ANTÔNIO AUGUSTO TONHÃO DE ALMEIDA, Gerente do Parque Estadual do Rio Preto.
Discurso
Comenta o tema: "Efetividade das Unidades de Conservação Estaduais".
Reunião
44ª reunião ESPECIAL
Legislatura 15ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 02/12/2006
Página 41, Coluna 3
Assunto MEIO AMBIENTE.
Legislatura 15ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 02/12/2006
Página 41, Coluna 3
Assunto MEIO AMBIENTE.
44ª REUNIÃO ESPECIAL DA 4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 15ª
LEGISLATURA, EM 24/11/2006
Palavras do Sr. Antônio Augusto Tonhão de Almeida
Cumprimento todos da Mesa na pessoa do Deputado Laudelino
Augusto, que teve a brilhante idéia de trazer à tona a discussão
de um problema seriíssimo: a regularização fundiária de nossas
unidades de conservação. Nós, que somos Gerente de unidade de
conservação, sabemos quanto isso é importante a partir do momento
em que a regularização fundiária segue o rumo para sua definição.
Cumprimento também todos da platéia.
É difícil para um simples Gerente de unidade de conservação
ocupar a tribuna da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, para
falar sobre uma simples unidade de conservação, o Parque Estadual
do Rio Preto, entretanto, ele foi um grande anseio e hoje é
realidade para a comunidade e o Município de São Gonçalo do Rio
Preto, que é muito pequeno, com 3.100 habitantes e 314km2 de área,
sendo 41% o Parque Estadual do Rio Preto.
Para chegar ao que é o parque hoje, vamos começar falando da sua
história, que começa por meio da Lei Municipal nº 23, de 23/8/83,
que declara a área da Praia do Lapeiro como de preservação
ambiental, em um raio de 300m acima e abaixo do pau-d´óleo.
No ano de 1984, a população de Felisberto Caldeira impede que o
esgoto sanitário da cidade seja jogado no Rio Preto. Isso é
importante para chegarmos ao parque. Houve essa história em defesa
do meio ambiente, do Rio Preto.
A Lei nº 9.223, de 8/7/86, altera a toponímia do Município de
Felisberto Caldeira para São Gonçalo do Rio Preto. Esse era mais
um anseio da população, que brigou em prol de seus direitos, com
plebiscito público e depois com o aval da Assembléia Legislativa
de Minas Gerais. Assim voltaram com o nome de sua querida cidade:
São Gonçalo do Rio Preto.
Mais tarde, em 1987, começa a verdadeira briga pelo meio
ambiente, pelo Rio Preto. O Alvará DNPM nº 1.137, de 3/4/87,
concede aval a Walter da Anunciação Borges, autorização de
pesquisa de diamante industrial e minério de ouro no Rio Preto.
Foi praticamente o marco inicial para a briga total em defesa do
Rio Preto, que veio culminar posteriormente com a criação do
parque.
Logo após, a Lei Municipal nº 139, de 13/10/88, declara o Rio
Preto como Patrimônio Ecológico e Paisagístico. É o povo
representado pelo governo municipal em prol da defesa,
acompanhando-se a vontade popular. O Legislativo Municipal, também
a favor.
Em outubro de 1988, a população de São Gonçalo do Rio Preto
expulsa as dragas de garimpo do leito do Rio Preto. Foi “pau pra´
quebrar” mesmo, a população não aceitou, considerava que somente a
autorização de pesquisa não servia para garimpagem; era só para
pesquisa. O povo não aceitou e entrou na Justiça; não aceitou e
colocou as dragas para correr até que a Justiça decidisse se
realmente tinha direito de garimpar. Acima de tudo, o povo estava
sempre à frente.
Em 27/1/89, a Prefeitura Municipal de São Gonçalo do Rio Preto
move ação de interdito proibitório contra Walter da Anunciação
Borges. A briga prossegue tanto com os movimentos populares quanto
com as ações na Justiça para que, de acordo com a lei,
conseguissem o que fosse possível. Em 31/1/89, deferimento
judicial da liminar de interdito proibitório contra Walter da
Anunciação Borges. No dia 2/2/89, a Prefeitura Municipal de São
Gonçalo do Rio Preto move ação declaratória contra Walter da
Anunciação Borges. A coisa não foi brincadeira.
O Ofício nº 33/89, de 29/3/89, da Prefeitura Municipal de São
Gonçalo do Rio Preto ao IEF solicita apoio técnico para
levantamento do potencial da área da nascente do Rio Preto, com a
intenção de criar uma unidade de conservação. Viemos buscar
recursos aos órgãos em nível estadual, iniciando pelo IEF, o
primeiro parceiro importante na briga da criação do parque. Em
abril de 1990, houve um abaixo-assinado da população solicitando
às autoridades constituídas a proibição definitiva de qualquer
atividade poluidora nos córregos afluentes e no Rio Preto. Mais
tarde, a Deliberação Copam 01/91, de 8/1/91, classifica as águas
do Rio Preto, mais um passo em defesa do rio, classificação de
suas águas. Classificaram-nas como classe especial da sua nascente
até a confluência com o Córrego das Buleras e, como classe 1, da
confluência dos Córregos das Buleras até a sua foz, no Rio
Araçuaí.
No dia 20/9/91, o povo de São Gonçalo do Rio Preto recebe, da
Fundação Rio Biodiversitas, o Prêmio Curupira em reconhecimento
pelo trabalho em defesa do Rio Preto. Foi a primeira vez que tive
a honra e satisfação de conhecer o ilustre Célio Valle, que, para
nós, é uma pessoa em quem nos espelhamos para continuar a carreira
em defesa do meio ambiente. Não, professor? Foi a primeira vez que
nos encontramos. O senhor fazia, e faz parte, da diretoria da
Fundação Biodiversitas. O povo de São Gonçalo do Rio Preto foi
agraciado com o Prêmio Curupira. Na época, eu era Prefeito e fui
receber o prêmio pelo povo, em prol da defesa do Rio Preto. Mais
tarde, o Projeto de Lei nº 641/91, de iniciativa do Deputado
Ronaldo Vasconcellos, propõe a criação do Parque Estadual do Rio
Preto. À medida que defendíamos o rio, também procuramos os meios
legais para lograr êxito. O professor já frisou bem, a criação do
Parque Estadual do Rio Preto contou com discussão nesta Casa,
fator ainda mais importante para efetivação do projeto. Se
passando por esta Casa as coisas já não são fáceis, que se dirá
quando são feitas em caráter emergencial e sem estudos!
A Lei nº 11.172, de 29/7/93, autoriza o governo de Minas Gerais a
criar o Parque Estadual do Rio Preto. Normalmente, as unidades são
criadas por um ato do Executivo, mas a nossa foi reforçada com a
votação dessa lei pela Assembléia. Mais tarde, em 1º/6/94, pelo
Decreto nº 35.611, o governo de Minas Gerais cria o Parque
Estadual do Rio Preto no Município de São Gonçalo do Rio Preto,
com 10.755ha. Naquela época, o IEF fazia parte da Secretaria de
Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Posteriormente, foi criada
a Secretaria de Meio Ambiente, à qual pertence o IEF, pelo qual o
parque já era administrado e continua sendo. O IEF é o responsável
pela administração das unidades de conservação do Estado de Minas
Gerais.
Em 19/7/94, tomam posse os primeiros funcionários do Parque
Estadual do Rio Preto. Em 22/10/98, são inauguradas as obras do
Parque Estadual do Rio Preto: estradas de acesso, portarias, sede
administrativa, centro de visitantes, campo, alojamentos para
visitantes e funcionários, casa da gerência, casa de obras,
sanitários, etc. Agradecemos publicamente ao Sr. José Carlos
Carvalho e ao Prof. Célio, que indicaram que fosse destinado
recurso para implantação do Parque Estadual do Rio Preto, visando
ao desenvolvimento do turismo, além da proteção daquela beleza.
Todos os pareceres que vieram para a Assembléia têm assinatura dos
Srs. José Carlos, Alisson Paulineli, Chico Mourão e outros. Essa é
uma história que está gravada.
Em 23/3/99, falece o Sr. Mozart Xavier de Senna, único morador da
nascente do Rio Preto, único posseiro que vivia na unidade de
conservação e que nunca causou problemas. Nosso relacionamento era
muito bom. A Portaria nº 33, de 6/3/2002, trata da abertura
oficial do Parque Estadual do Rio Preto à visitação pública no dia
22/3/2002. Então, no dia 22/3/2002, é aberto à visitação pública o
Parque Estadual do Rio Preto.
Deliberação nº 001, de 13/9/2004, aprova o Plano de Manejo do
Parque Estadual do Rio Preto. De acordo com o Snuc, toda unidade
de conservação tem de ter seu plano de manejo, que é o plano de
gestão daquela unidade. O nosso está aprovado dentro dos ditames
da lei. Já temos hoje um caminho a ser seguido na gestão da
unidade de conservação.
Maio de 2004. Construção do posto de fiscalização na Chapada do
Couto, no Parque Estadual do Rio Preto. Essa construção veio
efetivar o domínio e a posse de toda a área, porque é uma área
distante da sede da portaria, e tínhamos problemas com terceiros
invadindo o parque.
Abril de 2005. Invasão de boiadeiros de Felício dos Santos e
reconstrução do curral de Mozart. Esses foram momentos de brigas e
confrontos com vizinhos.
Junho de 2005. Reunião em Diamantina para tentativa de
conciliação entre IEF, boiadeiros de Felício dos Santos,
Promotoria Pública e Iter. Quero refrisar que não se tratava de
posseiros ou moradores; tínhamos todo o cuidado de saber da vida
de cada uma daquelas pessoas. Eram proprietários de terras no
entorno do parque, com terras boas, estrada, escola, saúde, tudo
em dia, e que utilizavam, por oportunismo, as áreas altas do
parque para fazer a queima e a solta do gado na época da chuva.
Agosto de 2005. Audiência pública na cidade de Felício dos
Santos, com a presença da Comissão de Direitos Humanos para
intermediar e tentar chegar a um acordo. Depois, outra audiência
pública na Assembléia Legislativa de Minas Gerais, também com a
Comissão de Direitos Humanos.
Decreto-Lei nº 44.175 de 20/12/2005. Define o novo perímetro e
amplia a área do Parque Estadual do Rio Preto de 10.755ha para
12.184,3255ha. Com esse decreto, a área do parque foi ampliada e
definida.
Em 26/2/2006. Indeferimento do pedido de liminar de uma ação
possessória desses boiadeiros no Parque Estadual do Rio Preto.
Essa ação foi impetrada na Comarca de Diamantina. Com a liminar
indeferindo o pedido, a situação ficou muito mais tranqüila, e os
boiadeiros que queriam posse naquela área verificaram que
realmente não tinham direito. O Juiz conhecia toda a situação.
Cada caso de unidade de conservação é um caso; então, ela tem de
ser analisada à parte. No nosso caso, temos a consciência
tranqüila de que não se tratava de sem-terra e de que todos tinham
o seu pedaço de terra para viver em boas condições, melhor que,
por oportunismo, explorar uma pecuária nas áreas de cima, que é
uma pecuária arcaica em áreas inapropriadas para agricultura e
pecuária. Novembro de 2006. Formação do Conselho Consultivo do
Parque Estadual do Rio Preto. Cada vez mais, o parque
concretizando a sua caminhada. Então, o conselho consultivo,
professor, está formado e com posse para março de 2007. O Parque
Estadual do Rio Preto hoje pertence à Secretaria Estadual de Meio
Ambiente, ao governo do Estado de Minas Gerais, é um parque
público.
Mostramos um mapa do Parque Estadual do Rio Preto. Estamos
ladeados por três Municípios: Felício dos Santos, Couto de
Magalhães de Minas e Senador Modestino Gonçalves. É um parque que
teve muita facilidade por estar todo dentro do Município de São
Gonçalo do Rio Preto e por ser fruto de uma vontade popular
daquele Município. Hoje temos, de acordo com a nova lei do Incra,
parque todo marcado, georreferenciado. Esses pontilhados referem-
se à área do parque.
Importância da criação. Acima de tudo, o parque foi criado para
preservar a nascente do Rio Preto. Hoje produzimos ali um bem
importante, que é a água. O parque produz as nascentes,
principalmente a nascente do Rio Preto, produz água. A água que
nasce ali é bebida em Araçuaí, em Senador, em Belmonte, na Bahia.
É importante, acima de tudo, preservar esse recurso para quem está
abaixo da gente. Além disso, há preservação de toda a
biodiversidade local, com fauna e flora riquíssimas, o que é
importante e prioritário para a pesquisa. O desenvolvimento da
pesquisa científica é necessário porque, além de preservar, temos
de estudar o que existe no local. Não podemos nos esquecer do
social. Precisa existir equilíbrio ambiental para haver o
equilíbrio social, e, em momento algum, esquecemo-nos disso. A
promoção da educação ambiental vem cumprir mais uma função do
parque. Quem o visita recebe orientação de alguém lá de dentro.
Acima de tudo, tentamos levar uma palavra de educação, de
conscientização e de como mudar a forma de tratar o meio ambiente.
Essa é mais uma função da unidade de conservação. Há visitas de
escolas, de universidades não só de Minas Gerais, mas também de
todo o País.
Quanto ao desenvolvimento do turismo regional, toda a região hoje
tem como referência o parque estadual. O asfalto chegou à cidade,
há melhorias no acesso ao parque, a visitação está aumentando e a
cidade, melhorando. Temos um bom comércio, posto de gasolina,
farmácias, padarias, açougues, etc. A qualidade de vida está muito
melhor que antigamente. Houve geração de empregos diretos e
indiretos, outra importância do parque. A indústria do turismo
traz tudo isso agregado. Diretamente, hoje somos 25 funcionários
lá, praticamente 25 gerentes, pois todas as pessoas são
comprometidas com o parque. São contratadas pessoas da vizinhança,
que passaram parte da vida na região e, de uma forma ou de outra,
freqüentavam o parque no passado. Isso facilita muito a
administração do parque. Temos funcionários dos quatro cantos da
região. Tivemos aumento da arrecadação com o ICMS ecológico e com
a nova Lei Robin Hood, de 1995. Além de ter caído muito a
arrecadação de ICMS do Município quanto ao meio ambiente, ainda
recebe 15% da renda do seu Município em virtude da criação do
parque. O Município detém uma unidade de conservação que
corresponde a quase 41% da sua área. A projeção do Município se
faz presente em todos os níveis - estadual, nacional e
internacional. O parque é o cartão de visita do Município. É isso
o que realmente acontece. O Município está localizado na Serra do
Espinhaço.
Há rochas de quartzito e arenitos. A vegetação predominante são o
cerrado, as matas ciliares e as matas de altitude. Os atrativos
turísticos são os mirantes, as praias, as piscinas naturais, as
cachoeiras, as corredeiras, as trilhas, as pinturas rupestres, o
moinho de pedra, o monjolo, as comidas regionais, etc. Quanto à
situação fundiária, o parque está demarcado e praticamente todo
cercado e terminará no início de dezembro. Há o domínio e a posse
de toda a área, e o processo de regularização fundiária está em
andamento. Em breve, estaremos com a escritura em mão, numa
situação tranqüila.
Vamos mostrar um pouco do parque rapidamente. Não farei muitos
comentários em virtude do pouco tempo de que disponho. Esse é o
sistema de sinalização do parque, a portaria, o alojamento, com 12
apartamentos para visitantes, e órgãos vinculados ao Estado. Essa,
a situação dos apartamentos. Essas são as casas dos visitantes, de
hóspedes. Essa é a área de “camping”, com capacidade para 15
barracas. Esse é o centro de visitantes, com capacidade para 80
pessoas sentadas. Percebe-se uma reunião do conselho consultivo do
parque, realizada dentro do centro de visitantes. Há restaurantes,
sanitários e atrativos históricos e culturais, como o monjolo,
máquina movida à energia gerada pela água.
Temos também o marco da Estrada Real, porque ela passa pelo
parque; moinho de pedra, resgatando a história da cultura e da
tradição da região; marco demarcatório do parque, de acordo com a
lei; ponto onde ficavam os funcionários, no início da chapada - já
construímos barracos, eles estão mais bem acomodados; energia;
água quente; casa do Mozarro, único posseiro que existiu lá; mão-
de-obra dos funcionários do parque, melhorando o acesso às
estradas; pesquisa científica, de que falei; visitação pública;
noção geral do parque; vale com o Rio Preto; Dois Irmãos, que, na
região, depois do Itambé, é o ponto mais alto, com 1.826m de
altitude; Chapada do Couto; capões; nascentes dos córregos e
afluentes; noção do cerrado; formações rochosas; mirantes; ponto
de 1.826m, com o Itambé ao fundo; pinturas rupestres; água por
todos os lados; piscinas naturais; Cachoeira da Sempre-Viva;
Cachoeira do Crioulo; Poço do Veado; corredeiras do Rio Preto;
Poço de Areia; canelas-de-emas; sempre-vivas; orquídeas;
vellosias; pequi, cactáceas; pau-d´arco; pau de paina; bromélias;
e canela-de-ema.
Para terminar, vejamos este trecho: “Se você planeja para 1 ano,
plante arroz; se você planeja para 10 anos, plante árvores; se
você planeja para 100 anos, eduque o povo; se você planeja para
1.000 anos, conserve a natureza do seu país”.
O contato conosco poderá ser feito por meio do IEF, em Belo
Horizonte e Diamantina, bem como pelo meu telefone residencial.
Desde já, agradeço a todos a tolerância em me ouvir. Na nossa
querida São Gonçalo e no Parque Estadual do Rio Preto, estaremos
sempre à disposição. Obrigado. Até a próxima oportunidade.
- No decorrer do pronunciamento, procede-se à exibição de slides.