DEPUTADO SARGENTO RODRIGUES (PDT)
Discurso
Comenta pronunciamento do Deputado Zezé Perrella sobre a atuação de
militares em episódio envolvendo a equipe de futebol do Cruzeiro Esporte
Clube e a torcida organizada, no Aeroporto Internacional Tancredo Neves,
no Município de Confins. Comenta a questão da violência no Município de
Belo Horizonte.
Reunião
107ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 16ª legislatura, 1ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 14/11/2007
Página 38, Coluna 3
Assunto SEGURANÇA PÚBLICA.
Aparteante ZEZÉ PERRELLA
Legislatura 16ª legislatura, 1ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 14/11/2007
Página 38, Coluna 3
Assunto SEGURANÇA PÚBLICA.
Aparteante ZEZÉ PERRELLA
107ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 1ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 16ª
LEGISLATURA, EM 6/11/2007
Palavras do Deputado Sargento Rodrigues
O Deputado Sargento Rodrigues - Sr. Presidente, Sras. Deputadas,
Srs. Deputados, público que nos acompanha pela TV Assembléia,
antes de tratar do assunto que me trouxe a esta tribuna gostaria
de rechaçar as palavras do Deputado Zezé Perrella.
Ilustre Deputado, a PMMG é uma polícia honrada, é uma polícia
séria, e os policiais dessa polícia não recebem dinheiro de taxas
que vão para o cofre público do Estado, o qual é administrado pela
Secretaria de Defesa Social. Portanto, deixo isso claro. Gostaria
que o ilustre Deputado Zezé Perrella estivesse presente para fazer
contraponto à minha fala.
Falaram sobre a ação de alguns policiais que foram ao aeroporto
para participar da chegada do Cruzeiro Esporte Clube, time do qual
este Deputado também é torcedor. Todavia, as coisas devem ser
separadas - “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”. A
ação da Polícia Militar deve ser respeitada, porque estamos
falando de uma polícia séria e comprometida. O Deputado deve estar
equivocado. Não estamos no Rio de Janeiro, onde parcela
considerável da Polícia Militar é corrupta. Estamos no Estado de
Minas Gerais, na terra de Joaquim José da Silva Xavier, da milícia
de Tiradentes. Não estamos no Estado do Rio de Janeiro, onde o
crime instalou o Estado paralelo.
Portanto, ficam rechaçadas as palavras ditas pelo Deputado Zezé
Perrella. Gostaria que ele, quando fosse referir-se à Polícia
Militar, que o fizesse com mais cautela e serenidade, porque é
essa polícia que, dia e noite, 24 horas por dia, ajuda, defende e
socorre a população de Minas Gerais, até com o sacrifício da
própria vida de seus militares. Talvez esse parlamentar não saiba,
mas, de janeiro de 2003 ao presente momento, já perdemos cerca de
122 servidores da segurança pública, que morreram no combate, que
morreram defendendo a população mineira. Por isso exigimos
respeito para com a Polícia Militar de Minas Gerais.
Outro tema, Sr. Presidente, que nos traz a esta tribuna refere-se
ao assunto levantado pelo Deputado Vanderlei Miranda, o qual é
muito pertinente para a data de hoje. Refiro-me ao assalto e ao
pânico havidos no Centro de Belo Horizonte, assalto que vitimou o
vendedor Charles Gonçalves Viana, de 25 anos, após ser ele baleado
na cabeça, no início da tarde de ontem. O assalto foi a uma loja
de informática na Rua Tupis, no Centro da cidade.
Dois homens renderam os funcionários, que foram levados para o
banheiro, após roubarem seus celulares. O rapaz baleado teria
pedido a um dos ladrões que lhe devolvesse o “chip” de seu
aparelho, pois continha informações pessoais. A resposta foi um
tiro de pistola na cabeça. Em seguida, os dois criminosos fugiram,
correndo, não sem antes pegar cerca de R$400,00 do caixa da loja.
O jornalista Tiago Herge, autor de matéria do dia 6 de novembro
do jornal “Estado de Minas”, no último parágrafo da reportagem,
transcreve as palavras de uma das funcionárias: “Achei que eles
não fossem atrás da gente. Ninguém reagiu, não precisava disso”. E
acrescenta: “Traumatizada, ela ainda chorou por mais de 3 horas
depois do assalto. Parte da unha do dedão do pé esquerdo de
Charles foi arrancada por um chute de um dos ladrões. Pai de um
bebê de 6 meses e uma criança de 2 anos, ele trabalhava há 30 dias
na loja.”
Deputado Vanderlei Miranda, o que acontece em nosso imenso Brasil
é uma inversão de valores.
É a impunidade. Esse rapaz, que estava trabalhando, é pai de uma
criança de 6 meses e de uma outra de 2 anos; daqui a um ano,
ninguém mais se lembrará do ocorrido. Mas, Deputado Vanderlei
Miranda, nesta mesma Casa, há vários Deputados que concordam em
passar a mão na cabeça de bandidos, de criminosos. O mesmo
acontece na Câmara dos Deputados, no Senado Federal, na OAB, no
Ministério Público e no Judiciário.
Esse cidadão, que praticou esse crime bárbaro, deixou o pai
dessas duas criancinhas inválido, na mesa do CTI, para se submeter
a uma cirurgia que provavelmente o deixará sem condições.
Infelizmente, Deputado Getúlio Neiva, daqui a um ano, ninguém mais
se lembrará desse cidadão. Aí esse mesmo moço pede para entrar no
sistema de reintegração social, na ressocialização de presos.
Encontraremos muitas autoridades passando a mão na cabeça de
pessoas como essa. Encontramos essa situação no dia-a-dia.
Infelizmente, estamos vivendo uma inversão de valores.
Na semana passada, disse sobre os 10 mil processos de menores
infratores - criminosos perigosos que estão matando -, que foram
simplesmente esquecidos nas gavetas. E, pela passagem do tempo,
esses processos acabaram caducando. Perderam o seu tempo de
validade durante o curso processual, conforme determina a lei.
Esses 10 mil processos de menores infratores, que envolvem vários
homicídios praticados, latrocínios e estupros, perderam a
validade. No entanto há gente que acha uma pena de delito, seja de
ato infracional, seja de crime praticado por adulto, que a pena
menor de três anos, para quem mata cinco, três ou duas pessoas, é
uma pena justa. Temos muitas autoridades que defendem isso. O que
aconteceu ontem é uma demonstração do estrago da degradação social
que estamos vivendo, mas, acima de tudo, da inversão de valores,
em que os bandidos fazem e acontecem. Isso está muito claro. Vou
ler a matéria que foi publicada no dia 25 de outubro, no jornal de
Uberaba, com o seguinte dizer: “Na manhã de ontem, no auditório da
Aciu, aconteceu uma aula inaugural do curso superior de Tecnólogo
em Produção Sucroalcooleira, firmado em pareceria com a
Universidade de Uberaba - Uniube - e a Penitenciária Professor
Aluísio Ignácio de Oliveira. Os alunos são os `cidadãos privados
de liberdade do Município de Uberaba, reclusos nesta unidade
prisional´, conforme convite que recebi, agradeço, mas rasguei. Em
palavras de fácil entendimento, o convite diz: `Os alunos são
bandidos perigosos que foram recolhidos à cadeia porque cometeram
crimes, alguns bárbaros, mas que vão cursar faculdade com o
dinheiro das próprias vítimas´. Estou cansado de ver injustiças e
não vou aplaudir mais esta. Eu me sinto constrangido em saber que
alguém vai ver a foto que ilustra a coluna e vai descobrir que o
assassino de um ente querido, ao invés de ser punido, foi
contemplado e vai cursar faculdade. O mesmo acontece com quem foi
vítima de roubo. Imagine você que foi assaltado e agora está vendo
na foto o homem que o assaltou. Não posso. Não tenho mais tanta
coragem. Na cadeia há mais oportunidade que aqui fora. O crime
compensa. Não tenho mais dúvidas de que estar preso faz crescer,
ficar forte e até curso universitário. Não que eu seja contra.
Todo preso deve ser tratado com respeito e dignidade. E nós? Como
devemos ser tratados? Onde estão os nossos direitos à saúde,
segurança, educação, etc.? Os bandidos nos tratam com respeito e
dignidade? Nós pagamos impostos e não temos sequer o mínimo
necessário para sobreviver de forma decente”.
Portanto essa matéria do jornal de Uberaba traduz o sentimento do
cidadão, do cidadão que está indignado, que assiste à televisão e
lê, pela imprensa escrita, o que os bandidos fazem com as vítimas.
Mas, depois, vemos muitas autoridades passar as mãos na cabeça dos
bandidos. Após um ano, quem se lembrará do balconista da loja de
informática? Ninguém mais se lembrará dele. O cidadão poderá ser
preso, encaminhado ao Ministério Público e processado na forma da
lei, mas, depois, será beneficiado pela Lei de Execução Penal, que
é uma gracinha e maravilhosa. O cidadão é condenado a uma pena de
12 anos por roubo e tentativa de homicídio, mas cumprirá um sexto
da pena. O Deputado Luiz Tadeu Leite conhece muito a matéria.
Depois de dois anos de cumprimento de pena, o condenado passará
para o regime semi-aberto e logo ganhará as ruas, mas as crianças
de seis meses e de dois anos ficarão órfãs do pai, que estava
trabalhando.
Essa matéria publicada no jornal de Uberaba demonstra o
sentimento do cidadão que não deseja a impunidade. Enquanto isso,
assistimos a algumas autoridades dizer que as leis do Brasil são
boas e maravilhosas. Elas são maravilhosas e boas para proteger os
bandidos.
O Deputado Zezé Perrella (em aparte) - Prezado Deputado, em
momento algum disse que o dinheiro vai para a Polícia Militar,
como V. Exa. expôs. Disse que pagamos uma taxa de policiamento.
Obviamente, esse dinheiro vai para os caixas do Estado. Talvez,
com parte desse dinheiro, os policiais tenham tido os seus
salários reajustados. Então, de maneira indireta, esse dinheiro
vai, sim, para a Polícia Militar.
O senhor disse que pessoas ruins e boas são encontradas em todos
os segmentos da sociedade. Isso acontece também no meio esportivo.
Há também médicos e engenheiros sem-vergonha, como há políticos e
policiais corruptos e desonestos. Desejo crer e creio que a grande
maioria não seja assim e tenho em relação a V. Exa. o melhor dos
conceitos. Não sei se V. Exa. ouviu, mas disse que a PMMG é uma
das melhores do Brasil.
V. Exa. disse também que passamos as mãos na cabeça dos bandidos,
mas está passando as mãos nas cabeças dos maus policiais. V. Exa.
não presenciou o episódio ocorrido em Confins, em que os policiais
se limitavam a rir enquanto os nossos jogadores eram agredidos. Se
V. Exa. considera esses policiais bons, eu acredito que esteja na
hora de se fazer uma reciclagem.
Reitero mais uma vez que disse que a PMMG é a única que cobra
taxa de policiamento. As outras polícias do Brasil inteiro não
cobram essa taxa. O Governador busca meios legais para resolver
esses problemas. Somente no ano passado foram recolhidos
R$1.000.000,00. Gostaria de crer que esse dinheiro, de uma forma
ou de outra, retornará à polícia, seja por meio de melhores
salários, seja de que jeito for. Em momento nenhum generalizei
isso, pois tenho respeito pela polícia.
Gostaria de saber se V. Exa. acredita ser normal um Capitão da
polícia bater em uma criança de 8 anos, como aconteceu com o meu
filho no Mineirão. Se isso for normal, só tem gente boa na Polícia
Militar. Obrigado.
O Deputado Sargento Rodrigues - Agradeço as palavras do ilustre
Deputado Zezé Perrella. Concordo com V. Exa. quando diz que há
Deputados sérios e honrados e também os que, às vezes, não fazem
por merecer tratamento respeitoso por parte daqueles que os
elegeram.
Na Polícia Militar, isso não é diferente. Do ponto de vista
sociológico, não há sociedade sem desvio de conduta. Portanto, a
polícia não será exceção à regra. Há desvio de conduta na
magistratura, no Ministério Público, no Parlamento, na advocacia e
em todas as classes sociais e de trabalhadores, mas não podemos
permitir que as pessoas que nos ouvem entendam que se os policiais
militares recebessem o dinheiro não teriam praticado essa ação.
Tamanha foi essa impressão que recebi dezenas de telefonemas em
meu gabinete para que ocupasse esta tribuna. Eu já estava inscrito
para tratar desse outro assunto, que V. Exa. ouviu em minha
intervenção. Comungo com V. Exa., mas não passo as mãos na cabeça
de policiais corruptos e que estejam em desvio de conduta.
Se V. Exa. observar, verá que há uma audiência marcada na
Comissão de Segurança Pública, que presido, para o dia 21, em que
solicitaremos explicações do Comandante de Ribeirão das Neves,
porque disse no jornal local que haveria policiais recebendo
dinheiro para não multar perueiros. Portanto, está convocado para
comparecer à Comissão para explicar e para que seja apurado
rigorosamente o desvio de conduta relatado. Caso não o faça, será
ele o indiciado por prevaricação e omissão.
Quanto à taxa cobrada, V. Exa. há de convir que foi enviado a
esta Casa pelo Governador Aécio Neves um projeto que foi votado
por este Plenário, e eu estava presente. Portanto, não se trata
dos policiais nem a Polícia Militar. Essa taxa é endereçada ao
caixa único do Estado, a qual o Governador vem usando para
logística e não para pagamento de servidores. Até porque usá-la
para pagamento de servidores, seja da Polícia Civil, seja da
Polícia Militar, não é uma lógica justa.
Em respeito aos outros oradores, já concluirei. Tenho certeza
absoluta de que a maioria esmagadora da nossa corporação da PMMG é
composta por homens e mulheres sérios e honrados. E, diga-se de
passagem, a nossa PM é o único braço do poder público que, durante
24 horas por dia, socorre, assiste e defende a população, o
cidadão mineiro. Obrigado.