DEPUTADO CÉLIO MOREIRA (PL)
Discurso
Transcurso do dia dedicado pela Igreja Católica a homenagar São Vicente
de Paulo.
Reunião
71ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 15ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 01/10/2005
Página 40, Coluna 2
Assunto HOMENAGEM. RELIGIÃO.
Legislatura 15ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 01/10/2005
Página 40, Coluna 2
Assunto HOMENAGEM. RELIGIÃO.
71ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 15ª
LEGISLATURA, EM 27/9/2005
Palavras do Deputado Célio Moreira
O Deputado Célio Moreira - Sr. Presidente, Sras. Deputadas e
Srs. Deputados, caros visitantes e os que nos acompanham pela TV
Assembléia, louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo. Essa é a
saudação dos vicentinos, dos confrades e das consócias. A Igreja
Católica Romana consagra esta especial data - 27 de setembro - a
São Vicente de Paulo, um homem de vida dedicada a Deus e aos
pobres, cuja ação vem atravessando os séculos como símbolo de
caridade, humildade e fé, nas várias congregações e instituições
que levam seu nome. Entre elas, a Sociedade São Vicente de Paulo.
Vamos aqui conhecer um pouco da história deste venerável homem,
eivada de sofrimentos e algozes, mas de fé inabalável no Criador.
Registram os documentos canônicos que Vicente de Paulo nasceu em
24 de abril de 1581, no seio de uma família de camponeses, na
região de Landes, na França. Região pobre, de solo arenoso, da
qual não se conseguia extrair outra cultura senão o milho e o
centeio.
É nesse contexto que João de Paulo, o pai de Vicente, se
esforçava para sustentar os seis filhos, que bem cedo também foram
integrados à rotina da penosa luta pela sobrevivência. Em tempos
de chuva, a região se transformava num imenso pântano e o pequeno
Vicente vigiava os animais sobre pernas de pau, seguindo o costume
do lugar.
Bem cedo, o filho de João de Paulo dava mostras de bom coração,
prontificando-se sempre a socorrer os mais carentes, na certeza de
que quem dá aos pobres empresta a Deus.
No catecismo, mostrava-se tão estudioso e fervoroso que seu cura
aconselhou os pais a enviá-lo à cidade para continuar seus
estudos. As qualidades do menino foram também notadas por um
advogado amigo da família, que encorajou os pais a deixá-lo ir.
Vicente partiu e dedicou-se aos estudos de gramática e latim. Aos
dezesseis anos, entrou para o clero e, desde então, passou a usar
a batina. Nos cinco anos seguintes, estudou ciência religiosa e,
novamente encorajado por aquele advogado, foi estudar Teologia na
Universidade de Toulouse.
Foi ordenado padre no ano de 1600, antes de completar 21 anos.
Celebrou a primeira missa em Buzet, numa capela solitária no fundo
de um bosque, onde costumava rezar quando menino. Numa viagem pelo
Mar Mediterrâneo, o navio em que estava foi atacado por piratas
turcos. Durante o combate, Pe. Vicente foi ferido com uma flechada
nas costas e presenciou o assassinato de vários tripulantes.
Feito escravo pelos piratas, foi levado como animal para ser
vendido no mercado de Túnis. Tinha ainda as feridas abertas e foi
comprado por um pescador. Mas voltou a ser negociado pouco tempo
depois no mercado, sendo vendido pela segunda vez a um médico, que
era também alquimista. Ajudava seu senhor no trabalho de alquimia,
na fusão de metais.
Com a morte do ancião, voltou a ser vendido pela família, desta
vez a um homem de Nice, que, para escapar à sorte miserável do
cativeiro, renegara sua religião tornando-se maometano, recebendo
como recompensa do Sultão de Túnis uma pequena fazenda nas
montanhas.
O renegado era casado com uma mulher árabe, que orava a Deus e
tinha bom coração. Ela notou o espírito piedoso de Vicente e se
emocionava ao ouvi-lo cantar os louvores divinos com tão bela voz.
Certo dia pediu a ele que traduzisse seus cânticos, especialmente
a Salve Rainha.
Vicente satisfez aquele desejo com todo o ardor de sua fé. A
mulher ficou de tal forma impressionada que quis saber mais sobre
a religião cristã. Vicente acabou convertendo-a ao cristianismo e,
depois, seu marido. Era um fato de tal modo extraordinário, que a
notícia se espalhou.
Como havia prometido a Vicente, o novo convertido pediu que a
penitência por suas faltas fosse cumprida num convento. Vicente
foi então levado a Roma como aquele que fora instrumento da
misericórdia divina. O convertido entrou para o mosteiro dos
irmãos da caridade, onde deveria se consagrar até a morte e cuidar
dos enfermos.
Enquanto estava em Roma, Vicente aproveitou para freqüentar
cursos de teologia ministrados na universidade romana. Os
conhecimentos de química que ele adquirira contribuíram para seu
prestígio ante os prelados romanos. Sua inteligência, seu bom
senso, sua alma piedosa e a história da conversão de seu algoz
tunisiano atraíram sobre ele as atenções do Papa Paulo V e do
Embaixador da França.
A pedido do Papa, seguiu para Paris no cumprimento de uma missão
especial junto ao rei, e, como recompensa pelo sucesso da missão,
o soberano nomeou-o capelão da rainha Margot. Era encarregado de
distribuir somas de dinheiro aos pobres que vinham assediar o
palácio e de visitar, em seu nome, os enfermos do Hospital da
Caridade. Vicente preferia dedicar-se aos pobres a freqüentar os
ricos senhores.
Fazia 50 anos que a França vivia sob guerra religiosa, e, em maio
de 1660, após o assassinato de Henrique IV, o Cardeal de Bérulle
convidou Vicente e outro devotado sacerdote a participarem de um
retiro espiritual de muitos dias, onde deveriam também estudar uma
maneira de refazer uma França cristã.
Vicente insistia sobretudo quanto à forma de servir aos pobres.
"A maneira como se dá vale mais do que aquilo que se dá", gostava
de repetir.
Naquele tempo, a marinha francesa precisava de homens para remar
em suas galeras. Como ninguém quisesse tal trabalho, por ser
penoso, os juízes encontraram a solução nos criminosos condenados.
Mas, vendo as condições em que esses prisioneiros viviam, Pe.
Vicente reagiu com vigor. Conta-se que certa vez, durante uma
viagem de galera e vendo um galé a ponto de perder as forças, o
padre o libertou de seus grilhões e tomou seu lugar na fila de
remadores.
Pe. Vicente tornou-se capelão-geral das galeras quando foi
visitar sua família. Antes de deixar a terra natal, aonde jamais
voltaria, reuniu os parentes numa última ceia. Dando-lhes o
exemplo de desprendimento, deixou todos os seus direitos de
herança paterna.
A lembrança dos pobres camponeses não abandonou o espírito de
Vicente de Paulo. Quando voltou a Paris, foi-lhe oferecido o
desafio da evangelização de 12 mil camponeses. Vários padres se
juntaram a ele nessa missão. Desse trabalho fez surgir a
Congregação das Missões, que, por onde passava, graças à bondade
de seus missionários, ganhava os corações e reconciliava as almas
com Deus. Verdadeiras multidões procuravam os confessionários, e
muitos homens, cuja existência se animalizara, reencontravam o
gosto de viver e a dignidade de filhos de Deus. Em todas as
províncias, o povo clamava pelos missionários.
A nova maneira de pregar influenciou a Igreja em todo o país. Em
lugar de sermões longos e cansativos, os pregadores se aplicavam
em seguir o exemplo dos missionários, com o máximo de
simplicidade, segundo o espírito do Evangelho. A missão se
espalhou, e em pouco tempo todo o país estava coberto por uma
grande rede de misericórdia.
Pe. Vicente de Paulo continuava disseminando o amor ao próximo e
difundindo a necessidade de ajudar os necessitados, miseráveis e
doentes. Buscou ajuda e parceria nas mulheres da aristocracia de
Paris para humanizar o tratamento aos doentes nos hospitais, que
viviam superlotados e sem as mínimas condições de higiene. Dessa
forma, Pe. Vicente contribuiu para aproximar as classes sociais,
que se ignoravam completamente. Várias jovens se apresentavam
também para o trabalho nos hospitais, e ele resolveu reuni-las em
uma campanha e fazê-las religiosas de um novo gênero, de forma que
pudessem circular pelas ruas e casas. Confiou a direção da
companhia a Luíza de Marilac, sua conhecida antiga. Em 1633, foi
fundada, então, a Congregação das Filhas da Caridade, também
chamada Irmãs de São Vicente de Paulo. A célula se multiplicou
mundo afora.
Não havendo seminário naquela época, Vicente tomou a iniciativa
de preparar os jovens formados em teologia para a ordenação. Para
isso, promovia retiros cinco vezes por ano em sua própria casa.
Tal iniciativa seria estendida a todas as dioceses da França, e o
costume passou desse país ao estrangeiro e até a Roma.
Pe. Vicente não ignorava nenhuma situação de sofrimento, e assim
passou a recolher as centenas de crianças, abandonadas pelas mães,
que vagavam pelas ruas de Paris. Entregou às damas da caridade a
tarefa de cuidar delas, fazendo surgir a obra Crianças Enjeitadas.
A grande chaga de Paris, naqueles tempos, eram os mendigos. Havia
aproximadamente 400 mil deles pela cidade. Isso levou o Pe.
Vicente de Paulo a criar o primeiro asilo para os velhos e a
determinar a visitação das Senhoras e das Filhas de Caridade aos
mendigos recolhidos pelas autoridades locais.
Sr. Presidente, durante 30 anos, a guerra continuava devastando
as mais belas províncias da França. Franceses ou estrangeiros, os
soldados viviam num país sem receber soldo. Nenhuma disciplina
poderia impedi-los de roubar para comer. Quando resistiam, os
civis eram espancados em suas casas, que eram incendiadas pelos
soldados. O padre fez o rei ver o absurdo daquela guerra, e a paz
foi restaurada. Surtos de peste atingiam vários pontos da Europa,
e muitos integrantes das congregações criadas pelo Pe. Vicente de
Paulo morreram socorrendo os doentes. Ele procurava socorrer a
todos, mas já sentia o peso dos seus 80 anos. Todos os que dele se
aproximavam tinham a impressão de que o seu olhar lhes penetrava a
alma e sua palavra era tocante e motivava cada vez mais a amarem
melhor.
Cartas lhe chegavam de todos os países do mundo. Ele passava
várias horas do dia a redigir as respostas, sempre cheias de muito
amor. Até o fim, promoveu conferências para padres e religiosas.
Apesar da idade avançada, continuava a levantar-se às 4 horas da
manhã e se contentava apenas com cinco horas de sono, consagrando
diariamente quatro horas às orações. Já alquebrado, no dia 26 de
setembro, não podendo ele mesmo celebrá-la, Vicente se fez
carregar até a capela para assistir à missa. Retornando ao seu
quarto, pediu que lhe fosse dada a extrema-unção. Passou todo o
dia e a noite sentado numa poltrona, unindo-se às preces dos que o
rodeavam. Às 5 horas da manhã do dia 27 de setembro, expirou. Num
último gesto, beijou o crucifixo e disse: “Eu tenho confiança”.
Partiu, deixando 35 anos de trabalho.
As Filhas da Caridade eram aproximadamente 600. Nos campos e nas
cidades, a ignorância e a miséria haviam recuado. Os órfãos
encontravam mães e os galés conheceram um abrandamento de sua
sorte: o clero da França fora fortalecido, e a imagem da França
estava mudada. Ao saber de sua morte, a Rainha da Austrália disse:
“A Igreja e os pobres sofrem uma grande perda”. Imensa multidão
assistiu às exéquias, e todos se lamentavam: “Nós perdemos um
pai”.
Em 1724, o Papa Bento XIII o beatificou, e, em 1937, ele foi
canonizado. Em 1883, o francês Antônio Frederico Ozanan, grande
cristão, colocou sob a proteção de São Vicente a organização que
havia fundado sob o nome de Conferência de São Vicente de Paulo,
com o objetivo de mitigar as misérias espirituais e corporais dos
indigentes. Em 1855, o Papa declarou São Vicente de Paulo patrono
de todas as obras de caridade. Estava criada no País uma intensa
rede de ação caritativa e missionária.
São Vicente foi um sedutor de almas, um anunciador e um profeta
da caridade de Cristo, verdadeiro homem de Deus. Hoje, em todo o
mundo, os padres vicentinos, as Filhas da Caridade de São Vicente
de Paulo, as conferências vicentinas, a Juventude Mariana
Vicentina e muitas outras instituições continuam fiéis ao seu
carisma.
No Brasil, o maior país vicentino do mundo, a Sociedade São
Vicente de Paulo é constituída de 250 mil membros e 20 mil
conferências. A instituição, instalada em 135 países, é composta
por 500 mil membros e é a mais respeitada em todo o mundo pelo
trabalho a que se propõe, de assistir os mais necessitados.
Em entendimento do Padre Vicente, o pobre é a imagem de Cristo
desfigurado, a quem devemos servir. E a Igreja deve estar a Seu
serviço. Por isso atuou na reforma da Igreja, sobretudo
colaborando para a reforma do clero. A espiritualidade vicentina
se assenta sobre três pilares: a identificação com a vontade de
Deus, a união a Jesus Cristo, que se revela nos pobres, e a
vivência afetiva e efetiva do grande amor de Deus pelos homens,
especialmente pelos pobres. Seu amor tinha fé, era cruz e entrega,
tinha corpo e alma, mãos e rostos suados.
Eis alguns dos pensamentos de São Vicente de Paulo que espelham
seu espírito e fé: “É preciso santificar as ocupações, buscando a
Deus, e fazê-las para O encontrar, mais do que as ver
realizadas.”; “Peço a Deus todos os dias, duas ou três vezes, que
Ele nos aniquile, se não formos úteis a sua glória.”; “Deus ama os
pobres, por conseguinte, Ele ama os que amam os pobres, pois,
quando se ama alguém de verdade, tem-se afeição por seus amigos e
seus servos.”; “Ainda que proferísseis uma só palavra, se vós sois
unidos a Deus, tocareis os corações com a vossa presença”.
Permitam-me terminar esta homenagem com a oração da família
vicentina e o pedido a São Vicente de Paulo, que abençoe esta Casa
e todos presentes, seus familiares e toda a família mineira.
“Senhor Jesus, Tu que te fizeste pobre, faz que tenhamos os olhos
e o coração voltados para os pobres, que possamos reconhecer-te
neles: em sua sede, em sua fome, em sua solidão e em sua dor.
Suscita, em nossa família vicentina, a unidade, a simplicidade, a
humildade e a chama de caridade que inflamou o coração de São
Vicente de Paulo. Dá-nos força para que, fiéis à prática destas
virtudes, possamos contemplar-te e servir-te na pessoa dos pobres
e um dia nos unirmos a Ti e a eles no teu reino.”
O Deputado Sávio está dando o “amém”, significando que aceita
toda a obra vicentina espalhada pelo mundo inteiro. Peço desculpas
aos Deputados e às Deputadas. Não poderia deixar de fazer esta
homenagem a esse homem que viveu para os pobres, para os mendigos,
para os jogados na rua e rejeitados pela sociedade, um homem que
deu a sua vida pelos pobres.
Como eu disse, essa sociedade está presente em 135 países,
praticando a caridade, fazendo, muitas vezes, o serviço dos
governos municipal, estadual e federal. São homens e mulheres que
se dedicam a servir ao próximo e aos mais necessitados. Finalizo,
fazendo uma saudação dos vicentinos: “Louvado seja o Nosso Senhor,
Jesus Cristo”.
Agradeço, Sr. Presidente, o tempo maior para homenagear esse
homem, em quem devemos todos nos espelhar, por sua caridade e amor
ao próximo. Muito obrigado.