Pronunciamentos

DEPUTADO DOUTOR JEAN FREIRE (PT)

Discurso

Apresenta um desabafo em nome dos profissionais de saúde em relação à pandemia da Covid-19. Critica gestores públicos que adotaram uma posição de negacionismo e ignorância em relação às necessárias providências para conter a pandemia, por meio do isolamento social, conforme orienta a ciência. Elogia a atuação de prefeituras como a do Município de Belo Horizonte, onde o isolamento foi fundamental para conter a pandemia em seu estágio inicial. Presta homenagem às mulheres pelo transcurso do Dia Internacional da Mulher.
Reunião 15ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 19ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 13/03/2021
Página 78, Coluna 1
Assunto CALAMIDADE PÚBLICA. CALENDÁRIO. MULHER. SAÚDE PÚBLICA.
Aparteante BARTÔ
Observação Pandemia coronavírus 2020.

15ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 19ª LEGISLATURA, EM 11/3/2021

Palavras do deputado Doutor Jean Freire

O deputado Doutor Jean Freire – Boa tarde, Sra. Presidenta Beatriz Cerqueira, colegas deputados aqui presentes, servidores desta Casa. Boa tarde, público que nos assiste pela TV Assembleia.

De um ano para cá, esta tribuna tem sido ocupada várias vezes para debatermos sobre a pandemia. Uns defendem que fechem o comércio, outros falam que não, outros julgam quem é o vilão da história. O vilão da história é o vírus. Quem mata é o vírus, mas deputada Beatriz, a ignorância também mata. E é evidente que o nosso país, pela dimensão que tem, pela diversidade de cada região, cada estado se torna um país e, às vezes, aquela região no estado é um país. Pela diversidade, a gente sabia que a pandemia, quando aqui chegasse, iria tomar proporções. E nós sabíamos que a chance de batermos recordes, triste recordes... Recorde é alguma coisa que, quando a gente fala, a gente pensa em vitória, não é? Mas sabíamos que o triste recorde, no dia a dia, seria grande. Infelizmente quem deveria liderar esse processo banalizou isso, foi ignorante, está sendo ignorante.

Eu costumo dizer que em algumas questões – e aqui eu não tenho nenhuma procuração para defender político algum... Mas eu quero aqui lembrar uma frase do prefeito de Belo Horizonte lá no início da pandemia, o Kalil. Ele chamou os especialistas, os infectologistas, os estudiosos, a ciência e disse: “Eu não entendo sobre isso. Eu tenho a sensibilidade, mas eu não entendo”. Basicamente isso: “O que vocês falarem eu vou seguir”. E naquele momento Belo Horizonte foi fundamental para que Minas não tomasse uma proporção absurda no que diz respeito ao crescimento da pandemia. Em muitos momentos a gente via o governador falar que Minas estava uma maravilha, que aqui estava sendo feito diferente, que estava sendo feito daquele jeito.

Deputados e deputadas, povo mineiro, Minas de ontem: 263 mortes em 24 horas; Brasil de ontem para hoje: 2.286. Minas, deputada Beatriz, bateu recorde, triste recorde; Brasil bateu recorde, triste recorde. Será que podemos dizer que há alguma comparação a ser feita? Há alguma semelhança entre o que está sendo feito pelo governo federal e pelo governo estadual no que diz respeito à pandemia?

Amigos e amigas, não banalizem a morte. Não banalizem a morte! Um ano atrás, quando ouvíamos falar que na Itália ocorriam 400 mortes por dia, nós nos assustávamos; 600 mortes, nós nos assustávamos; no Brasil, 100 mortes, nós assustávamos; 200, 300 mortes, nós nos assustávamos. O Brasil demorou dias para chegar a 2 mil mortes; e agora, em 1 dia? Não banalizem a morte. Não se trata aqui de questões político-partidárias. Trata-se de uma questão política, mas não partidária, não de cores, não de ideologia. Já é passada a hora de o País e de o Estado se unirem para combater efetivamente a pandemia.

Colegas deputados, eu não aguento mais ver gente morrer. Eu não aguento mais. (– Emociona-se.) Eu não aguento mais ter que entubar um paciente, correr para outro paciente. Eu não aguento mais estar na minha casa e ouvir o telefone tocar pedindo vaga. O que eu posso fazer por uma vaga que antes nós já tínhamos dificuldades de conseguir na nossa região – e a temos até hoje em relação a vaga para CTI geral. Hoje a maioria é de vaga para a Covid. Deputado Cleitinho, eu não aguento mais isso. Quem está na linha de frente está cansado. Os colegas da enfermagem estão cansados. A fisioterapia, que nunca foi valorizada neste país, está cansada; ela, que ajuda tanto a respirar, já não está tendo fôlego mais. Por isso vamos ouvir a ciência. Pelo amor de Deus, vamos ouvir a ciência! Quando a gente está doente, quando o nosso filho adoece, a gente o leva a quem? À pediatra ou ao pediatra. Quando o problema é neurológico, leva ao neurologista; quando é cirúrgico, leva ao cirurgião. Mas por que fugir da ciência quando a resposta está lá? Eu ouço até hoje pessoas falarem: “Olha, não acredito na vacina porque foi feita muito rápido”. Não há remédio mais seguro que vacina. Não existe remédio mais seguro que vacina. Foi feita muito rápido porque o mundo está estudando essa questão. Todo mundo está debatendo isso, vários laboratórios, vários países, e nós não podemos perder o trem da história. Nós não podemos perder o trem da história. Se voltarmos lá atrás na história... Eu vejo pessoas hoje debatendo, dando mau exemplo e falando contra as máscaras. Se recorrermos à história, a gente vai ver que em quadros, pinturas, em determinadas épocas de pandemia o povo estava usando máscara. É triste ouvir as pessoas falarem assim. E às vezes começam a usar, de uma hora para outra, pensando em uma questão eleitoral. Bastou, deputada Beatriz, bastou o Lula aparecer de máscara e explicar que ia ter que tirá-la naquele momento porque estava respeitando a distância para o presidente da República mudar o seu ritual e usar máscara. Daqui a pouco, aqueles que o seguem devem estar perguntando se é preciso defender vacina, máscara ou se ainda podem bater...

O deputado Bartô (em aparte) – Obrigado, deputado Doutor Jean Freire. Só queria ressaltar aqui como é clara a ordem do mercado. Uma coisa é o monopólio, quando o candidato está tranquilo, fazendo o que bem entende; outra coisa é uma pessoa chegar e apresentar risco de concorrência real para ele começar a alterar o seu próprio padrão para servir àquilo que ele entende que é o melhor, que é o que a população gosta. Então, mais uma vez, a concorrência demonstra que só ela é capaz de melhorar os serviços ou até mesmo de baixar os preços. Obrigado.

O deputado Doutor Jean Freire – OK, deputado Bartô. E, pegando a sua lógica, do outro lado, o vírus é o nosso concorrente, o vírus é o nosso concorrente. Não sou neoliberal, mas pegando a sua lógica, se o vírus está aí sendo o nosso concorrente, por que não combatê-lo seguindo a ciência? Por que não seguir os ensinamentos da ciência? É isso o que eu digo aqui.

Eu não poderia deixar de debater aqui o assunto traçado nesta Assembleia ontem e o que o deputado João Vítor Xavier também colocou aqui: a vacinação. É preciso avançar mais, é preciso haver transparência, é preciso entender quem realmente está na linha de frente. Quem faz a limpeza de um hospital está na linha de frente; quem é recepcionista de um hospital está na linha de frente; quem é motorista de ambulância está na linha de frente; servidores do Hemominas estão na linha de frente. Esses estão na linha de frente. Quem está em casa, trabalhando de casa não está na linha de frente. E nós queremos saber disso.

Aqui quero defender e ser solidário à fala do nosso presidente Agostinho Patrus ontem. A fala do nosso presidente foi a fala de alguém que está indignado, e a indignação toca fundo em todos nós; a indignação toca o nosso interior, toca o nosso coração. O povo mineiro pede respostas. O meu celular e o celular de vocês... Com certeza, no dia a dia, as pessoas estão perguntando. O parlamentar que anda e que trabalha, o parlamentar que escuta o povo, que escuta as suas bases, no dia a dia, é questionado. Então, colegas deputados e deputadas, acima de discutir o certo e o errado, vamos escutar a ciência de maneira verdadeira.

Eu termino a minha fala mandando um forte abraço a todas as mulheres e, me permitam as mulheres, de uma maneira especial, a todas as mulheres que estão na linha de frente, que são muitas. A maioria da enfermagem, com certeza, é de mulheres que estão na linha de frente, que têm jornada dupla ou tripla, que chegam em casa e ainda vão fazer o serviço de casa.

Então eu costumo dizer que não é um mês nem uma semana nem o dia 8 o momento de simplesmente falar parabéns. É um dia de luta, é uma semana e um mês de luta, e deve ser cada dia do ano de luta. Então, parabéns às mulheres que estão na linha de frente fazendo um belíssimo trabalho. Nós temos pesquisadoras fazendo belíssimos trabalhos; nós temos médicas, enfermeiras, fisioterapeutas, técnicas de enfermagem. Então fica aqui o meu abraço, e, abraçando vocês, eu abraço cada mulher deste país, cada mulher deste nosso estado. Quero dizer a vocês que a luta é árdua, mas nós não devemos nunca parar; nós devemos, no dia a dia, lutar para empoderar e para as mulheres ocuparem mais espaços. A deputada Beatriz brincava ali quando eu a convidei para presidir enquanto eu fazia uso da palavra. Nós lutamos realmente, deputada, para que cada dia mais as mulheres ocupem esse espaço. A mulher realmente tem de estar no lugar que ela quiser estar. Então fica aqui um abraço às mulheres.

Quero dizer a todo povo mineiro que não é tempo de relaxar, é tempo de a gente pensar lá no início da pandemia e continuar nos entristecendo com as notícias do dia a dia. Precisam parar de achar que, quando a gente chega aqui; precisam parar de achar que, quando um político fala isso, está fazendo política em cima de pandemia. Não. Mas o povo mineiro, o povo brasileiro cobra no dia a dia. E nós não queremos ver mais, estampados nos jornais, nós não queremos ver mais, na televisão, nos jornais, nos telejornais do dia a dia, recorde de recorde na questão da morte por Covid. Não banalizem a morte, por favor, pelo amor de Deus.

A presidente – Eu devolvo a presidência dos trabalhos ao deputado Doutor Jean Freire.

O presidente (deputado Doutor Jean Freire) – Muito obrigado, deputada Beatriz. Com a palavra, a deputada Beatriz Cerqueira.