Pronunciamentos

DEPUTADO LELECO PIMENTEL (PT), Autor do requerimento que deu origem à homenagem

Discurso

Comenta a Campanha da Fraternidade de 2023, promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB –, que neste ano tem o tema “Fraternidade e fome” e o lema “Dai-lhes vós mesmos de comer”.
Reunião 1ª reunião ESPECIAL
Legislatura 20ª legislatura, 1ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 14/03/2023
Página 20, Coluna 1
Assunto ALIMENTAÇÃO. ASSISTÊNCIA SOCIAL. HOMENAGEM. RELIGIÃO.
Proposições citadas RQN 247 de 2023

1ª REUNIÃO ESPECIAL DA 1ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 20ª LEGISLATURA, EM 9/3/2023

Palavras do deputado Leleco Pimentel

O deputado Leleco Pimentel - Padre João, deputada Leninha, deputado Jean, deputada Macaé, o Consea voltou.

Boa noite a todos, todas e todes que se fazem presentes por um convite que não é meu e não é também da Assembleia Legislativa, mas é um convite da humanidade. É a nossa profunda relação de alteridade ao não nos acomodarmos diante da fome do irmão e da irmã. A presença de vocês no Plenário desta Assembleia Legislativa... Muitos acompanham também pela TV Assembleia, que está em transmissão ao vivo, e por meio das nossas páginas esta reunião especial em comemoração da Campanha da Fraternidade de 2023. Esta oportunidade tão relevante que nos traz a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a CNBB, para falarmos do flagelo da fome e da necessidade de sua superação. Saúdo todos e todas que estão também, nesse sentido de solidariedade, profundamente indignados, transformando a sua indignação no testemunho do próprio Cristo quando nos convoca a dar-lhes nós mesmos de comer. Saúdo a Mesa dos trabalhos, na pessoa da nossa presidenta, que é a deputada Leninha, e o nosso homenageado D. Vicente de Paula Ferreira, hoje bispo de Livramento de Nossa Senhora, na Bahia, neste ato representando a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a CNBB, anteriormente bispo da Arquidiocese de Belo Horizonte, com atuação na solidariedade que marcou a sua vida pastoral, social e política. Seus feitos na solidariedade e na denúncia do crime da Vale em Brumadinho são conhecidos internacionalmente. Somos eternamente gratos por essa sua vocação e dedicação, D. Vicente. Aqui conosco, juntamente a tantos e tantas, convidamos também o Pe. Dênis Cândido, que tem tipo um cuidado especial com o nosso querido bispo emérito da Diocese de Duque de Caxias, D. Mauro Morelli, que foi e é grande expoente na luta contra a fome e a desnutrição materno-infantil no Brasil. Responsável por projetos como o Fome Zero e a Ação da Cidadania contra a Fome, junto com Herbert de Souza, o Betinho, D. Mauro foi também membro do Comitê Permanente de Nutrição da ONU. Em nosso nome será portador de uma menção de reconhecimento a D. Mauro Morelli, e creio que, juntos, nós poderemos levar esta homenagem da Assembleia Legislativa de Minas. Está conosco a Cristina Bovi, da Pastoral de Rua. Cristina, por favor, fique de pé. (– Palmas.) Cristina é da Arquidiocese de Belo Horizonte, que, junto à população em situação de rua, faz articulações de solidariedade, mas também trabalha por políticas públicas que resgatem a dignidade desses nossos irmãos e irmãs. Maria do Carmo Ferreira da Silva – por favor, fique de pé, Cacá – é ex-prefeita de Araçuaí. Ela também, na Diocese de Araçuaí, atua com projetos produtivos, roças, hortas comunitárias, fabriquetas de farinha e de rapadura, juntas de bois, e, com mulheres e pequenos produtores familiares, incentiva a produção, compras locais, banco de sementes, dentre outras tantas coisas. Já chamei aqui, mas acrescento que o Pe. João Carlos Siqueira, hoje deputado federal, foi representante desta Assembleia, no Consea estadual, e também merece esta salva de palmas, coordenador do Consea nas regiões do Estado de Minas, atual coordenador da Frente Parlamentar de Segurança Alimentar do Congresso Nacional e representante da Câmara dos Deputados na FAO – Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, na América Latina e no Caribe.

Não está presente entre nós, mas convidamos também o aguerrido companheiro Edmar Gadelha, sociólogo, foi subsecretário de Agricultura Familiar e Regulação Fundiária em Minas Gerais, também conselheiro do Consea e incentivador de agroecologia em nosso estado. Lívia Bacelete, uma salva de palmas para a Lívia, conselheira estadual do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional de Minas Gerais – Consea, indicada pela Cáritas Regional, e aqui eu quero saudar também a Cáritas, nas presenças de vários companheiros e companheiras que aqui se encontram, que também nos ajudou sobremaneira nesse período de pandemia que jamais esquecido pela humanidade. Seguiu apontando caminhos e resistindo aos desmontes das políticas públicas, mantendo-se em funcionamento, mesmo que remoto, nas diversas regiões do Estado de Minas. Viva o Consea de Minas Gerais, que resistiu e resistirá aos ataques, seja do governo federal, seja do governo de Minas! Ao José Francisco da Silva, querido irmão, atual ouvidor da Guarda Civil Municipal de Belo Horizonte, psicólogo social, sanitarista, ativista de direitos humanos, integrou o Executivo Federal e Estadual, tendo sido coordenador dos projetos, inclusive de defesa social e participação popular. Que, nas pessoas dessas companheiras e companheiros, todos se sintam iluminados, porque também são luz no caminho por onde passam. Uma salva de palmas para todos vocês!

E o reino de Deus se anuncia. Tive fome, e me destes de comer. Tive sede, e me destes de beber. E o contrário, a exclusão, vamos denunciar. Tive fome, e não me destes de comer. Tive sede, e não me destes de beber. Também é importante anunciar. Este é um momento muito importante para nós que lutamos incansavelmente para combater a fome em nosso país. Celebramos uma iniciativa que há mais de 60 anos propõe a conscientização das pessoas sobre os problemas sociais que afligem nossos irmãos e busca apresentar soluções para questões como a Campanha da Fraternidade, realizada neste ano pela Conferência dos Bispos. Posso lhes dar o testemunho de que, se hoje sou militante da luta pela moradia, foi a Campanha da Fraternidade que, no início da década de 1990, nos foi possível tocar o coração. Eu agradeço a D. Luciano, que sempre vive pela sensibilidade de ver a vocação de luta para aqueles e naqueles que também o fazem na política.

A fome tem nome, já nos disse Roberto Malvezzi, o Gogó, e segue: “Por detrás das estatísticas, estão as pessoas com seus corpos, suas necessidades, seu estado emocional. Há mães, pais, avós e irmãos preocupados, tantas vezes desesperados, por não conseguirem suprir as necessidades básicas de suas famílias no dia a dia”. Por isso quem tem fome tem pressa, nos lembra o saudoso Betinho. Nas periferias, nas ruas, no campo, pessoas estão apartadas do direito mínimo a sua sobrevivência. As políticas dos últimos anos, sobretudo no período do pandemônio que se somou à pandemia, nos planos federal e estadual, anos nefastos de desgoverno aprofundaram a desigualdade por todo o Estado brasileiro. Precisamos de alimento, mas não só, precisamos de segurança alimentar. Precisamos realizar escolhas políticas, pois promover a superação da fome e da miséria e nos impele a lutar.

Nesse sentido, a Assembleia Legislativa de Minas também precisa dar sinais de seu comprometimento. E podemos lhes assegurar, nesse coletivo do Bloco Democracia e Luta e em nome de todos os deputados de Minas, que não é só pela nossa presença nesse lançamento que estamos promovendo frentes que busquem defender desde a agroecologia, a agricultura familiar, a soberania e a segurança alimentar e nutricional. Não são só requerimentos que cada um e cada uma hoje ocupando as presidências... Aqui nós temos a alegria de ter conosco o líder da Minoria, Doutor Jean; a vice-presidenta da Comissão de Educação, deputada Macaé; a nossa presidenta da Comissão de Educação, deputada Beatriz; e tendo na presidência desta sessão e na vice-presidência da Casa, a deputada Leninha. Esse testemunho de transformação dos espaços políticos e de ocupação para que a gente possa promover políticas públicas – posso lhes dizer – têm sido diuturnamente defendido por cada um e cada uma. Precisamos defender, assegurando com leis e com políticas públicas, os territórios das comunidades tradicionais, como os indígenas, os quilombolas, a população LGBTQIAPN+, todos.

Neste ato, ante a convocação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, só temos a dizer que cerraremos fileiras na defesa intransigente da vida em primeiro lugar. Não nos renderemos ante a precarização das políticas públicas e à ineficiência do Estado, que se chama hoje – a repetir – o Estado da eficiência, que não chega aos mais pobres. Seremos aqui, na Assembleia, deputados e deputadas comprometidos com a dignidade de filhos e filhas de Deus, respeitando a diversidade, respeitando a pluralidade e respeitando a outra e o outro.

Convidamos todas e todos, independentemente da crença que professam, a abraçar essa causa tão importante, que é a campanha, e que devemos desdobrá-la em ações. Afinal é o testemunho do Cristo que nos convoca, ao dizer: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Podemos repetir? “Dai-lhes vós mesmos de comer.” Você ouviu o que disse? Não tenha vergonha e não se intimide. “Dai-lhes vós mesmos de comer.” Que possamos, por meio desse testemunho do Cristo, garantir o acesso aos direitos humanos; e, na luta política, o direito à alimentação básica; e, na nossa missão, a vida digna; e, na nossa luta, a liberdade; e, no nosso direito, o acesso à terra, à educação, ao teto, como nos convoca o papa Francisco.

Por fim, parabéns aos que já estão afetados pela luta. E que tenhamos paciência, garra e coragem para tocar os corações insensíveis dos que ainda não se despertaram. Gratidão.

Devolvo assim, com alegria, a palavra à nossa presidenta, deputada, negra, mulher, guerreira, Leninha.