste momento, tem
valido mais que a vida das pessoas.
O Ministro José Serra, recentemente, colocou que o que determina
a abertura de novas escolas de Medicina é o mercado. Agora é
óbvio. Quando ele fala, o que significa “o mercado”? É a lei da
oferta e da procura. Se você tiver mais médicos, o preço desses
médicos sairá mais em conta, sairá mais barato. Mas não há nenhum
rigor quanto a se fiscalizarem essas faculdades de Medicina. Isso
me preocupa muito, e a minha sugestão é a de se fazer um novo
debate com a presença desses médicos que hoje representam
oficialmente a entidade, representam inclusive perante a lei esse
movimento acupunturista. Seria interessante, mais grandioso e
proveitoso para todos nós que esses colegas fossem convidados,
contrapondo-se seus nomes na relação de pessoas aqui presentes.
Parece-me que o único médico aqui - se não estou enganado - é o
Presidente do Sindicato dos Médicos, que não é especialista em
acupuntura. Isso é um motivo de crítica à organização do evento.
Eventos como estes têm de ser mais bem organizados, porque a saúde
tem de ser responsável. Aqui quero chamar a atenção do Deputado
Márcio Cunha: ciência não pode partir de uma experiência pessoal.
Já tive pacientes que se curaram com curandeiros e morreram logo
depois, de câncer de pulmão. O fato de ele ter sido curado por
acupuntura é interessante, porque está provado cientificamente que
ela cura mesmo. Essa não é a questão.
Mas uma das questões que devem ser colocadas e discutidas é: quem
pratica essa acupuntura? Qual é a formação desse profissional?
Vejo aqui o meu colega Paulo Noleto, Presidente do Instituto
Mineiro de Acupuntura e Massagens, e - parece-me - ele preside uma
entidade que não é legalizada. Estou com um parecer do Ministério
da Educação - Ofício nº 2.705, de Brasília, de 1º/3/2001,
endereçado à Dra. Valéria Cordeiro Vieira, do Instituto de
Acupuntura Médica de Minas Gerais, que fez uma solicitação de
parecer. (- Lê:)
“Em atenção ao seu fax de 20 de janeiro, informamos a V. Sa. que
efetuamos pesquisas em nossos registros e não localizamos nenhuma
instituição de ensino superior, credenciada por este Ministério,
com a denominação de Instituto Mineiro de Acupuntura e Massagens,
não existindo também curso superior de Medicina Chinesa autorizado
pelo MEC.
Informamos, outrossim, que as pessoas que necessitarem de
esclarecimentos sobre a regularidade de cursos dessa natureza
devem informar-se junto ao MEC. Quanto à prática profissional
ilegal, compete aos conselhos profissionais de medicina, no caso
em questão, serem notificados para adotarem as providências
cabíveis.”
Estou com um colega médico e especialista em acupuntura, e ele,
como médico, pode falar melhor que eu sobre essa prática ilegal da
medicina. Fica aqui a sugestão para que façamos outro debate com
essas partes responsáveis por esses movimentos. Obrigado.