DEPUTADO NEIDER MOREIRA (PPS), Presidente "ad hoc".
Discurso
Presta esclarecimentos e coordena os debates.
Reunião
6ª reunião ESPECIAL
Legislatura 16ª legislatura, 2ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 29/03/2008
Página 75, Coluna 1
Evento Ciclo de Debates: "Licenciamento Ambiental e Desenvolvimento Sustentável".
Assunto MEIO AMBIENTE. INDÚSTRIA, COMÉRCIO E SERVIÇOS.
Observação Evento preparatório para o Seminário Legislativo "Minas de Minas". Participantes dos debates: Deputado Calos Pimenta, Deputado Padre João, Paulo Teodoro, Carlos Magno de Lima e Silva, Ilmar Santos, Paulo Calixto, Maria Dalce Ricas, Luciana Seixas Sampaio Morgado, Afonso Aroeira, Rafael Alves Tomé, Emílio Muchreck, Edno Silviera, Heider Marcos, Vítor Feitosa, Alysson Tomás, Regina Grecco, Rogério Noce Rocha, Sirlene, Jussara Mega, Devair, Laís Fonseca, Maria Auxiliadora Alvarenga, Eduardo Antônio Arantes do Nascimento.
Legislatura 16ª legislatura, 2ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 29/03/2008
Página 75, Coluna 1
Evento Ciclo de Debates: "Licenciamento Ambiental e Desenvolvimento Sustentável".
Assunto MEIO AMBIENTE. INDÚSTRIA, COMÉRCIO E SERVIÇOS.
Observação Evento preparatório para o Seminário Legislativo "Minas de Minas". Participantes dos debates: Deputado Calos Pimenta, Deputado Padre João, Paulo Teodoro, Carlos Magno de Lima e Silva, Ilmar Santos, Paulo Calixto, Maria Dalce Ricas, Luciana Seixas Sampaio Morgado, Afonso Aroeira, Rafael Alves Tomé, Emílio Muchreck, Edno Silviera, Heider Marcos, Vítor Feitosa, Alysson Tomás, Regina Grecco, Rogério Noce Rocha, Sirlene, Jussara Mega, Devair, Laís Fonseca, Maria Auxiliadora Alvarenga, Eduardo Antônio Arantes do Nascimento.
6ª REUNIÃO ESPECIAL DA 2ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 16ª
LEGISLATURA, EM 11/3/2008
Palavras do Deputado Neider Moreira
Esclarecimentos sobre os Debates
O Sr. Presidente - Neste instante, daremos início à fase de
debates. A Presidência informa ao Plenário que os participantes
poderão formular perguntas aos expositores. As questões poderão
ser encaminhadas por escrito ou oralmente, mediante inscrição
prévia. Para que possamos agilizar o debate, solicitamos aos
participantes que fizerem uso do microfone que se identifiquem,
sejam objetivos e sucintos, dispensada a formalidade das saudações
pessoais. Cada participante disporá de até 3 minutos para fazer
sua intervenção, sendo garantido o mesmo tempo para as respostas.
Debates
O Deputado Carlos Pimenta - Sr. Presidente, demais componentes da
Mesa, senhoras e senhores. Sou o Deputado Carlos Pimenta, da
região do Norte de Minas. Vou ater-me ao tempo e iniciarei minha
breve exposição relatando uma experiência que tive ontem, quando
representava a Assembléia na cidade de São João da Ponte.
Estivemos com o pessoal do Incra, participando da inspeção de
algumas fazendas e acompanhando alguns sindicatos rurais. Vi algo
que me deixou mais preocupado ainda. Visitamos uma fazenda de
2.000ha, que pertence a uma família há mais de 30 anos. O pessoal
do Incra disse ao proprietário sobre a intenção de se efetuar a
desapropriação daquela fazenda para os quilombolas. Pensei que ele
iria se opor ou fazer qualquer crítica, mas vi que a intenção dele
e de sua família era dispor da fazenda para a desapropriação, em
uma atitude inusitada na região. Perguntei a razão daquilo. Ele me
disse que depois da seca pela qual passaram, a pior em 50 anos,
jamais vista no Norte de Minas, 95% da fazenda foi dizimada e
ficaram sem nenhuma perspectiva ou abertura para negociar dívidas
passadas com os bancos oficiais: Banco do Nordeste e Banco do
Brasil. Também ficou sabendo que as ações prometidas pelo governo
federal, intermediadas pelo Vice-Presidente José Alencar, não
chegariam na região. Sendo assim, não restava a eles alternativa a
não ser dispor da fazenda para o Incra. Outro fato que me chamou a
atenção foi que, em contato com o Superintendente da Codevasf,
fiquei sabendo que ele conseguiu recurso para fazer a limpeza do
rio que serve à cidade de Janaúba. Mas os órgãos ambientais de
Minas Gerais, infelizmente, não estão permitindo que esse recurso
seja aplicado na limpeza do Rio Gorutuba.
São dois fatos que mostram claramente o calvário pelo qual passam
os produtores rurais. Aqui, vimos exposições sobre a burocracia e
a falta de pessoal para fazer a liberação das licenças, das
outorgas. Adianto que a Assembléia de Minas está extremamente
preocupada com isso. Fico muito triste e preocupado, Presidente,
ao ver que o Decreto nº 44.309, contra o qual lutamos tanto,
continua a prejudicar quem perfure um poço artesiano ou já tenha
um poço artesiano há vários anos para matar a sede. Mas para
regularizar esse poço artesiano, tem de pagar multas de
R$15.000,00 ou então multas diárias de R$1.500,00. Fico preocupado
porque quem está analisando o valor das multas e das penalidades é
a Advocacia-Geral do Estado. Será que é o órgão ideal para fazer
análise e debate das penalidadades sobre o uso da água, sobre as
queimadas? Estão tirando a discussão desta Casa, dos sindicatos,
dos proprietários rurais e passando para um órgão que não tem
nenhum entendimento sobre as necessidades e dificuldades do
trabalhador rural. Tenho respeito pela Advocacia-Geral do Estado,
mas é um órgão próprio para analisar leis e decretos, extremamente
jurídico e não tem tecnologia, “know-how” e experiência para
analisar um decreto dessa natureza.
Estamos atentos. Este seminário é fundamental. Espero que os
resultados das discussões aqui travadas tenham a garantia de serem
levados à última instância pela Assembléia.
Ficar da forma que está é impossível. O produtor rural está sendo
prejudicado, igualado a marginais. Não podemos deixar que isso
aconteça. A produção rural de Minas Gerais é fundamental; o meio
ambiente é fundamental, mas temos de conciliar o meio ambiente com
as questões sociais, com as questões de desenvolvimento. Conforme
afirmado aqui, não acho que a iniciativa privada esteja querendo
tomar o lugar do Estado. Acho que tem seu local, que tem de ser
respeitado, como o Estado também tem de ser respeitado. É preciso
agilizar as ações dos órgãos ambientais com mais funcionários, e
não demorar um ano ou dois para que uma outorga ou que uma licença
ambiental seja expedida. Muito obrigado.
O Sr. Presidente - Com a palavra, o Deputado Padre João.
O Deputado Padre João - Rapidamente, lerei uma nota da Via
Campesina sobre as acusações da mídia no dia de ontem, quando
ocuparam parte da linha férrea da Vale do Rio Doce, patrimônio
brasileiro. (- Lê:)
“A ocupação dos trilhos da Vale no Município de Resplendor, por
1.000 camponesas, nesta segunda-feira, ocorreu pacificamente, como
forma de denunciar os impactos sociais e ambientais da construção
da Barragem de Aimorés, no Rio Doce. Concluída em 2005 pela Vale e
pela Cemig, a barragem alagou 2.000ha, prejudicando diretamente 2
mil famílias e, indiretamente, 100 mil famílias. Apenas 40
famílias foram reassentadas, enquanto os demais desalojados
permanecem abandonados pelas empresas”.
As 40 famílias foram reassentadas na agricultura, sem contar
aquelas famílias da Nova Itueta. (- Lê:)
“Ao contrário da nota divulgada pela Vale, não houve reféns no
protesto, respeitando-se os direitos humanos dos funcionários da
empresa, que puderam sair da área logo depois da ocupação dos
trilhos da empresa. Jornalistas de diversos meios de comunicação
circularam durante todo o dia, durante a ocupação, e são
testemunhas de que nenhum trabalhador da empresa ficou detido.”
Estamos discutindo neste painel licenciamento, experiências e
percepção. Ontem, discutiu-se aqui o pós-licenciamento. Não é só
em Itueta, em Resplendor e em Aimorés - que tem representantes
aqui -, é também Candonga, é Funil. É, como foi colocado aqui,
também na usina elétrica de Mascarenhas, que acabamos de ver.
Essas pessoas não são colocadas como atingidas. Muito menos são
indenizadas. Temos problemas sérios. Em Irapé é um grande
escândalo a situação pós-licenciamento.
Então, companheiro Eduardo, dirijo-me à Mesa e repito a pergunta
que fiz ontem: “como garantir, cercar todos esses problemas na
audiência pública, onde tanto o Estudo de Impacto Ambiental - EIA
- quanto o relatório - Rima - não são populares?”. A D. Maria e o
Sr. José não conseguem obter informação precisa. Nem o
empreendedor pode precisar a área que será impactada. Tudo é
subestimado: a área a ser alagada, o valor das propriedades,
sobretudo o afeto de cada família. A maioria não está disposta a
vender sua propriedade, tem um carinho que não tem preço. O
problema é que aqui em Minas Gerais são milhares de atingidos que
estão como que reprimidos, encurralados, e esse processo ainda é
muito frágil.
Como avançar em eficiência tanto no processo de licenciamento
quanto, sobretudo, no pós-licenciamento, para garantir qualidade
de vida para o nosso povo? Isso sem contar com a reativação
econômica, porque lá, em sua propriedade, já havia inúmeros pés de
jabuticaba, várias árvores frutíferas... E até conseguir todas
essas árvores frutíferas produzindo, quanto tempo levaremos? Além
dos vizinhos, que são diretamente atingidos porque não tinham
nenhuma área de preservação obrigatória e passam a tê-la de uma
hora para a outra, porque se encontra no limite de um
reservatório.
Portanto, ainda temos de avançar bastante. Demos a largada neste
ciclo de debates e concluiremos o assunto no seminário a ser
realizado no mês de junho, com a participação popular. Muito
obrigado.
O Sr. Presidente - Com a palavra, o Sr. Paulo Teodoro.
O Sr. Paulo Teodoro - Senhores membros da Mesa, distinta platéia,
senhoras e senhores; após essas discussões, saímos daqui com a
cabeça cheia de indagações. E algumas delas gostaria de
compartilhar com vocês. São indagações que às vezes levam a nossa
boca o gosto amargo de que a coisa não está bem. E me pergunto:
“por que não está bem?”. Temos 30 comitês de bacias no Estado,
falando-se em águas de dominialidade do Estado, mais cinco de
águas de dominialidade da União, com a participação plena da
sociedade, em alguns casos, dos três níveis de governo, em outros,
de dois níveis, dos empreendedores, do Copam, do Conselho Estadual
de Recursos Hídricos, das Suprams, hoje com a desconcentração do
nosso processo de licenciamento ambiental. Todos estão
participando.
Quando fazemos uma análise da percepção do licenciamento
ambiental em que estão envolvidas as entidades, os responsáveis
pelo licenciamento, a sociedade como um todo, a classe produtora,
a classe produtiva das diversas tipologias, o que é que está
errado na discussão ou na formulação do nosso modelo, quando essa
percepção é absolutamente dicotômica? Algo está errado, e acho que
todos nós temos de sair daqui com várias indagações. A situação
exige de cada um de nós uma introspecção profunda.
Algumas coisas aqui ditas já estão inteiramente superadas. Eu, em
determinado momento, com a apresentação de companheiros que
participam do modelo de licenciamento no Estado, perguntei-me se o
que estava ouvindo era uma apreciação sobre o modelo desenvolvido
no Estado de Minas Gerais ou em algum outro Estado que não
conhecia. Há necessidade de sermos bastante honestos em tudo o que
dizemos, e essa honestidade passa por um outro fator muito
importante, a que se referiu o Secretário ontem: não temos de ser
mercadores de ilusões.
Temos de pegar o processo que provoca esse gosto amargo na boca
de todos nós, reestudá-lo como dever de casa e participar do
momento da formulação do processo.
Quando assumi a Secretaria Executiva do CGFAI, em Minas Gerais,
não gostei do Decreto nº 44.309, o grande vilão, que passou a ser
reestudado por todos. Nesta Casa, tivemos duas oportunidades de
discuti-lo, abrindo o debate a diversos setores da sociedade. Em
outubro, terminada a sua reformulação, o decreto foi encaminhado à
Advocacia-Geral do Estado, não para nova reformulação, mas para
ser analisado quanto aos seus aspectos legais, constitucionais, e
ser encaminhado ao Governador, para sanção. Desde o início dos
estudos da sua reformulação, orientamos a Polícia Militar a que,
em suas abordagens, não procurasse valorizar o auto de infração. O
auto de fiscalização tem de ser feito. Tem de ficar registrado
que, naquela hora, o técnico ou a polícia esteve lá e fez as
observações que se seguem. A partir de então, não houve mais auto
de infração, a não ser em flagrante delito. Aliás, com a campanha
de regularização do uso da água, a Polícia Militar passou até a
orientar as pessoas no preenchimento de formulários. Temos de ter
honestidade ao fazermos nossas considerações. Se algo está errado,
temos de corrigir. E, na correção, tem de haver o envolvimento de
todos. A não-aplicação do Decreto nº 44.309 da forma como está ou
como está sendo reformulado nos remete automaticamente à aplicação
da lei de crimes ambientais, a Lei nº 9.305. A instituição da
fiscalização tem de ser normatizada por um instrumento. Na
ausência do decreto, esse instrumento teria de ser a lei federal.
Acho honesto discutirmos aqui, agora, os vários instrumentos que
normatizam o licenciamento ambiental e a sua fiscalização, que
também dependem de normativos federais. Temos de discutir isso e
até mesmo envolver o Congresso Nacional; senão, no ano que vem,
estaremos aqui discutindo as mesmas mazelas, sem avanços e com
esse gosto amargo de que a coisa não vai bem.
O Sr. Presidente - Com a palavra, o Sr. Carlos Magno de Lima e
Silva, que fará uma comunicação sobre o decreto-lei que trata de
desapropriação de terras.
O Sr. Carlos Magno de Lima e Silva - Ontem eu afirmei aqui que o
decreto-lei estava careca e caduco. Hoje, quero justificar o que
disse, mas, primeiro, solicito a suspensão do decreto que trata da
desapropriação de terras em prol da MMX, atual Anglo-American, em
virtude das incoerências da Lei nº 3.365, de 1941, que está fora
do contexto do século XXI e apresenta, em seu texto,
contrariedades e valores incompatíveis com a moeda atual,
referindo-se a ela apenas no que tange aos honorários. No
parágrafo único do art. 13 e no § 2º do art. 28, é citado o valor
da causa: igual ou inferior a dois contos de réis.
Eu tenho o texto de lei para quem desejar ver. O decreto-lei fere
os ideais dos 220 anos da Inconfidência Mineira e dos 87 anos da
Independência do Brasil, citado no texto legal por circunstância.
É uma lei de um ditador, a de nº 3.365, feita por Getúlio Vargas
em 1941, no período da 2ª Guerra Mundial, quando imperava o
nazismo em alguns lugares do mundo. Peço a invalidação das
audiências públicas da MMX por considerar que está no caso dessa
lei. Solicito, ainda, uma CPI da MMX e a imediata suspensão de
suas atividades, principalmente no que se refere à negociação de
grandes quantidades de terra na Serra do Espinhaço - reserva da
biosfera da Unesco -, e por não possuir ainda a licença de
instalação.
Questiono o Executivo mineiro sobre os atos que atentam contra os
princípios da administração pública e a moralidade administrativa,
porque os decretos não se mostram adequados pelo abuso de sua
utilização e por contrariarem pressupostos constitucionais. A
estrutura de modelo de um Estado para o Brasil do século XXI não é
a mesma que a do anoitecer do século passado no que se refere ao
cerceamento da imprensa e ao impedimento da liberdade de expressão
de jornalistas e de várias mídias, o que acontece hoje no Estado.
Solicito ao Ministério Público, aqui representado pelo Caoma, que,
caso o Executivo mineiro prossiga praticando atos que relembrem o
período de 1964, a programação do AI-5, e com leis do período da
2ª Guerra, sejam anulados os atos lesivos à moralidade
administrativa sob pena de eu solicitar asilo político, uma vez
que estamos tratando de leis que lembram o período ditatorial.
Solicito à Mesa que prorrogue o prazo de apresentação de
propostas pelo menos para até o final do evento, pois ainda temos
palestras durante a tarde, e ele vai apenas até 12horas. Deixo um
questionamento sobre esta reunião. Muito obrigado pela atenção.
O Sr. Presidente - Com a palavra, o Subsecretário Ilmar Santos.
O Subsecretário Ilmar Santos - Bom dia. Na pessoa do Deputado
Neider Moreira cumprimento os presentes. Farei menção a alguns
pontos das apresentações do Dr. Carlos Alberto e da nossa colega
Regina Grecco. Sobre a revisão do decreto, o Dr. Paulo foi
bastante objetivo, informando o que está acontecendo e por que o
decreto se encontra na AGE. A proposta do Carlos Alberto de
revogação ou suspensão imediata do decreto em vigência acarretaria
também uma manifestação da AGE. Assim, não podemos, da noite para
o dia, simplesmente dizer que o decreto, a partir de amanhã, não
está mais em vigor. Em breve, teremos um novo decreto que trará
melhorias, atendendo muitas das considerações pertinentes que
ouvimos nestes dois dias por parte dos produtores rurais.
Dra. Regina, a senhora sabe que estamos num processo de transição
de um sistema arcaico e pesado para um processo mais ágil e
eficiente. A questão levantada sobre a não-integração, no que se
refere à outorga do uso da água e da autorização da supressão, já
foi verificada por nós. A idéia é que efetivamente licenciamentos
sejam feitos no âmbito das superintendências regionais de meio
ambiente. Houve grande mudança a partir do ano passado, ou seja,
todos os processos de licenciamento passam a ser feitos nas
superintendências regionais de meio ambiente, o que é importante
porque permite às demais casas, IEF, Feam e Igam, investirem
maciçamente em outras ações importantes para a gestão ambiental no
nosso Estado. Há a questão do próprio cadastro, da biodiversidade,
de estudos e da própria audiência pública, que foi mencionada pelo
Eduardo. Partilhamos do seu entendimento de que precisamos
melhorar e ter audiências públicas que efetivamente resultem em
esclarecimento e obtenção de subsídios para o licenciamento.
Queria dizer que já é nosso entendimento, Dra. Regina, que tanto
a outorga quanto a Apef sejam feitas no âmbito da Supram. Até o
fim do ano, podemos garantir isso, não somente eu, mas também o
próprio Secretário. Todas as Apefs e outorgas dos processos de
licenciamento serão feitas efetivamente no âmbito da Supram. Com
isso, efetivamente essa integração ocorrerá.
Anotei outros pontos, estou à disposição para outros
esclarecimentos e quero, uma vez mais, agradecer a iniciativa da
Assembléia que traz à baila a questão do licenciamento ambiental e
do desenvolvimento sustentável. Antevejo que, nesta reunião, como
disse ontem o Secretário, com a nossa humildade democrática,
muitos pontos estão sendo revistos e avançarão, mas, quanto
àqueles que são efetivamente pertinentes à questão legal,
dependemos da modificação da lei. Obrigado.
O Sr. Presidente - Com a palavra, o Sr. Paulo Calixto, da
Aproleite.
O Sr. Paulo Calixto - Bom dia. Reportando-me às falas do Feitosa
que disse ter sentido a ausência do Ministério Público, nós,
produtores, sentimos a ausência da Faemg e da Ocemg. A Faemg,
ontem, defendeu-nos tão bem que eu não sabia de que lado estava, e
os Diretores da Faemg e da Ocemg estão lá vitalícios, anos e anos,
mas nunca representaram os produtores. São pessoas vitalícias no
lugar; apoderam-se daqueles cargos e ficam lá, e patrões somos
nós. Eles são empregados, e quem paga a sobrevivência da Ocemg e
da Faemg são os produtores rurais. Nós pagamos essas pessoas, e,
quando precisamos ir lá, somos maltratados por funcionários que
estão lá, há 20, 30 ou 40 anos. Eles não nos recebem nem nos dão a
menor atenção. Ontem o representante da Faemg teve a coragem de
dizer aos presentes que não foi ele quem convidou esta platéia
para estar aqui. Como se diz, tirou o corpo fora.
Outra observação: suponho que a chefia de uma secretaria seja
composta por elementos de nível. Se uma pessoa de um nível de uma
secretaria chega e recebe uma lei para implantar - e também fui
funcionário de empresas privadas -, deve ter o discernimento e a
coragem de, se aquela lei não for exeqüível, levar ao seu superior
tal fato. Pelo menos assim, ele nos ajudaria. Imprimem a nós tal
ritmo de punição que vou contar um caso: eu era um produtor de
1.500 litros de leite por dia, e denunciaram que a minha
propriedade estava a menos de 50 metros de um leito de água. Fui
tão punido e ia tanta polícia na minha fazenda - e há tantos
assaltantes para serem presos - que abandonei a atividade. Vendi
as vacas, dispensei os empregados e hoje faço parte dos movimentos
dos sem-leite.
Tenho ouvido falar muito em produtor rural. Acredito que grande
parte dos presentes conhece Escarpas do Lago, que é a elite de
Minas Gerais. Ninguém nunca falou em punir Escarpas do Lago, que
está às margens do Lago de Furnas. Helicópteros de autoridades
descem lá todos os finais de semana. Ninguém nunca ouviu falar em
desapropriar Escarpas do Lago, que toma uma grande parte das
margens do Rio Grande.
Outro fato é que o Rio Grande vivia num leito mínimo, mas foi
represado e atingiu nossas terras. Agora temos que pagar porque o
rio veio para o nosso lado. Não pedimos para o rio chegar para
perto de nós, ele chegou para gerar energia para alguma empresa.
Há pouco tempo houve um apagão por falta de chuva, e acrescentaram
“x” por cento no custo do quilowatt-hora para socorrer os
produtores de energia. Mas quando está sequinho e nossa vaca, que
antes dava 20 litros de leite, passa a dar 8 litros, ninguém entra
com um tostão para socorrer-nos. Então, só pagamos a conta.
Peço que seja observado o “feedback” do empregado público de
nível. Ontem conversei com uma senhora do IEF que tinha tanta
capacidade que até me impressionou. Mas ela teria que ter a
coragem e a hombridade de dizer ao seu chefe que aquela lei não é
exeqüível, que teria que ser reestudada antes de mandar a polícia.
A polícia vai porque recebe uma ordem, não a estou culpando, mas
um Capitão de polícia que vai a minha fazenda também tem
capacidade de dizer ao Comandante, ao Tenente ou ao Coronel que a
lei está muito rigorosa, que é preciso abrandá-la, que é melhor
prender os ladrões antes de prender o moço que está tirando leite.
Estamos passando apertado.
Volto a repetir que a Ocemg e a Faemg têm uma elite de dirigentes
superada, com o prazo de validade vencido, mas continua lá. Não
nos representa e, quando vem representar-nos aqui, não tem coragem
de falar que esta platéia foi chamada por ela. Há muitas pessoas
que, para estar aqui, pediram à mulher para tirar o leite. O
pessoal não tem dinheiro para pagar hotel e está aqui.
O Domingos Inácio fez uma representação de Cássia. Um Município
que perdeu 42%. É uma cidade com mais ou menos 35 mil habitantes.
O que fazer com aquilo? Estamos criando favelas em volta daquilo.
Se não temos dinheiro para sustentar o que está lá, imaginem os
desempregados.
Ontem discuti com uma senhora que representa uma ONG. Num certo
momento fiz uma pergunta a ela, que me explicou tão bem que acho
que ela não aparta um galo de uma galinha, mas está com autoridade
para falar sobre o produtor rural. Não posso deixar passar este
momento. Muito obrigado.
O Sr. Presidente - Com a palavra, a Sra. Maria Dalce Ricas, da
Associação Mineira de Defesa do Ambiente - Amda.
A Sra. Maria Dalce Ricas - Meu nome é Maria Dalce Ricas, da Amda.
Quero dizer ao meu antecessor, com quem tive uma conversa até
educada ontem, que eu e o Maurício puxamos as palmas em relação a
uma de suas falas num determinado momento. Mas, como toda a
platéia sabe que a pessoa que o senhor citou no final fui eu,
quero dizer que sei distinguir tão bem um galo de uma galinha
quanto o senhor sabe distinguir entre proteção ao meio ambiente e
produção rural. Peço desculpas ao senhor, mas não aceito a sua
fala e achei indelicado de sua parte. Só se a Mesa autorizar e se
me der direito de resposta.
O Sr. Presidente - Prossiga, Maria Dalce.
A Sra. Maria Dalce Ricas - Quando as barragens da Rio Pomba
Mineração e da Cataguases romperam causando todo aquele desastre
ambiental, uma coisa talvez tenha passado despercebida à
sociedade: o casamento perfeito entre a capacidade de degradação
de uma indústria - que foi o deixado pela Companhia Matarazzo de
Papéis e comprada depois pela Cataguases - e a barragem da Rio
Pomba, a mineração responsável. As imagens que vimos pela tevê
mostraram que os cursos d´água atingidos não tinham um centímetro
sequer de mata ciliar.
Ali havia três atividades se casando em termos de degradação
ambiental: agropecuária, mineração e indústria. Os únicos
indicadores ambientais publicados pela Semag em 2005 mostraram que
a qualidade ambiental do Estado praticamente não teve nenhuma
melhora.
A palestra do Eduardo foi clara e brilhante, mas não concordo com
o que ele disse a respeito da politização do licenciamento. A
politização do licenciamento acontece, sim, mas somente a favor de
grandes empreendimentos e do social, entre aspas.
Eduardo, discordo de você também no que diz respeito à degradação
ambiental. Degradação ambiental não cai do céu; é fruto da ação
humana. E o que tem acontecido até agora, Eduardo?
Ética e filosoficamente, o ser humano foi colocado fora e acima
da natureza. A igreja diz que o homem é a imagem e a semelhança de
Deus. Então, ele se sente no direito de fazer tudo. Acho que,
exatamente, por isso, é preciso inseri-lo novamente na natureza,
para, então, pensarmos em mudar o quadro de degradação ambiental,
que coloca em risco a nossa própria vida.
Vítor, sua exposição foi muito boa. Concordo com muito do que
você disse. Concordo com muitas idéias que você, do setor
industrial, apresenta, mas, sem absolutamente desmerecê-lo, tenho
uma pergunta a lhe fazer.
Você concorda que seria um raciocínio lógico seguir estes passos:
resolução dos problemas apresentados pelo setor privado; resolução
da irresponsabilidade histórica do setor industrial? Você
representa uma empresa que realmente age com responsabilidade
ambiental, e há outras, mas não são todas.
Você acha que a solução desses problemas redundaria na resolução
da responsabilidade ambiental e, conseqüentemente, na proteção do
meio ambiente?
Fica parecendo que basta resolver os problemas estruturais e
operacionais para tudo ficar bem.
Democracia é algo sério. Não é todo o mundo que está preparado
para isso. Lamento que vocês não estejam.
O que quer dizer, Vítor, projetos estratégicos de interesse
nacional? O que temos visto até agora é o esforço para garantir
antecipadamente a licença para alguns projetos.
Transposição do Rio São Francisco, por exemplo, é um projeto de
interesse nacional estratégico? O ... do Rio Madeira para produzir
energia e desperdiçar no País é um projeto estratégico? Gostaria
que você me esclarecesse isso depois.
Vítor, você disse que não se deve renovar a licença e que, se um
empreendedor não cumpre a lei, a licença seja cassada. Eu até
concordo com esse princípio, mas nunca vi um representante do
setor privado aceitar a cassação de uma licença. Há sempre uma
proteção.
Então, você tem de assumir o compromisso de que quem desrespeitou
a lei tem de ter sua licença cassada.
Carlos Alberto, tenho duas observações a fazer. Você disse que a
lei federal não precisa ser mudada. Precisa sim. A lei federal
impõe reserva legal, e o Estado não tem competência institucional
para mudar essa situação.
Você disse também que o Ministério Público cobra multas e passa
para as ONGs. É verdade. Sei de ONGs chamadas associações
regionais de proteção ambiental, criadas, muitas vezes, por
iniciativa do próprio Ministério Público.
Quero lhe dizer que, apesar disso ser verdade, ela não se aplica
às ONGs de forma geral. A Amda, por exemplo, entidade que
represento, não recebe um recurso compulsório sequer nem do
governo nem do Ministério Público. Não estou desmentindo o Carlos
Alberto; estou apenas esclarecendo as coisas.
Sr. Presidente, se nosso objetivo é realmente fazer com que a
iniciativa privada, em todos os aspectos, aja com responsabilidade
ambiental, temos de falar com quem tem poder de decisão, e quem
tem poder de decisão - incluindo esta Casa - tem de ouvir e atuar.
Se nosso objetivo é apenas flexibilizar a legislação ambiental e
continuar no caminho de retrocesso da política ambiental no País,
mesmo com o efeito estufa sobre nossa cabeça, então, podemos
continuar crucificando o Sisema. O máximo que podemos fazer é
conseguir espaço, porque o Secretário José Carlos é apenas uma
peça nesse sistema. Muito obrigada.
O Sr. Presidente - Com a palavra, a Sra. Luciana Seixas Sampaio
Morgado, do Conselho de Meio Ambiente de Resplendor.
A Sra. Luciana Seixas Sampaio Morgado - Bom-dia. A minha pergunta
é dirigida a todos os membros da Mesa. Por que o Estado, por meio
do Sisema, não interfere nos impasses ambientais deixados por
grandes empreendimentos? Cito o caso da Usina Hidrelétrica de
Aimorés, que foi construída em meu Município. Sou representante do
Conselho, mas estou aqui como cidadã. Foi elaborado um EIA-Rima
pela Cemig, que contratou a Iesa, para as cidades de Resplendor,
Aimorés e Itueta.
A Feam seria a responsável pela fiscalização e licenciamento do
empreendimento, mas entrou um Município do Espírito Santo. O
licenciamento ficou então a cargo do Ibama. Foi elaborado um EIA-
Rima para um nível de água de 88m. A área de delimitação também
era de 88m. Durante o decorrer das obras, foi alterado esse
limite, que passou de 88m para 90m, mas a área delimitada
continuou a mesma. Foi elaborado um estudo incremental que nem
sequer chegou a ser apresentado à sociedade. A área demarcada como
de risco teria de ser desapropriada, mas isso nunca aconteceu. O
EIA-Rima não foi cumprido. Para que existe EIA-Rima?
Por que a Vale e a Cemig não são penalizadas, a exemplo do que
acontece com os pequenos produtores, os pequenos empreendedores? A
Vale, em vez de investir em campanhas de preservação do meio
ambiente, deveria investir na solução de impasses ambientais. O
tratamento de esgoto em Resplendor não está concluído, o esgoto
volta às casas pelo ralo. Além disso, as normas do Ibama são
diferentes das da Feam. Proponho que o Sisema seja integrado ao
Sisnama. Por exemplo, no que diz respeito a aterros sanitários, as
normas do Ibama são diferentes das da Feam. Quem irá fiscalizar? A
Feam. Quem irá repassar o ICMS ecológico? A Feam. Mas as normas
são totalmente diferentes.
São muitos os impasses, muitos os problemas ambientais em
Resplendor, Aimorés e Itueta. A minha pergunta é essa: “o Estado
tem condições de interferir nesse processo de licenciamento, após
a operação?”. Essa usina está operando desde dezembro de 2005.
Existem condicionantes da LI, da LP e da LO que não foram
cumpridas. Ontem, como foi noticiado pela mídia, a estrada de
ferro de lá foi parada por 12 horas por movimentos sociais. A
sociedade não pode sequer abrir a boca. Agora estamos passando por
uma nova fase: a cidade tem um novo Prefeito, porque o ex-Prefeito
faleceu. Assim estão sendo feitos novos entendimentos com os
empreendedores. Em certa época, durante um ano, não se podia nem
sequer estabelecer contatos.
Enfim, essa é a nossa pergunta: “o Estado tem condições de
interferir nesse sistema?”.
O Sr. Presidente - Com a palavra, o Sr. Afonso Aroeira, do Comitê
da Bacia do Paracatu de João Pinheiro.
O Sr. Afonso Aroeira - Bom-dia. Cumprimento o Eduardo,
companheiro da Fetaemg, e a Regina Greco, do Comitê do Alto São
Francisco. Sou Presidente do Conselho de Desenvolvimento
Territorial do Noroeste e Presidente em exercício do Comitê da
Bacia do Paracatu.
Deputado Neider Moreira, terei de ultrapassar um pouco o tempo,
pois não poderei deixar de lhe agradecer os grandes benefícios que
levou ao nosso Município, como Secretário de Reforma Agrária do
Estado. João Pinheiro e o Noroeste têm saudades de V. Exa. na
Secretaria de Estado Extraordinária para Assuntos de Reforma
Agrária. Jamais poderia deixar de dizer que V. Exa. foi muito
importante para a reforma agrária do Noroeste.
É importante dizer que Minas Gerais são muitas. Essa discussão é
altamente positiva. Entendemos a posição da Regina Grecco, mas ela
não pode dizer que tudo está imperfeito, pois seria uma grande
injustiça. A Secretaria de Estado de Meio Ambiente avançou 50 anos
em 5 anos. Houve um grande avanço, que jamais poderíamos deixar de
reconhecer, mas também não podemos nos esquecer de que é
necessária uma correção de rota.
Ontem e hoje ouvi falar muito sobre os Prefeitos. Como Secretário
Municipal de Meio Ambiente de João Pinheiro, tenho de defendê-los,
pois foram muito discriminados. Ficou parecendo que são os piores
elementos. Fiquei muito entristecido, pois, nós, que estamos na
ponta, sofremos com isso. Quando há uma voçoroca ou uma violenta
erosão, somos nós, a Prefeitura e a Secretaria, que temos de
resolver o problema.
Em relação aos licenciamentos ambientais, os Municípios são
totalmente discriminados. Tem de ser feita uma correção de rota
urgentemente. Estamos em uma situação terrível, e não posso ficar
calado. Temos de falar sobre os avanços, mas temos também de
tratar de uma correção de rota. Ontem, o embate estava
transformando-se em política partidária. Graças a Deus, isso foi
corrigido, pois a oposição e o Estado têm o direito de se
manifestar, mas ninguém está com essa bola toda. Está em discussão
uma política pública séria de meio ambiente para Minas Gerais, já
que o desenvolvimento econômico está chegando. O licenciamento
ambiental é uma ferramenta para isso, mas tem de ser corrigido. Os
Municípios não poderão ficar alheios a isso, pois são onde
nascemos, crescemos e morremos. Esse pacto federativo arrebenta os
Municípios. Eles querem que façamos mágica. De tudo que se
arrecada no Município, 70% vão para a União, para esbanjarem, 25%,
para o Estado, e somente 8% voltam para a cidade. Então, temos de
fazer mágica, pois, somente com o transporte escolar, gastamos um
mês de renda, pois são 6.000km por mês. Temos de focar no assunto.
Quanto à licença ambiental, os grandes e médios empreendedores
chegam com uma declaração pronta do Estado, até com brasão, para
que a Prefeitura assine, porque estão de acordo com as normas e as
leis do Município. Isso é um absurdo. Teria de ser exigido um
alvará de licença do Município. Temos dado declaração a empresas
que não existem para não emperrarmos o avanço. Teria de ser
exigido um alvará de licença, pois todas as Prefeituras são
dotadas de cadastro imobiliário, mas isso não acontece. O cidadão
chega ao Município e arranca um documento do paletó para que o
Prefeito assine, pois deseja instalar uma grande indústria na
região. O Prefeito fica louco. Em um Município com 40 mil
habitantes, há o Ministério Público, com dois Promotores, um Juiz
de Direito e uma Câmara vigilante, mas ainda dizem que os
Prefeitos são omissos e não fazem nada.
Essa é uma grande injustiça, que tem de ser corrigida no País.
Esse sistema do PAC federativo tem de ser revisto, Dr. Neider, em
todos os níveis - sei que está entre os assuntos municipais -,
mesmo quanto aos licenciamentos. Peço isso encarecidamente. O pior
é que foi citado aqui que, quando emitem o licenciamento, o Estado
posiciona “empreendimento dispensado de licenciamento estadual”, e
não se olha o Município. Vamos debater com clareza, mas incluindo
plenamente os nossos Municípios na discussão.
Outra questão que me preocupa muito é a do cadastramento de
usuários de água. A Regina Grecco conseguiu para o comitê dela.
Estamos na Bacia do Paracatu com mais ou menos 25 mil usuários de
água - é sério, Dr. Neider - e teremos de fazer uma declaração
espontânea. O membro da Faemg disse que a Polícia Militar e a
Federação estão envolvidas nisso, mas não está havendo campanha. O
cidadão terá de fazer uma declaração espontânea, um empréstimo
complicado, porque terá de dizer quanto gasta de água, o que não
dá conta de fazer. O Comitê da Bacia do Paracatu está
reivindicando que se faça o cadastro com calma, mas não há tempo
até junho. Não vamos dar conta de cadastrar nossos usuários de
água na Bacia dos Rios Paracatu e Urucuia. Muito obrigado.
O Sr. Presidente - Com a palavra, o Sr. Rafael Alves Tomé, do
Sindicato Rural de Piumhi.
O Sr. Rafael Alves Tomé - Boa-tarde a todos. Queria fazer uma
comparação simples, fácil de entender no nosso meio rural. E a
deixo como referência para os Deputados e para os outros presentes
que não possuem propriedades rurais. Tomem como exemplo uma casa
construída com muito sacrifício, esforço e economia. Tirem da
frente dela o jardim, que seria a APP. Veio o decreto do Sr.
Governador e nos impôs tirar quarto e sala da casa e passar para o
Estado e ser responsáveis por isso. Tal fato por si só já seria um
tremendo absurdo, mas a legislação foi além. Foi condescendente e
nos permitiu... Desculpem-me os representantes do Norte de Minas,
porque as pessoas o estão adquirindo na região. Você vai à favela,
adquire um barraco e o averba para o Estado, e sua propriedade
está livre de reserva. Esse modelo, Srs. Deputados, não traz
justiça social, não traz progresso e não nos permite trabalhar com
tranqüilidade. Queria repassar a cópia de um ofício que a Sra.
Maria Dalce Ricas enviou à Comunidade Européia, em que diz que a
Comunidade não deve preocupar-se com a febre aftosa, problema que
nos tem tirado noites de sono e tempo. O Brasil está precisando
exportar carne. Ela pede à Comunidade Européia que se preocupe
mais com licenciamento ambiental. Não sei se se trata de crime,
senhores, mas podem ter certeza de que vai contra a economia
popular. Obrigado.
O Sr. Presidente - Com a palavra, o Sr. Emílio, da Avimig.
O Sr. Emílio Muchrek - Bom-dia, senhores. Sou Emílio Muchrek,
Diretor Técnico da Associação dos Avicultores de Minas Gerais e
Presidente da Cooperativa de Trabalho dos Engenheiros Agrônomos de
Minas Gerais. Peço desculpas por estar rouco, mas farei um esforço
dentro do tempo permitido. Senhores, durante esse tempo em que
estou aqui, ouvi as palavras de todos, menos a do consultor,
talvez um dos mais importantes envolvidos na história. É uma pena
que a platéia esteja reduzida, mas queria dizer que, quando saí
daqui ontem, recebi telefonema de dois empreendedores que assisto,
apavorados, um de Raul Soares e outro de São Pedro dos Ferros,
porque as multas estão correndo soltas o dia inteiro lá, ao
contrário do que foi dito aqui. São multas mínimas de R$15.000,00.
Sabem quem fará a defesa? Este consultor aqui, que virou
engenheiro agrônomo e advogado para fazer TAC, etc. Nesses 10 anos
de consultoria - represento um setor muito pesado da
agroindústria, a avicultura -, tenho observado que a Autorização
Ambiental de Funcionamento, entre aspas, é uma mentira. Obrigamos
o empreendedor a assumir um termo de responsabilidade, dizendo que
sua propriedade dispõe de todos os sistemas de gerenciamento
ambiental para resolver qualquer tipo de problema. Acredito que
todos os envolvidos já assinaram. Na verdade, Sr. Presidente, não
existe isso, mas sim uma autorização ambiental que é dada mediante
uma Anotação de Responsabilidade Técnica feita pelo consultor
diante do Crea. E, diante disso, nada mais se faz. Deveria haver
uma continuação desse processo, porque é aí que começa o trabalho
ambiental, porque é feito na base da cidadania, respeitando o que
o cidadão disse. Se o senhor visitar aqueles que têm AAF, verá que
a maioria não tem a mínima condição de gerenciar, ambientalmente,
seus empreendimentos. Por isso disse que a AAF, entre aspas, é uma
mentira. Gostaria que as autoridades estivessem presentes aqui,
porque ajudei a fazer a DN nº 74. Se existe responsável técnico na
DN nº 74 é por briga deste consultor com muita gente. Sei o que
estou falando. Da forma como as coisas estão, a AAF virou um
cartório institucionalizado da melhor qualidade. Se não houver
fiscalização do IEF, Copam e Feam com esse objetivo, a AAF será
parecida com aquilo que o Dr. José Cláudio mostrou aqui, o sujeito
com uma retroescavadeira e com um diploma na mão, arrebentando
tudo e dizendo: “Por que estão me olhando? Tenho a AAF e diploma”.
Estou fazendo esse alerta porque já está acontecendo isso no
campo. Em síntese: não existe fiscalização. O Fagner Soares, meu
parceiro e amigo de mais de 20 anos, sabe perfeitamente o que
estou dizendo, sabe que a AAF, como está sendo dada e como está
sendo tocada no campo, desculpe-me a expressão, é uma mentira.
Para concluir, a prepotência, a falta de respeito, além das
mudanças repentinas, que o consultor sofre dentro dos órgãos
ambientais, são vexatórias. Não temos liberdade suficiente nem de
discutir com os nossos colegas engenheiros no mesmo nível, olho no
olho. Não sou despachante, sou consultor, com pós-graduação, e
mereço ser respeitado - eu, o Fagner e qualquer o outro colega.
Ontem, na saída deste seminário, disse ao meu amigo particular,
eventualmente Secretário e Ministro, José Carlos de Carvalho que,
se não houver uma providência nesse sentido, coibindo os abusos,
podem fazer 200 seminários deste que não iremos a lugar algum.
Como já disse, as multas, que são de, no mínimo, R$25.000,00,
estão correndo soltas. Ao sair daqui hoje, ligarei para o meu
empreendedor a fim de lhe dar uma espécie de consolo e correr
atrás de registrar, o mais rápido possível, no mínimo, cinco
granjas dele. Isso para que a ferrada não seja ainda maior. Só
lamento que a platéia esteja pequena, mas gostaria que os
consultores fossem mais respeitados dentro do órgão ambiental. Não
abro mão disso. Não sou despachante, sou consultor, engenheiro,
colega deles e não aceito isso.
O Sr. Presidente - Com a palavra, o Sr. Edno Silveira, do IEF.
O Sr. Edno Silveira - Boa-tarde a todos, queremos falar alguma
coisa porque houve uma generalização do processo de licenciamento
ambiental, principalmente em relação ao IEF. Sou engenheiro
agrônomo, sou representante do IEF no Triângulo Mineiro. Ontem se
falou alguma coisa, mas o processo de integração do Triângulo
Mineiro com o IEF é muito bom. Temos um entendimento para eliminar
a questão do desmate no Triângulo Mineiro. Sabemos que a cobertura
florestal no Triângulo já é pequena. Temos um Zoneamento-Econômico-
Ecológico que veio a concretizar a aptidão do Triângulo Mineiro
para a produção agropecuária. Por isso há o grande avanço do setor
sucroalcooleiro na região do Triângulo, que tem terras férteis,
clima e topografia. Não podemos generalizar as obrigações do IEF
em todo o Estado, como disse a Regina. Concordo em parte com seu
posicionamento, mas esse é um fato que está acontecendo na sua
região. Todos os colegas que estão aqui sabem que existem
problemas em cada região, mas não de forma generalizada. Temos
processos parados na instituição, muitas vezes por culpa do
empreendedor, que não consegue levar a documentação. Hoje, a
própria legislação fala que em 60 dias temos que fazer vistoria.
Temos problemas orçamentários e estamos batalhando com o governo
para resolvermos esses problemas orçamentários de recurso de
combustíveis e de uma série de fatores com que estamos lutando e
provando que a situação no campo é diferente da sede. Mas é uma
questão interna. Procuramos, principalmente no processo de
averbação de reserva legal, fazer dentro do prazo. Muitas vezes
temos que cancelar processos porque o empreendedor não retorna
mais ao escritório. Também sobre a questão do licenciamento,
muitos produtores entram com o pedido e depois o abandonam. Temos
que ficar cobrando para que isso não aconteça. Estamos lutando por
um entendimento com o Ministério Público no Triângulo para acabar
com o desmate. Essa é uma meta nossa, e o Secretário sabe disso.
Estamos trabalhando para que isso aconteça. O que estou vendo é
uma falta de entendimento generalizada. Hoje o que representa o
setor do produtor rural é o sindicato, que não pode ficar voltado
só para festa de exposição agropecuária. O sindicato é o
representante do produtor rural. O sindicato tem que dizer que
existem disparidades na região, multas elevadas e algumas
arbitrariedades, tanto do setor da fiscalização quanto da polícia
ambiental. Vamos entender o que a lei fala, o que é possível ser
feito. É muita crítica, muita conversa, mas não há entendimento do
setor. Muitas dessas disparidades não acontecem no Triângulo
porque há uma conversa. O que falta hoje para o ser humano é o
diálogo. Na questão do georreferenciamento citada aqui, há um
equívoco, pois é mandado para o Incra um processo de
georreferenciamento para uma propriedade acima de 1.000ha. O
georreferenciamento que se fala da reserva legal consiste na
marcação que o agrimensor faz quando mede a propriedade. Ao
colocar os vértices da coordenada, fará o mesmo com a reserva
legal, ou seja, demarcará. Esse não é o georreferenciamento que
alguém falou aqui. Essa é uma questão muito mais complexa e não é
o que a portaria determina. Vocês estão equivocados. Uma pequena
propriedade pode apresentar um croqui, a lei diz isso. Basta
entender-se com o técnico para poder utilizar isso em vez de um
mapa planimétrico. Quanto à questão do rego d´água, há uma falta
de entendimento do setor com a polícia ambiental, o técnico e o
sindicato. Rego d´água não é APP, é artificial, mas falta
entendimento. Muita coisa pode ser evitada com uma boa conversa.
Em relação à reserva legal, muitas propriedades já a usam há
muitos anos. Temos que entender que ela não é algo do Estado, mas
algo que estamos preservando - apenas um pouco - para as gerações
futuras. Que legado deixaremos para nossos filhos e netos se
pegarmos uma propriedade e utilizarmos todo seu recurso natural? O
que entregaremos a nossos filhos se utilizarmos tudo? Diremos:
utilizei tudo, não tenho madeira, água, nada para oferecer-lhes,
pois utilizei tudo o que podia. Se a pessoa não consegue
sobreviver com 80% de sua propriedade, não serão mais 20% que
ajudarão. Existe algo errado nesse contexto. A média de APP em uma
propriedade é 5%. Existem casos em que existem mais, como, por
exemplo, 50%, como foi mostrado aqui, mas aí é preciso estudar,
pois muitas vezes aquela APP está sendo usada, ou seja, está sendo
demarcada, mas não é inativa, está sendo usada com pastagens ou
outra atividade. Se há uma autuação, vamos chamar o setor, ou o
Ministério Público, e discutir o caso - pedir um prazo, criar uma
condicionante. Tudo isso é aceitável. O Promotor falou ontem de
várias condições em que a APP pode ser usada, ou a reserva legal.
Há o sistema de pequeno proprietário rural, por exemplo, que pode
utilizar o maciço florestal para compor reserva legal, e o sistema
de agrofloresta já mencionado na lei, mas para o qual falta
regulamentação - aí entra a força desta Casa, do sindicato e dos
representantes dos produtores para negociar essa regulamentação
que é uma alternativa para a pequena propriedade, a agricultura
familiar e os assentamentos. O maciço florestal e o sistema de
agrofloresta são alternativas.
Realmente precisamos corrigir aspectos do nosso sistema e estamos
alertando o Secretário e nossa diretoria. Entretanto, falta sentar
e conversar. Não basta vir aqui e brigar, trazer todo o pessoal,
que está, realmente, agredido e cheio de problemas. Esta Casa tem
que promover uma conversa. O sindicato é o representante de vocês.
É preciso assentar com o setor. Cada região possui uma
peculiaridade, que precisa ser respeitada. A lei é clara, mas é
preciso conversar, entender. Peço-lhes que pensem que a reserva
legal não é do Estado, mas a única coisa que guardarão para o
futuro de seus filhos e netos. Obrigado.
O Sr. Presidente - Com a palavra, o Sr. Heider Marcos, da
Irriplan.
O Sr. Heider Marcos - Heider, da Irriplan Engenharia, mais um
consultor se apresentando. Na verdade, estou representando alguns
empreendedores, basicamente oriundos de projetos do Prodecer: o
Plano de Assentamento Dirigido do Alto Paranaíba - Padap -; o
PCPER 1, 2 e 3, de Paracatu; o PCBON, de Bonfinópolis; a Copasul;
e a Copamil, de Iraí de Minas. Esses projetos representam algo em
torno de 50.000ha irrigados, e a área de sequeira é algo em torno
de 200.000ha. Esses projetos foram implantados pelo Estado na
década de 70 e fazem parte do Plano de Desenvolvimento dos
Cerrados - Prodecer.
Conceitualmente, a concepção do projeto não concebeu a existência
de reserva legal. Esse é o grande problema que temos em uma área
de 250.000ha: excelência tecnológica.
Ano passado, houve uma reunião da Comissão de Agricultura, em São
Gotardo, em que os produtores objetivaram o grande problema deles,
que era a reserva legal. Não se falou em outra coisa. Se
procurarmos esses empreendimentos na Supram, veremos vários
processos parados por falta de reserva legal. A culpa não é única
e exclusivamente dos empreendedores, mas de uma concepção do
projeto. Da mesma forma que ontem foi discutido o Pró-Várzea, um
projeto do governo federal que Minas abraçou e implementou por
vários anos. Hoje, a própria Ruralminas tem conhecimento dos
resultados do Pró-Várzea, que ela implementava. Hoje, a reserva
legal é fundamental para a solução de vários problemas relativos a
áreas de grandes, médios e pequenos empreendimentos em Minas
Gerais. Essa é a primeira questão que gostaria de complementar na
exposição do representante da Faemg, quando ele alertou sobre esse
tipo de problema no Sul de Minas, os quais acredito existirem
também no Norte, Noroeste e Oeste de Minas.
A segunda questão, que considero importante, é que no ano passado
foram protocolados 45 mil processos para 500 técnicos. Isso daria
100 processos por técnico/ano. Considerando-se os dias úteis, cada
analista teria de entregar um parecer a cada dois dias. Gostaria
de saber qual é o objetivo do plano de metas do governo para cada
analista.
Foi bastante discutida aqui a questão do Siam, que a cada dia vem
evoluindo, mas ele não tem a celeridade necessária para atender ao
empreendedor, que depende de resultado de processos para conseguir
autorização da Cemig ou de um Banco de financiamento. O tempo dele
é de três a seis meses, e o licenciamento demora dois anos.
Amanhã, participarei de uma reunião em Iraí de Minas. Conversarei
com o pessoal da Associação dos Usuários de Água do Rio Bagagem -
Assubag, muito relacionados com o pessoal da Copamil. Desde 1988,
venho falando aos clientes do meu escritório que estamos em um
processo de transição, que eles têm de ter paciência. Gostaria de
levar outra mensagem que não essa que levo há praticamente 20
anos, desses dois dias em que participo deste seminário. Pelo
jeito, levarei o mesmo discurso: que estamos em transição.
Concordo plenamente com outro colega de consultoria: temos grande
dificuldade em interpretar para o produtor o que está sendo
solicitado dele. Obrigado.
O Sr. Presidente - Passamos às perguntas elaboradas pela platéia.
Farei a leitura delas e as passarei a cada um dos expositores que
farão suas considerações. Ao Dr. Vítor Feitosa: “Quando se fala
que as condicionantes estão sendo usadas para suprir demandas onde
o Estado não se faz presente, observação no mínimo delicada e
muitas vezes perigosa, vale lembrar que diversos empreendimentos
levam a determinado Município um contingente populacional que
muitas vezes supera a população da cidade. Dessa forma, em razão
desse grande aporte populacional, não seria obrigação do
empreendedor realizações para compensar essas pressões sobre os
equipamentos públicos, devido ao empreendimento?”.
Esta pergunta também é para o Dr. Vítor: “Dada a conhecida
carência de recursos do setor público e lucros crescentes das
grandes empresas de mineração, não deveriam estas últimas unir
forças com o poder público para ajudar a resolver os problemas
socioambientais das pequenas empresas, por exemplo, ajudando a
implantação e a operação de centros de apoio técnico-
administrativos nas principais províncias minerais do Estado?”.
Também ao Dr. Vítor: “Qual a sua sugestão para que a
sustentabilidade seja eficazmente difundida e assimilada no
Brasil? Favor comentar especificamente sobre os Municípios com
menos de 100 mil habitantes.”.
“Já ouviu falar no Siam e na ZEE? Se a resposta for sim, por que
não disse isso em seu pronunciamento?”.
Uma pergunta do Alysson Tomás: “Considerando-se o infeliz
comentário do Deputado Padre João tentando contemporizar o absurdo
ato de vandalismo perpetrado pela Via Campesina, no Maranhão, na
semana passada, e o ato criminoso cometido em Resplendor ontem,
quando o maquinista foi mantido como refém, ou seja, cometeu-se
crime de cárcere privado, como amplamente noticiado pela mídia
impressa e televisiva, gostaria de ouvir o que pensa a respeito
dessas expropriações e invasões, como essa da Via Campesina em
terras de particulares ou arrendadas pela União ou pelo Estado aos
particulares”.
Perguntas dirigidas a Regina Grecco: Primeira, se ela
disponibiliza seu correio eletrônico para contatos.
“Um dos problemas discutidos ontem pelos pequenos produtores foi
sobre as cercas que devem ser colocadas nas nascentes. De acordo
com sua experiência, que proposta poderia ser feita para proteger
as nascentes e não prejudicar os pequenos produtores?”.
A Sirlene, que é técnica em meio ambiente e estudante de
administração, sugere que “o comprovante de entrega de documentos
nos órgãos ambientais sirva para liberar as multas, quando o
fiscal aparecer, pois a demora de análise pelos órgãos não é culpa
deles”.
Pergunta de Rogério Noce Rocha, da Semad: “Na verdade, um
esclarecimento de modo enfático. O sistema está em desenvolvimento
e se constitui um processo. Os pontos colocados pela Sra. Regina
refletiram uma situação que ocorria em 2006. A situação atual é
completamente diferente, e a integração é um fato concreto, que se
traduz em pontos já apresentados pelos representantes da Semad na
data de ontem. Esses pontos abordam evoluções postas em prática
por meio da análise interdisciplinar, que promove a integração
objetiva de ações das três agendas do sistema e de informações do
posicionamento de análise dentro do Siam. Dessa maneira, muita
coisa avançou, e muita coisa há de ser feita visando melhor
atendimento ao usuário, que é um dos objetivos maiores desse tipo
de debate”.
Pergunta da Jussara Mega, de Itapagipe: “Trabalho com
propriedades pequenas, entre 10ha, 15ha e 20ha. Como averbar área
nessas propriedades? Tenho uma com 1,5ha. Se averbar a área mais
APP, como fica esse produtor que produz 90 litros de leite por
dia?”.
Pergunta dirigida ao Eduardo, procedente do Marcos, da Feam: “Por
que se fala tanto em proteção de APPs se, na atividade minerária,
por ser bem da União, as nascentes podem ser destruídas? Se a água
é um bem natural não renovável, a União pode destruí-lo?
Pergunta de Devair, da Câmara Municipal de Guaranésia: “Uma área
de brejo, contendo taboa, inhame, e demais gramíneas, pode ser
considerada como área de preservação ambiental porque não é
produtiva?”.
Para o Carlos Alberto, uma informação da Laís Fonseca, da Supram
Norte de Minas: “O empreendedor e o produtor rural podem
apresentar o formulário, caracterizado o empreendimento integrado,
e formalizar seu processo de regularização ambiental em qualquer
Supram, e ele será enviado à Supram competente para a análise e a
concessão de Autorização Ambiental de Funcionamento ou
licenciamento ambiental”.
Pergunta dirigida à Mesa: “Por que só o produtor rural arca com o
ônus da reserva legal, se o bônus fica para todos os segmentos da
sociedade?”.
Pergunta de Maria Auxiliadora Alvarenga, também dirigida à Mesa:
“A questão urbana não foi tratada como deveria. A descentralização
do licenciamento em nível municipal, conforme a DN n° 74, tornaria
mais próxima do cidadão? A solução não é aproximar do pequeno
produtor ou do pequeno Município?”.
Essas foram as perguntas enviadas à Mesa. Passamos a palavra ao
Dr. Vítor, para sua explanação.
O Sr. Vítor Feitosa - Quanto à pergunta sobre não ter mencionado
o Siam ou o ZEE, acho que a pessoa não prestou atenção. Falei de
Zoneamento Econômico-Ecológico, Avaliação Ambiental Estratégica,
diversas vezes, como ferramentas importantes a serem
desenvolvidas, e que não só ficássemos no licenciamento. Quanto ao
Siam especificamente, não entrei em detalhes porque preferi fazer
uma abordagem mais conceitual. Mas reconhecemos que o Siam é um
avanço significativo no Estado, e isso foi mencionado.
Quanto à questão das condicionantes sociais mencionadas, a
preocupação é a de que haja o entendimento - e volto a usar a
palavra sistêmica - de como o processo encontra-se montado.
Empresas, como mineradoras, hidrelétricas, que normalmente
precisam ser instaladas em regiões menos favorecidas por
estruturas públicas, consideram parte desse investimento para sua
instalação ali, até porque caso não o tenha, não conseguirá nem
levar funcionários para o local. O importante é diferenciar a fase
de instalação da de operação. Na fase de instalação, normalmente
há um grupo de pessoas, que precisam ser tratadas adequadamente.
Para isso as empresas costumam montar alguma estrutura temporária.
A questão da infra-estrutura social, logística, do Município
precisa ser entendida sob uma ótica que considera que o
empreendimento trará benefícios tais como os impostos gerados. Por
exemplo, uma hidrelétrica é taxada em 6,75% do seu faturamento
bruto, sendo que 0,75% é por conta do pagamento do uso da água,
coisa que o governo federal contigencia absurdamente e, até hoje,
não destina esse dinheiro como deveria fazê-lo, e os outros 6% são
destinados aos entes federados, 45% deles ao Município, exatamente
para que ele possa encaminhar questões ligadas a esses impactos.
A questão não se resolveria com o licenciamento, mas a lei pensou
em um processo que, posteriormente, poderá ser estendido. Não se
pode onerar demais um empreendimento, pois, para a maioria das
localidades mais remotas, a pior situação seria não ter aquele
investimento ali.
Em relação à questão da sustentabilidade para os Municípios,
especialmente para os que possuem menos de 100 mil habitantes,
foram feitas algumas manifestações, que, muitas vezes, são lutas
desenvolvidas por atores sociais importantes e significativos, mas
que ainda não entendem os instrumentos de que a sociedade dispõe.
O principal deles é o comitê de bacia hidrográfica. Sou Secretário
Executivo do Comitê da Bacia do Rio Doce. Não conseguimos a
participação ativa da sociedade no Comitê, abraçando-o e debatendo
a construção de um modelo; mas, quando há problema, as pessoas se
manifestam como se fossem vítimas. Hoje, a lei permite que sejamos
atores protagonistas, e o protagonismo se dá no âmbito dos comitês
de bacia e de outras estruturas, como o Codema. É preciso que a
sociedade abrace essas estruturas e pare de fazer simplesmente
manifestações que acabam tendo cunho mais político.
Há ainda outra pergunta que diz respeito à união de forças do
poder público e das grandes empresas para resolver problemas de
pequenas empresas. Precisamos entender que vivemos em um mundo
cada vez mais competitivo. Já é extremamente pesado para as
empresas dar conta de suas atividades. Precisamos de políticas
públicas para fazer essa convergência. Dizer que uma empresa tem
de destinar seus recursos para estimular pequenas empresas é
sonhar. Isso tem de ser feito por meio de políticas públicas, de
forma a incentivar a pequena empresa por meio de canais corretos.
A questão da sustentabilidade levada aos Municípios significaria
o envolvimento dos diversos atores sociais de cada Município nos
fóruns corretos, como comitês de bacia e Codemas. Como disse a
Maria Dalce, isso permitiria combater processos governamentais,
como no caso da transposição do Rio São Francisco, quando foi
profundamente desrespeitada a decisão do Comitê do Rio São
Francisco. Ainda há imperfeições. O modelo de comitê de bacia
abordou a questão da intersetorialidade: são tripartites, e o
poder público não tem maioria. Em Minas Gerais, por exemplo, há o
modelo bipartite: metade sociedade civil, metade poder público.
Ainda não demos o passo final para a sustentabilidade, apesar de
isso já ter sido introduzido nas câmaras técnicas, o que constitui
um avanço. Precisamos fazer com que não ocorram mais casos como o
do Rio São Francisco, em que o governo exigiu, obrigou os seus
representantes a votar pela derrubada da decisão do comitê.
Em relação à última pergunta, se não houver esse protagonismo,
continuaremos a fazer manifestações como a da Via Campesina,
somente política e apenas chamando a atenção, uma vez que não há
algo concreto ali, ao invés de encontrarmos os fóruns adequados
para debatermos os processos importantes de construção de modelos
locais. Temos instrumentos adequados. Não precisamos de criar
outros, mas de abraçar os já existentes e fazer com que funcionem,
da forma como foram concebidos. De outra maneira, será feito o que
está se tentando fazer no sistema de gerenciamento dos recursos
hídricos, ou seja, transformando esses instrumentos em coisas que
não sejam de gestão, mas apenas arrecadatórias ou de comando e
controle. Isso derrubaria o sistema, um dos mais belos sistemas
jurídicos e institucionais do nosso país.
O Sr. Presidente - Com a palavra, o Sr. Eduardo Antônio Arantes
do Nascimento, para suas considerações sobre as questões expostas.
O Sr. Eduardo Antônio Arantes do Nascimento - Tentarei ser breve
até por pragmatismo alimentar. Sobre as duas perguntas da
companheira Maria Dalce, considero que, no primeiro caso, ela se
equivocou. Fiz duas observações, tomando a liberdade de discordar
de uma afirmação feita pelo Dr. Vítor Feitosa em que diz ter
constatado uma politização na análise dos processos no sentido
antimercado. Manifestei-me em relação a essa afirmação, tomando a
liberdade de fazer o juízo de que essa não é uma prática
profissional e técnica presente na análise dos EIA-Rima no Sisema.
Ao mesmo tempo, uma questão preocupa-me: a partir de formulações
da alta direção do Sisema, está sendo imposto às análises dos
estudos ambientais, e conseqüentemente aos técnicos, o paradigma
de que por pressuposto todo empreendimento pode e deve ser
licenciado, o que afronta um dos princípios do licenciamento, que
não é, sob hipótese nenhuma, um instrumento de viabilização
econômica. Ele pode viabilizar, mas é um instrumento de avaliação
inclusiva, em primeiro lugar, da viabilidade ambiental do
empreendimento. A legislação é clara ao prever a possibilidade da
recusa da instalação e operação do empreendimento.
Outro equívoco da Maria Dalce é no entendimento e em determinado
raciocínio num terreno delicado, que é o da fé, da religiosidade,
da espirituosidade, de que seria uma das interpretações possíveis
a de que o ser humano estaria fora do meio ambiente a partir do
pressuposto de que ele é a imagem e semelhança de Deus. Ela
arremata com a interpretação da Igreja Católica. Não foi o que
pretendi dizer. Entendo que o ser humano é a imagem e semelhança
de Deus no sentido da criação divina. A questão do ser humano e de
todos os seres vivos deve ser avaliada conjuntamente porque,
aliás, a natureza deriva também enquanto expressão divina.
Concordo que a espiritualidade é um terreno de foro íntimo.
Agradeço à companheira de Resplendor que perguntou sobre conflito
e pendências pós-licença. Lamento que alguns dirigentes do Sisema
tenham sido vencidos pela vontade de almoçar - Ilmar, Augusto -,
mas outros ficaram - Rogério, Marília -, e gostaria que levassem
essa mensagem. Esse é um dos problemas das unidades regionais, do
Copam e do próprio Sisema.
Ele tem se mostrado incapaz e, a meu juízo, os técnicos e
gestores intermediários recebem orientação nesse sentido. E mais
sério: a alta direção do Sisema não se coloca em um papel pró-
ativo de solucionar conflitos. O espaço do próprio licenciamento e
da própria formulação da política ambiental não é considerado de
concentração de interesses distintos. A meu juízo, aliás, há uma
desidratação dos espaços, que podem ser sim de resolução de
conflitos, porque há várias questões que passam pelo licenciamento
ambiental e outras que não, e elas são conflitivas. Tenhamos
consciência disso. Ninguém pense que a instalação de um
determinado empreendimento é unanimidade, de jeito nenhum. Há
contradições na visão de modelo e desenvolvimento, nessas questões
de hegemonias.
Ontem ouvimos a agricultora que se manifestou e disse que queria
levar suas filhas para ajudá-la na roça e, se fosse necessário,
cortaria cana. Isso é uma concepção de um modelo de vida e
desenvolvimento que não é hegemônico, mas é, e é disso que deriva
o conflito. Então, lamento que o Sisema não aceite e evite mediar
conflito, desidratando a atuação dos gestores públicos.
Sobre as outras questões mencionadas, digo que concordo com as
preocupações e reduzo a minha fala exatamente para que os outros
companheiros também tenham oportunidade, porque fomos avisados que
temos de terminar esse painel impreterivelmente. Obrigado.
O Sr. Presidente - Com a palavra, a Sra. Regina Grecco, para suas
manifestações pertinentes às questões mencionadas.
A Sra. Regina Grecco - A Associação de Usuários tem “e-mail”, e
me esqueci de colocá-lo na última página. O Antônio Carlos está
pedindo. É: associacaoriopara@uol.com.br, mas, segundo
informações, essa apresentação estará no “site” da Assembléia. A
Sirlene pergunta a respeito do protocolo do processo, e gostaria
muito de falar sobre isso com a presença do Dr. Humberto
Cavalcanti e Dr. Ilmar Santos. Aproveito para responder ao Dr.
Rogério que tenho um grande respeito por todos os técnicos. Como
disse na minha apresentação, o sistema está em transformação, mas
precisa evoluir, e a minha posição, como Presidente de uma
associação de usuários que representa quase 30 mil usuários de
água na bacia do Rio Pará, é de que o Sisema e os serviços de
licenciamento ambiental, principalmente o das classes 1 e 2... A
minha sugestão é que, ainda neste mês de março, isso possa ser
revisto entre os técnicos e que para nós, produtores rurais e
trabalhadores de pequenas atividades que necessitam desse
licenciamento, o processo possa ficar formalizado. Para isso, as
Suprams, principalmente a nossa Supram de Divinópolis, deve
receber e protocolar o processo da Apef e outorga e os outros
documentos que constem do FOB, a fim de nos sentirmos protegidos e
livres das multas. É isso o que eu gostaria de reforçar.
Quero dizer também que não ia dar nome aos bois, mas a pergunta
foi incisiva. Gostaria muito que os técnicos do sistema,
principalmente o Dr. Ilmar, que trabalha com licenciamento,
tivessem um contato com o núcleo do IEF em Oliveira, porque lá há
processos que estão parados há mais de dois anos. Tenho uma lista
de processos que estão no Igam, pois alguns produtores procuraram-
nos nos últimos 15 dias.
Gostaria de deixar aqui um depoimento. Na semana passada, dois
produtores rurais foram autuados porque não puderam protocolar os
documentos que estão dentro do núcleo de Oliveira. A multa de um
deles, cuja propriedade é de 2ha, foi de R$5.000,00. O outro tem
uma propriedade de 24ha e recebeu uma multa de R$15.000,00. Quero
dizer que tenho consciência de que o sistema precisa ser
melhorado. Trazemos sugestões porque ainda existe conflito.
Queremos que o IEF tenha um processo único dentro do Siam. Essa é
uma das nossas propostas. Gostaria muito que o sistema avaliasse
essa questão.
A outra pergunta é sobre as nascentes. Nossa proposta no Comitê
da Bacia Hidrográfica do Rio Pará e da Associação de Usuários é
que haja uma recuperação natural. No início dos nossos trabalhos,
dois técnicos aconselharam-nos isso. Um deles chama-se Ben-Hur e
trabalha no IEF. A outra técnica chama-se Ana Gabriela e trabalha
no IEF de Pará de Minas, com quem fizemos um VP de recuperação de
nascentes. É só fazer o cercamento do máximo possível para chegar
aos 50m de perímetro para que a própria natureza recupere-se. Em
alguns processos que já ocorreram há mais de cinco anos, a água
quase que foi 100% aumentada naqueles locais. Há alguns que
acompanhamos há mais tempo.
A Jussara está perguntando sobre a averbação. Trabalho em
pequenas comunidades de 10ha, 15ha ou 20ha. Isso faz parte do
próprio processo. Ela pergunta sobre a área de reserva legal. Se
ela for averbar, tem de apresentar esse processo no IEF para
conseguir ter essa área averbada e documentada. Que ela aproveite
e receba.
Gostaria que o trabalho de cadastramento dos usuários que fizemos
- que já foi motivo de reuniões desde o começo de 2005 - fosse
respeitado e considerado no processo de licenciamento como um todo
de atividades que chegam à Supram.
Quanto a essa taxa de R$34,00, se já for a cobrança pelo uso da
água, gostaríamos de ter um documento do Sisema e da Semad
mostrando quanto isso já rendeu. Ontem mesmo uma pessoa procurou-
me para elogiar o cadastramento e disse que, apesar de terem sido
cadastrados, a Supram de Divinópolis não aceitou a apresentação de
seus documentos e tiveram de pagar uma taxa de R$34,00. Isso
aconteceu ontem, antes de eu vir para Belo Horizonte. Ou seja, se
já está havendo cobrança pelo uso da água, queremos ver quanto é
desse recurso financeiro.
Que o sistema possa estar realmente integrado, porque é isso o
que esperamos. Que o processo esteja formalizado não no fim do
ano, mas já neste mês, porque o volume de autuações que estão
chegando ao Comitê e à Associação de Usuários é muito grande. E o
valor da multa não é brincadeira: R$5.000,00 ou R$15.000,00, o que
mexe no bolso de qualquer um.
Nossa sugestão é que os Superintendentes da Supram recebam o
protocolo da documentação da Atef, que o processo da Atef esteja
formalizado na Supram e que o processo da outorga também esteja
formalizado não apenas para autorizações de funcionamento
ambiental mas também para os demais processos.
Não foram uma, duas ou três pessoas que já nos procuraram para
reclamar. Foram muitas. Como estamos pertinho da bacia, o produtor
rural tem mais facilidade de nos procurar. Se isso puder acontecer
ainda no mês de março, voltarei a acreditar no sistema integrado.
Na verdade, isso aconteceu no ano passado, mas depois o órgão
recebeu a orientação de não mais protocolar nada. Não posso negar
que, nesses dois ou três anos, houve melhoria. Estamos num
processo de construção. No começo da minha fala, eu disse que
minha crítica ao sistema seria construtiva. Quero muito que tudo
melhore, que possamos ter um sistema integrado e que se imputem
multas apenas àquele que estiver cometendo um crime ambiental.
Espero que o sistema venha a tratar todo mundo com igualdade:
pequeno produtor, Juiz e Promotor. Há caso de conflito de uso da
água envolvendo um Juiz, que fez uma represa sem licença e deixou
todo mundo, a montante, sem água. Nenhum policial foi lá para
autuá-lo. Gostaríamos muito que não apenas os pequenos fossem
tratados com o rigor da lei. A lei foi feita para todos.
Agradeço a atenção de todos. Desde 1985, lido com a questão
ambiental. Fiz parte do processo evolutivo, e minha fala é para
construir e não destruir. Que seja revisto o Decreto nº 44.309,
que a legislação seja bem aplicada e que atinjamos nosso objetivo
de melhorar a produção de água e conservar o solo. Que, no
processo de licenciamento, também o solo seja considerado em casos
de desmate, para, então, não haver mais erosões. Muito obrigada.