DEPUTADO SÁVIO SOUZA CRUZ (PSB)
Discurso
Defende o Governador Itamar Franco das críticas da Bancada Estadual do
Partido da Social Democracia Brasileira - PSDB - com relação às suas
declarações sobre o reajuste salarial dos servidores públicos do Estado.
Reunião
148ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 14ª legislatura, 2ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 16/06/2000
Página 23, Coluna 1
Assunto REPRESENTAÇÃO POPULAR. ADMINISTRAÇÃO ESTADUAL. EXECUTIVO. PESSOAL.
Aparteante Sebastião Navarro Vieira, Amilcar Martins.
Legislatura 14ª legislatura, 2ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 16/06/2000
Página 23, Coluna 1
Assunto REPRESENTAÇÃO POPULAR. ADMINISTRAÇÃO ESTADUAL. EXECUTIVO. PESSOAL.
Aparteante Sebastião Navarro Vieira, Amilcar Martins.
148ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 2ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 14ª
LEGISLATURA, EM 8/6/2000
Palavras do Deputado Sávio Souza Cruz
O Deputado Sávio Souza Cruz* - Sr. Presidente, Srs. Deputados,
agradeço ao Deputado Alencar da Silveira Júnior por permitir a
inversão da ordem dos oradores, para que o assunto tivesse
seqüência.
Em respeito à verdade, tenho em mãos singela relação com cerca de
1.000 páginas e, em cada página, cerca de 60 credores do Estado,
de dívidas contraídas no Governo Eduardo Azeredo, que não foram
pagas por aquele Governo e foram recebidas, sem quitação, para
serem pagas por este Governo. Estou à disposição para consulta de
qualquer Deputado ou cidadão. É uma relação oficial da Secretaria
da Fazenda, que não é exatamente pequena. Temos, inclusive,
fornecedores de pães, de canetas, de pequenos instrumentos, enfim,
de pequenas utilidades do dia-a-dia do serviço público.
Este Governo, Deputado Amilcar Martins, foi herdeiro do caos.
Encontrou o Estado absolutamente ingovernável, recebeu essas
dívidas não negociadas e as dívidas negociadas com o Governo
Federal, que teriam o seu prazo de carência vencido em janeiro de
1999, no início do Governo Itamar Franco. E aquele comprometimento
de 12,5% começaria em janeiro de 1999. Havia, em caixa,
R$19.000.000,00, e vencia, apenas nos dois primeiros meses do ano,
dívida de R$21.000.000,00 com o Governo Federal.
Portanto, a moratória, nobre Deputado Sebastião Navarro Vieira,
foi inevitável. Foi tentado, antes da posse do Governador Itamar
Franco, que se repactuasse essa dívida, que ela fosse
reescalonada, e o Ministro Pedro Malan sequer se dignou a receber
os representantes do Governo de Minas Gerais. Depois de longas
tentativas, sugeriu que se procurasse o Secretário-Geral do
Ministério, naquela época, o Sr. Pedro Parente. E o Sr. Pedro
Parente mandou, por telefone, avisar que, se o assunto fosse a
dívida, não haveria o que conversar; que a dívida teria que ser
paga nos termos negociados.
Portanto, a escolha a fazer, no início do Governo Itamar Franco,
era suspender a prestação de serviços públicos, comprometendo o
funcionamento já precário das escolas, dos hospitais, dos
quartéis, ou comprometer o pagamento da dívida. E, entre
sacrificar um contrato financeiro e sacrificar o contrato social,
que é constitucionalmente superior ao outro, o Governo Itamar
Franco não podia tomar outra decisão senão a de sacrificar o
compromisso financeiro em nome do compromisso social, com a
permanência do serviço público, com o não-fechamento de escolas e
hospitais e a manutenção da segurança pública. Aliás, onde está o
Governador do Espírito Santo, eleito pela grande mídia e, na época
desse episódio, o contraponto do Governo Itamar Franco? Por que a
mídia o esqueceu? Talvez porque Vitória tenha se transformado na
Capital mais violenta do País depois que foram feitos os cortes na
polícia, as demissões e as reduções de salários por meio de
disponibilidade remunerada. Talvez, quem sabe, por ter atrasado em
cinco meses o pagamento do funcionalismo público, em nome deste
bezerro de ouro que é hoje a prioridade das prioridades, na
política do Governo Federal: o pagamento de juros. Por essas
razões, talvez, é que se esquecem que o Governador do Espírito
Santo foi escolhido para ser o contraponto, aquele que faz o dever
de casa, que corta, que demite, tudo em nome do contrato
financeiro.
O Deputado Sebastião Navarro Vieira (em aparte) - Ilustre Líder do
Governo, Deputado Sávio Souza Cruz, a população mineira, hoje, já
tem visão bastante clara, que torna o discurso de V. Exa. inócuo.
O povo sabe que não houve moratória, que foi um gesto político tão-
somente, com graves repercussões para a economia mineira,
assustando investidores.
Lembro-me de que, na época, o nome do Sr. Alexandre Dupeyrat era o
mais citado pelos jornais e noticiários da França, por ter
anunciado que o Governo de Minas não honraria os eurobônus. Todos
sabemos que toda a dívida mineira foi paga, não havendo moratória
nenhuma. O povo mineiro sabe que Minas era administrável. O
Governador Itamar Franco, enquanto candidato, também sabia, pois
acompanhava a situação do Estado e não estava alheio à sua vida
política. Ele apregoou que honraria o pagamento dos servidores até
o quinto dia útil e que corrigiria os salários, dando aumentos que
o Governo anterior não havia dado. Se Minas não fosse
administrável, conforme a imagem que Itamar Franco quis vender, ao
assumir o Governo, Eduardo Azeredo não teria sido candidato e
lutado tão bravamente, com todas as suas forças, para continuar
gerindo o Estado. Se realmente ele tivesse essa bomba de efeito
retardado nas mãos, estaria fugindo dela, e não, lutando para
continuar com ela nas mãos. O povo mineiro já enxergou bastante
isso, Deputado Sávio Souza Cruz.
O Deputado Sávio Souza Cruz* - Deputado Sebastião Navarro Vieira,
agradeço seu aparte, que me dá oportunidade de fazer mais
esclarecimentos. A moratória foi fundamental, porque, até que se
processasse o primeiro bloqueio dos recursos de Minas Gerais, por
força contratual, havia de decorrer um prazo de 30 dias. O Governo
de Minas conseguiu prolongar esses 30 dias, através de uma liminar
na justiça, o que nos deu um fôlego de quase 90 dias, até que se
processassem os primeiros bloqueios. Esse vigoroso hiato de tempo
permitiu que não fosse interrompida a prestação de serviço público
em Minas Gerais, ou seja, a moratória foi fundamental para que o
Estado não entrasse em um colapso absoluto.
O ex-Governador Eduardo Azeredo sabia dessa situação e pretendia
enfrentá-la de uma maneira muito simples, como sempre fazia no
Governo, isto é, ele pretendia vender a COPASA e o restante da
CEMIG, com o que esperava levantar mais R$2.000.000.000,00,
aproximadamente o mesmo valor que conseguiu com as vendas que
processou em seu Governo. Foram R$2.000.000.000,00 extras que se
foram, assim como o patrimônio do povo mineiro.
A origem da dívida, respondendo ao Deputado Amilcar Martins, não é
tanto dos Governos pretéritos, mas dos juros da política
irresponsavelmente conduzida pelo partido de V. Exa. Não foram os
Srs. Pedro Malan e Gustavo Franco que descobriram que, com juros
altos e câmbio supervalorizado, consegue-se conter a inflação.
Qualquer manual de economia tem essa informação, mas, se se
virasse a página, saber-se-ia que essa política não pode ser
mantida por longo tempo. O Brasil de FHC foi o país que, na
história da humanidade - ou deveria dizer desumanidade -, praticou
a mais alta taxa de juros, pelo período mais longo de que se tem
notícia. Isso ocorreu para se colocar, à frente dos interesses do
País e de suas reformas fundamentais, o projeto pessoal da
reeleição de um Presidente da República que parece raciocinar da
seguinte forma: "Sou tão lindo, inteligente e culto, falo tantas
línguas, que não há nada mais importante para o País que eu.
Portanto, em nome de minha reeleição, vale qualquer coisa". Sendo
assim, esse projeto que, segundo o Presidente Fernando Henrique
Cardoso, é o principal para o País foi posto à frente, e essa
política foi irresponsavelmente prolongada, gerando a dívida que
V. Exa. menciona.
Sobre o salário de dezembro, V. Exa. talvez se tenha confundido ao
dizer que não poderia ser pago em dezembro. Claro que podia. Em
dezembro de 1999, foi pago o 13º salário de 1999. As dívidas com
os institutos de previdência foram negociadas em dezembro de 1998,
para se pagar a primeira parcela em janeiro de 1999, no Governo
Itamar Franco. Além de se tomarem mais de R$1.500.000.000,00 dos
institutos de previdência, deixando de repassar-lhes até os
recursos que são sacados do servidor, chegou-se ao último mês do
Governo e renegociou-se a dívida para o sucessor pagar, já sabendo
o resultado das eleições. Portanto, também essa dívida de
R$1.500.000.000,00 é herança do Governador Eduardo Azeredo.
Além disso, há os fundos do Estado, de legalidade duvidosa, os
R$200.000.000,00, que V. Exa., até por dever de lealdade,
reconheceu que foram jogados no caixa único, inclusive o FUNDEF.
O Deputado Amilcar Martins (em aparte)* - É a alegação do Governo.
O Deputado Sávio Souza Cruz* - As verbas retidas não foram cento e
poucos milhões, foram quase duzentos milhões. V. Exa. talvez não
esteja contabilizando as verbas retidas na administração indireta.
Os preços públicos contribuíram para o acréscimo de receita. Mas
V. Exa. talvez se tenha esquecido de mencionar que 1999 foi o
único ano na história deste Estado em que se reduziu a folha de
pagamento em relação ao ano anterior, sem que se procedesse ao
receituário prescrito pela política do Governo Federal, ou seja,
sem PDVs, sem demissões, sem disponibilidades remuneradas, apenas
com uma administração da folha, que foi feita na época em que eu
estava à frente da Secretaria da Administração e Recursos Humanos.
Isso nos permitiu um mínimo de fôlego para estar, agora,
anunciando um reajuste, que reflete, mais do que folga de caixa, a
nossa convicção de que é urgência maior o início da recomposição
das perdas salariais dos servidores públicos sobre qualquer outra,
sobre o fluxo do pagamento de dívida, porque a nossa prioridade, a
do Governo de Minas, é o povo mineiro. Para que o povo mineiro
tenha prestação de serviços públicos é preciso que se tenha os
servidores minimamente contemplados com dignidade, a fim de que
consigam sobreviver. Não é possível a prestação de serviços
públicos de qualidade num clima - como ocorreu no Governo passado
- de permanente agastamento, de confronto com os servidores
públicos.
Os números não mentem. No último ano do ex-Presidente Itamar
Franco, a União gastou com os servidores públicos
R$45.000.000.000,00. No ano passado, gastaram-se
R$50.000.000.000,00. O que houve com a dívida? No último ano do ex-
Presidente Itamar Franco gastaram-se com a dívida
R$29.000.000.000,00, pouco mais da metade do que se gastava com
pessoal. No ano passado, gastaram-se escandalosos
R$100.000.000.000,00. Portanto, o que se gastou com a dívida da
União no ano passado foi o dobro do que se gastou com os
servidores públicos. E ainda se insiste, por meio de altos
investimentos na mídia - este ano são R$650.000.000,00 -, em
vender para a sociedade que o mal de todo o desequilíbrio fiscal,
que a mãe de todos os problemas é a despesa com os servidores
públicos. Sabemos que isso não é verdade. O Brasil tem 9,3% da sua
população economicamente ativa no serviço público, considerados os
três níveis, federal, estadual e municipal. Os Estados Unidos, que
ninguém acusa de estatizantes, têm 14,5%; a Inglaterra, à época de
Margareth Thatcher, foi deixada com 21,5%; e a França tem 25%.
Portanto, o problema do nosso serviço público é, cada vez mais, o
empobrecimento dos outros entes federados. Hoje, de uma carga
tributária total de 31% no País, temos 1% nos municípios, 7% nos
Estados e 23% na União, em flagrante descompasso com o ditame
descentralizador da Constituição de 1988, em que a
responsabilidade pela prestação de serviços foi jogada para os
Estados e municípios, paradoxalmente, por meio de instrumentos
como o Fundo de Estabilização Fiscal, a Lei Kandir e agora com a
famigerada Desvinculação de Receitas da União - DRU -, que fere de
morte, por antecipação, qualquer reforma tributária que se queira
fazer no País, já que foi inserida no texto constitucional. Esses
recursos concentram-se na União para manter ininterrupto o
pagamento da dívida externa, e não para fazer frente às
necessidades do povo brasileiro.
Durante a crise do ano passado, o Governo Federal só não entrou em
moratória porque negociou, de emergência, um empréstimo com o FMI.
Como não é possível aos Estados terem acesso a esse tipo de
financiamento, a nossa opção era dramática: interromper o
pagamento do contrato com a União ou interromper as aulas, a
abertura de leitos hospitalares e a prestação dos mínimos serviços
de segurança. Portanto, agora que se anuncia um reajuste em Minas
Gerais, que causará um impacto de R$80.000.000,00 na folha,
ficamos atemorizados de que tenhamos ido além do razoável, além do
que o Tesouro permitiria que se fizesse numa análise meramente
técnica. No entanto, sabemos que ficamos aquém das necessidades.
Nesse dilema vive o Governo Itamar Franco, pois sabe que a nossa
prioridade é claramente essa, mas os meios estão muito aquém das
necessidades a atender.
Em vista disso, ainda assim, somos um contraponto cego, somos um
contraponto que incomoda, somos, em Minas, um governo que sinaliza
um rumo ao País, porque demonstramos que, ao contrário dos cavalos
sobre os manifestantes, ao contrário do Exército para conter os
pobres, os miseráveis, aqui isso não ocorre. Aqui a prioridade
está centrada no povo mineiro.
O Deputado Amilcar Martins (em aparte)* - Muito obrigado, Deputado
Sávio Souza Cruz, ouvi atentamente o seu pronunciamento e acredito
que V. Exa., efetivamente, não respondeu às questões fundamentais
que fiz: como uma dívida de curto prazo, de R$590.000.000,00,
transformada pelo Governador Itamar Franco nesse documento datado
de 2/99 em R$3.000.000.000,00, vira R$7.000.000.000,00 na sua fala
de ontem à noite? Acredito que V. Exa. não tenha respondido a essa
questão.
Gostaria de ser muito breve, mas devo dizer, também, a V. Exa. que
não vejo como o 13º salário de dezembro de 1998, que vence no dia
31 de dezembro pode ser pago ainda no mês de dezembro, se tem de
ser pago no mês de janeiro? Isso qualquer administrador público
sabe. Estou me referindo, na verdade, não ao 13º salário, mas à
folha de salário do mês de dezembro de 1998, que não poderia ter
sido paga no mês de dezembro de 1998, porque tem de ser paga no
mês seguinte, em janeiro.
V. Exa. reconhece os R$80.000.000,00 a mais na receita do Estado,
resultantes do aumento da tarifa de energia elétrica e do preço
dos combustíveis, e o impacto que se anuncia, que o aumento da
folha está tendo para o Governo do Estado, é de R$80.000.000,00.
Então, na melhor das hipóteses, o que o Governador Itamar Franco
teria feito seria pegar esse aumento de R$80.000.000,00 e repassá-
lo para os funcionários, mas não acredito que o impacto seja de
R$80.000.000,00, pois, na verdade, o aumento da receita foi
superior a R$80.000.000,00.
Ainda teria outros comentários a fazer, mas, como não há tempo,
essa é uma discussão que, com transparência, com respeito, de
forma democrática, vamos estar travando aqui. Agradeço a V. Exa. o
aparte que me concedeu.
O Deputado Sávio Souza Cruz* - Quero apenas dizer, Deputado
Amilcar Martins, que V. Exa. se esquece de considerar o repasse de
25% para os municípios. E o impacto não será de R$80.000.000,00,
não, ele rondará os R$90.000.000,00. Portanto, estamos indo além
daquilo que poderíamos, se fôssemos analisar tecnicamente a
questão, mas é um compromisso que temos com as nossas prioridades.
Em relação ao salário de dezembro, insisto que, em 1999, o salário
de dezembro de 1999 foi pago em dezembro de 1999, no mês em curso.
Pela primeira vez, aliás, desde 1993, o 13º salário de um ano não
era pago no mesmo ano. Em 1999, isso ocorreu, e, ainda assim, o
salário de dezembro foi pago em dezembro.
* - Sem revisão do orador.