Pronunciamentos

ÂNGELO OSWALDO, Secretário de Estado da Cultura.

Discurso

Transcurso do 100º aniversário de nascimento do poeta Emílio Moura.
Reunião 197ª reunião ESPECIAL
Legislatura 14ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 22/08/2002
Página 22, Coluna 4
Assunto HOMENAGEM.

197ª REUNIÃO ESPECIAL DA 4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 14ª LEGISLATURA, EM 14/8/2002 Palavras do Secretário Ângelo Oswaldo de Araújo Santos Exmo. Sr. Deputado Marco Régis, prezado Carlos Alberto, Prof. Ricardo, que ontem proferiu marcante conferência sobre o poeta e sua obra na E.E. Francisco Campos, antiga Escola Normal de Dores do Indaía; Exma. Sra. Deputada Maria Olívia - representante de Lagoa da Prata e do Oeste de Minas, portanto da região em que se inscreve a cidade natal de Emílio Moura - que realiza trabalho tão importante na Assembléia Legislativa, em favor dessas comunidades do Oeste mineiro e que aqui também presta marcada contribuição à cultura mineira. A Deputada é autora do projeto de lei que criou o FUNPAT, que tentamos implementar e que é um fundo destinado a levantar recursos para o patrimônio cultural do Estado. É uma alegria termos V. Exa. como representante do Oeste de Minas. Exmo. Sr. Geraldo Marques da Silva, que tem promovido, com entusiasmo, ao lado do seu Vice-Prefeito, Paulo Santiago, também presente, ações que trazem para o convívio das novas gerações a figura e a obra de Emílio Moura, como pudemos ver. Acabo de chegar de Dores do Indaiá, da visita ao Centro Cultural Emílio Moura, com exposições por toda a cidade e manifestações que assinalam o centenário do poeta; Exmo. Sr. José Maria Couto Moreira, a Imprensa Oficial foi dirigida por Emílio Moura e tem nesse sucessor alguém que, com os mesmos ideais de Emílio Moura e de seu pai, Vivaldi Moreira, que também dirigiu a Imprensa Oficial, continua fazendo com que essa instituição, conforme assinalou o Presidente Marco Régis, preste serviços notáveis à nossa cultura. Caríssimo escritor Fábio Lucas, convidado pelo Governador Itamar Franco para essa contribuição tão sensível na Presidência da Comissão Estadual do Centenário do Poeta Emílio Moura e para a liderança de todo o programa comemorativo. Ninguém melhor do que Fábio Lucas poderia estar à frente dessa comissão, que envolve tantas personalidades ligadas à poesia, à literatura, a Emílio Moura e a Dores do Indaiá do que o seu amigo dileto, seu companheiro de peregrinações, com quem trocava idéias sobre literatura. Fábio Lucas, um dos grandes nomes da inteligência mineira, companheiro de Emílio Moura na Academia Mineira, grande intelectual e crítico literário que tem honrado nosso Estado e o País com sua militância em nossa vida literária. Quero saudar companheiros da Secretaria da Cultura e de outras instituições culturais que prestigiam esta reunião tão significativa. Quero destacar o poeta Osório Couto, que tanto se empenhou nas celebrações emilianas e que escreveu um livro sobre os dois poetas centenários, os dois poetas irmãos, amigos, companheiros de jornada de um século e de transformações marcantes na vida cultural e na construção da poesia do século XX - Emílio Moura e Carlos Drummond de Andrade. Caros amigos, senhoras e senhores, o Governo Itamar Franco, de 1999 a 2002, coincide, nestes quatro anos, com uma série de centenários de personalidades altamente expressivas da vida cultural de Minas e projetadas nacional e internacionalmente. É uma safra singular aquela que veio no final do século XIX, e no início do século XX, a qual nos ofereceu individualidades do porte de Emílio Moura. Esses vultos, hoje centenários, aos 20 anos, na década de XX, na Rua da Bahia, em Belo Horizonte, se reuniram e ali começaram a transformar a poesia mineira, que ainda tinha assentos parnasianos e simbolistas e via em Alphonsus de Guimaraens uma grande referência, que se renovava até na presença do jovem João Alphonsus, contista, ficcionista, ao lado dos poetas de 20 anos, na Rua da Bahia de bondes e cafés literários. Emílio Moura, vindo de Dores de Indaiá, conheceu Carlos Drummond de Andrade, de Itabira, Gustavo Capanema, de Pitangui, Milton Campos, de Ponte Nova, Pedro Nava, de Juiz de Fora, tantos que vinham para Belo Horizonte, Capital da convergência, da construção de uma nova Minas e de um novo tempo, estimulado pelas palavras de ordem da República, que asseguraram a construção da nova Capital e fizeram ressurgir a vocação urbana das Minas Gerais, das vilas do ouro e do diamante. Foi aqui que o poeta de Dores do Indaiá, cidade de tanta poesia e de tantos poetas, apareceu em Belo Horizonte para a vida literária e para esse compromisso crucial e vital com a poesia. Meu avô, José Oswaldo de Araújo, nasceu em Dores do Indaiá, há 115 anos, cidade marcada pela poesia, desde o século XVIII, com Francisco Coelho. Foi um dos poetas ao lado de Emílio Moura e de Carminha Gutiê. Sabemos que a poesia continua nessa cidade - está aqui Osório Couto para reafirmar - e que Emílio foi um dos pontos mais altos dessa expressão. É curioso que o modernismo do qual fez parte tenha vindo para mudar, quebrar, romper, transgredir; no entanto, Emílio emerge cristalino, transparente, límpido, com sua expressão lírica, que é singular na poesia brasileira. Talvez, entre os poetas masculinos, a expressão mais alta, como dizia ontem o Prefeito Geraldo Marques da Silva, ao discursar na Escola Estadual Francisco Campos, ao lado de vozes femininas também centenárias, como Henriqueta Lisboa e Cecília Meireles. Emílio Moura, como Abgar Renault, foi clássico e lírico, sendo moderno. Lembrava-me ontem, em Dores do Indaiá, de que o poeta, paradigma do modernismo, Manuel Bandeira, abjurou o lirismo, dizendo que não o queria como mistificação, que não fosse libertação. Podemos sentir que Emílio Moura atingiu o lirismo, liberdade nessa poesia luminosa, inovadora na sua construção e manifestação; porém, uma poesia profunda, permanente, que vem de um grego que estaria contemplando o pôr-do-sol para além da linha do horizonte no oceano, como se contempla no alto do cruzeiro, na Serra da Saudade, que é uma pincelada de azul no horizonte de Dores do Indaiá. Vimos, ontem, à tarde, magnífico sol dourado celebrando o ocaso nessa cidade, em meio a todas coroas loiras dos ipês floridos, no sertão dos campos gerais. Estamos muito felizes, na Secretaria da Cultura, já nesta reta final do nosso trabalho e do Governo Itamar Franco, de ter podido celebrar este centenário, não buscando a efeméride, a celebração simplesmente retórica de vultos do passado, como também a laudação, que não teria mais lugar no nosso tempo, mas, sim procurando atualizar a presença das personagens que devem ser permanentes na vida cultural de nosso País. Foi por isso que, por meio da Superintendência de Bibliotecas, realizamos exposições sobre os poetas centenários. Assim como Henriqueta Lisboa viajou por todo o Estado em exposição alusiva à sua obra, começamos, agora, a itinerar com a exposição Emílio Moura - que pode também ser vista no 3º Salão do Livro de Minas Gerais até domingo - para levarmos a todo o Estado, principalmente às bibliotecas públicas e casas de cultura, a magia e o fascínio de sua poesia. Com esses “folders” editados pela Imprensa Oficial de Minas Gerais; com o suplemento literário que sairá em setembro sobre o poeta, por ocasião de seu centenário; com a exposição da Superintendência de Bibliotecas Públicas; com as conferências, debates e a presença de Fábio Lucas, animando nova e enriquecedora reflexão sobre a obra emiliana, tenho certeza de que colheremos excelentes resultados desse esforço de trazer para as gerações novas do século XXI a vida e a obra de Emílio Moura. Emílio Moura, de fato, ficou nas Minas Gerais, por detrás das montanhas, num tempo em que era preciso migrar para existir na cultura brasileira. O Rio de Janeiro, Capital da República, ainda com resquícios de corte, monopolizava praticamente toda a projeção e a irradiação do fazer cultural do País. Brincavam, os que já estavam plantados à beira-mar, que Minas exportava minério e mineiros e que aqueles que não saíam, como Emílio Moura e Francisco Iglésias, talvez tivessem defeito de fabricação. Emílio Moura aqui ficou com o seu jeito mineiro de ser: discreto, sóbrio, desconfiado, fumando seu cigarro de palha e espiando a vida. Há poucos dias, em viagem a Lassance, para inaugurar o Memorial Carlos Chagas, implantado pelo Governo Itamar Franco no pavilhão em que o cientista fez a descoberta da doença de Chagas, parei em Morro da Garça, cidade que é tema de um conto de Guimarães Rosa. O Prefeito José Maria e sua esposa, Fátima, apresentaram-me um homem que trabalha na Prefeitura, dizendo: “Este também é vaqueiro, amigo dos vaqueiros de Guimarães Rosa”. Perguntei-lhe: “Como vai?”. Respondeu: “Vou aí, sofrendo o mundo”. Acabara de conhecer um personagem vivo de Guimarães Rosa no meio de uma rua de Morro da Garça. Emílio Moura era personagem mineira que víamos subir a Av. Augusto de Lima em direção à Imprensa Oficial para conviver com os jovens escritores dos anos 70, que faziam o momento maior do Suplemento Literário criado por Murilo Rubião, durante o Governo de Israel Pinheiro. Tinha grande carinho pelos escritores novos. Estimulava-os. Lembro-me, por exemplo, de vê-lo fazendo a caricatura do poeta Adão Ventura. Era desenhista, caricaturista e grande escultor. Não podemos nos esquecer de sua vocação para as artes plásticas. Como Emílio tinha tanto carinho pelos novos, tenho certeza de que estará muito contente de ver todo esse empenho e união de esforços, de Dores do Indaiá e de Minas Gerais inteira, para que sua obra possa ser conhecida, apreciada e vivida pelas novas gerações e pelos leitores que passam a descobri-la. Muito obrigado, em nome do Governador Itamar Franco, da Secretaria de Estado da Cultura, da nossa Comissão Especial, à Assembléia Legislativa, ao seu Presidente, Deputado Antônio Júlio, que é também um homem do Oeste de Minas; ao Deputado Marco Régis, que preside esta sessão; à Deputada Maria Olívia e a todos os Deputados. Nosso reconhecimento, pois, no exato dia do centenário, neste 14/8/2002. Enquanto em Dores do Indaiá tocam os tambores da grande Festa do Rosário, uma das maiores expressões da cultura popular mineira, aqui estamos, na Assembléia Legislativa, na Casa do povo mineiro, para homenagear a memória de um dos maiores mineiros de todos os tempos, o poeta maior, expressão superior da lírica brasileira, personagem que devemos guardar para sempre.