DEPUTADO GETÚLIO NEIVA (PMDB)
Discurso
Comenta o crescimento da economia brasileira, a necessidade de
investimentos do Governo Federal em infraestrutura e as dificuldades no
transporte de minério na região do Vale do Jequitinhonha. Comenta a
possibilidade de colapso no sistema de transportes como o grande problema
a ser enfrentado pelo próximo Presidente da República.
Reunião
45ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 16ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 16/06/2010
Página 26, Coluna 4
Assunto TRANSPORTE. RECURSOS MINERAIS. ADMINISTRAÇÃO FEDERAL.
Aparteante DALMO RIBEIRO SILVA
Legislatura 16ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 16/06/2010
Página 26, Coluna 4
Assunto TRANSPORTE. RECURSOS MINERAIS. ADMINISTRAÇÃO FEDERAL.
Aparteante DALMO RIBEIRO SILVA
45ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 16ª
LEGISLATURA, EM 9/6/2010
Palavras do Deputado Getúlio Neiva
O Deputado Getúlio Neiva - Caro Presidente, Deputado Doutor
Viana, Sras. Deputadas e Srs. Deputados, depois de algum tempo
volto a esta tribuna com uma grande preocupação neste momento de
início de campanhas eleitorais, tanto em nível estadual quanto
federal. Lembro-me muito bem de que, há cerca de dois anos,
anunciamos a preocupação do cidadão Getúlio Neiva com o andamento
do processo administrativo no Brasil, sobretudo com a priorização
que se deve ou não fazer deste ou daquele setor.
Nos últimos dias tenho visto na televisão que a preocupação que
eu tinha há dois anos se reacende agora quando se iniciam os
debates, ainda que informais ou apenas noticiosos, a respeito do
futuro do Brasil. Sr. Presidente, vejo com muita preocupação que
os candidatos à Presidência da República, os três mais destacados,
a Marina, o Serra e a Dilma, nenhum deles está tocando nos
assuntos que são mais profundos. Essa é a preocupação dos
pensadores, dos estudiosos, dos economistas e dos próprios
jornalistas que realmente se importam com o País quando este fica
sendo iludido com essa história de PAC - o PAC que empacou -, sem
que haja um empenho objetivo e lógico com a questão do
desenvolvimento do País. Nesta semana especialmente, a preocupação
é deter o crescimento do Brasil, não permitir o crescimento do
País. Por que essa preocupação tão exacerbada de não permitir que
o Brasil cresça só porque cresceu no primeiro trimestre 9%?
Há dois anos eu falava da inveja que eu tinha da Argentina, que
crescia 7, 8 e 9 por cento; da China, que crescia 11, 12 por
cento; e da Índia, que crescia 9, 10 por cento. E nós, agora, com
essa preocupação estupenda com o crescimento. Não podemos crescer.
É preciso manter essa taxa de crescimento de 3%, 3,5%, 2,3% no
princípio do mandato do Lula. Ficamos aqui nos perguntando se o
procedimento dos candidatos está correto, se eles estão, de fato,
tentando discutir o que está acontecendo com o Brasil. Como eu
disse há dois anos, o Brasil está condenado a não crescer, a não
se desenvolver. Uma simples bolha de crescimento no primeiro
trimestre deste ano, comparado ao miserável ano passado, assusta a
todos porque o País cresceu 9% no primeiro trimestre.
Mas assusta por que, Sr. Presidente? Pela falta de infraestrutura
que houve ao longo desses anos todos. O “apagão” portuário já está
revelado, o “apagão” rodoviário já está mais que escancarado com
as BRs intransitáveis, obras de última hora, um recapeamento aqui,
outro ali, asfalto e duplicação aqui e ali. Deputado João Leite,
não se faz estrada de ferro neste país. Não se constrói estrada de
ferro para exportar os produtos minerários que temos nas várias
regiões de Minas e no Brasil. Não há preocupação com a questão
portuária. Ficamos enaltecendo o Brasil porque ele conseguiu
construir um petroleiro. É claro, está refazendo sua frota,
criando estaleiros, tudo bem, mas, infelizmente, por não nos
preocuparmos com a infraestrutura do País, não podemos ter a
felicidade de garantir uma taxa de crescimento maior, na
velocidade das transformações do mundo moderno - da informática,
da robótica, da cibernética -, essa velocidade que o mundo
experimenta e que a China está usando à exaustão, crescendo a
taxas altíssimas.
Essa alegria que estamos tendo agora, em razão do desastre do ano
passado, em razão da crise internacional, essa pequena alegria de
um crescimento de 9% no primeiro semestre já está sendo toldada em
nível de discussão nacional. Todos estão preocupados. A Dilma
tenta justificar dizendo que o País não pode crescer muito, que é
preciso dar um jeito; o Serra também dá uma escorregada, e a
Marina não fala nada sobre o assunto, pois só pensa na ecologia,
no meio ambiente. E nós aqui estamos há vários anos discutindo
esse assunto, mostrando que não é possível que o governo federal
não consiga construir estradas de ferro, pavimentar ou
repavimentar, pelo menos, as rodovias existentes. Em Minas foram
feitos 5.600km de estradas no Proacesso - e, segunda-feira, assina-
se a ordem de serviço dos Links Faltantes, com mais de 6.000km no
Estado. Não conseguimos apurar se há 1.000km de estrada federal
nova feita neste Brasil.
Então, minha preocupação não é política, partidária, deste ou
daquele candidato, é preocupação como brasileiro. Se não tivermos
estradas de ferro, estradas de rodagem, portos, aeroportos, se não
houver infraestrutura necessária ao crescimento, ficaremos
preocupados toda vez que houver um pequeno crescimento.
Sr. Presidente, caro Deputado Dalmo Ribeiro Silva, vejo essa
preocupação nos debates aos quais assisto pela TV a cabo, onde
acontecem de forma mais ampla. Sinto a preocupação, especialmente
dos jornalistas, de perguntar à classe política sobre o que será
feito para que a infraestrutura possibilite o crescimento
harmônico deste país, o que faremos para agregar ao mercado de
trabalho os quase 18% de brasileiros desempregados, o que faremos
para erradicar totalmente a pobreza, não no limite de meio salário
mínimo por família, como os órgãos internacionais defendem, que é
a necessidade de uma família receber pelo menos meio salário
mínimo. Isso é um absurdo. Não podemos viver da esmola do Bolsa
Família eternamente. Temos de gerar empregos neste país, devemos
propiciar ao Brasil o crescimento.
Vim aqui para falar exatamente disso. Como conseguimos fazer
5.600km de estrada de ligação dos nossos Municípios, o chamado
Proacesso? Como conseguiremos lançar o projeto dos Links
Faltantes, das ligações faltantes, com quase 6.000km em Minas
Gerais, na segunda-feira, sem haver essa preocupação por parte do
governo federal? Não estou aqui para criticar o governo Lula.
Estamos há quase oito anos nos preocupando muito pouco com as
estradas de ferro. É preciso despertar a consciência nacional.
Sobretudo nós, parlamentares, devemos encaminhar os assuntos das
nossas regiões e mostrar, por exemplo, que o Vale do Mucuri, o
Vale do Jequitinhonha e o Norte de Minas só poderão desenvolver-se
e aproveitar suas maravilhosas riquezas minerais se a estrada de
ferro for prioridade.
Que se estude desde já a navegabilidade do Rio Jequitinhonha,
onde duas grandes barragens foram feitas sem eclusas. A baita
Barragem de Irapé está lá, mas não tem eclusa; a baita Barragem de
Itapebi está lá, mas não tem eclusa. Não se está preocupando com o
futuro.
Digo aos companheiros, amigos, Vereadores e Prefeitos nas viagens
que tenho feito de forma intensa nos últimos dias que o bom
político não é aquele que resolve apenas o problema de arrumar um
dinheirinho para fazer rede de esgoto ou de água, calçar uma rua
ou fazer um prédio para o posto de saúde. O bom político é aquele
que pelo menos reserva parte do seu tempo para se preocupar com as
grandes questões nacionais e colocar em debate aquilo que o povo
está sentindo na própria pele. Estamos num momento de quase
anestesia nacional. Não há como despertar a população para pensar
profundamente no processo de desenvolvimento se nós, políticos,
não dedicarmos pelo menos parte do nosso tempo para a discussão de
grandes projetos, grandes metas, mudanças profundas, processos de
verdadeira transformação. Num País continental, gigantesco, como o
Brasil, especialmente em regiões como a nossa, estamos descobrindo
jazidas abundantes de manganês, níquel, estanho, chumbo, caulim,
calcário, grafite e minério de ferro, as quais são do tamanho do
Quadrilátero Ferrífero. As empresas estão-se organizando, a
exploração começa ano que vem. Continuaremos transportando o nosso
granito por caminhão ou continuaremos a fazer como o governo, que
colocou uma balança na estrada de Água Boa para não permitir que o
granito passe pelo Proacesso? Na estrada de Águas Formosas e Pavão
também foi colocada outra balança para impedir o transporte do
granito que produzimos.
Será que nossa estagnação econômica será determinada pela falta
de ação governamental, pela falta de visão dos governantes? Aquela
região já teve uma estrada de ferro funcionando até 1967,
eliminada pelo governo da ditadura. E agora, na democracia, não
podemos imaginar a essencialidade de uma estrada de ferro para a
questão minerária de uma região rica como o Jequitinhonha e o
Mucuri? Mas sobre essa terra rica vive uma população pobre,
carente e deficiente, que precisa muito da ajuda do governo.
Aproveito, Sr. Presidente, para agradecer ao governo Aécio Neves,
continuado pelo Anastasia, que, em 2003, prometeu que, para cada
R$1,00 aplicado no restante do Estado, seriam aplicados R$2,00
naquela região. Enganaram-se e acabaram aplicando R$3,00 para cada
R$1,00 investido no restante do Estado.
Lamento muito, Sr. Presidente, tocar nesse assunto, mas é preciso
que alguém fale a respeito. É por isso que fico muito feliz, por
conceder aparte ao nobre Deputado Dalmo Ribeiro Silva, que, como
eu, tem essa mesma preocupação.
O Deputado Dalmo Ribeiro Silva (em aparte)* - Muito obrigado,
Deputado Getúlio Neiva. Parabenizo-o pela grandeza do seu
pronunciamento. Tenho certeza absoluta de que ele traduz, acima de
tudo, o pensamento não só do ilustre parlamentar, mas o de todos
os pares.
Temos de refletir sobre os projetos mais importantes para o
Brasil. O pensamento de V. Exa. nos remete às ações significativas
do governo federal, às linhas férreas, à navegabilidade. Caríssimo
Deputado Getúlio Neiva, mesmo não sendo competência da Assembleia
Legislativa, apresentamos requerimento para discutir a
navegabilidade do Lago de Furnas, esquecido pelo governo federal.
Com certeza poderemos ter meios de transporte que tornem mais
barato o custo de produção, principalmente para o Sul de Minas.
Isso é o que V. Exa. também quer para o seu Vale do Jequitinhonha,
que tão bem representa. É necessário, sim. Neste momento, estava
pensando em tratarmos disso com letras maiúsculas. V. Exa. tem
grande experiência como Prefeito, parlamentar e Secretário de
Estado. Diante disso, indago-lhe: por que não iniciarmos uma ação,
com todos os parlamentares, para impulsionar os projetos maiores
para o Brasil, aqueles que estão engavetados? Isso seria
necessário para acelerar o desenvolvimento, como bem cita o
ilustre parlamentar. Seu pronunciamento ficará registrado nos
anais desta Casa. Essa reflexão é importante, assim como o é um
chamamento de Minas, que sempre está pronta e à frente de tudo
para que o governo federal tome iniciativa, diga que o Brasil é
grande e que necessitamos de projetos que garantam o
desenvolvimento a que almejamos e de que precisamos. Parabéns pelo
extraordinário pronunciamento!
O Deputado Getúlio Neiva - Muito obrigado, Deputado Dalmo Ribeiro
Silva. Veja a minha preocupação. Nesta semana o Congresso Nacional
está discutindo a possibilidade de aproveitamento, para a
navegação, de um trecho de 700km de um rio da Amazônia, que, ao
longo de 350km, já é navegável, ou seja, já é utilizado para a
navegação. Como passa por uma reserva indígena, não se pode fazer
a navegação dos outros 700km. Como será feito transporte na
Amazônia se não houver navegabilidade naqueles rios volumosos e
maravilhosos que temos lá? Não estou entendendo o que está
acontecendo neste país. Pensou-se, única e exclusivamente, no
imediatismo, ou seja, na solução dos casos de agora, de hoje. Não
se pensou, um mínimo sequer, no futuro da Pátria. Não se está
percebendo que, no ano que vem, o próximo Presidente da República,
seja ele quem for, enfrentará o apagão aéreo, portuário,
rodoviário e ferroviário. Se isso acontecer, o País não poderá
crescer nem gerar os empregos de que necessita o nosso povo. O
prazo que tenho para falar agora é pequeno demais para tratar de
um assunto tão importante. Prometemos voltar a falar sobre ele com
a sua colaboração, Deputado, a fim de mostrarmos ao Brasil que,
neste Estado libertário que sempre cuidou das grandes causas
nacionais, os Deputados da Assembleia de Minas não ficarão calados
diante de uma situação de paralisia de pensamento, pois é grande
nosso sentimento de brasilidade e de vontade de promover ações
objetivas no intuito de construir o futuro desta pátria. O Brasil
não merece isso.
Sr. Presidente, apenas tocamos nesse assunto. Perdoe-me por
estender a minha fala, pois o meu tempo já se esgotou. Viajei de
helicóptero com o Governador Anastasia pela nossa região e fui
mostrando-lhe as jazidas, mostrando onde há chumbo, níquel,
minério de ferro. Ele decidiu pedir à Secretaria de
Desenvolvimento que elabore um projeto de parceria público-privada
para a construção da estrada de ferro para transpor os Vales do
Mucuri e do Jequitinhonha. Estou preocupado. Quem será o
Presidente? Se tivermos essa mesma obliteração mental em relação
ao... Diante do que vemos até agora, não teremos a estrada de
ferro, pois é necessária autorização do governo federal. Portanto
essa é a minha preocupação. Estamos trabalhando e lutando.
Deputado Dalmo Ribeiro Silva, eu, V. Exa. e todos os nossos
companheiros devemos começar a bater nessa tecla a partir de
agora. As eleições vêm aí. A TV Assembleia vem ouvindo o Estado
inteiro. Temos de passar ao nosso povo um pouquinho de
preocupação, temos de pensar naquilo que faremos nas próximas
eleições. Muito obrigado.
* - Sem revisão do orador.