44ª REUNIÃO ESPECIAL DA 4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 16ª LEGISLATURA, EM 10/12/2010

Palavras do Deputado Eros Biondini

Boa-noite, senhoras, senhores, jovens, crianças aqui presentes. Cumprimento o Deputado Carlos Gomes, que representa o nosso Presidente e preside esta reunião. Quero cumprimentar os Drs. Ernesto e Lincoln e a Dra. Helayne. De maneira especial, na pessoa do Dr. José Guerra, querido amigo, saúdo a todos que fazem parte da família São Camilo. Na pessoa de meus pais, João Biondini e Maria da Glória Biondini, cumprimento a minha família. Saúdo todos os presentes, que lotam nossas galerias, o que é algo difícil em uma noite de sexta-feira, o que mostra a importância de nossa reunião. Cumprimento minha esposa, Adriana, e meus filhos, Mauro e Chiara, meus sobrinhos, meus irmãos e minha equipe. Estendo-me nos cumprimentos porque, de alguma forma, são minhas últimas palavras na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. A partir de fevereiro, quis Deus que eu deixasse esta Casa para defender o nosso Estado e o nosso povo na Câmara Federal em Brasília. Sentirei muita saudade.

Não vou rasgar meu discurso, mas o deixarei de lado porque esta noite quero rasgar meu coração para falar o que existe dentro dele, que é pura emoção. Mesmo com a voz embargada e com dificuldade de expressar tudo o que trago dentro de mim, espero que sintam em meu coração a maior de todas as emoções, a de poder encerrar com a homenagem ao Hospital Infantil São Camilo. Encerrar não a minha participação como autor de requerimento na Casa, mas esta é a última reunião especial de homenagem da 16ª Legislatura. Neste tempo de trabalho legislativo, quatro anos, várias personalidades e entidades foram homenageadas. Estamos fechando com chave de ouro, pois a última reunião, a que coroa todo o trabalho que realizamos na Casa, é esta em que homenageamos, de forma justa e merecedora, o Hospital Infantil São Camilo.

O Dr. José Guerra falava da pronta adesão - unânime, espontânea e fervorosa - dos funcionários, dos sócios, enfim, dos participantes do Hospital São Camilo.

Temos hoje todos os motivos para estarmos felizes, e eu de uma maneira especial. Não são poucos os motivos, mas todos para estarmos felizes. O dia hoje para mim começou abençoado e está terminando ainda mais abençoado. O dia 10/12/2010 será inesquecível para todos vocês e, sobretudo, para mim, nesta Casa e neste trabalho a mim confiado de representá-los como parlamentar, como Deputado Estadual por quatro anos. Quero também saudar os nossos telespectadores, por meio da TV Assembleia, esse instrumento democrático de participação da nossa sociedade tão importante. A nossa democracia representativa se enriquece quanto mais participativa for.

Assim que fui eleito Deputado Estadual, ingressei no curso “lato sensu” de pós-graduação em Poder Legislativo, pela PUC Minas e pela Escola do Legislativo. Nos dois anos que cursei essa pós-graduação, geramos um conteúdo para a nossa monografia justamente mostrando o estudo sobre a participação popular na elaboração e na tramitação dos projetos nesta Casa. Portanto ver hoje, nesta reunião de homenagem, esta Casa lotada e saber também que mais de 300 Municípios nos acompanham, ao vivo, pela TV Assembleia - depois, esta reunião será reprisada -, é motivo de honra, porque estamos cumprindo a nossa missão de dignificar o nosso mandato parlamentar. Estamos fazendo com que as pessoas e a sociedade venham para esta Casa e se assentem no lugar de direito ou, então, que cheguemos às casas dos rincões deste nosso lindo Estado de Minas Gerais, que tanto amamos.

Hoje comecei o dia indo a uma clínica, com o meu amigo Cláudio, do Mundo Novo, e o meu amigo Caio, a fim de fazermos o que mais gostamos: cantar. Estivemos na Clínica Oncomed para cantar para aqueles que estão em tratamento do câncer. Ali começou a nossa emoção. Antes disso, ao me levantar, louvei a Deus pela vida de meu pai, porque justamente hoje, 10 de dezembro, é o dia do seu aniversário. E não é só o dia do seu aniversário, mas também dos seus 70 anos. Então percebam que esta data foi escolhida por Deus, foi um presente de Deus. A Casa, em razão do acúmulo de matérias ainda a serem apreciadas e votadas e pela lógica normal, já não poderia ceder espaço no Plenário para uma homenagem. Eu tinha mais de um requerimento. Solicitava também homenagens a outras entidades e personalidades que mereciam o nosso aplauso; contudo, quando tive de escolher e reivindicar que ao menos uma das homenagens eu pudesse fazer, fui ao Deputado Alberto Pinto Coelho, Presidente e Vice-Governador eleito, e solicitei esta reunião de hoje. Mesmo ele dizendo que era praticamente impossível, disse: “Presidente, é a minha última oportunidade de homenagear alguém”. E Deus me deu a oportunidade de fechar com chave de ouro o meu trabalho, ao homenagear uma das instituições mais respeitadas e merecedoras não só de Minas mas do Brasil. Então, tocado e comovido, o Presidente aceitou essa exceção, vamos dizer assim, e abriu o Plenário nesta sexta-feira, dia 10 de dezembro.

Cumprimento o meu pai neste aniversário de 70 anos. Ele trocou uma recepção particular para estar aqui comemorando os seus 70 anos. Meu pai me acompanha desde o meu primeiro dia de trabalho também inspirado na conduta do Pe. Marcelo Rossi, esse grande amigo que tenho e que aonde vai tem ao seu lado os seus pais. Por isso conseguiu vencer todos os obstáculos e desafios. Noutro dia, conversava sobre isso com o Pe. Marcelo, na ocasião do lançamento do livro “Ágape”, em Belo Horizonte. Dizia a ele que somos iguais, nossos pais sempre nos acompanham, dando-nos esse respaldo e cuidado.

Quero marcar esta noite com tão importante comemoração. Fechamos o ano. A última homenagem feita na 16ª Legislatura é prestada justamente aos 30 anos do Hospital Infantil São Camilo.

Meus amigos, os 77 Deputados desta Casa assinaram o requerimento que deu origem à homenagem de hoje. Para que uma homenagem seja feita, um requerimento, além de ser submetido ao crivo da Mesa da Assembleia, deve ser assinado pela maioria dos Deputados, que devem concordar com a homenagem. Obtive o aplauso e a concordância da totalidade dos parlamentares desta Casa porque se tratava do Hospital Infantil São Camilo. Muitos deles sugeriram que eu presidisse esta reunião substituindo o Presidente da Assembleia. Alguns Deputados médicos me ligaram dizendo: “Eros, diga ao Dr. José Guerra e equipe que lhes enviamos o nosso abraço carinhoso. Gostaríamos muito de estar aí”. Como se isso não bastasse, é importante para qualquer um de nós ter a honra e a disputa - no bom sentido - de ser autor de um requerimento como esse.

Conheço a história desse hospital desde os tempos em que se chamava Hospital São Domingos Sávio. Além disso, no meu primeiro ano de vida - apesar de não ter 30 anos, como o hospital - fui paciente do Dr. José Guerra, no Hospital São Domingos Sávio. Antes de mim, em 1969, a minha irmã também era sua paciente. Hoje ela está aqui. Foi atendida no hospital e em nossa casa. Naquela época, a saúde pública enfrentava mais dificuldades que hoje. Na pessoa do Dr. José Guerra parabenizo todos os médicos que compõem essa equipe. Além de nos receberem no consultório, eles, após o atendimento, nos visitavam em casa para saber como estava a nossa saúde. Como sabemos, a mortalidade infantil era muito grande naquela época.

Eu, desde o meu primeiro ano de idade, e meus irmãos fomos pacientes dos médicos do Hospital São Camilo. Depois, vieram os nossos filhos. De geração em geração, fomos muito bem atendidos nesse hospital. Meu pai se recordou de um fato que ocorreu comigo quando tive gastrenterite. Levaram-me rapidamente para o Hospital São Domingos Sávio, onde fui submetido a uma hidratação endovenosa. Na época, como eu era muito novinho, trocava a letra “z” pela letra “v” e a letra “f” pela letra “s”. O meu pai conta que cheguei chorando em casa dizendo que “a moça havia sincado o sinete na minha cabeça”. Na verdade, queria dizer que ela havia fincado o alfinete, nome que dei à agulha.

Dr. José Guerra, o senhor pode imaginar o quanto esta homenagem significa para mim. Estou nesta Casa há quatro anos. Antes de ser indicado por vários segmentos sociais para candidatar-me a Deputado, nunca havia sido filiado a um partido político. Fazia uma militância missionária, voluntária e social muito intensa, sobretudo na defesa da vida, na luta contra o aborto e na recuperação de dependentes químicos. Subi mais de quatro vezes o Morro do Alemão, alvo de notícias em jornais, para encontrar-me com jovens que eram dependentes químicos e fazer-lhes uma proposta de vida nova.

A passagem por esta Casa foi um desafio e uma grande experiência de vida para mim. Tive a alegria de ter oito leis sancionadas por esta Casa, todas elas de relevância social. Segundo o Presidente do Instituto Brasileiro de Pesquisa Legislativa, sediado em Brasília, fui considerado o Deputado com o maior número de leis de relevância social nesta legislatura. O que me trouxe a esta Casa foi a bandeira da defesa da vida. Conversava com o Dr. Silas e fiquei emocionado, pois, no ano de 1980, ele já se manifestava firmemente pela vida, contra o aborto, mostrando que, desde a fecundação, já temos um novo filho de Deus que se prepara para nascer. Meu objetivo, ao ser eleito, foi exatamente esse. A expectativa dos que me trouxeram aqui foi que eu representasse a defesa da vida, em todas suas etapas, desde a concepção até a morte natural, enfim, em todas as suas dimensões. Travamos aqui a luta contra a pedofilia e as drogas; mais que isso, lutamos pelo fortalecimento da política antidrogas do Estado, por meio do aumento da fatia do Orçamento para esse fim. Tivemos, durante esse período, a criação da Subsecretaria de Política Antidrogas. Todas as matérias, todos os meus pronunciamentos e todas as minhas ações aqui foram em busca da defesa da vida. Hoje volto atrás e fico pensando que talvez a grande motivação, além da criação que tive dos meus pais e dos momentos difíceis por que passei, desafios, quedas, erros, equívocos, tenha sido a defesa da vida. Toda essa experiência remeteu-me à defesa da minha própria vida, que passou pelo Hospital São Camilo. A defesa da minha vida e da vida dos meus irmãos, em enfermidades difíceis ou de revisão para a previsão da saúde, foi assessorada por todos os funcionários do São Camilo, que estavam lá prontamente para nos atender. Assim como tenho uma admiração tremenda pelos funcionários, pelos assessores e pelos funcionários da Assembleia, eu a tenho também pelos funcionários do Hospital São Camilo. Vou sentir uma saudade tremenda de vocês, Élcio, sentirei muita saudade desta Casa. Diferente do que pensava quando via de fora uma Casa Legislativa, vejo como é importante este lugar. Tive oportunidade de trazer para uma homenagem as comunidades terapêuticas que trabalham na recuperação de dependentes químicos. Assim como estão sentados, sentaram-se, nas cadeiras dos Deputados, nossos jovens dependentes químicos em recuperação. Muitos deles disseram que estavam tendo uma oportunidade que jamais pensaram ter e que isso fazia parte da motivação para a recuperação. Hoje me sinto lisonjeado, homenageado e privilegiado. Sei que Deus me honrou e me presenteou por ser o último Deputado a ter um espaço para homenagear alguém, e esse homenageado ser o Hospital São Camilo, que comunga com todos os meus ideais, com minhas lutas e bandeiras. Hoje, além dos Deputados que se manifestaram solidários a esta homenagem, conversei há pouco com o Governador Anastasia, que está em Santiago do Chile, mas fez questão de me atender ao telefone. Ao lado do Dr. José Guerra, ouvi o Governador dizer que se unia a mim, quando me pedia que falasse em seu nome, pois era também um grande admirador dessa obra.

O Prefeito Márcio Lacerda disse: “Prezado Deputado Eros Biondini, receba meus cumprimentos pela homenagem que a Assembleia Legislativa, por iniciativa de V. Exa., presta ao Hospital São Camilo pelos seus 30 anos de fundação. Nesta oportunidade, solicito que estenda meus cumprimentos a todo o corpo clínico e administrativo daquela instituição de saúde. Com meu abraço cordial, Márcio Araújo de Lacerda, Prefeito de Belo Horizonte”.

Dr. José Guerra, senhoras e senhores, amigos, meu coração está transbordando de alegria. Estou encerrando um período da minha vida. Como diz Paulo, “combati o bom combate, encerrei a carreira e guardei a fé”. Traduzindo em canção que o nosso querido Pe. Fábio de Melo canta - e quantas vezes tive oportunidade de cantar com ele. (- Canta:) “Se o meu combate eu não combater, minha coroa não receberei; se a carreira eu não completar, de que vale a minha fé tanto guardar?”.

Realmente, a nossa fé precisa ser transformada em obras. Hoje estamos encerrando essa carreira, esse período, esse tempo, da melhor forma que algum representante do nosso povo poderia almejar, homenageando uma instituição como essa, que defende e salva a vida daqueles que são prioridade absoluta, como consta no art. 227 da Constituição Federal: “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.”

Obrigado, Deus, por esta noite e por este tempo. Obrigado, mãe, e obrigado, pai, por me terem conduzido a ser um homem de bem e de caráter e ser hoje um lutador, um guerreiro em defesa da vida e das crianças como a que um dia fui, tão bem cuidado pelo nosso querido Dr. José Guerra, sua filha Marisa - que não cuidou de mim porque temos quase a mesma idade -, seus outros filhos e os demais médicos que hoje dão consultas às crianças que aqui estão, que já os abraçaram. Obrigado a todos. Obrigado ao Presidente Deputado Alberto Pinto Coelho por me permitir esta exceção de hoje, fazendo, de todas as homenagens que prestei nesses quatro anos, a que mais comoveu e tocou meu coração. Deus abençoe a todos. Parabéns.