DEPUTADO SARGENTO RODRIGUES (PSB)
Discurso
Comenta a área de segurança pública.
Reunião
281ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 14ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 25/09/2001
Página 17, Coluna 4
Assunto SEGURANÇA PÚBLICA.
Aparteante Kemil Kumaira.
Legislatura 14ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 25/09/2001
Página 17, Coluna 4
Assunto SEGURANÇA PÚBLICA.
Aparteante Kemil Kumaira.
281ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 14ª
LEGISLATURA, EM 13/9/2001
Palavras do Deputado Sargento Rodrigues
O Deputado Sargento Rodrigues - Sr. Presidente, Srs. Deputados,
há vários anos convivemos, mesmo que à distância, com os conflitos
no Oriente Médio. De tanto vermos o assunto estampado na imprensa,
não somos mais capazes de nos indignarmos como diante do ocorrido
nos EUA.
Ao mesmo tempo, a fome e a miséria da África chegam a nos
revoltar mais que a fome e a miséria do vale do Jequitinhonha, que
as cenas de crianças trabalhando em carvoarias e pedindo esmolas
em sinais de trânsito.
Os fatos ocorridos nos EUA dão uma demonstração de que precisamos
acordar. Foi preciso que acontecesse uma tragédia de tamanhas
proporções para que o país mais poderoso do mundo se desse conta
de que não é inatingível, de que é preciso repensar estratégias,
ações e valores. Fazendo uma comparação simbólica, é assim que
reage o ser humano. Na maioria das vezes, se julga inatingível e
só se manifesta quando algo acontece com ele ou com alguém próximo
dele.
Desde que entrei nesta Casa, tenho ocupado esta tribuna chamando
a atenção de todos para o problema da segurança pública,
especialmente em nosso Estado. Esperaremos que aconteça conosco
para tomarmos uma atitude? Será preciso que se estabeleça o caos
para entrarmos em estado de alerta? Já é tempo de recuperarmos
nossa capacidade de indignação diante de fatos como o
desaparecimento da bancária Daniela e de inúmeras outras pessoas;
o caso do “maníaco do Opala”, que confessa, com tamanha frieza, o
assassinato de mulheres; ou mesmo os casos da menina Míriam
Brandão e da menina Ozana, assassinada no Bairro Tejuco, região de
Esmeraldas.
Estamos perdendo a batalha contra a violência, o crime organizado
e o tráfico de drogas. É gritante a necessidade de mudanças de
atitude dos Governos, das polícias e do povo.
Se nem mesmo os policiais estão seguros, que dirá a população? Só
nesta semana, uma viatura do Grupo de Operações Especiais da
Polícia Civil de São Paulo explodiu na porta de uma delegacia e,
em dois militares foram mortos e um está ferido, em estado grave,
no HPM.
O primeiro caso ocorreu em 9/9/2001, às 3 horas da madrugada. O
Soldado Andrenge Luiz Fausto foi vítima de tocaia quando passava
dirigindo seu próprio carro, sendo executado com vários tiros à
queima-roupa. Andrenge ainda foi socorrido com vida por outros
militares que compareceram ao local, após serem acionados por uma
testemunha do crime, mas morreu ao dar entrada no posto de saúde
da cidade. Após rastreamento, Luiz Fernando da Silva foi preso e
identificado por testemunhas, tendo confessado a autoria do crime.
Os motivos que o levaram a matar o policial militar ainda não
foram totalmente esclarecidos. Foi encontrada com ele uma quantia
em dinheiro, aproximadamente R$430,00, e não soube explicar a
origem. Em sua residência, foi encontrado um documento de doação
de um terreno que, conforme declarou, seria a recompensa pelo
crime. Porém, o acusado se contradisse e não conseguiu explicar a
verdadeira origem dos materiais apreendidos. Também foi apreendida
uma arma supostamente usada no crime, um revólver calibre 38 e
cinco cartuchos deflagrados. Existe, portanto, a possibilidade de
ter sido um crime encomendado. Porém, o suposto mandante ainda não
foi identificado. Isso ocorreu na cidade de Fronteira, no
Triângulo.
No dia 11/9/2001, na cidade de Centralina, no Triângulo, às
19h30min, o Soldado Hélio de Paula Silva, de 45 anos, estava em
patrulhamento como motorista da viatura, juntamente com o Cabo
Carlos Antônio Dias, quando foram abordar dois elementos que
haviam acabado de furtar uma moto. Ao se aproximarem, os militares
foram recebidos a bala, tendo um tiro acertado fatalmente o
Soldado Hélio nas axilas. Hélio era um homem muito querido por
toda a população local. A moto foi recuperada, mas os indivíduos
conseguiram fugir.
Na noite de ontem, o Sargento Geovandro estava de folga, em um
bar, na região de Contagem, quando dois homens e uma mulher
entraram e anunciaram o assalto. Um dos homens passou a revistar
todos os que estavam no bar. Antes que fosse revistado, o Sargento
reagiu. Houve troca de tiros, e o militar foi atingido por dois
disparos. Está internado em estado grave no HPM.
Sr. Presidente, Srs. e Sras. Deputados, em nossa primeira
manifestação, comentamos o episódio ocorrido nos Estados Unidos.
Muitas vezes, ocupamos esta tribuna para falar sobre a violência e
a criminalidade, que estão aumentando em nosso Estado.
Infelizmente, as pessoas não estão se sensibilizando para isso,
porque a vida está sendo banalizada. Está sendo publicado em todos
os jornais o caso da bancária Daniela, mas nenhuma medida mais
efetiva está sendo tomada a fim de que haja solução não só para
esse, mas também para outros casos que ocorreram na Capital. O
maníaco do Opala cometeu vários crimes e agora foi preso. Mas
várias vidas foram ceifadas.
Precisamos contar com o Poder Executivo, especialmente com o
Secretário Márcio Domingues e com o Comandante-Geral da PM. É
preciso que haja vontade política por parte do Governador Itamar
Franco, a fim de que possamos investir na segurança pública e sair
da inércia. Em vários municípios do interior muitos destacamentos
não possuem sequer uma viatura. Aí, quando ocorre um crime
bárbaro, ficamos apreensivos. Muitas vezes o cidadão só se dá
conta da gravidade da situação quando um ente querido - filho,
filha, irmão, pai ou mãe - sofre ação violenta por parte de
marginais. Somente assim é que entendemos que tal fato pode também
acontecer conosco.
Um companheiro indagou-me sobre o teor do meu pronunciamento
nesta tribuna. Disse-lhe que era sobre a segurança pública.
Perguntou-me: “De novo?” Ao responder-lhe que sim, quis saber o
porquê. A resposta é simples: estamos vendo o crime crescer. Há
poucos dias, foram apreendidos 260kg de cocaína em Iturama, que
fica próxima ao Município de Frutal, no Triângulo. O narcotráfico
vem crescendo assustadoramente. Tivemos a felicidade, Deputado
Paulo Piau - por meio do trabalho realizado juntamente com a
chamada força tarefa da CPI do Narcotráfico, ou seja, com a
Polícia Federal, com o Ministério Público, com o Poder Judiciário
-, de ter a notícia de que o Turcão, grande traficante do
Triângulo, foi preso, graças a um mandado de prisão expedido pela
Comarca de Itapagipe. Nós, Deputados, solicitamos a sua prisão
preventiva, que foi decretada, e ele foi preso.
Tivemos essa apreensão de 260kg de cocaína. Temos de acordar. O
narcotráfico vem, cada vez mais, invadindo as nossas escolas, as
faculdades, toda a periferia, e não estamos tendo uma resposta
imediata.
É preciso que algo de concreto seja realizado. Estamos com vários
projetos nesta Casa para serem votados, como, por exemplo, a
Emenda à Constituição nº 33. Já ocupei esta tribuna várias vezes,
tentando sensibilizar o Governador Itamar Franco e o Presidente
desta Assembléia quanto a essa emenda, para promover a integração
do aparelho policial.
Mas nada é feito. Todos estão na inércia. Mas eu não posso ficar
na inércia. É por isso que, insistentemente, ocupo esta tribuna.
Muitas vezes, meus companheiros ficam perguntando se vou falar, de
novo, sobre segurança pública. De novo, porque não estamos vendo
medidas concretas sendo tomadas. Além disso, nesta Casa, não havia
de fato um Deputado que tivesse uma preocupação mais extremada com
a questão da segurança pública. E, nesta legislatura, a questão
tomou outra proporção, pois são vários os companheiros
preocupados. Mas é necessário receber contribuição maior daqueles
que, de fato, detêm o poder de decisão. Precisamos aprovar
projetos nesta Casa, mas, infelizmente, temos de ter decisões
políticas por parte do Executivo.
O Deputado Kemil Kumaira (em aparte)* - Ilustre Deputado Sargento
Rodrigues, gostaria de cumprimentá-lo pelo seu pronunciamento e
pela sua demonstração de indignação com a inércia do Governo do
Estado em relação a esse problema grave que vive o nosso Estado.
Se alguém chegasse à Assembléia durante o período de discussões
nesta tarde, provavelmente estaria envolvido numa grande dúvida:
qual é a bancada da Oposição e qual é a bancada de sustentação do
Governo nesta Casa? Digo isso porque, coincidentemente, dos
Deputados que se manifestaram aqui hoje, praticamente todos
defenderam uma maior participação do Governador Itamar Franco na
solução de questões que afligem a população mineira.
Ainda há pouco, esteve nesta tribuna um médico, o Dr. Carlos
Pimenta, Deputado do Norte de Minas, que mostrou a ineficiência, a
omissão do Governo do Estado quanto a questões básicas da saúde
pública em Minas Gerais. Anteriormente, esteve nesta tribuna o
Deputado Alencar da Silveira Júnior, que falou sobre a falta de um
trabalho eficiente por parte do DER na busca de solução para uma
questão que se vem arrastando e que tem ceifado vidas devido à
ineficiência do Governo. Enfim, chega V. Exa., um Deputado que
demonstrou, desde o primeiro dia, sua preocupação em trazer para
esta Assembléia o debate da segurança pública em nosso Estado.
Vejo que V. Exa. continua num trabalho árduo, espinhoso, mas que
não tem sido ouvido pelo Governador do Estado, até mesmo porque o
Governador Itamar Franco tem demonstrado pouca aptidão para o
Governo. Em outro país, talvez, já tivesse ele sido denunciado por
crime de responsabilidade, pelo fato de abandonar o nosso Estado,
de deixá-lo nesse caos, numa forma cada vez mais cruel de mostrar
o seu desapreço pelos mineiros.
Nosso Estado vive, em determinadas situações, como se tivesse se
abatido sobre nós um ato de selvageria de um Governo que não tem,
acima de tudo, aquilo que é fundamental, a sensibilidade. O
Governador do nosso Estado é um homem insensível, até porque não
basta nós, Deputados, virmos aqui denunciar esse ou aquele
Secretário, dizer que o Comandante-Geral da PM não tem,
sabidamente, resolvido o problema da segurança em Minas Gerais,
porque falta, exatamente, o comandante maior, aquele que foi
eleito pelo povo para dar as diretrizes de como se deve atacar
esses problemas.
Concluo dizendo, mais uma vez, que Minas Gerais não tem
Governador; tem um homem que abandonou, por definitivo, sua
obrigação de governar o Estado.
O Deputado Sargento Rodrigues - Quero agradecer o aparte do nobre
companheiro Deputado Kemil Kumaira e dizer que sempre estive na
base de Governo. Mas isso não impede o Deputado de, antes de ser
base de Governo, ser base do povo, porque a mim não interessa base
de Governo, Situação ou Oposição, mas os reais interesses do povo
de Minas Gerais. Quero fazer algumas considerações a respeito do
Governador Itamar Franco.
Gostaria de deixar claro que não posso, como base de Governo,
negar algumas deficiências. Por outro lado, temos de ressaltar
que, quanto ao servidor público da segurança pública, o Governador
tem feito, mas ainda falta. Os policiais militares e civis, hoje,
gozam de remuneração muito melhor do que no Governo anterior.
Temos de fazer essa justiça ao Governador. Mas faltam
investimentos e é necessário que haja compromisso para com a infra-
estrutura das duas polícias.
Precisamos, também, de aprovar leis. A Assembléia precisa
contribuir para que, de fato, possamos melhorar um pouco mais a
segurança pública e dar um pouco mais de esperança ao povo de
Minas Gerais. Muito obrigado.