Pronunciamentos

CARLOS HENRIQUE MARTINS TEIXEIRA, Diretor-Adjunto de Judô do Minas Tênis Clube - Belo Horizonte.

Discurso

Comenta o tema do painel: Ações para o tratamento do dependente - o que está sendo feito?
Reunião 41ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 17ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 06/07/2013
Página 44, Coluna 1
Evento Ciclo de debates: Um novo olhar sobre a dependência química.
Assunto DROGA. SAÚDE PÚBLICA.
Proposições citadas RQC 5790 de 2013

41ª REUNIÃO ORDINÁRIA INTERROMPIDA DA 3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 17ª LEGISLATURA, EM 25/6/2013

Palavras do Sr. Carlos Henrique Martins Teixeira


Palavras do Sr. Carlos Henrique Martins Teixeira

Cumprimento esta Casa na pessoa do Deputado Vanderlei Miranda; os meus colegas palestrantes, na pessoa do Pastor Wellington; os atletas presentes do Minas Tênis Clube e do projeto social Avança Judô, na pessoa do Dr. Luiz Augusto, Presidente da Federação Mineira de Judô; o público, na pessoa da Cida, assistente social, que, brilhantemente, colabora, ajuda e dirige o Projeto Avança Judô. Antes de mais nada, agradeço o especial convite formulado para debater esse importante tema. Parabenizo a iniciativa desta Casa Legislativa.

Quero também dizer da presença da delegação do Minas Tênis Clube. Agradecemos, Sr. Presidente, a especial visita que recebemos no Minas Tênis Clube, onde V. Exa. esteve presente, na ocasião do Troféu Brasil. Essa presença legislativa em nossas dependências foi motivo de muita motivação para a Equipe Principal do Minas Tênis Clube, que conquistou, para o Estado de Minas Gerais, o título de Campeão do Troféu Brasil de Interclubes.

Peço especial vênia, Sr. Presidente, para quebrar o protocolo e solicitar que a equipe principal do Minas Tênis Clube e os atletas do Avança Judô se formem aqui na frente e, com especial permissão, façam o nosso cumprimento, o nosso “ohayô”. Solicito ao Floriano, técnico principal da equipe do Minas Tênis Clube, que se poste à frente dos atletas e comande o nosso “ohayô”.

- Procede-se ao cumprimento “ohayô”.

O Sr. Carlos Henrique Martins Teixeira - Muito obrigado. Esse cumprimento tem um simbolismo muito importante, pois significa o que foi dito aqui na tribuna: respeito. Um dos princípios do judô é o respeito. Devo ressaltar a presença, como já foi mencionado por V. Exa., Sr. Presidente, do Presidente da Federação Mineira de Judô, o Sr. Luiz Augusto. Essa Federação faz um excelente trabalho tanto na área do judô, no que se refere a esporte de ponta, competitivo, como na área educacional, que é o tema de que vamos tratar.

Dirigindo-me especificamente ao tema proposto, não posso deixar de fazer um retrospecto histórico da modalidade. O judô foi criado no Japão, na Era Meiji, por um professor da escola de educação de Tóquio chamado Jigoro Kano. Friso isso porque o judô não nasceu como arte marcial, nasceu como forma de educação. Ressalto que o mestre era de compleição física franzina e, como acima falado, era professor não de arte marcial, mas de educação da universidade de Tóquio. Daí a pertinência do judô com o tema proposto. Ora, o próprio criador do judô sempre apregoou que criou a modalidade não como arte marcial propriamente dita, mas como forma de educar as pessoas. É de autoria de Jigoro Kano a célebre frase conhecida no meio judoísta: "Educando um jovem para a sociedade, estaremos formando as gerações futuras".

O judô foi criado a partir do jiu-jítsu, que era a modalidade de luta praticada pelos samurais da época. Jigoro Kano, então, absorveu esses ensinamentos do jiu-jítsu, retirando os golpes traumáticos e aqueles de grande potencial contundente, adequando-os para que o perdedor pudesse, posteriormente, vir a vencer, porquanto, na arte dos samurais, era comum as pessoas saírem de tal forma lesionadas, que eram incapazes de manter a prática da luta; contudo, a principal criação de Jigoro Kano está ligada à filosofia educacional do judô. O judô é reconhecida forma de socialização do indivíduo, integrando-o como ser humano. Isso se opera através da pratica cotidiana, por meio da qual os jovens praticantes percebem, desde logo, a necessidade do companheiro de treino. Não se pratica o judô sozinho, não há treinamento solitário, razão pela qual o praticante necessita de seu companheiro ou tori, como é chamado na linguagem do judô, a quem deve valorizar e compartilhar seu treinamento.

Outra forma educacional do judô se baseia nos princípios de hierarquia e respeito. A hierarquia e o respeito são fundamentos indissociáveis do judô. O judô possui uma graduação de faixas, e essa graduação é obtida por meio de esforço e de superação do praticante, tornando-o mais experiente e amadurecido. O judô começa com a faixa branca, depois vem a azul, a amarela, a verde, a roxa, a marrom e a preta. E é por méritos e graus que se chega à faixa vermelha e branca e à faixa vermelha para os grandes mestres. Em reconhecimento a esse posto de graduação maior obtida pelo indivíduo, os praticantes de graduação inferior a ele tributam respeito e hierarquia. Assim, a hierarquia é sempre considerada como forma de respeito pelo mérito do praticante. Outrossim, o respeito é exigido de forma integral aos professores reconhecidos como "sensei", que significa mestre, aquele que transmite os conhecimentos e exige a disciplina. Aliás, a disciplina é requisito essencial à pratica do judô: a força física se alia à força mental. Ninguém é campeão usando apenas a força física, e não só no judô; ninguém se aproxima da sociedade nem nela se destaca, usando só a força física. É necessária também a força mental para alcançar um objetivo almejado. A disciplina também se mostra no regramento alimentar, a fim de que o praticante possa se manter adequadamente nutrido em relação ao seu peso corporal. Lealdade é outro requisito exigido ao praticante de judô. Ele deve manter estrita lealdade junto aos demais praticantes em seus treinamentos, não se permitindo nem mesmo unhas grandes ou cabelos compridos, que podem afetar a boa higiene para com o seu parceiro. Sob esses pilares rígidos, o judô vem sendo praticado há séculos, e seus praticantes têm-se mostrado pessoas contidas, que prezam a temperança e a convivência harmônica com as pessoas.

Mas o que o judô pode fazer a respeito do tema proposto? Evocamos aqui o esporte como ferramenta de combate a drogas. Muito se debate sobre terapias, mas, na verdade, a ferramenta do esporte se mostra como uma prevenção, e é necessário, de fato, prevenir o uso de drogas. Ora, temos hoje, incentivados pela Federação Mineira de Judô e coordenados pelo Minas Tênis Clube, projetos sociais, inicialmente realizados no Aeroporto de Confins, em parceria com a Infraero, cujos alunos são os jovens que aqui estão, recolhidos pelo conselho tutelar e que, portanto, se encontram em situação de risco social, mas que, sob a prática do judô e muito bem orientados pelo Prof. Mário, “sensei” que leciona no projeto, bem como pela assistente social Cida, estão se tornando pessoas e cidadãos de boa conduta e libertos dos vícios da droga. Como o Prof. Mário e a Cida estão aqui, gostaria que eles se levantassem. Faço questão de valorizá-los, porque são pessoas que diuturnamente estão com esses jovens, treinando-os e disciplinando-os para a vida em sociedade.

A disciplina do judô é incompatível com o uso de droga, seja pela cultura de manutenção dos atributos físicos de força e resistência, seja pela metodologia educacional empregada. Sabemos que nem todos os atletas serão campeões mundiais como o nosso atleta Luciano Corrêa, aqui presente - peço-lhe que se levante e para ele também peço uma salva de palmas. Ou como a nossa medalhista olímpica Keytlin Quadros, que não está aqui porque está representando o Brasil em torneio internacional, e outros mais. Mas se formarmos jovens disciplinados e educados para a sociedade, como tem acontecido, teremos feito grande conquista, mantendo-os focados em princípios salutares e afastados dos vícios nocivos que tanto os rondam, especialmente quando ociosos. No Minas Tênis Clube, temos o princípio - e o Presidente que estava aqui é partícipe e apologista dessa ideia - de não nos sentirmos em um negócio de esporte, mas na área de educação. A manutenção de equipes competitivas de vôlei, judô e basquete se justifica muito mais por atrair os jovens para a prática esportiva do que propriamente pela busca de medalhas. É claro que as medalhas são importantes, mas elas, em si, correm o risco de cair no vazio; mas buscar as medalhas para servir de exemplo, para servir de fonte de inspiração para os jovens é algo que não corre o risco de cair no vazio.

A verdade é que todos - a sociedade organizada e o poder público - temos o dever de zelar pelos nossos jovens. Esse modelo mencionado acima, de parceria em projeto social, iniciou-se verdadeiramente com a Infraero, órgão federal, e serviu como importante teste para se aferir que uma parceria saudável mantida entre entidades sérias é muito produtiva. O Minas Tênis Clube compareceu nesse projeto como coordenador, oferecendo sua “expertise” no assunto, bem como alocando o professor e contando com a colaboração da Federação Mineira de judô, incansável em apoiar a iniciativa, e com o resto do suporte material da Infraero, da Confederação Brasileira de judô e das prefeituras locais.

Esse projeto hoje se encontra carente, necessitando de apoio do poder público, para que as crianças, hoje adolescentes, tenham a continuidade de que necessitam, pois o projeto foi limitado a até 15 anos de idade. Agora há vários jovens talentosos que estão em vias de ser excluídos do projeto e, novamente, jogados às ruas, Sr. Presidente. Precisamos, de novo, olhar para esse projeto, sob pena de esses jovens que se integraram à sociedade por meio dessa prática esportiva caírem agora no vazio, porque o projeto simplesmente beneficia jovens até a idade de 15 anos.

Peço, Sr. Presidente, tolerância do tempo para eu encerrar. Acreditamos que o Estado de Minas Gerais tem condições, tem melhores subsídios para manter esse e outros projetos. O próprio Luciano Corrêa possui um projeto social com crianças em situação de risco que retira as crianças do convívio nocivo. Ao mesmo tempo em que mostramos os méritos do trabalho educacional realizado, também suplicamos socorro e ajuda para que possamos manter esses jovens no bom rumo. Existem outros projetos realizados em locais de risco e em todos os casos verifica-se uma redução da criminalidade no entorno, porquanto a energia do jovem pode ser direcionada de forma negativa ou positiva e canalizada a um bom mister.

Também a ONU já emitiu parecer recomendando o judô a jovens que se encontram em situação de risco. Não podemos deixar de mencionar que alguns países vem colhendo ditosos frutos quando o judô é colocado como política pública e mantido como meio de educação nas escolas do Estado. Na França, o judô é praticado nas escolas públicas e, no Japão, o judô é a luta oficial da Polícia de Tóquio, corporação de característica eminentemente conciliadora.

Assim, o que está sendo feito para o combate às drogas é o uso do judô como forma de educação dos jovens. Estamos fazendo esse trabalho dentro de nossa capacidade, e os jovens estão ai para demonstrar o sucesso dessa iniciativa. Estamos também a demonstrar mais: a necessidade do apoio do Estado para que possamos captar e incorporar mais jovens, mantendo-os ocupados e libertos das drogas. Uma política pública que possibilite a extensão da parceria já traçada, bem como a elaboração de outras parcerias com Estado de Minas Gerais, nos possibilitaria estender o benefício a toda a nossa sociedade, cumprindo assim o ideal de Jigoro Kano, segundo quem educando um jovem para a sociedade estaremos formando cem gerações futuras. Muito obrigado e boa tarde.