DEPUTADO JOÃO LEITE (PSDB), Presidente "ad hoc". Autor do requerimento que deu origem à homenagem.
Discurso
Legislatura 17ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 06/06/2014
Página 32, Coluna 1
Assunto CALENDÁRIO. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.
Observação O número que acompanha o Requerimento Sem Número, constante do campo Proposições, é para controle interno, não fazendo parte da identificação da Proposição referida.
Proposições citadas RQS 2736 de 2014
34ª REUNIÃO ESPECIAL DA 4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 17ª LEGISLATURA, EM 2/6/2014
Palavras do presidente (deputado João Leite)
Palavras do Presidente
Queria saudar os Srs. Marcos Brafman, presidente da Federação Israelita do Estado de Minas Gerais; Lior Ben Dor, ministro da Embaixada de Israel no Brasil, representando o embaixador, Rafael Eldad; Sílvio Musman, cônsul honorário de Israel em Minas Gerais; e André Sopas de Melo Bandeira, cônsul de Portugal em Belo Horizonte; e a todos que vêm novamente à Assembleia Legislativa neste ano para, juntos, celebrarmos esse tempo tão importante da história da humanidade.
É uma alegria estar com vocês aqui nesta Casa; é sempre uma emoção, pois nos lembramos desses anos e de momentos de muitas lutas – e se há algo que o povo de Israel conhece bem são as lutas que vêm deixando, através dos tempos, um exemplo a ser seguido. Muito obrigado pela presença e por podermos juntos celebrar esta data tão importante não apenas para Israel, mas também para todos que o amam. Esse é um sinal para toda a humanidade: um povo que venceu as dificuldades e uma oposição, que muitas vezes foi sanguinária, e que foi perseguido durante tanto tempo.
“Governar é construir estradas”. A afirmação do presidente Washington Luís, que governou o Brasil entre 1926 e 1930, destacou a importância da infraestrutura de transportes para o desenvolvimento socioeconômico: boas estradas reduzem o custo de transportes e, portanto, o preço final dos produtos, tornando-os mais acessíveis ao consumidor e mais competitivos, aumentando os ganhos de produtividade e qualidade para toda a cadeia econômica, além, é claro, de aproximar as pessoas, as famílias e poupar a vida da maioria das mais de 50 mil pessoas que morrem nelas todos os anos no Brasil. E gostaria de acrescentar aqui o sistema ferroviário, tão importante.
Os olhos desse nosso ex-presidente, há quase um século, já estavam voltados para a infraestrutura do País, enquanto conjunto de atividades e estruturas que servem de base para o desenvolvimento nacional. Fazem parte da infraestrutura de um país: rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, usinas hidrelétricas, telecomunicações, transmissão de energia. A infraestrutura é indispensável para o desenvolvimento de um país e, quando é pouco desenvolvida, os produtos e serviços encarecem, inviabilizam-se as exportações, e a realização de grandes eventos, como a Copa do Mundo, fica seriamente comprometida.
Se outrora tínhamos uma pequena parcela da sociedade brasileira vivendo como belgas, enquanto a maioria vivia uma realidade indiana, o que permitiu ao renomado economista Edmar Bacha criar o termo “Belíndia”, hoje convivemos com os padrões Fifa e Brasil, onde vergonhosamente o nome do nosso país, por iniciativa da presidente Dilma, foi associado ao malfeito, à estagnação e ao retrocesso.
A infraestrutura do Brasil foi, até algumas décadas, desenvolvida quase que exclusivamente com investimentos públicos. A partir da década de 1990, com as privatizações e parcerias entre os setores público e privado, as grandes empresas nacionais e internacionais investiram em infraestrutura através de contratos de concessão.
Obviamente, quando se fala em infraestrutura, não se está falando apenas em estradas. A construção de usinas hidrelétricas aumenta a oferta de energia no País e viabiliza a expansão das indústrias. Portos eficientes reduzem os custos das exportações, aumentando a capacidade de venda das empresas nacionais para o exterior, o que aumenta o emprego no País. E o que dizer dos combustíveis fósseis e seus derivados produzidos pelo nosso maior patrimônio, que é a Petrobras? Mas este é um tema que merece um capítulo à parte.
Os investimentos em infraestrutura têm importante impacto na redução da pobreza e na melhora da qualidade de vida da população de menor renda. Há um efeito direto de aumento da oferta de empregos e salários quando a economia cresce e se torna mais eficiente e competitiva. Mas há, também, um aumento no valor de mercado do patrimônio da população pobre quando a sua residência passa a ser servida por rede de esgoto, água e telefone. Da mesma forma, a propriedade rural passa a valer mais quando uma estrada facilita seu acesso à cidade mais próxima. A redução de incidência de doenças na população pobre, decorrente da expansão do saneamento básico, se reflete em aumento da capacidade de aprendizado escolar das crianças e da capacidade laboral dos adultos. Telecomunicação mais eficiente, barata e inclusiva permite que pequenos negócios tenham custos operacionais baixos e possam crescer. Transportes urbanos seguros, rápidos e com preços justos estimulam estudantes e trabalhadores em suas atividades profissionais e de lazer, efetivando os direitos sociais.
O nosso país tem enfrentado muitas greves no transporte coletivo urbano. Recentemente Israel também enfrentou uma grande greve no transporte coletivo urbano, porém com uma diferença: em Israel os motoristas saíram com os ônibus e não cobraram a passagem dos trabalhadores. Com isso os empresários os chamaram rapidamente para um entendimento, diferentemente do Brasil, quando os grevistas resolveram quebrar e queimar todos os ônibus. Nesta noite quero tratar disso, fazendo uma comparação de mentalidades.
Os benefícios do investimento em infraestrutura se perdem quando eles são malfeitos, são superfaturados, se o material utilizado for de má qualidade, se a obra construída não for manutenida adequadamente. Para que os investimentos públicos em infraestrutura atinjam seus objetivos é preciso que o Estado tenha clareza política, capacidade técnica para planejar e monitorar investimentos. Precisamos de auditorias permanentes e isentas. A ineficiência do Estado nesses quesitos tem gerado um irreparável desperdício de recursos financeiros e o aparelhamento político da máquina governamental.
A reversão desse quadro desesperador passa pela recuperação da capacidade de gestão do Estado brasileiro, reaprendendo a planejar e gerir o dinheiro público. E é um bom exemplo o que trago nesta noite, a partir da experiência de Israel, esse jovem país de uma experiente e abençoada nação, a quem homenageamos.
Queria lembrar da gestão dos três últimos governos: o governo Fernando Henrique Cardoso tinha deixado o País sendo gerido por 23 ministérios. Hoje temos 39 ministérios na gestão deste país. Temos Ministério da Pesca, Ministério da Agricultura, todo tipo de ministério, com uma estrutura pesada que vai atingir diretamente a população brasileira pagadora de impostos. Hoje é o primeiro dia em que os brasileiros começam a trabalhar para eles mesmos. Até o final de maio os brasileiros trabalharam para arcar com essa máquina pesada do governo federal, uma verdadeira distribuição de capitanias hereditárias entregando a Petrobras para um grupo de sindicatos, entregando a Eletrobrás para outro grupo. Estamos falando de um País ineficiente, um País caro para sua população.
Nos últimos 20 anos, a economia israelense evoluiu de um perfil tradicional, baseado essencialmente na agricultura e na indústria leve, com uso intensivo de mão de obra, para uma economia baseada no conhecimento, com competitividade internacional em telecomunicações, informática, eletroeletrônica e agrotecnologia. Nesse período, a renda per capita da população israelense cresceu a taxas bastante expressivas, elevando substancialmente a demanda por bens e serviços de alto valor agregado. O PIB de Israel, país de quase 9 milhões de habitantes, é da ordem de US$243.000.000.000,00, maior que o PIB conjunto do Egito, Jordânia, Síria e Territórios Palestinos. São investidos 4,5% desse valor nos 40 centros de pesquisa e desenvolvimento.
O Índice de Competitividade Global do Fórum Econômico Mundial classifica Israel na 27ª posição, acima de países como Espanha, Portugal e Itália. Para efeitos comparativos, o Brasil ocupa a 56ª posição, entre Colômbia e Trinidade e Tobago. A taxa de crescimento econômico de Israel tem sido expressiva, estando acima da média dos países desenvolvidos, gravemente afetados pela recessão de 2008-2009. Israel é um país fortemente integrado aos fluxos de comércio e investimentos mundiais, figurando entre as economias mais globalizadas do mundo. Apesar da instabilidade política do Oriente Médio, Israel tem sido extraordinariamente bem sucedido em atrair investimentos provenientes da Europa, Estados Unidos e Extremo Oriente, não só para o setor de alta tecnologia, mas também para setores tradicionais, como indústria de alimentos e indústria têxtil.
Existe potencial para ampliação de parcerias empresariais nos setores de alta tecnologia, semicondutores, instrumentos óticos e de alta precisão, telecomunicações, nanotecnologia, assim como biotecnologia, incluindo fármacos, nos quais firmas israelenses têm notável capacidade tecnológica. Serviços de alta tecnologia, que se caracterizam pela agregação de valor e uso de mão de obra especializada com elevada formação acadêmica, tendem a adquirir sempre maior relevância na formação do PIB israelense e na composição das exportações do país. E essa é a consequência natural de um país com renda per capita de US$33.900,00, quase três vezes maior que a brasileira, segundo colocado no mundo em número de livros publicados per capita, detentor de 12 prêmios Nobel, o maior índice de premiação per capita do mundo.
Gostaria de destacar contribuições atuais de Israel para a humanidade: a Universidade de Tel Aviv está desenvolvendo uma vacina nasal que protegerá da doença de Alzheimer e de derrames. Experiências bem-sucedidas estão sendo realizadas. O Technion de Haifa, instituto dedicado à pesquisa de tecnologia médica, desenvolveu um teste de sangue, simples, que pode detectar várias doenças, inclusive o câncer. O Dr. Célio Galante, especialista em oncologia, nos honra com sua presença aqui. O Centro Ichilov de Tel Aviv isolou uma proteína que vai substituir a colonoscopia na detecção do câncer de cólon. Basta um simples exame de sangue. O câncer do cólon mata cerca de quinhentas mil pessoas por ano. Muitas dessas mortes poderiam ser evitadas se detectadas a tempo.
A acne, que não mata, mas gera grande baixa estima a milhões de adolescentes, teve a cura descoberta pelo laboratório CureLight, através da emissão de raios ultravioleta de alta intensidade sobre as bactérias que produzem acne. Que notícia boa! O Laboratório Given Imaging desenvolveu uma pequena câmera na forma de comprimidos, que são engolidos. A câmara envia milhares de fotos do aparelho digestivo. Essas imagens de alta qualidade – 2 por segundo, durante 8 horas – podem detectar pólipos, câncer e fontes de sangramento. O paciente expele a câmera através do reto. Esse é o fim da endoscopia. Os judeus já descobriram que basta um comprimidinho, não é necessário aquele tubo.
A Universidade Hebraica desenvolveu um estimulador elétrico por baterias que são implantados no peito dos pacientes com Parkinson, bem como marca-passos. As emissões destes sinais nervosos bloqueiam as unidades que causam os tremores. O odor da respiração de um paciente pode ser usado para detectar se ele tem câncer de pulmão. O Instituto de Nanotecnologia Russell Berrie criou sensores capazes de perceber e registrar 42 biomarcadores que indicam a presença de câncer de pulmão sem a necessidade das invasivas biópsias.
É possível fazer sem cateterismo, em muitos casos, exames que visam diagnosticar o estado das artérias coronárias. O EndoPAT é um dispositivo colocado nas pontas dos dedos indicadores que pode medir o estado das artérias e prever as chances de um ataque cardíaco ocorrer por sete anos. A Universidade Bar Ilan está estudando um novo medicamento para combater o vírus da hepatite, do ébola e da aids: é chamado de armadilha de Vecoy, pois engana o vírus para alcançar a sua autodestruição. Os cientistas israelenses do Hadassah Medical Center podem ter curado o primeiro caso de esclerose lateral amiotrófica, conhecida como doença de Lou Gehrig. O tratamento foi desenvolvido com base em células-tronco.
Sem dúvida que nosso país, com a contribuição da comunidade judaica, se tivéssemos mais intensivamente buscado o entendimento com Israel, poderia estar experimentando um novo tempo. Lamentavelmente, estamos experimentando um tempo de estagnação da gestão no nosso país. Nosso país parou. Imaginar que no nosso país, para contabilizar quem está trabalhando, aqueles que estão recebendo do Bolsa Família são contados como trabalhadores. Isso é um atraso na mentalidade e na cultura do Brasil. Não tenho dúvida de que Israel é exemplo para o nosso país, e que deve ser seguido. Lamentavelmente, o nosso atual governo buscou o caminho errado, fez uma parceria com o Irã, fez uma parceria com países árabes. Os nossos últimos presidentes e presidentas erraram o caminho no Oriente Médio, e nós estamos vivendo uma total estagnação no País, de ideias, de modernidade. Estamos atrasados até na maneira de nos manifestarmos nas ruas. Até nisso estamos equivocados. Sonho para o Brasil uma mentalidade como a de Israel, de trabalho, Marcelo Guimarães, da busca do trabalho, da bênção que está no trabalho, nesse exemplo que Israel dá a todos nós e que o Brasil resolve desprezar.
Nós podemos acompanhar no Brasil os efeitos disso nas escolas. Os livros adotados nas escolas e o currículo pregam exatamente o contrário do que Israel faz. E, por isso, nós todos estamos com esse sentimento de que o Brasil está perdendo muito. Os números do último PIB brasileiro têm um significado: o brasileiro está mais pobre. Mas o mais grave é que não está mais pobre por falta de recursos financeiros; o mais grave é a nossa pobreza de pensamento, de mentalidade, de cultura; o mais grave é o nosso atraso. O Brasil precisa mudar, e nós já temos o exemplo, que é Israel. Gosto de dizer que quando fui, com o Marcos e Sílvio e com o governador Anastasia a Israel, quando descemos em Tel Aviv, anunciaram que iríamos descer na pista 7 do Aeroporto Ben Gurion.
Fiquei pensando: pista nº 7! Será que são sete pistas ou haveria mais? No Brasil, nos nossos aeroportos, descemos na pista nº 1, no aeroporto internacional, na pista nº 1. Um país que se recuperou em 66 anos, será que seu aeroporto tem mais de sete pistas? Quem sabe o ministro vai desvendar para nós quantas pistas tem o Aeroporto Internacional Ben Gurion, de Tel Aviv? Eu desci, naquele dia, na pista nº 7, tenho certeza, mas pode ser que o aeroporto tenha mais pistas. E nós não conseguimos consertar o que está em volta de um aeroporto. Dizia-me alguém que trabalha no Aeroporto de Confins que a empresa está colocando granito sobre granito. E ele perguntou: “O que é isso?”. Isso é obra emergencial, vale tudo. Este é o sonho de alguém: fazer uma obra em emergência. Então, estão colocando granito sobre granito. É dessa maneira que nosso dinheiro tem sido utilizado. Quero convidar todos para ajudar a construir esse novo Brasil. O exemplo nós já temos: Israel é o nosso exemplo. Muito obrigado.