DEPUTADO GEORGE HILTON (PFL)
Discurso
Comenta a denúncia do Censelho Municipal do Patrimônio Histórico e
Cultural do município de Belo Horizonte contra a Igreja Universal do
Reino de Deus pela demolição de imóveis em processo de tombamento.
Comenta o não questionamento da implantação dos Shoppings populares
localizados em prédios tombados.
Reunião
63ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 15ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 07/09/2005
Página 44, Coluna 3
Assunto CULTURA. ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL. RELIGIÃO.
Legislatura 15ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 07/09/2005
Página 44, Coluna 3
Assunto CULTURA. ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL. RELIGIÃO.
63ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 15ª
LEGISLATURA, EM 1/9/2005
Palavras do Deputado George Hilton
O Deputado George Hilton* - Sr. Presidente, quero dar
prosseguimento ao meu pronunciamento de ontem, pois o tempo não me
permitiu continuar explanando sobre a situação que envolveu o
Conselho Municipal do Patrimônio de Belo Horizonte e a Igreja
Universal do Reino de Deus.
Aliás, ontem o Conselho se reuniu. Com esse episódio das duas
casas, a Igreja Universal conseguiu fazer algo importante: o
Conselho trabalhar. Em todo este ano, pouco se reuniram; portanto,
esse episódio foi bom para que o Conselho entendesse que existe
para funcionar e cuidar da cultura e do patrimônio histórico, que,
aliás, em Belo Horizonte, estão abandonados. Isso é fato. Já
mostrei aqui, ontem, a situação deplorável por que passa todo o
acervo histórico e cultural da cidade.
Pasmem os senhores: o Conselho reuniu-se ontem e decidiu propor
ao Ministério Público que a Igreja Universal do Reino de Deus,
como medida punitiva - e eles falam que é de caráter educativo e
exemplar -, deve recuperar as calçadas de todo o quarteirão em
volta da praça, restaurar a Praça Raul Soares e fazer a
desapropriação e a recuperação do edifício do antigo Cine
Candelária, que foi construído em 1951 e pegou fogo em outubro do
ano passado.
Isso significa que, apesar de o poder público municipal não ter
condições de reformar e de cuidar do patrimônio, pretende que a
iniciativa privada seja punida por um crime que não existiu, já
que o imóvel não era tombado. A administração pública municipal
pretende se redimir perante a sociedade de Belo Horizonte, quando
deveria ser a responsável pelo zelo desses imóveis. Agora, deseja
responsabilizar a Igreja. Daqui a pouco, exigirão que as
instituições privadas desempenhem o papel que cabe ao poder
público. Imaginem uma empresa ou organização sofrendo punições dos
conselhos municipais! E eles não tiveram essa preocupação em
relação a todos os processos de tombamento, pois, no que diz
respeito aos “shoppings” populares de Belo Horizonte, há muito a
ser explicado. Temos de propor que a Câmara Municipal de Belo
Horizonte investigue o processo de tombamento desses “shoppings”,
como o Oiapoque. Ao contrário do que aconteceu com a Igreja
Universal do Reino de Deus, a Prefeitura doou recursos para o
proprietário desses imóveis. Isso é lamentável! Quantos, que
tiveram os seus imóveis tombados por esse Conselho, estão à míngua
por não terem condições de mantê-los, já que não dispõem de
recursos para isso? Não é esse o tratamento que o Conselho tem
dispensado a todo mundo. No caso dos “shoppings” populares, é
necessária uma apuração.
No “Diário da Tarde”, de 31/5/2004, foi publicada uma reportagem
de um militante de um partido, que não quis se identificar. Isso
não o exime de uma investigação, até porque, neste país, qualquer
notícia é motivo para isso. Não se podem ter dois pesos e duas
medidas. É necessária a investigação desses “shoppings”. Essa
pessoa afirmou que o projeto favoreceu o empresário Mário
Valadares, que, além de proprietário do Shopping Oiapoque, é o
dono do antigo prédio da Mesbla. Ele comprou o edifício, que
funcionava por meio de um “leasing” do Bradesco, por
R$31.000.000,00. Procurou a Prefeitura de Belo Horizonte, que,
imediatamente, enviou à Câmara Municipal o projeto que instituiu a
chamada operação urbana. O maior problema está no montante
repassado pelo empresário à administração municipal para a
construção do Centro de Comércio Popular. Como o “shopping” estava
pronto por dentro, o Prefeito enviou à Câmara um projeto para a
doação de R$2.000.000,00 ao Sr. Mário Valadares. Isso é engraçado.
De alguns, o Conselho Municipal de Patrimônio exige indenização e
medida de compensação. Ele quer que a Igreja desembolse milhões
para a reestruturação da praça. Aliás, temos cumprido, de forma
religiosa, essas condicionantes, entendendo que devemos respeitar
a lei e o que é determinado pelos Conselhos, mas temos de saber o
que aconteceu em relação ao Shopping Oiapoque.
Segundo o jornal, essas operações urbanas são irregulares e
ilegais, porque a Prefeitura utilizou uma operação para alterar o
zoneamento da cidade. Quando é do interesse de alguns grupos, tudo
pode ser realizado; mas, quando é para mostrar para a platéia,
tentando-se resgatar uma imagem de credibilidade, que está
extremamente arranhada... Não pretendo adentrar essas questões, já
que a intenção é debater a situação do processo da política de
tombamento em Belo Horizonte.
Pasmem os senhores, estranho é saber que as pessoas que mais
insistem em afirmar haver algo de errado em relação às demolições
das duas casas pertencentes à Igreja Universal são as que estavam
na administração da Prefeitura, na mesma época em que aconteceram
as irregularidades que acabei de citar e que foram registradas
pelo jornal “Diário da Tarde”.
O Vereador Arnaldo Godoy, que hoje acusa a Igreja de todas as
formas, era o Secretário Municipal de Cultura na época. Na
ocasião, para ele não havia problema em acabar com o patrimônio
histórico cultural de Belo Horizonte, principalmente se isso
trouxesse recursos financeiros para a Prefeitura.
Sr. Vereador, V. Exa não agiu com o mesmo rigor e voracidade com
que agora pede que a Igreja seja multada em mais de
R$1.500.000,00. Isso é lamentável. Quando era Secretário de
Cultura, não mostrou a mesma preocupação no processo que envolve
os “shoppings” populares, que funcionam em imóveis tombados.
No bairro de Lourdes, a rede de supermercados Super Nosso irá
inaugurar uma de suas unidades. Estranho, pois, para isso, vários
imóveis antigos foram demolidos. Não houve nenhuma manifestação do
Conselho Municipal de Patrimônio. Ninguém se preocupou com as
casas; ninguém montou um circo para exigir da empresa que ela
assuma uma responsabilidade que é do poder público. Exatamente
para isso, a Secretaria de Cultura tem R$13.000.000,00 - orçamento
do ano passado - para investir em projetos. O Vereador Arnaldo
Godoy, quando Secretário, não manifestou essa preocupação. É
interessante ressaltar que a antiga Secretaria Municipal de
Cultura, atual Fundação Municipal de Cultura, recebeu recursos que
se destinaram apenas à área cultural: capacitação de artistas,
técnicos, produtores, etc. Sabemos que também houve aplicação de
verbas federais nessas atividades.
Lamentavelmente, percebo que esse é um processo de conveniências
políticas. Uma das provas disso é que a Associação dos
Proprietários de Patrimônios Tombados de Minas Gerais pediu à
Câmara mudanças no sistema que estabelece benefícios para os donos
de prédios, casarões e igrejas sob proteção. Conforme um dos
membros da associação, passa-se por uma verdadeira “via crucis”
para conseguir incentivos destinados aos proprietários de imóveis
tombados. Os problemas iniciam quando o imóvel recebe o título do
Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural. Em quase 90% dos
casos, o proprietário só fica sabendo do tombamento depois que ele
já ocorreu.
A Lei Municipal nº 3.802 estabelece que o proprietário não
precisa pagar o IPTU, desde que a construção histórica esteja
conservada; no entanto, não há verba específica para financiar a
reforma daquelas que estão em más condições. Muitas pessoas não
têm como fazer as obras e precisam recorrer à Lei Municipal de
Incentivo à Cultura, que isenta de impostos empresas que
patrocinam projetos. Para isso, elas dependem do interesse de
empresários na restauração.
O processo de tombamento é custoso e caro para muitas pessoas de
bem. Em contrapartida, na construção do “shopping” popular, em um
prédio tradicional da cidade, o processo foi simples, rápido e
objetivo. Estranho. No dia 14/1/2005, a Lei nº 8.137 foi alterada
para beneficiar poucos, muito poucos se levarmos em conta que a
maior parte da população foi prejudicada. A Prefeitura incentivou
o proprietário, que hoje ganha com os vendedores que pagam aluguel
dos boxes.
A alteração dessa lei prevê que seja viabilizada uma área maior
para a construção do Centro de Comércio Popular. E a lei permite
instituir, aos empreendedores classificados pelo Chamamento
Público nº 2/2004, contrapartida social, na forma de mecanismo
compensatório, para a manutenção da implantação dos Centros de
Comércio Popular, em forma de potencial construtivo a ser
alienado, nos termos da lei.
Sr. Presidente, tenho mais que falar, mas o farei em doses
homeopáticas nos próximos dias. Agradeço o esforço de V. Exa. para
que esta reunião pudesse ser aberta, pois temos muito que mostrar
a respeito da política de tombamento em Belo Horizonte.
Faço referência ao Deputado André Quintão, pessoa da maior
respeitabilidade, que ontem propôs que haja uma discussão mais
ampla. V. Exa. é um homem de diálogo e sabe que eu prezo isso.
Concordo que haja uma discussão. Não falo apenas em relação à
Igreja Universal do Reino de Deus, da qual faço parte há 20 anos.
Muitas instituições têm sido prejudicadas por essa metodologia de
tombamento, e é preciso discuti-la mais, para que não traga danos
ao patrimônio cultural e histórico.
Não vim aqui fazer apologia de que se destrua, ou se arranhe, ou
se prejudique o patrimônio histórico e cultural da nossa cidade.
Mas não se pode utilizar esse episódio como palanque político de
um movimento. Se estão ensaiando fazer um movimento, não há
problema, os movimentos são democráticos. Quanto a querer, por
meio desses movimentos de conotação política, resgatar uma
credibilidade que está colocada em xeque, isso é outra coisa.
Gostaria de convidar a todos para uma reflexão. A Igreja tem
consciência de que deve apresentar-se e fazer uma defesa, pois
assumiu a responsabilidade sobre a demolição das casas e fez o
pagamento correto. Mas não admitiremos que achincalhem a imagem de
uma instituição. Segundo pesquisa recente, as instituições
religiosas são as que mais gozam de credibilidade, diferentemente
de muitos movimentos políticos que estão desmoronando. Obrigado.
* - Sem revisão do orador.