DEPUTADO MARCO RÉGIS (PL)
Discurso
Legislatura 14ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 12/07/2002
Página 14, Coluna 3
Assunto COMUNICAÇÃO. ELEIÇÕES.
375ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 14ª LEGISLATURA, EM 2/7/2002
Palavras do Deputado Marco Régis
O Deputado Marco Régis - Sr. Presidente, Srs. Deputados, imprensa, especialmente a TV Assembléia, que acompanha diariamente os nossos trabalhos aqui na Casa, num gesto de transparência do Poder Legislativo mineiro, TV essa criada em 30/11/95, convidados das galerias, a minha fala de hoje se destina à leitura de um belíssimo artigo publicado ontem na página de editoriais do jornal “Estado de Minas”. Eu, como parlamentar cuja posição convicta na área internacional é conhecida aqui na Casa e que freqüentemente se manifesta a respeito de assuntos que dizem respeito ao nosso planeta, não poderia deixar de ler, aqui, um artigo escrito pelo Prof. Délcio Vieira Salomon, aposentado da UFMG. Esse artigo traduz, especialmente para mim, uma sintonia de pensamentos. Pensamento esse que tenho expressado da tribuna da Assembléia e que é, muitas vezes, mal interpretado e distorcido. Por isso mesmo, quando tenho a oportunidade de ler um artigo do gabarito deste, tenho que reproduzi-lo para ficar nos anais da Assembléia Legislativa. Poderia fazê-lo por meio de mero requerimento, mas quero dar a ele a emoção que sinto ao lê-lo. O artigo se intitula “Nós e os Estados Unidos da América”. (- Lê:)
“Corre pela Internet discurso de Fidel Castro em comemoração aos natalícios de 14/6: os de Maceo, herói 26 vezes ferido e participante em mais de 800 ações de guerra, e Che Guevara. Embora separados por 83 anos, ambos selados por um destino comum: o sangue derramado para evitar que o império norte-americano se apoderasse da América Latina. A todo cidadão latino-americano, notadamente ao brasileiro, consciente dos fatos que têm marcado a história contemporânea, hão de calar fundo estas palavras de Fidel: ‘O domínio imperialista americano quer nos fazer voltar ao sistema colonial, ao sistema feudal ou ao sistema escravista, abolidos já há muito tempo pela história’.
Estranhamente, há muito já sentimos na pele a mais perversa forma de domínio e colonização norte-americana: a de nos governar através da ideologia. No tempo da ditadura militar, de 64 até o final dos anos 70, impuseram-nos a ideologia da segurança nacional. Agora, a da dependência da grande nação, ou seja, a aceitação de sua hegemonia de maneira submissa e caudatária. Exigiram de nós, sem crítica nem resistência de nossos governantes, o acatamento ao Consenso de Washington e ao capitalismo selvagem, travestido de neoliberalismo.
Tão senhores de nós a ponto de um de seus mais autênticos representantes, o megainvestidor, megaespeculador Soros declarar: ‘Os brasileiros não votam em seu candidato a Presidente, quem vota são os EUA’”. Abrimos um parêntese para dizer que essa afirmativa de Soros foi publicada recentemente, em meio a esta turbulência econômica que afeta o Brasil nos últimos dias.
Tradução do Prof. Salomon: “Não adianta votar em Lula, quem vai ser escolhido pelos EUA é o José Serra. Ainda que tenham que recorrer a seu estranho e oculto poder, da maneira mais disfarçada, como sói acontecer com a ação de sua inteligência. Foi assim contra Jânio Quadros e contra Jango. Foi assim com os militares no poder e com Sarney, após a estranha morte de Tancredo, e também com Collor. E, para reparar o hiato produzido pelos dois anos do nacionalismo de Itamar, tornaram a agir escolhendo FHC, com o suporte do supera-mericanófilo Pedro Malan.
Até a declaração de Soros, pensar dessa maneira poderia cheirar a paranóia, a xenofobia, a má-vontade com a grande nação, a desdém gratuito, quando não sentimento de inferioridade diante de seu poderio. Atitude de socialistas derrotados ou frustrados e à margem da história.
Tenho conversado com muitas pessoas de bem e esclarecidas. O temor é generalizado: será que os americanos permitirão a vitória de Lula? Se Lula ganhar, permitirão sua posse? Se tomar posse, permitirão que governe? Se governar, será por quanto tempo? Para os EUA, Lula significa guinada para o socialismo ou, ao menos, ressurgimento de paradigmas socialistas no Governo. Para o obcecado ‘establishment’ americano, tudo o que cheira a social merece ser perseguido e destruído. Até no campo das ciências, em “A Imaginação Sociológica”, Wright Mills confessou: ‘O temor ao socialismo é tão forte em nossa classe dominante que conseguiram a façanha de trocar o nome das ciências sociais (‘Social sciences’) para ciências do comportamento (‘behavioural sciences’)’.
Mas há lição a tirar: se Lula causa temor aos EUA, é sinal de que representa realmente o começo de nossa redenção e a efetivação de nossa independência apenas proclamada em 1822. Uma esperança que não merece ser estiolada antecipadamente pela fúria capitalista do hegemônico Tio Sam. Caberá a nós impedi-lo”.
Fechemos aspas e comentemos. Gostaria de dizer aos companheiros parlamentares, nesta oportunidade, que permaneço atento aos acontecimentos internacionais. Tenho me solidarizado, nesta Casa, com o Governo de Hugo Chávez, da Venezuela, que é, aparentemente, populista, mas incomoda aos Estados Unidos da América. É a hora de nós, brasileiros, compenetrarmo-nos da gravidade do momento. Aqueles que têm preconceito contra Lula devem fechar os olhos e votar sem medo. Os que têm ódio do PT devem limpá-lo de seu coração, pois estamos em um momento grave de nossa vida.
Conseguimos, com a ajuda de alguns setores da brasilidade, impedir que este País fosse espoliado do que resta de seu patrimônio público. Nesta Casa, boa parte de nós defende, com muito ardor, a presença de Furnas no patrimônio público nacional. Desejamos que a CEMIG, a CHESF e a Eletronorte Tucuruí permaneçam como Brasil. Esperamos que o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal também permaneçam, porque somos diferentes da Argentina, que teve o seu patrimônio todo dilapidado e roubado. A Argentina está passando por uma crise, mas o Brasil é maior. Miremo-nos no exemplo dos nossos atletas, não apenas do futebol, mas também de várias modalidades, como o voleibol e o basquete. Já ganhamos um torneio internacional de basquete nos Estados Unidos, com o Oscar, e, no feminino, com a Hortência e a Magic Paula. Espelhemo-nos no exemplo do nosso esporte, cujos atletas superam todas as dificuldades e adversidades, conseguindo vitórias impressionantes. Somos diferentes dos demais países, até da China, que é uma grande potência. Ela abre-se ao capital, com responsabilidade, em determinados momentos. O Brasil abriu as nossas portas para o capitalismo selvagem, desde o Governo Collor, com irresponsabilidade. O nosso País tem como regrar a abertura do seu capital e pode até mesmo fechar as suas portas. Podemos ser independentes desse mundo globalizado, porque o Brasil não é qualquer nação. Possuímos um território fenomenal e continental. Temos potencialidades várias, clima tropical, água para beber e terra para plantar. Não somos como a maioria dos países, que depende dos outros, tendo de importar alimentos. Podemos produzir praticamente tudo neste País. E possuímos o mais importante dos bens neste momento: a água. Podemos até negociá-la. Por isso, lutamos contra a privatização do setor hidrelétrico, que significaria a entrega da nossa água para os grandes especuladores internacionais.
Aqueles que nos assistem pela TV Assembléia e os que estão presentes neste momento, conscientizemo-nos do papel importante que as eleições representam. O Brasil não precisa reestatizar aquilo que já foi doado para o grande capital internacional. A nossa grande e poderosa Companhia Vale do Rio Doce foi entregue ao capitalismo internacional. Como disse, no domingo, o Senador José Alencar, na convenção do PL, ela foi doada. Temos de preservar o que nos resta. Se o Estado ainda detiver em suas mãos algumas empresas poderosas, elas serão um cacife na mesa de negociação internacional. Se possuíssemos ainda a Vale do Rio Doce, ela seria outro trunfo nas nossas negociações. Além desse patrimônio, ainda nos resta a gana e a brasilidade. Temos a certeza de que, em breve, veremos pelas costas esse traidor que governou por oito anos o Brasil. O Presidente Fernando Henrique Cardoso pediu aos brasileiros que se esquecessem de tudo o que falou e escreveu. Em meu primeiro mandato como Deputado nesta Casa, já dizia que o seu nacionalismo era moribundo. Para mim, hoje, está sepultado.
Na verdade, precisamos nos dar as mãos e afastar os preconceitos e os problemas pessoais e partidários, para que possamos eleger aquele que tem a grande perspectiva de ser eleito Presidente da República, em uma coligação, direcionada ao centro, com o nosso PL, que tem pessoas muito mais progressistas do que certos partidos considerados de esquerda. Obrigado.