Pronunciamentos

DEPUTADO DOUTOR JEAN FREIRE (PT)

Discurso

Solicita a valorização dos profissionais da saúde, em especial os enfermeiros e os técnicos de enfermagem. Apresenta os nomes de servidores da Assembleia Legislativa que perderam a vida ou enfrentaram batalhas médicas diante da Covid-19. Comenta a seriedade da doença e lamenta as atitudes do presidente Jair Bolsonaro frente à pandemia. Solicita aos Executivos federal e estadual levarem mais a sério a pandemia e que os hospitais do Estado sejam melhor equipados.
Reunião 49ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 19ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 12/06/2021
Página 24, Coluna 1
Assunto CALAMIDADE PÚBLICA. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. SAÚDE PÚBLICA.
Observação Pandemia coronavírus 2020.

49ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 19ª LEGISLATURA, EM 10/6/2021

Palavras do deputado Doutor Jean Freire

O deputado Doutor Jean Freire – Boa tarde, Sr. Presidente; boa tarde, deputados aqui presentes, deputados que estão em casa de maneira remota, servidores desta Casa, público que nos assiste, telespectadores da TV Assembleia.

Caros colegas, subo aqui, mais uma vez, para tratar novamente da questão da pandemia, porque eu vejo os dias passando, e parece que muitos agem como se tivéssemos uma vida normal. Eu saí na segunda-feira à noite de praticamente 100 horas de plantão, somando desde quarta-feira à noite até segunda. Não tem sido fácil para os profissionais da saúde. Saindo, eu fiquei sabendo que a minha cidade, a cidade de Itaobim, iria entrar em lockdown, atitude correta, correta, o que muitas cidades deveriam fazer, atitude que deveriam tomar. Nós, infelizmente, estamos nos aproximando de 500 mil mortes. Infelizmente! Existiria algo que poderia impedir as mortes? Muitas delas, sim, muitas e muitas; muitas delas, sim. E nós não deveremos e não devemos nos acovardar e deixar de falar: é preciso aplicar mais recursos, é preciso capacitar mais, é preciso aparelhar mais as instituições, é preciso valorizar mais os profissionais de saúde.

Nós estamos no mês de junho, e, no mês de maio, principalmente ali, na semana do dia 20, a gente ouviu discursos, falas, e viu encontros, aplausos para a enfermagem. Junho chegou, e virão outros meses. Talvez a enfermagem seja lembrada lá por volta do dia 12 de março do ano que vem. E isso tem que mudar; não simplesmente por causa da pandemia, mas ela traz essa reflexão de que isso tem que mudar.

Nesses dias de trabalho, tivemos que entubar uma colega que, até poucos dias atrás, estava atuando na linha de frente conosco. Saí segunda-feira à noite, e essa colega já estava há três dias entubada, uma colega técnica de enfermagem, que cria sozinha três filhos, que recebe, como os técnicos de enfermagem, a maioria neste país, por volta de R$1.200,00. Nós não podemos nos calar. Nunca! Nós não podemos nos calar.

A gente nota como a equipe toda fica abatida quando um dos seus, quando uma fica adoecida, encontra-se adoecida. A gente chega ao plantão, vê as colegas, os colegas abatidos ao verem a companheira daquele jeito. E eu sei que vai se falar muito, que vão ter muitos encontros, que vão ter muitas manifestações, mas, infelizmente, a mudança ainda está longe de vir. Infelizmente! E eu peço apoio a cada colega deputado e deputada, mesmo os estaduais, porque é preciso falar. Aplaudir é bonito, é verdade, e temos que reconhecer. Mas eles merecem bem mais que isso.

Nós não estamos no normal; nós estamos longe do normal. Aí você sai daquele ambiente de trabalho, chega aqui, como há dias, e tem que pedir 1 minuto de silêncio por um colega de trabalho daqui da Assembleia que faleceu. Há poucos dias, foi o Rodrigo. Muitos que me veem agora pela televisão, em muitos momentos, viam as imagens captadas por ele. Citar alguns nomes aqui, como o Dário, o Alencar Santos, o Carlos Henrique Borges, o Sebastião Barbosa, o Antônio Ferreira, o Diogo Celso, o Jairo, o colega deputado Luiz Humberto, o Amarílio, o Rodrigo, a Isaura, o Fábio e ainda o companheiro Juraci, o Ziza, que está em grave estado e inclusive já esteve na minha cidade, na querida cidade de Itaobim. Então é difícil você chegar a um ambiente de trabalho onde não tenha alguém conhecido. É difícil. É difícil uma família que não tenha um vizinho ou um parente que não foi acometido. Aqui nesta Casa, por volta de 200 servidores já foram acometidos pela doença, já foram infectados. Então nós não podemos nos calar. A cada dia eu vejo colegas, profissionais, médicos já vacinados também serem acometidos. Presenciei alguns, na semana passada, colegas médicos que trabalham conosco, colegas técnicos de enfermagem que trabalham conosco. Ou seja, ainda estamos distantes do normal. E não podemos brincar, não podemos baixar a guarda, porque a saúde...

Em momentos de eleição, deputado Cleitinho, nós vemos vários políticos colocarem sua saúde em primeiro lugar. A saúde já enfrenta dificuldade, o SUS já tem as suas dificuldades, mas é graças a ele que inclusive não houve mais mortes ainda. E ainda temos que aguentar, que ouvir o ministro falar que é culpa do SUS; e ainda temos que aguentar ver o presidente da República debochando do povo, porque quando um presidente faz mímica com a respiração do povo, deputado... Eu não tenho coragem de fazer aqui o que ele fez, ao dizer: “Se sentiu falta de ar...”, e fazer mímica. Isso é deboche.

Falar que o Tribunal de Contas disse que não morreu a quantidade que morreu no ano passado é deboche, é mentira. Ou seja, pelo amor de Deus! O inimigo é um só, a hora já passou há muito tempo de pensar, pelo menos nessa causa, que o inimigo é um só e quem está morrendo é o nosso povo. E a gente tem que ficar escutando que o Brasil é o 4º que mais vacina. Mentira! Olhem o tamanho da população brasileira! Olhem o tamanho da população brasileira! Se nós tivéssemos 20 milhões de pessoas, talvez seríamos o 4º que mais vacina, mas não somos. A gente não tem que olhar o número de doses que foram compradas e nem o número de doses que foram aplicadas. Temos que olhar o total da população: o número que foi aplicado, mas proporcionalmente àquela população. Nós somos mais de 200 milhões de pessoas, então, ainda estamos longe, longe, longe de ser o 4º. Queria eu falar: tem razão, é o 4º que mais vacina. Os números são falados de acordo com a vaidade, de acordo com aquilo que lhe convém, mas não é assim.

E caminhando junto com a pandemia, têm morrido mais pessoas por outras causas, porque os hospitais estão superlotados. Têm morrido mais pessoas por outras causas por não achar vaga. Eu já presenciei, eu já presenciei jovem precisando de uma cirurgia neurológica, após um traumatismo, que talvez seria uma drenagem, mas que, por não chegar a tempo ou por não ter nem a condição de sair dos grandes bolsões, onde falta assistência médica, ainda hoje, neste estado... Muitas vezes, não é nem por não ter conseguido chegar a tempo é por não ter saído, o que é diferente. É por não ter tido a capacidade de sair, porque até isso importa para os familiares, para os que ficam. Uma coisa é perder um familiar, sabendo que ele está tendo a assistência que deveria ter; outra coisa é perder, sabendo que ele não teve a oportunidade de chegar naquele espaço onde poderia ser tratado, e nós vemos isso. Aqueles que são acometidos por alguma patologia e que moram mais distantes dos grandes centros sofrem mais, sofrem mais. Já vinham essas situações ocorrendo e, agora, na pandemia, ocorrem mais ainda. Então, o que está aumentando não é somente, e infelizmente, as mortes pela Covid-19; estão aumentando as mortes por outras patologias. E, sim, o sistema está entrando e já entrou em colapso, porque, quando você não consegue vaga nem para outras patologias, é porque ele já entrou, há muito tempo, em colapso.

Eu cheguei aqui, na terça-feira pela manhã. Fiquei o dia todo para tentar descobrir um fabricante de um aparelho que se chama cateter de alto fluxo, para mandar para o interior, para tentar impedir que mais outros fossem para o tubo. Conseguimos mandar esse aparelho, conseguimos mandar um, e fica agora, neste minuto que parece que me resta, esse clamor ao governo de Estado, esse clamor.

Tenho dialogado com o secretário, que tem recebido muito bem, mas quem quer que me escute, sejam empresários, sejam autoridades, é importantíssimo, é importantíssimo que, o mais rápido possível, equipem mais os hospitais. Nós temos esse aparelho sendo usado em alguns locais, cateter de alto fluxo, ainda ontem, conversando com o deputado presidente Agostinho Patrus, ele já levou essa proposta até o governo, ele me disse, que já levou a proposta até o governo de adquiri-lo, porque é um aparelho que pode impedir que o paciente seja entubado. São muitas pessoas, caros colegas, que estão sofrendo, e a doença não faz sofrer só o paciente, faz sofrer os familiares que ficam fora, muitas vezes sem notícias, e faz a equipe que está ali no fronte sofrer.

Então eu quero conclamar todos e todas: é passada a hora de falarmos, pelo menos nesse setor, a mesma língua.