DEPUTADO ARLEN SANTIAGO (PTB)
Discurso
Presta esclarecimentos sobre os motivos do apoio às denúncias sobre as
mudanças no fornecimento de vales-transporte aos servidores públicos do
Município de Montes Claros e apresenta denúncias de irregularidades
administrativas na prefeitura.
Reunião
39ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 15ª legislatura, 1ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 03/06/2003
Página 41, Coluna 2
Assunto ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL. TRANSPORTE.
Legislatura 15ª legislatura, 1ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 03/06/2003
Página 41, Coluna 2
Assunto ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL. TRANSPORTE.
39ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 1ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 15ª
LEGISLATURA, EM 27/5/2003
Palavras do Deputado Arlen Santiago
O Deputado Arlen Santiago* - Exmo. Sr. Presidente, Srs.
Deputados, telespectadores, na quinta-feira, ocupei esta tribuna
para ler um artigo do jornalista Edgard Pereira, do “Diário de
Notícias”, um dos mais importantes veículos de comunicação de
Montes Claros.
Nele o jornalista traz à luz um fato que pode constituir-se,
salvo melhor juízo, num novo escândalo administrativo da
Prefeitura de Montes Claros.
Com base numa declaração de políticos ligados ao Prefeito,
afirmando que uma mudança no sistema de fornecimento de vales-
transporte aos servidores públicos proporcionará uma economia
mensal de R$100.000,00, o jornalista levanta suspeitas de, no
mínimo, má administração financeira.
Se é possível fazer essa economia, por que ela ainda não está
sendo feita? Pergunta o jornalista.
Meu propósito, ao ler o artigo, não foi outro senão o de trazer a
questão à discussão pelo Ministério Público, através da
Procuradoria de Crimes de Prefeitos, a quem cabe apurar denúncias
de irregularidades.
Apurar denúncias significa analisar os fatos, apurar o que
precisa ser apurado e denunciar ou não, dependendo de se
encontrarem ou não irregularidades. Quando levantei o assunto,
lendo o artigo publicado no “Diário de Notícias”, não fiz
acusações. Não falei em dolo.
Pois bem, senhores, qual não foi minha surpresa na quinta-feira,
quando, ao término de minha fala, vi a Deputada Ana Maria ocupar o
microfone para responder-me não como parlamentar, mas como esposa!
Mais assustado ainda fiquei ao descobrir que, ao contrário de
todos os movimentos sociais envolvendo a emancipação feminina, a
nobre colega ainda considera seu marido um deus.
Uma idolatria que, certamente, é repudiada até mesmo pela Bíblia,
que, estranhamente, a Deputada afirmou que lia no Plenário
enquanto os trabalhos legislativos, a que ela se deveria dedicar,
desenrolava-se normalmente.
Infelizmente, por uma decisão da Mesa, não tive como responder
imediatamente às impropriedades ditas pela Deputada, escudada em
texto bíblico.
É para dar essa resposta, não dentro de um contexto de briga
paroquial, que ocupo esta tribuna. Não me limitarei, porém, a
devolver acusações, especialmente por entender que de nada
adiantará um debate com alguém que se utiliza do seu mandato para
fazer defesa de família e o faz demonstrando idolatria.
Ocupo este espaço para cobrar da Procuradoria de Crimes de
Prefeitos a apuração de denúncias que, há anos, estão com o
Ministério Público da Comarca de Montes Claros.
Algumas dessas denúncias até dão, de certa forma, razão à
Deputada, em sua idolatria. Só mesmo alguém com poderes especiais
poderia fazer a mágica de comprar aparelho de som em empresa que
vende panela; declarar vencedora de concorrência empresa instalada
em lote vago e vender passeio de praça pública para o patrimônio
do funcionalismo público municipal.
Mas, lamentavelmente, senhores, as denúncias, que são públicas,
precisam ser apuradas para, se for o caso - o que acredito ser
difícil - inocentar o marido da Deputada, que não envolve apenas
questões financeiras.
Nos últimos anos, desde que o atual Prefeito assumiu o poder em
Montes Claros, atos bestiais começaram a ocorrer, atingindo
curiosamente os opositores de sua administração.
São casos policiais de estranha violência, que só podem ser
praticados por verdadeiras bestas, que, se não têm a mesma
aparência física das saídas do texto lido pela Deputada, têm a
mesma alma.
Coloco aqui os exemplos: atentado terrorista na residência do
Vereador Gêra do Chica - parte de sua casa foi queimada e seu
veículo totalmente destruído por um incêndio. Esse Vereador era um
combativo parlamentar, ligado ao Deputado Gil Pereira; naquela
época, no pronunciamento do Vereador Gêra do Chica na Câmara
Municipal, cortaram o “link” que leva a imagem da TV Geraes para
que o povo não ouvisse. Isso foi colocado na imprensa, no “Estado
de Minas” e nos jornais locais.
São essas as denúncias, senhoras e senhores, que gostaria de ver
apuradas. Daqui, cobro do Ministério Público, tão diligente em
outras ações, a apuração de todas, não com o interesse de atingir
ninguém em especial, mas em defesa do interesse público. Sem
nenhuma agressão pessoal, blasfêmia ou idolatrias, só com os
fatos. Queremos saber de onde procedem os atos bestiais praticados
na cidade. Apenas isso.
Tanto é que os jornais da cidade estamparam ontem: “Farra do vale
chega à Promotoria. Vereadores pedem ao Ministério Público para
apurar as denúncias de desvio de R$100.000,00 mensais de vales-
transporte”. A matéria está à disposição dos Deputados.
Foi publicada também na “Gazeta Norte-Mineira”: “Sabotagem na
Câmara irrita Vereadores”, em que se fala que Gêra do Chica foi
buscar apoio na apuração do atentado terrorista que sofreu no
último domingo, quando teve parte de sua casa queimada e seu
veículo totalmente destruído por um incêndio criminoso.
No momento de sua fala na tribuna da Câmara, relataria a viagem,
as providências que seriam tomadas em relação ao atentado e
manifestaria as suas suspeitas. Quando o Vereador iniciou seu
discurso, foi interrompido pelo Presidente, Vereador Antônio
Silveira, que alardeou. Nesse momento, cortaram os fios do “link”
que leva a imagem da TV Geraes. Aqui, temos a fotografia de telha
quebrada no prédio da Câmara Municipal, indicando sabotagem.
“Corte de fios suspende transmissão televisiva da reunião
parlamentar”. “Gêra do Chica pede envolvimento da Polícia Federal
para apurar atentado do final de semana”. O jornal “Estado de
Minas” de 30/8/2000 noticia: “Cartas Marcadas - Denúncias de
irregularidades em licitações leva Prefeito a anunciar
providências. O Prefeito de Montes Claros divulgou nota oficial na
tarde de ontem, anunciando a destituição da Comissão de Licitação
da Prefeitura e a paralisação de obras de construção de postos de
saúde e reformas de estradas vicinais do município. A decisão foi
tomada em função das denúncias de `jogo de cartas marcadas´ em
licitações promovidas pela Prefeitura, feitas pelo Vereador Gêra
do Chica”. A denúncia está há mais de dois anos no Ministério
Público. O Vereador Gêra ofereceu-a à Promotoria e mandou publicá-
la no jornal “O Globo” de 6/6/2000: “Engenharia - Processos -
Carta-Convite nº 14/2000 - construção de centros de sáude -
Bairros Independência I e Independência II - 6/6/2000 - 8:30h”.
Dessa forma, antes da abertura, o jornal “O Globo” publicou que a
Construtora Arvel ganharia essa licitação. Anunciou ainda que a
Carta-Convite nº 15/2000 - construção de centro de saúde da Cidade
Industrial - seria vencida pela BML Ltda. e que a nº 16/2000 -
construção do centro de saúde do Bairro Santa Rafaela - seria
vencida pela Construtora Atha Ltda. Portanto, essa matéria foi
publicada no dia 6 de junho, e, no mesmo dia, às 8h30min, foram
abertas as licitações. Pasmem: a Arvel ganhou a primeira; a
segunda, a BML Ltda., e a terceira, a Construtora Atha Ltda. Temos
aqui a cópia dos contratos, cuja homologação se deu no dia 13 de
junho, pelo Prefeito.
Queremos que a Promotoria investigue como o Vereador Gêra
conseguiu acertar “ipsis litteris” os três resultados.
Também está no Ministério Público outra suspeita de corrupção: a
Prefeitura de Montes Claros enviou três cartas-convites, cujas
cópias estão aqui, para três construtoras. Uma foi para o dono de
uma firma cujo nome prefiro não dizer; outra, para a firma da
esposa deste, que não existe no local indicado, e a terceira, para
o filho deste. Então, a Prefeitura, por meio da Secretaria de
Administração, encaminhou três cartas-convites, a três firmas: a
do marido, a da mulher e a do filho. Queremos que o Ministério
Público apure essa denúncia.
Foi denunciado também que, em 2000, houve compra de medicamentos
sem licitação. Foram gastos R$822.000,00 em remédios, como
vermífugos, para 14 meses de consumo, com a alegação de urgência,
e creme vaginal, para 18 meses de consumo. Queremos que o
Ministério Público dê seu parecer. É possível que, no quarto ano
de mandato, Prefeitura compre sem licitação? Não havia previsão?
Houve ainda venda irregular de patrimônio público. A Prefeitura
comprou um galpão por R$1.000.000,00, com a idéia de vendê-lo para
firma de Recife, operação que nunca foi concretizada.
Foi feita, a pedido desta Casa, auditoria na Secretaria da Saúde,
que enviou para o Ministério Público, há mais de dois anos, dados
sobre outra aberração.
Amanhã, levaremos ao Ministério Público questão que preocupa
muito os servidores públicos municipais. Foi vendido para a
PREVIMOC, por meio de lei e para pagamento de dívida, um terreno
da Prefeitura onde existia um mercado. Pediu-se autorização à
Câmara para a dação em pagamento, e o projeto foi autorizado.
Nele, constavam 1.800m. Entretanto, logo em seguida, foi enviado
outro, com 2.300m, e os funcionários estão preocupados com o fato
de ter sido vendida a calçada, onde foi construído um prédio
chamado Shopping Popular, com o dinheiro da aposentadoria,
contrariando todas as leis.
Também encaminhamos para o Ministério Público a questão da
contratação ilegal de gerenciamento de kombis. A Prefeitura
comprou duas kombis para montar o Programa de Saúde da Família
Atende, mas, pasmem, ao invés de contratar motorista e posto de
gasolina para fornecer o combustível, contratou duas pessoas,
sendo que uma delas, cujo nome omitirei, é Chefe de Seção da
Secretaria de Planejamento da Prefeitura. Foi contratado para
gerenciar a kombi do município. Como a Prefeitura pode contratar
uma pessoa que detém cargo de confiança para prestar-lhe serviço?
Além disso, o sócio é funcionário público da Câmara de Montes
Claros e, por coincidência, trabalha no gabinete do irmão do
Secretário de Saúde, que assinou esse contrato.
Temos mais, mas não queremos polemizar. Na quinta-feira, li
artigo de um jornalista cobrando providências do Ministério
Público e alertando sobre a situação.
Os Vereadores do PTB, do PT e do PC do B encaminharam esse pedido
ao Ministério Público, para que avalie se a própria Prefeitura
encontrou maneira de economizar no que diz respeito ao vale
transporte, acabando com a compra e transformando isso em
dinheiro. Ficamos impressionados com esse fato. Por algum motivo,
a suspeita do desvio, exposta pelo porta-voz do Prefeito, não
seria apurada, simplesmente modificaríamos o sistema. Por que o
vale-transporte não funciona? Está havendo desvio, ou está sendo
usado com caráter político?
Amanhã, haverá uma nova audiência, ocasião em que eu e o Deputado
Gil Pereira protocolaremos outras denúncias, para que sejam
avaliadas e para que os culpados sejam punidos.
Ocuparemos esta tribuna pela última vez para tratar desse tema,
enquanto o Ministério Público se posiciona. As denúncias de
corrupção expostas pelo Vereador Gêra do Chica, em 2000, têm de
ter continuidade. As pessoas devem ser ouvidas e as denúncias
serão oferecidas ou não, para que não paire essa dúvida.
Continuarei respeitando muito a Deputada que ocupou a tribuna na
quinta-feira. Com certeza, não falaremos mais sobre esse tema, a
não ser para cobrar do Ministério Público uma apuração mais célere
desses fatos. Tenho muita confiança no Ministério Público e já
tive audiências com o Dr. Gilvan e com o Dr. Cristóvam. Esperamos
a apuração de um desvio - conforme foi divulgado pelo jornalista
Edgard Pereira, do “Jornal de Notícias” - de R$100.000,00 em vales-
transporte por mês em uma Prefeitura cujo mandatário ocupa o cargo
há mais de 77 meses. Esse fato leva-nos a dizer que 100.000 vezes
77 são 7.700.000. Não descansaremos enquanto essa denúncia não for
apurada pela Justiça.
Não desejamos criar polêmicas com esse assunto ou com outro, nem
com um colega de parlamento, mas procuramos respostas e não o
desvio da atenção com passagens bíblicas, que são muitas. Temos de
analisar o fato de terem comparado este Deputado à besta-fera do
Apocalipse. Isso acontece porque ela está combatendo uma
administração com indícios de corrupção? Se a besta-fera combate
Deus, estão idolatrando e dizendo que o Prefeito de Montes Claros
se assemelha a Deus. Com certeza, esse é um grande equívoco. Muito
obrigado.
* - Sem revisão do orador.