DEPUTADO CÉLIO MOREIRA (PSDB), Autor do requerimento que deu origem à reunião especial.
Discurso
Legislatura 16ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 22/09/2009
Página 62, Coluna 1
Assunto CALENDÁRIO.
Proposições citadas RQS 1813 de 2009
38ª REUNIÃO ESPECIAL DA 3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 16ª LEGISLATURA, EM 17/9/2009
Palavras do Deputado Célio Moreira
Sra. Jamile Elias Isaac e Machado, Presidente do Coral Canarinhos de Itabirito - é uma honra muito grande receber a senhora e o Coral; hoje, cerca de 300 Municípios mineiros acompanham esta reunião especial ao vivo e têm a oportunidade de apreciar o talento dos cantores do Coral Canarinhos de Itabirito -; Exmo. Sr. Alexander Silva Salvador de Oliveira, Prefeito de Itabirito; Exmo. Sr. Ubiraney de Figueiredo Silva, Secretário de Patrimônio Cultural e Turismo de Itabirito; Revmo. Pe. Joel Roberto Alvim Carreira Júnior, meu amigo e pároco da Igreja São Sebastião e São Vicente, do Bairro Santa Amélia e da Arquidiocese de Belo Horizonte; Sra. Ana Maria Domingos Marinho Silva, nossa Presidente Benemérita do Coral Canarinhos de Itabirito; Sr. Hélcio Rodrigues Pereira, ex-maestro dos Canarinhos de Itabirito e maestro do Coral da Usiminas-BH; senhoras e senhores; pessoal que nos acompanha por meio da TV Assembleia, o Plenário desta Casa tem a honra de receber, nesta noite, o Coral Canarinhos de Itabirito, que aqui era aguardado há mais de um ano para receber a homenagem que há muito se faz justa e oportuna. Nossos homenageados dispensam apresentação, já que seu cantar já cruzou fronteiras. Foi destaque na mídia nacional e tem seu eco encravado nas entranhas do Teatro Municipal. Contudo, peço sua paciência para contar a história de que são ilustres protagonistas. Havia, entre nós, grande pássaro, incorporado num homem de fala suave e de invejável musicalidade, a quem Deus confiara a missão de pastorear almas. Dotou-o o Criador de talentos múltiplos, entre eles o de evangelizar, dom tão proeminente em sua alma quanto o de formar músicos. Onde pousava, o pássaro costumava lançar semente, que logo se transformava em um coral. De certa feita, fez seu ninho em Itabirito, para conduzir um novo rebanho. Sua sensibilidade aguçada logo percebeu, entre aquelas montanhas, a forte sonoridade musical e a conveniência de usar seu talento em proveito das crianças daquele lugar. Enquanto cuidava das almas, cooptava também os futuros músicos no próprio catecismo. Os talentos se revelavam, cantando “Parabéns pra Você”. O grande canário foi buscar ajuda de amigos para a formação do grupo e, para isso, contou com o apoio da Profa. Deise Coimbra, que tinha seu coral em Ouro Preto e era irmã do amigo Pe. Agostinho. Foi assim que, em 1973, nascia o Coral Canarinhos de Itabirito, na Matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem, pelas mãos do Pe. Francisco Xavier Gomes e da maestrina Maria José Michel Nascimento, reunindo 30 crianças do sexo masculino.
O primeiro concerto aconteceu no dia 23 de setembro, dentro das comemorações do aniversário da cidade. Dois anos depois, a maestrina Ana Maria Domingos Marinho Silva se juntou a Maria José Michel Nascimento na preparação vocal das crianças e também na regência. No ano seguinte, o Coral filia-se à Federação Nacional de Meninos Cantores do Brasil e à Federação Internacional Pueri Cantores. No final daquela década, foi fundado o Grupo de Flautas Doces Menestréis. Em 1980, o Coral participa do IV Congresso Nacional de Meninos Cantores em Divinópolis, Minas Gerais. Estreia com êxito, cantando “A Banda”, de Chico Buarque, com arranjo do Pe. Francisco. O grande pássaro manteve-se à frente do Coral por quase uma década e partiu em 1981, aos 62 anos. Deus o devolveu ao céu, seu “habitat”, para se juntar aos anjos e quem sabe também reger um coral celestial. O primeiro grande desafio além dos limites do Município foi a apresentação durante uma missa transmitida aos domingos pela extinta TV Itacolomi, já no final da década de 70. Com o ingresso na Federação, o Coral deixou de ser composto apenas por crianças e tornou-se misto, incluindo as vozes sopranos, contraltos, tenores e baixos.
Essa, senhoras e senhores, é parte da história do Coral Canarinhos de Itabirito, que temos hoje a felicidade de homenagear por seus 35 anos de fundação e, daqui a alguns dias, 36 anos, neste mês de setembro. Nesta oportunidade, rendemos tributos também ao seu fundador e a todos que lutaram para manter vivo o sonho do saudoso Pe. Francisco Xavier. Toda grande vitória traz uma história de lutas, de dedicação e suor. E por certo esta semente lançada pelo Pe. Francisco teve de ser cuidada para produzir bons frutos. Para tanto, contou com as mãos cuidadosas e generosas da musicista Ana Maria Domingos Marinho Silva, da Profa. Jamile Isaac e Machado, do ex-canarinho e hoje regente, Eric Lana, maestro e diretor artístico do Coral. Ao longo de sua trajetória pontuada de aplausos e conquistas, o Coral Canarinhos de Itabirito tem feito muito mais que difundir a música, a arte e a cultura. Tem, sobretudo, prestado à sociedade sua contribuição de retirar dos possíveis caminhos da marginalidade e das drogas as crianças e os jovens que dele participam. Além de cumprir a finalidade para que foi criado, que é louvar ao Senhor por meio da música, o grupo segue difundindo também e arte e a cultura, propagando os valores sociais da família, na crença de que a cada dia podemos ir mais adiante, plantando no jovem a semente do amanhã.
Nesses 36 anos de existência, encantaram com seu canto, em apresentações nos Estados de Minas, do Rio, de São Paulo, do Paraná, de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul, do Espírito Santo e de Pernambuco, levando nas asas a herança musical de seus antepassados em mensagens sonoras. Assim foi em 2006, quando o Coral Canarinhos de Itabirito se apresentou na Rede Vida, na MBR, no programa eleitoral do Governador Aécio Neves, no programa “Globo Horizonte”, no “MGTV”, no programa “Terra de Minas” e no “Jornal Nacional”.
Em agosto do ano seguinte, foi tema de reportagem do “MGTV”, que mostrou as cidades e culturas de Minas. O grupo participou do XIII Congresso Nacional dos Meninos Cantores, em Petrópolis, onde se apresentou ao lado dos 17 corais que compõem a Federação Nacional de Meninos Cantores do Brasil.
Em agosto de 2007, no espetáculo Paixão e Fé, realizado no Grande Teatro do Palácio das Artes, o Coral teve a oportunidade de comemorar seus 34 anos de fundação, com uma apresentação memorável para um grande e comovido público. Ainda nesse ano, a consagração maior: o Coral Canarinhos de Itabirito esteve em Kosovo, no Leste Europeu, a convite do governo desse país, para participar do Congresso Internacional de Canto Coral. Ao lado de 12 corais de países diversos, representou não apenas o Brasil, mas toda a nação latina.
Costumava dizer Pe. Francisco que aquela escola de música era uma sementeira e que de lá sairiam muitos músicos. Estava certo o padre em sua profecia. Hoje, ex-canarinhos tornaram-se professores, como Carlos Roberto, que ensina flauta, e Guilherme, formado em canto e professor de técnica vocal. Alguns formaram as próprias bandas, conjuntos, levando consigo o aprendizado recebido, a dedicação aprendida e a disciplina adquirida.
Mas nem tudo tem sido flores nessa caminhada. Ao longo dos anos, a direção da escola de música vem driblando as dificuldades para se manter e manter vivas as sementes lançadas pelo Pe. Francisco. Para completar o orçamento, sua diretoria vale-se de rifas e promoção de festas, venda de latinhas, de quitandas e da renda do brechó. No desafio de manter aceso o ideal de Pe. Francisco, esses homens e mulheres travam uma luta diária para remunerar seus dedicados professores, regentes e colaboradores; que se dedicam a dar forma ao sonho dos cerca de 120 personagens inseridos no projeto: alunos que emprestam a voz, a dedicação, o sacrifício e em troca têm o ensino musical gratuito, nos repertórios sacro, popular e erudito, cantado em várias línguas, entre elas o latim, o italiano, o alemão. Muitos deles conciliam a música com o trabalho formal. Respeitáveis profissionais da música já passaram pelo Coral, entre eles o regente Hélcio Rodrigues Pereira, que esteve à frente do grupo de 1984 a 2000; Márcio Miranda Pontes, que assumiu a regência em 1983, dois anos depois da morte do Pe. Francisco; Márcio Lima de Carvalho Souza, natural de Itabirito e que esteve à frente do Coral de 2000 a 2002.
A espécie humana criou para si um protocolo de vida, de deveres e responsabilidades que geralmente convergem para um só propósito: o poder. E gerações sucedem gerações, tornando esse protocolo cada vez mais rígido. Os espaços para a contemplação, para alegrias puras, que de fato alimentam nosso espírito, vão sendo suprimidos cada dia mais, por força de uma busca desesperada, de uma pressa angustiante, num contexto de enganos em que elegemos como importantes apenas os feitos científicos e tecnológicos.
Hoje o Coral Canarinhos nos convida a uma parada para reverenciar o belo, alimentar nosso espírito e dar-lhe asas para uma viagem a um mundo chamado paz. A ideia de que a música exerce poderosa influência sobre o caráter do homem persistiu, em ampla escala, ao longo da Idade Média e da Renascença, até o último século. Esse conceito foi a força inspiradora das vidas criativas dos grandes compositores clássicos e românticos. É claro que cada um deles via a própria música como um dos meios mais poderosos de influir na consciência e na direção da raça humana. Os conceitos mundanos na natureza se manifestam, submetendo a humanidade a grandes flagelos, guerras que se sucedem. A história da humanidade vai seguindo curso sinuoso, em que a fé se silencia em favor das ciências, mas, em meio a tudo isso, a música subsiste, indefinidamente, e nunca deixa de interessar e sensibilizar as mentes e os corações de quantos a ouvem. O nosso Coral Canarinhos de Itabirito vai mais além, seu canto toca-nos fundo a alma, a tal ponto que chegamos a sentir mais viva a presença divina entre nós. Por tudo isso, obrigado e parabéns a cada um de vocês, cantores, maestros, maestrinas, diretores, professores, coordenadores, todos, enfim, que trabalham por esta obra de caráter transformador, que sobretudo nos enche de orgulho. Muito obrigado. Parabéns.