Pronunciamentos

DEPUTADO CARLOS PIMENTA (PDT)

Discurso

Manifesta solidariedade às vítimas do incêndio ocorrido no Centro Municipal de Educação Infantil Gente Inocente, no Município de Janaúba. Comenta visitas realizadas pela Comissão de Saúde, a qual preside, a hospitais do Município de Belo Horizonte e denuncia a precariedade do Hospital de Pronto-Socorro João XXIII - HPS - que acolheu parte das vítimas do referido incêndio.
Reunião 82ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 18ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 17/10/2017
Página 43, Coluna 1
Assunto HOMENAGEM. SAÚDE PÚBLICA.

82ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 18ª LEGISLATURA, EM 5/10/2017

Palavras do deputado Carlos Pimenta



O deputado Carlos Pimenta* – Exmo. Sr. Presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, deputado Adalclever Lopes, Srs. Deputados aqui presentes, senhoras e senhores, já apresentamos aqui os nossos sentimentos e foi realizado 1 minuto de silêncio em pesar pelas crianças que faleceram vítimas de uma tragédia na cidade de Janaúba nesta manhã. O Norte de Minas está chocado, bem como o Estado de Minas e o nosso país.

Uma creche municipal, com as crianças que vão ali em busca de um conforto, um local que as famílias têm para deixar os seus filhos, foi invadida por uma pessoa que, por um motivo ou outro, uma insatisfação que não justifica em absoluto o ato cometido, colocou fogo no seu próprio corpo e, não contente, encharcou as crianças também de um líquido combustível, ateando fogo nelas também. Pelas informações, cinco criancinhas foram mortas no local e muitas outras foram socorridas pelo Samu, pelo hospital de Janaúba, encaminhadas para o hospital de Montes Claros, e algumas delas, após receberem os primeiros socorros, encaminhadas para o Hospital João XXIII, aqui na capital.

Então, fico doído neste momento, não por trazer essa notícia, pois não sou portador de notícias ruins, mas fico chocado. Prestamos nossa solidariedade às vítimas, às famílias, ao povo querido da cidade de Janaúba, uma próspera cidade do Norte de Minas, com mais de 60 mil habitantes, distante 120km de Montes Claros, a maior cidade da região da Serra Geral de Minas, e expressamos a dor no nosso coração. Um ato desses choca e traz dor a todos. Nada pode consolar as famílias das pessoas que perderam os seus filhos e que estão passando por uma dificuldade tão grande.

Trago a inteira solidariedade deste deputado, deste Parlamento, do povo de Belo Horizonte, do povo mineiro da cidade de Janaúba. Vemos isso nas grandes catástrofes que estão ocorrendo por aí. Recentemente aconteceu em Las Vegas uma tragédia em que um maluco matou mais de 50 pessoas atirando de um hotel. Isso é motivo de trauma para todo mundo, para toda a humanidade. O fato de Janaúba também se reveste desse sentimento pelo qual estamos passando agora.

Queremos chamar a atenção, não aproveitando esse fato, mas, coincidentemente, estivemos ontem visitando o Hospital João XXIII pela Comissão de Saúde. Estamos fazendo essas visitas regulares a todos os hospitais de Belo Horizonte.

A comissão já esteve em várias cidades fazendo visitas. Fizemos audiência pública em São Sebastião do Paraíso; em Bocaiuva fizemos duas audiências determinadas pelo presidente Adalclever. Eu e os membros da comissão estamos fazendo visitas a várias cidades para apurar as denúncias do sucateamento da saúde pública que se instalou neste país. Anteontem estivemos no hospital de pronto-socorro João Paulo II, antigo Centro Geral de Pediatria – CGP. Esse hospital tem 60 anos de idade e presta um trabalho fantástico ao povo da nossa capital e ao povo de Minas Gerais. São 500 internações por mês no Hospital João Paulo II. É um hospital envelhecido com o tempo, mas também esquecido pelas várias autoridades ao longo dos anos. Um hospital que presta um bom serviço devido ao altruísmo dos médicos, dos enfermeiros, dos serventes, dos auxiliares de enfermagem, que atendem a população com carinho muito grande. Já disse isso em meu pronunciamento há dois dias.

Queria convidar qualquer um dos senhores que aqui estão, queria convidar qualquer uma das pessoas que moram em Belo Horizonte para testemunhar de perto, ao vivo, o que se faz no Hospital João Paulo II, porque é impressionante. É um hospital em que falta pintura nas paredes, falta recomposição do piso, falta ar-condicionado no centro de esterilização; um hospital que tem os quartinhos pequenos, tem 16 crianças com doenças graves, doenças terríveis que acometem o sistema respiratório, e elas estão entubadas ou traqueostomizadas, respirando com ajuda de aparelhos; mas é um hospital que lança um programa de atendimento domiciliar para atender as crianças que não têm condições de ir até lá. E essa equipe mantém os aparelhos nas casas das crianças, com profissionais, que vão lá diariamente dar assistência. É um hospital que tem um CTI dos mais abençoados que a gente possa imaginar, porque falta tudo. Vemos lá as crianças sendo bem tratadas, as famílias sendo bem atendidas. Além disso, o hospital tem 97% de aprovação das pessoas que vão até lá. O hospital fica perto do Hospital do Ipsemg, perto do João XXIII.

Estou citando esse fato para mostrar o esforço que estamos fazendo de ir, de atender os médicos, de atender a direção, de receber as demandas, as reclamações, as solicitações, e fazer com que todas essas reclamações, essas reivindicações possam chegar ao secretário de Saúde e ao governador do Estado. É um hospital que tem um anexo, que iniciou sua construção há nove anos e que está praticamente pronto por dentro, mas precisando de equipamentos e de acabamentos por fora. O valor desse anexo é de apenas R$10.000.000,00, 1/5 do que a Polícia Federal encontrou no apartamento do Geddel, 1/5 daquelas malas de dinheiro lá do apartamento do Geddel. Isso é impressionante. Há nove anos o João Paulo II precisa de recursos para terminar uma obra, para consertar as portas dos quartinhos, que estão danificadas, estragadas. Essa foi a visão que tivemos do João Paulo II.

Ontem estivemos no João XXIII. Vou dizer uma coisa a vocês: sou médico-cirurgião formado há 38 anos pela faculdade de medicina de Montes Claros, da Unimontes, uma universidade estadual, uma das melhores deste país; trabalhei durante anos no pronto-socorro como médico-cirurgião e também em posto de saúde. Ontem visitei o João Paulo II e saí mais do que triste e mais do que estarrecido. Tive vontade de chorar quando vi o maior pronto-socorro de Minas Gerais e do Brasil, um dos melhores pronto-socorros da América do Sul, ganhador de todos os prêmios de excelência e de atendimento, um hospital sobre o qual as pessoas diziam: “Caixeta, se eu tiver um dia um acidente, por favor, levem-me para o Hospital João XXIII, para o pronto-socorro de Belo Horizonte”. E tem que levar mesmo, porque ali estão as melhores equipes de cirurgiões, de neurocirurgiões e de socorristas. Quando chega um acidentado na porta de entrada daquele hospital, as equipes têm três minutos para socorrer o politraumatizado, para levá-lo para ser entubado, para levá-lo à sala de ressuscitação. É uma beleza o corpo clínico do Hospital João XXIII.

Falo novamente triste, com o coração doído com o que aconteceu em Janaúba e doído com o que vi no João XXIII: o que estão fazendo com o nosso pronto-socorro, o que está acontecendo com o hospital é algo de cortar nosso coração. O hospital, como disse o João Leite – e não tenho nenhuma reserva em dizer – não tem água quente para dar banho nos pacientes. Lá tem duas caldeiras novas, uma aquecida por gás, mas a empresa fornecedora de gás teve que cortá-lo por falta de pagamento. A outra caldeira – Alencar e Gustavo Corrêa, vocês dois moram em Belo Horizonte – é aquecida por óleo diesel e está parada porque foi cortado o fornecimento de óleo ao João XXIII por falta de pagamento. Os monitores cardíacos de lá, quando estragam, vão sendo encostados, porque não há recurso para manutenção. A TV Assembleia filmou – está documentado – uma sala com dezenas de monitores cardíacos encostados, porque faltam peças. Não podem fazer uma licitação para comprá-las, pois dependem da Seplag – a licitação não sai antes de seis meses.

O Hospital João XXIII está dessa maneira. Ele usa mil fraldas diárias para os idosos, para as crianças, mas ontem, no estoque, não havia uma fralda sequer para atender à demanda diária. Nas portas da sala de politraumatizados do hospital, já começam a formar as famosas filas de corredores com macas, com cadeiras, com pessoas acidentadas no trânsito que estão esperando leito para receber os primeiros socorros. Essa é a saúde pública do nosso Estado.

Não quero aqui descobrir culpados. A culpa é de todo mundo. Mas é muito importante, Sr. Presidente, que o secretário de Saúde se encha de brio.

Ele tem de tomar uma posição urgentemente, porque todos os dias fecha-se um hospital em cidades de Minas Gerais. Todos os dias há uma romaria de prefeitos a esta Casa, lutando por uma emenda de R$50.000,00, lutando para receber uma ambulância, um socorro. Mas acontecer isso com o Hospital João XXIII é o fim da picada.

O ministro da Saúde, Sr. Ricardo Barros, tem até um título de Cidadão Honorário a lhe ser dado por esta Casa, não sei a requerimento de quem. Mas eu estive com ele em Brasília, e ele falou todo pomposo em uma audiência: “Em menos de um ano no meu governo como ministro de Estado, eu consegui economizar R$5.000.000.000,00 na saúde pública”. Que coisa terrível, pois à custa de quantas vidas foram economizados R$5.000.000.000,00 na saúde pública de Minas Gerais? Pode-se economizar um centavo na saúde pública? É claro que não.

Está aí o sucateamento. Está aí a Prefeitura Municipal de Janaúba, que ao receber essas vítimas, não tinha sequer o básico necessário para atender as crianças queimadas. Estamos vendo o povo morrer nas filas dos nossos hospitais, o povo ser humilhado em Minas Gerais e em todo o Brasil. E vem esse ministro dizer que economizou R$5.000.000.000,00. Ele deveria ter um pouco de caridade ao fazer uma afirmação dessa. Estamos vendo a luta do governo do Estado, a luta dos prefeitos em busca de soluções, em busca de ajuda e de socorro. E vemos o exemplo maior do sucateamento da saúde pública do nosso Estado no símbolo do atendimento de urgência e emergência do povo mineiro, o HPS, que não tem água quente para dar banho nos seus doentes nem fraldas para atender as necessidades de seus doentes. É triste a saúde de Minas Gerais.

* – Sem revisão do orador.