DEPUTADO SARGENTO RODRIGUES (PL)
Discurso
Informa a morte de Assuero Victor Cabral, cabo da Polícia Militar do
Estado de Minas Gerais - PMMG -, enfatizando a necessidade de política
de proteção ao pessoal da área de segurança pública.
Reunião
99ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 14ª legislatura, 1ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 08/12/1999
Página 38, Coluna 3
Assunto SEGURANÇA PÚBLICA.
Aparteante Miguel Martini, Elaine Matozinhos.
Legislatura 14ª legislatura, 1ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 08/12/1999
Página 38, Coluna 3
Assunto SEGURANÇA PÚBLICA.
Aparteante Miguel Martini, Elaine Matozinhos.
99ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 1ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 14ª
LEGISLATURA, EM 30/11/1999
Palavras do Deputado Sargento Rodrigues
O Deputado Sargento Rodrigues - Sr. Presidente, Srs. Deputados,
Sras. Deputadas, público presente, cumprindo o nosso papel de
vigilante da segurança pública, cumprindo o compromisso assumido
com a bandeira da segurança pública, vimos, com muito pesar,
comunicar que, mais uma vez, tivemos a perda de um policial
militar defendendo a nossa querida sociedade mineira. Portanto,
não poderia deixar de vir a esta tribuna, a fim de deixar bem
claro como a vida desses policiais, desses servidores da segurança
pública está sendo banalizada a cada dia. Enquanto ouvia
atentamente as palavras da Deputada Elbe Brandão, que comentava os
acidentes de trânsito no Norte de Minas, pensava como a vida está
banalizada, principalmente do nosso servidor da segurança pública.
O Cabo Assuero Victor Cabral foi enterrado ontem no cemitério
Bosque da Esperança. Esse policial foi atingido por dois disparos,
quando foi chamado para verificar dois suspeitos, em uma moto, nas
proximidades de uma casa lotérica, na Av. Isabel Bueno, nº 1.340,
na região Norte da Capital. Esse policial, que foi abordar os dois
suspeitos, infelizmente, não tinha uma arma na mão.
Não tinha uma arma para fazer frente ao crime, que vem crescendo.
Uma arma que deveria estar nas suas mãos, e que não sabemos porque
não estava. Não sabemos se ele estava epreocupado com o Natal que
está por chegar, ou será que estava preocupado com os grupos que
vêm batendo de frente com a polícia? Hoje o policial pode abordar
uma pessoa suspeita com a arma na mão. Temos essa preocupação,
diante do caso do Cabo Assuero Victor Cabral e do Capitão Zinato,
que também foi atingido com um tiro; felizmente não perdemos mais
um policial porque ele estava de colete.
Ontem, pudemos pessoalmente constatar que, do tiro que o Capitão
levou, havia uma marca profunda na região toráxica, ou seja, não
perdemos mais um policial, porque ele estava de colete. Vimos
aqui, mais uma vez, denunciar que a segurança pública, na verdade,
não consegue fazer a própria segurança.
O nosso policial militar está numa situação difícil, e não me
cansarei; virei a esta tribuna, quantas vezes forem necessárias,
denunciar que a vida do servidor de segurança pública, seja ele
policial civil, policial militar, rodoviário ou federal, está
sendo banalizada, porque infelizmente não é dado a esse servidor,
a esse guardião da comunidade, o mesmo respeito, a mesma atenção
que é dispensada aos outros.
O policial deixou a viúva Jane Maria Mourão e três filhos: Victor
Mourão de Oliveira Cabral, de 14 anos; Rafael Mourão de Oliveira
Cabral, 13 anos; e Rosana Maria Mourão Cabral, 11 anos.
Venho aqui com muita tristeza, e daqui a pouco concederei um
aparte ao nobre Deputado Miguel Martini, que esteve comigo no
cemitério, onde constatamos várias escolas presentes, e suas
crianças com cartazes, manifestando tristeza pela perda daquele
policial. Um policial exemplar, que, durante 13 anos, dedicou-se a
sua carreira como o servidor público tem que fazer: foi um
guardião da comunidade mineira.
As próprias crianças e a população estavam, no enterro, cobrando
das autoridades uma segurança melhor, mas, acima de tudo,
gostaríamos que aquele policial estivesse vivo.
Numa dessas cobranças, detectamos um manifesto que a população
dessa região fez questão de tornar público junto à imprensa
presente naquele local e fez também questão de distribuir a todos
os policiais militares e à população civil que lá se encontrava.
Ficamos admirados - e tenho a certeza que vai ser confirmado aqui
pelo Deputado Miguel Martini -, pois lá a população civil era
grande e gostava muito daquele policial. Não poderia deixar de ler
o manifesto, que diz o seguinte: (- Lê:)
"Belo Horizonte, 29 de novembro de 1999. Manifesto aos órgãos de
imprensa. Nós, comerciantes, trabalhadores e cidadãos do Bairro
Jaraguá e redondezas, vimos manifestar o nosso mais profundo
sentimento pela perda do policial Cabral, um homem a quem
aprendemos a respeitar e admirar pelas suas qualidades de policial
e ser humano.
Queremos, nesta oportunidade, perguntar aos órgãos e entidades
responsáveis pela punição dos bandidos que rondam as comunidades,
tirando a vida e abusando dos trabalhadores. Onde estão os
direitos humanos para socorrer essas pessoas que estão diante
desses bandidos? Cidadãos e policiais sem direito à própria
defesa, mantendo a vida sob constantes riscos. Queremos dar um
basta a essa situação de terror que a sociedade vive.
Enquanto pessoas de bem passam fome, bandidos são alimentados com
impostos que pagamos e que deveriam ser empregados em quem de
direito merece e necessita. Sem mais para o momento manifestamos
aqui a nossa indignação por esse dito direito humano."
Gostaria de fazer uma ressalva a esse manifesto. Entendemos a
preocupação da população e entendemos que isso é um clamor
público. Este Deputado tem vindo à tribuna e denunciado que a
segurança pública precisa passar por melhorias. Mas, acima de
tudo, se o policial que está fazendo a ronda na madrugada não tem
um colete para se proteger, não tem um rádio de comunicação, não
tem uma viatura, mora na periferia, ao lado do bandido, esse
policial precisa ter dignidade.
E não vou cansar de defendê-los enquanto for Deputado, enquanto
aqui estiver, porque esses homens também são seres humanos, também
têm direitos humanos que precisam ser vistos da mesma forma e
pesados na mesma balança por quem quer que seja: Comissão de
Direitos Humanos desta Casa, da Câmara Municipal, da Câmara
Federal ou qualquer organização não governamental.
Aquele policial deixou esposa e filhos. Sentimos isso na pele.
Temos a certeza de que o Deputado Miguel Martini, quando lá
esteve, sentiu também, pois viu a esposa e a mãe daquele policial
em prantos. E não sabemos como acalentar aqueles filhos, não
sabemos que tipo de palavra de conforto podemos levar-lhes. Nesse
momento, acabo até me emocionando, porque a vida do nosso policial
está sendo banalizada.
Fica aqui a recomendação do Deputado Sargento Rodrigues, um
Deputado que trabalhou 14 anos na Polícia Militar, um Deputado que
passou 9 desses 14 anos na rua, e que teve também um de seus
patrulheiros baleados por um bandido. Ficou paraplégico, preso
numa cadeira de rodas. Policiais, abordem com arma na mão. O
policial tem de se precaver porque, se não der segurança a si
mesmo, como vai dar segurança a quem quer que seja? Quem está na
linha de fogo é o policial, quem está em dificuldade é ele.
Policial não tem bola de cristal, e a polícia não dispõe de
mecanismos técnicos para que, antes de uma abordagem, possa prever
que aquele cidadão vai tirar a sua vida.
O Deputado Miguel Martini (em aparte) - Deputado Sargento
Rodrigues, quero agradecer a V. Exa. e dizer que estávamos lá,
ontem, por ocasião do enterro do companheiro Assuero, que é irmão
da nossa comunidade. A sua família toda é do nosso relacionamento
no Bairro Jaraguá. Aproximadamente há cinco meses, no mesmo
bairro, na mesma comunidade, os mesmos bandidos, ou seja, com o
mesmo "modus operandi", invadiram um boteco, assaltaram, voltaram
dois ou três dias depois, roubaram e mataram o dono. Foi feita uma
manifestação e, diante disso, fomos ao Comandante-Geral da Polícia
Militar, que se dispôs a fazer um trabalho naquela região. Fomos à
Polícia Civil, porque ali existe uma "boca-de-fumo" chamada Saigon
ou Camboja, algo assim, um lugar violento de venda de drogas.
O grave não foi tanto a violência, mas o requinte de crueldade: as
coronhadas que deram no rosto dele, os chutes que deram com ele
caído no chão. E quem estava ali protegendo a sociedade? Um único
cidadão, um Cabo despreparado em termos de equipamento; não tinha
um colete protetor, nem sei quanta munição tinha na arma. Percebeu
o assalto que ia ocorrer, chamou reforço, veio o reforço; os
bandidos esconderam-se, esperaram a polícia sair e se vingaram.
Mais que isso, saíram atrás, porque os dois conseguiram fugir. A
polícia conseguiu fechá-los. Mataram um outro cidadão, atiraram no
carro e ainda tentaram matar o comparsa que a polícia conseguiu
prender. É uma violência que já está num nível insuportável. No
passado, a polícia era respeitada; hoje, nem isso está
acontecendo. Ficamos nos perguntando: se fossem dois policiais com
colete protetor, devidamente armados, provavelmente o Assuero não
estaria morto neste momento, porque isso intimidaria os bandidos.
O que estamos vendo é uma violência crescente, uma violência que
se propaga cada vez mais, e alguma coisa o Governador Itamar
Franco tem de fazer. Ele tem de dar uma atenção a essa situação.
Falo isso com muita tranqüilidade: pelos contatos que tenho na
Polícia Militar, ainda creio que temos uma das melhores polícias
deste País, mas ela precisa, de fato, estar aparelhada para dar
segurança.
Naquela região há muitos ataques, é uma região de enorme
violência. Fica aqui o nosso lamento. Parabéns a V. Exa., que
estava lá como representante da classe. Quero registrar a presença
do Comandante-Geral da Polícia Militar, que foi dar seu apoio ao
Cel. Severo. Tenho a certeza de que, conforme conversa que tive
depois, fica sempre mais um alerta: a sociedade precisa de
segurança. Precisamos aparelhar bem os nossos homens para que
possam oferecer essa segurança. Precisamos lhes oferecer todo o
respaldo, pois, caso contrário, teremos uma inversão: os bandidos
dominarão.
A Deputada Elaine Matozinhos (em aparte)* - Nobre Sargento
Rodrigues, gostaria de fazer coro com a voz de V. Exa., à voz da
comunidade que lamenta o falecimento do policial Cabral. O
Deputado Miguel Martini está coberto de razão. É o momento que
temos para trabalhar de outra forma a questão da segurança
pública. Não é a primeira, a segunda nem a terceira vez em que V.
Exa. ocupa a tribuna. Lamentavelmente, em algumas oportunidades,
também estive aí para denunciar, para mostrar à sociedade que os
nossos policiais estão morrendo na mão de bandidos.
A luta é importante, e gostaria que V. Exa. estivesse com muita
firmeza, porque penso que a Casa pode e deve trabalhar a questão
da segurança pública com a seriedade que merece.
Todos vamos estar, se Deus quiser, buscando, reivindicando a
criação da Comissão de Defesa Social, para que a segurança pública
seja tratada enquanto segurança pública, enquanto política
pública, sem nenhuma outra ingerência, sem outra interferência
como a que a tem deturpado e, às vezes, desestabiliza as
instituições. Parabéns a V. Exa.
Quero deixar, mais uma vez, a minha solidariedade à família.
Finalizando, querido Deputado, quero pedir a Deus que abençoe os
nossos policiais, porque, hoje, quando a rua está cheia de
bandidos e de violência, ainda há quem nos defenda.
O Deputado Sargento Rodrigues - Agradeço o aparte da nobre colega.
Gostaria de dizer que contarei com o apoio dos demais pares desta
Casa, porque a questão da segurança pública diz respeito a todos
nós, a todos os Deputados e a toda a sociedade.
Tenha certeza, Deputada Elaine Matozinhos, de que sempre estarei
atento, vigilante, denunciando e defendendo a idéia de que o nosso
policial também tem direitos humanos, que a sociedade que
trabalha, a sociedade de bem tem que ter os seus direitos
respeitados aqui. E, enquanto aqui estivermos, estaremos cobrando,
acima de tudo, a Comissão de Defesa Social. Mais que nunca ela tem
de voltar a existir nesta Casa, para que seja o foro adequado para
tratar as questões de defesa civil e de segurança do nosso Estado.
Gostaria de deixar, Sr. Presidente, o meu último apelo e a minha
última frase: aqui defenderemos o direito à vida, mas o direito à
vida de todos, seja policial ou qualquer cidadão. Qualquer um, sem
discriminação: estaremos defendendo, acima de tudo, o direito à
vida. Nossos policiais merecem todo o respeito e toda a
consideração. Muito obrigado, Sr. Presidente.
* - Sem revisão da oradora.