DEPUTADO GERALDO REZENDE (PMDB)
Discurso
Comenta o quadro político-eleitoral do Município de Uberlândia e denuncia
supostas irregularidades do candidato adversário à Justiça Eleitoral.
Reunião
186ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 14ª legislatura, 2ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 07/11/2000
Página 21, Coluna 4
Assunto ELEIÇÕES.
Legislatura 14ª legislatura, 2ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 07/11/2000
Página 21, Coluna 4
Assunto ELEIÇÕES.
186ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 2ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 14ª
LEGISLATURA, EM 25/10/2000
Palavras do Deputado Geraldo Rezende
O Deputado Geraldo Rezende - Sr. Presidente, Srs. e Sras.
Deputadas, dia 29, será realizado, nas cidades com mais de 200 mil
eleitores, o 2º turno das eleições. Em 1996, este Deputado fez
graves denúncias com relação ao comportamento dos candidatos e às
possíveis ações da Justiça Eleitoral.
Mas, Sr. Presidente, não adiantou nada. Hoje, volto à tribuna
para ler um editorial do Dr. Ajax Pinto Ferreira Alves, médico do
Ministério da Saúde e professor da Faculdade de Medicina da UFMG,
o qual saiu publicado no caderno de opiniões do jornal “Estado de
Minas” do dia 19/9/2000; diz o seguinte: “O poder e a
responsabilidade são os dois lados proporcionais da mesma moeda.
As instituições brasileiras vivem grande crise. São crises de
credibilidade, de valores, de ética, de identidade, de não saber
usar o poder”.
O governo fez opção pelo modelo neoliberal, que não rendeu, até
hoje, frutos para o povo brasileiro. Temos uma das piores
distribuições de renda do mundo; neste ponto, agrava-se, a cada
dia, a situação. O que se paga de impostos é um absurdo, porém não
há retorno para o povo. Neste caso, os mais sacrificados pela
tributação são aqueles que menos deveriam pagar.
O nosso Legislativo está longe de desempenhar o papel de que a
Nação precisa. Existe uma distância gigantesca entre aquilo de que
o povo precisa e espera de seus representantes e aquilo que é
praticado pelos parlamentares. O nosso Poder Judiciário é um
paquiderme: lento, envelhecido e esclerosado. O Desembargador
Lúcio Urbano, no “Estado de Minas” de 31/10/97, diz: “É
indispensável que os Juízes tomem consciência de que devem
construir nova estrutura do Poder Judiciário, permitindo maior
presteza, eliminando-se vistosas fórmulas medievais e adotando-se
nova administração do serviço judiciário, afastando-se recriminada
indolência política”.
A Justiça trabalhista é, na maioria esmagadora das vezes, a
instância de condenação antecipada do patrão, atua, quase sempre,
para dar direito ao empregado. Recentemente, acompanhei um caso,
em uma audiência em que a primeira fala da Juíza foi advertir uma
empresária: “Aqui, patrão não tem vez, é melhor aceitar a
reivindicação da reclamante”.
Tratava-se de um caso que, terminado o contrato de experiência,
uma funcionária não concordou com o valor que teria a receber.
Todos os cálculos obedeciam rigorosamente à lei. Valeu não o que
estava escrito, e sim o imaginado. Há um aforismo no Judiciário:
“Dê-me os fatos, que lhe dou o direito”. Isto nem sempre
prevalece. Aqui cabe uma observação do professor Antônio Álvares
da Silva, titular da Faculdade de Direito da UFMG, em artigo
publicado no “Estado de Minas” de 21/8/97: “A desigualdade perante
a prestação jurisdicional é a face mais cruel do mundo em que
vivemos. O mínimo que o povo espera de seus Juízes é que lhes
façam justiça”.
O que vemos, com freqüência cada vez maior, é os Juízes, talvez
empolgados com o poder que têm e despreparados para tê-lo, serem
acometidos de fulgurantes crises de “juizites”. Como encontraremos
tranqüilidade social, garantia de direitos, crença nas
instituições, se estão cheias de vícios?
Estamos na situação já descrita por Rui Barbosa: “De tanto ver
triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto
ver agigantar-se o poder nas mãos dos maus, o homem chega a
desanimar-se da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser
honesto”. O povo brasileiro está aturdido pela insegurança em
todos os sentidos, pela falta de perspectiva e referências. A
esperança, para os brasileiros, mais se torna uma miragem, em
horizonte cada vez mais longínquo. A credibilidade nas
instituições vai se tornando microscópica.
Não faz muito tempo que, na Itália, os Juízes foram “punidos” em
atentados não para matá-los. Recebiam tiros nas pernas, disparados
por clandestinos atiradores.
Porém, recentemente, o Judiciário italiano ressurgiu majestoso e
confiável, com a Operação Mãos Limpas. No Peru, o Presidente
Fujimori resolveu tirar todo o poder do Judiciário. Foi seguido
pelo Presidente da Venezuela, Hugo Chaves, que também decidiu pelo
esmagamento do Poder Judiciário venezuelano. Fujimori foi
reeleito, numa eleição, talvez, fraudada, porém, na Venezuela,
Chaves recebeu consagradora votação. O que nos espera aqui, no
Brasil? Será o método mais recente italiano ou o adotado no Peru e
na Venezuela?
No Brasil atual, o que vale em um julgamento não prevalece em
outro, mesmo que o que esteja sendo apreciado sejam reivindicações
iguais. Vejam o que tem acontecido na Justiça Eleitoral. Aqui, o
que deu motivo para a impugnação de uma candidatura em uma comarca
não vale em outra. Então, parece que não temos leis, e sim
princípios. A lei tem de prevalecer imutável em suas
conseqüências, em todos os casos. Com os princípios, as decisões
podem variar em cada caso. Recorrendo a Cícero, eu digo: “ubinam
gentium sumus? O tempora! O mores!”.
A minha cidade, Uberlândia, é uma das melhores do Brasil e tem um
povo trabalhador, honesto. Mas estamos submetidos, de quatro em
quatro anos, a uma “república do Camaru”, uma associação ruralista
constituída, sendo que, historicamente, só dela saem os candidatos
a Prefeito. De 12 anos para cá, não houve eleição, em Uberlândia,
que fosse sadia, de acordo com a lei, honesta, mesmo porque quem
está mandando na cidade, hoje, é profundamente desonesto e
corrupto. Já provei o que disse na Justiça, e não houve
conseqüência.
Agora, faltando quatro dias para as eleições do 2º turno - e
estamos no páreo -, quero ressaltar alguns fatos. No dia 7 de
outubro, começaram a cobrir as ruas do Centro da cidade, que já
estava todo asfaltado, com uma camada de asfalto de 4cm de
espessura, sem consultar ninguém. Como têm a pesquisa e viram que
nosso candidato, Dr. Zaire Rezende, estava ganhando também no
Centro, resolveram asfaltar toda aquela região, segundo
informações, gastando R$6.000.000,00, a fim de virar as eleições
com o asfalto. Isso é crime eleitoral grosseiro, e é preciso que a
Justiça tome providências.
Mas não é só isso. Há uma semana, nos comícios e na mídia, estão
divulgando que perdoarão a conta de água do Departamento Municipal
de Água e Esgoto de quem consome até 15.000l de água, ou seja, de
quem paga cerca de R$7,00 ou R$8,00. Portanto, está havendo uma
compra de votos descarada na cara da Justiça Eleitoral de
Uberlândia.
Além disso, mesmo sendo proibida a boca-de-urna, estão
contratando 40 mil cabos eleitorais, pagando R$15,00 antecipados,
mais R$35,00, caso venham a ganhar. Sra. Justiça Eleitoral de
Uberlândia, 40 mil cabos eleitorais estão sendo contratados para o
dia da eleição! O povo e a Justiça podem ter certeza de que o
dinheiro não está saindo do bolso deles. Em 1992, provei que
meteram a mão no dinheiro da Prefeitura, para comprar 35 mil
cestas básicas e distribuir pela cidade, a fim de vencer as
eleições. E venceram. Venceram não, roubaram. E a Justiça sabia
disso, principalmente a Eleitoral.
E o pior foi que, depois, a Justiça comum, em um processo que
movemos, com tudo comprovado, embora os tenha condenado a três
anos de cadeia, lançou a condenação depois da prescrição da pena,
ou seja, esperaram para dar a sentença após a prescrição da pena.
Essa é uma quadrilha que invadiu a cidade há 12 anos e quer
permanecer. E o povo, o que pode fazer? O povo fica indefeso.
Considerando-se que existem 60 mil desempregados na cidade, quem
não irá pegar o dinheiro no dia da eleição? Evidentemente, o
desempregado que precisa cuidar de sua família pegará. Quero,
entretanto, aproveitar a oportunidade para aconselhar o povo de
Uberlândia: peguem o dinheiro deles, mas votem de acordo com sua
consciência. Estão fazendo isso agora apenas para ficar mais
quatro anos no poder.
Esse é o quadro político-eleitoral de minha cidade, Uberlândia,
uma das maiores de Minas e do Brasil. É uma cidade rica, bonita,
poderosa, mas, infelizmente, está vivendo esse problema. Estamos
com cerca de 20 pontos à frente nas pesquisas, mas isso não nos dá
tranqüilidade, considerando-se as maracutaias que podem acontecer
no dia da eleição. São 40 mil pessoas para fazer a boca-de-urna, o
que é proibido pela Justiça Eleitoral. Vamos ver se, na eleição de
domingo, os Srs. Juízes e Promotores da Justiça Eleitoral de
Uberlândia atuarão de acordo com a lei. Não pedimos benesse,
apenas justiça. Se acontecer qualquer anormalidade, desta tribuna,
estaremos denunciando.
O 1º turno transcorreu com certa normalidade, embora tenha havido
boca-de-urna por parte de nosso adversário. Como não é
democrático, não fizemos a boca-de-urna; se tivéssemos feito, a
eleição teria se definido naquele turno.
Povo mineiro, principalmente de Uberlândia, juntos temos de
construir a democracia, não permitindo que ocorra corrupção em
eleições, compra de votos e boca-de-urna no dia da eleição. Muito
obrigado.