ANA BEATRIZ VASCONCELOS, Coordenadora-Geral da Política de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde.
Discurso
Comenta o tema: "Legislação e políticas voltadas para a prevenção da
obesidade".
Reunião
23ª reunião ESPECIAL
Legislatura 15ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 22/07/2006
Página 40, Coluna 4
Evento Fórum Técnico "Obesidade: desafios e perspectivas".
Assunto SAÚDE PÚBLICA. ADMINISTRAÇÃO FEDERAL.
Legislatura 15ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 22/07/2006
Página 40, Coluna 4
Evento Fórum Técnico "Obesidade: desafios e perspectivas".
Assunto SAÚDE PÚBLICA. ADMINISTRAÇÃO FEDERAL.
23ª REUNIÃO ESPECIAL DA 4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 15ª
LEGISLATURA, EM 6/7/2006
Palavras da Sra. Ana Beatriz Vasconcellos
Bom-dia. O Ministério da Saúde parabeniza a Assembléia
Legislativa e todos os órgãos pela organização deste evento, que
proporcionará o debate sobre esse tema que preocupa a saúde
pública brasileira, como bem disse o Walmir.
Várias reuniões, medidas e ações setoriais vêm sendo implementadas
para conter essa epidemia de obesidade que atinge as crianças, os
adolescente e os adultos brasileiros.
Exporei alguns dados que podem reafirmar o que o Walmir já
demonstrou em termos nacionais e internacionais. Apresentarei
também o que o Ministério da Saúde desenvolve como prioridade e
como ação estratégica na área da promoção da saúde, no que diz
respeito à prevenção da obesidade.
Ele citou palavras do Pe. Antônio Vieira. Os dados demonstram que
a situação é feia e muito grave, mas esses números devem ser
mostrados, para que tenhamos a noção exata da dimensão desse
problema.
O panorama mundial é o seguinte. Ocorreu uma mudança profunda no
perfil da morbi-mortalidade na maior parte dos países; e houve um
aumento expressivo das doenças crônicas não transmissíveis. Essas
doenças já assumem 60% do total de óbitos do mundo e 46% da carga
de doença. Os infartos e os derrames matam 12 milhões de pessoas
por ano; e estima-se que 177 milhões de pessoas sejam diabéticos,
a maioria com diabete tipo 2, nos países em desenvolvimento. No
Brasil há um grande número de pessoas com diabete tipo 2.
Mundialmente, estima-se que, em 2030, 366 milhões de pessoas
estejam com "diabetes mellitus". O excesso de peso afeta 1 bilhão
de adultos e 20 milhões de crianças.
A projeção é mais grave ainda. As doenças crônicas serão
responsáveis por quase 3/4 dos óbitos no ano de 2020. Em 20 anos
haverá um aumento muito significativo de 400% da população com 60
anos ou mais nos países em desenvolvimento. No Brasil, a população
idosa, acima de 60 anos, passará de 8% para 15%. É importante
frisar que, para a OMS, uma população é considerada envelhecida
quando a percentagem de idosos ultrapassa 7%.
Como esse perfil de saúde e nutrição mudou nos últimos anos?
Caracterizamos essa alteração por três transições que normalmente
analisamos na área da saúde.
A transição epidemiológica, que é a mortalidade por DCNT. Há uma
redução das doenças infecciosas e transmissíveis e as associadas à
desnutrição, mas há mortalidade crescente pelas DCNTs. A isso
chamamos dupla carga de doenças.
Em países como o nosso, que convive com a desnutrição e a
obesidade, isso significa muito para os gastos públicos. Gastamos
muito para reduzir e eliminar a desnutrição, o que é absolutamente
necessário para a população, e gastamos igualmente muito com as
DCNTs. Mostrarei depois um "slide" com o percentual de gasto do
SUS com essas doenças.
A transição nutricional, que é a mudança na alimentação e a
redução da atividade física, faz com que a obesidade supere a
nutrição. A transição demográfica significa o envelhecimento
populacional e a acelerada urbanização, que trazem uma mudança de
hábitos da população, e o fenômeno da globalização, ou seja, a
difusão rápida de hábitos e padrões globais de comportamento. A
alimentação é o hábito global que mais nos afeta. O padrão atual
de consumo é totalmente internacional. Em qualquer lugar do mundo,
encontraremos as mesmas cadeias de lanchonetes e restaurantes.
No cenário brasileiro, constatamos queda acentuada das doenças
infecciosas e das associadas à nutrição e o crescimento das
doenças crônicas, que, em 2002, representaram 69% dos gastos com a
saúde pública no Brasil. Isso é muito grave, porque esse gasto já
se dá num nível alto de complexidade. As pessoas com tais doenças
já chegam ao hospital infartando, em processo de difícil reversão,
o que significa alto custo para o sistema de saúde, seja público,
seja o privado.
Essa é a grave situação das doenças crônicas. Foram abandonadas ao
longo do tempo por serem consideradas doenças da velhice. Não se
implementaram ações de prevenção contra elas.
O custo do sistema de saúde, em geral, é de alto nível de
complexidade quando as pessoas adoecem. Chegam ao hospital em
estado grave ou exigindo o uso continuado de medicamentos. Isso
representa custo em saúde, tanto para a renda do aposentado quanto
para o caixa das três esferas de governo.
Quais são os fatores de risco comuns das DCNTs? Tabagismo,
alcoolismo, alimentação, inatividade física, obesidade, pressão
arterial elevada, deslipidimias e glicemia elevada. Observem que a
obesidade é fator de risco para todas as doenças crônicas: doenças
cardiovasculares e respiratórias, diabetes e câncer.
Quais são os principais fatores de risco e "causa mortis",
principalmente nas Américas? Tabagismo, hipertensão, sobrepeso,
colesterol alto e baixo consumo de frutas, legumes e verduras.
Sabemos que frutas, legumes e verduras têm efeito protetor contra
as doenças crônicas não transmissíveis.
No Brasil, as doenças cardiovasculares respondem por 32,3% da
mortalidade. Depois, veremos as DCNTs, que trazem também dados
significativos.
Aqui, vemos a tendência secular do excesso de peso no Brasil,
assunto que o Walmir teve oportunidade de abordar. Considerando os
três inquéritos que permitem a comparação de dados, tivemos um
aumento de 18% para 41% de excesso de peso nos homens, aumento
muito mais alarmante do que o verificado nas mulheres, que, embora
apresentem percentuais parecidos, mostram certa estabilidade entre
1989 e 2003. Entre os homens, isso não se verifica; os índices
praticamente dobram, o que observamos também nos meninos.
Para a obesidade, temos uma situação uma pouco diferente. Apesar
de as mulheres terem mais obesidade, o percentual é estabilizado
ao longo do tempo, ou seja, a população cresce, mas o percentual,
mesmo sendo alto, estabiliza-se. Já nos homens, observamos um
aumento de 3,4%, basicamente em uma faixa de 10 anos, o que é
bastante significativo.
Aqui, vemos os dados mais recentes para adolescentes, segundo os
inquéritos nutricionais, e os últimos dados da Pesquisa de
Orçamento Familiar - POF. O déficit de altura, primeiro índice
antropométrico, que aponta para a qualidade de vida da população,
sofreu uma redução, quer dizer, não temos tantos adolescentes com
déficit de altura. O mesmo se verifica com relação ao déficit de
IMC, o que significa que a situação de baixo peso ou de risco
nutricional para o lado negativo também está estabilizada. Já
quanto ao excesso de peso e a obesidade, os índices estão
crescendo, tanto para o sexo masculino quanto para o sexo
feminino. Com esses dados, o Ministério da Saúde trabalha para
desenvolver suas políticas.
A mesma coisa acontece com os indicadores para adolescentes com
idade entre 10 e 19 anos com relação ao excesso de peso: índice de
21,5% para o sexo masculino, na Região Sudeste especificamente,
que, ao lado Região Sul, é a que mais contribui para que o
percentual de obesidade seja mais elevado. Se a média nacional de
excesso de peso é de 18%, na Região Sudeste é de 21,8%, entre
meninos, e 18%, entre meninas. Embora não tão significativa,
verifica-se um certo aumento quando a comparamos com a média
brasileira.
Como tendências globais do padrão alimentar e atividade física,
temos: o aumento do consumo de gorduras saturadas e hidrogenadas,
presentes basicamente nos produtos processados, que consumimos
largamente hoje em dia; a substituição do consumo de alimentos
ricos em nutrientes, como frutas, legumes e verduras, por
alimentos energeticamente densos e pobres em micronutrientes; o
aumento do consumo de alimentos salgados, gordurosos e açucarados
e a redução dos níveis de atividade física.
No Brasil, com os dados da POF 2002-2003, que mede o gasto das
famílias com todos os componentes, inclusive com alimentos,
verificamos um aumento do consumo de gordura de origem animal e
açúcar; um baixo consumo de cereais e leguminosas - o decréscimo
dos nossos famosos arroz com feijão -, frutas, legumes e verduras
- consumo que se reduziu, mas que, no Brasil, nunca foi muito
alto, nunca foi significativo -; aumento do consumo de alimentos
preparados e da alimentação fora de casa - esse dado é bastante
variável entre os dados das classes sociais e de renda, creio que
semelhante ao dado que o Walmir nos apresentou sobre os Estados
Unidos, onde 30% das famílias de classe e renda mais altas fazem
sua refeição fora de casa e o gasto é todo empenhado para essa
alimentação extradomicílio -; um aumento expressivo do consumo de
refrigerantes, que, de acordo com dados do Endef de 1974 e 1975 e
de agora, 2006, foi de 400% em 30 anos - hoje o consumo de
refrigerantes por nossa população é 400 vezes maior do que há 30
anos -; e uma provável redução da atividade física - 13% das
pessoas que fazem atividade física fazem atividades relacionadas a
lazer de final de semana, e apenas 3,3% podem afirmar que fazem um
atividade física diária.
Este é um quadro sobre um inquérito feito pelo Inca, do Ministério
da Saúde, juntamente com a Secretaria de Vigilância e Saúde,
medindo os fatores de risco para as doenças crônicas não-
transmissíveis nas principais capitais. Em Belo Horizonte, existe
um percentual de 35% de inatividade física. João Pessoa e outras
cidades possuem um alto grau de inatividade física. O sedentarismo
e a atividade regular foram medidos.
Este é outro fator de risco, medido por esse mesmo inquérito: o
consumo de frutas e verduras da população masculina nessas
capitais. Na faixa azul, recomendação de cinco a seis porções por
dia, temos um percentual mínimo da nossa população. Não há uma
diferença significativa entre os sexos. Apesar de o sexo masculino
apresentar um maior consumo de frutas e verduras, a diferença não
é impactante.
Políticas e ações intersetoriais necessárias para provocar uma
reversão nesse quadro. A política nacional de alimentação e
nutrição é uma política do Sistema Único de Saúde, está locada
nesse âmbito, é intersetorial e tem a alimentação saudável como
eixo transversal. Isso é importante.
Essas são as diretrizes da PNAN: estímulo às ações intersetoriais,
com vistas ao acesso universal aos alimentos; garantia da
segurança e da qualidade dos alimentos e da prestação de serviços
em alimentação; monitoramento da situação alimentar e nutricional
do País - isso, sim, é um investimento grande feito pelo
Ministério, tanto na implantação de seu sistema de vigilância
alimentar e nutricional como no financiamento de inquéritos e de
pesquisa -; o próprio modo de antropometria da POF é uma
iniciativa de financiamento do Ministério da Saúde para conhecer
essas condições de saúde e nutrição da população para trabalharmos
sobre essas informações; promoção de práticas alimentares
saudáveis e prevenção e controles dos estudos nutricionais e
doenças associadas à alimentação e à nutrição. As outras duas
diretrizes são particularmente referentes a pesquisas e
capacitação. São linhas de ação que procuramos desenvolver.
Algumas ações são estratégicas para a política de alimentação e
nutrição no combate à obesidade. Em primeiro lugar, temos a
publicação, elaboração, divulgação e utilização dos guias
alimentares nacionais para crianças e adultos pelos profissionais
de saúde. Tivemos oportunidade de lançar, no ano passado, o Guia
Alimentar Nacional para a população brasileira. Estamos em fase de
impressão e vamos divulgá-lo para as redes de saúde. Essa é uma
ação estratégica pelo desdobramento que possibilita.
A iniciativa nacional de incentivo ao consumo de alimentos
saudáveis, com ênfase em frutas, legumes e verduras, precisa ser
aumentada no Brasil. Precisamos da regulamentação da promoção da
alimentação saudável nas escolas, e da regulamentação da
publicidade e propaganda de alimentos.
Não citei a rotulagem nutricional, uma ação que teve uma portaria
publicada em 2000 e refeita em 2002, quando foi harmonizada no
âmbito do Mercosul. Temos um franco desafio de implementação das
ações de regulamentação. A Agência de Vigilância Sanitária
encarrega-se de capacitar seus profissionais e os Procons para
melhorar o entendimento dessa rotulagem nutricional.
Esse é o guia alimentar para a população brasileira que estabelece
as diretrizes técnicas de alimentação, que é um instrumento
decisivo para a promoção da alimentação saudável. Ele enfatiza a
estratégia de saúde da família e como o profissional pode abordar
a questão alimentar no âmbito familiar. Isso é muito importante e
permite a elaboração de materiais direcionados a diversos
públicos. Esse guia pode ser apropriado de formas distintas por
qualquer Secretaria de Saúde do Estado ou do Município, por
organizações não-governamentais e pelo próprio setor produtivo,
para ampliar e fazer repercutirem as orientações. Ele possibilita
o pacto social em prol da alimentação saudável.
Este fórum é um modelo para pactuarmos ações em todos os níveis de
governo e entre os diferentes poderes com relação à alimentação
saudável. Realmente, não se trata de uma ação isolada, como foi
dito aqui. Precisamos do governo, do setor produtivo, da sociedade
científica, de entidades da sociedade civil e dos Poderes
Legislativo e Judiciário, que têm sido parceiros fundamentais na
possibilidade de mudarmos o perfil que temos hoje.
Incentivo ao consumo de frutas, legumes e verduras é outra
estratégia do Ministério da Saúde. Conforme foi medido pela
Pesquisa de Orçamento Familiar - POF -, hoje, no Brasil, existe um
consumo de 130g diárias por pessoa. O preconizado pela OMS é um
consumo diário de 400g, que traria efeito protetor para as
pessoas. Qual é a nossa meta? Triplicar esse consumo. É um
desafio. Não basta que o Ministério da Saúde promova campanhas
para divulgar isso. É preciso criarmos uma rede de abastecimento
que favoreça a oferta desses produtos. Além disso, o poder de
compra da população deve ser aumentado, a fim de que as pessoas
tenham acesso a esses alimentos.
Se chegarmos a um supermercado classe AAA, verificaremos que a
parte de frutas, legumes e verduras é toda bonitinha, os produtos
são embalados e refrigerados. O mesmo não ocorre em mercadinhos de
periferia, onde a situação é um horror: as cenouras são murchas,
as bananas, além de pretas, ficam jogadas de qualquer maneira.
Existem várias situações quanto ao abastecimento público nessa
área. Não é uma ação isolada do setor da saúde, mas uma ação que
exige organização dos setores de abastecimento em todos os níveis.
Esse é um ponto importante.
Não é por acaso que esse assunto está sendo debatido pelo Consea
nacional. É um GT específico reunindo o Ministério da Agricultura
e o Conab, para verificarem a possibilidade de se ampliarem a
produção e a oferta desses produtos, principalmente à população de
baixa renda. O consumo de frutas e verduras é baixo em todas as
classes de renda. Devemos mudar o hábito das classes de mais alta
renda. Quanto às classes de menor renda, além de mudar seus
hábitos alimentares, devemos possibilitar seu acesso a esses
produtos. Precisamos trabalhar essas duas questões. As pessoas que
têm mais dinheiro - mesmo que a renda aumente -, não deslocam mais
recursos para comprar legumes e verduras. Talvez um pouco mais,
porém não é um aumento significativo para o efeito protetor ideal.
Valorização da biodiversidade nacional, ou seja, aumento do
consumo de alimentos regionais. O Brasil tem uma riqueza enorme de
alimentos desse grupo.
Articulação com o setor produtivo e o varejo para desenvolver
sistemas locais de abastecimento. Existe uma ação muito produtiva
com a Anvisa, por meio de apoio a um projeto que mede resíduos de
agrotóxicos. Muitas pessoas acham que esses produtos não são
seguros. As nossas culturas não são devidamente controladas quanto
ao uso de agrotóxicos, isso gera certo receio da população em
consumir esses produtos.
Estimular os órgãos de divulgação sobre o efeito protetor de
frutas, legumes e verduras. Existem campanhas e programas, como o
5 ao Dia, cujo objetivo é divulgar isso no mundo inteiro. Essas
ações são muito importantes para essa iniciativa.
Alimentação saudável nas escolas. O Ministério da Saúde e o MEC
publicaram, em 8/5/2006, uma portaria que consideramos uma
vitória, porque define a promoção da alimentação saudável em
escolas públicas e privadas, com base em seis eixos prioritários:
realização de ações de educação nutricional e sua inclusão no
modelo curricular adotado pela escola. Outros eixos são: estímulo
à produção de hortas escolares, implantação de boas práticas de
manipulação de alimentos, restrição ao comércio e à promoção
comercial de alimentos e preparações com altos teores de gordura
saturada, gordura trans, açúcar livre e sal nas cantinas
escolares, incentivo ao consumo de frutas, legumes e verduras e
monitoramento da situação nutricional dos escolares. Esse é um
exemplo de ação intersetorial. Tanto a saúde quanto a educação
entenderam que já era hora de alertar todos os níveis de governo
sobre a necessidade de algo ser feito no âmbito das escolas.
Obviamente, a implementação dessa portaria exige pactuações nos
níveis estadual e municipal, entre os conselhos de saúde, os
conselhos de alimentação e escolar e o sindicato das escolas
privadas, mas contém as linhas mestras para mudarmos o panorama
das escolas brasileiras.
Outra ação estratégica seria a própria regulamentação da
propaganda de alimentos. O Ministério tem um grande cuidado nessa
questão, pois entendemos que uma ação regulatória é extremamente
eficiente nesse campo. Foi criado um grupo técnico, coordenado
pela Anvisa e composto por representantes dos Ministérios da Saúde
e da Agricultura, do próprio Idec, do Conar, da Associação
Brasileira de Indústrias de Alimentos, enfim, de vários parceiros,
para chegarmos a um modelo de regulamentação. É claro que não é
algo fácil, não chegamos a um consenso tranqüilamente. Como causa
impacto diretamente no setor produtivo, há uma grande resistência,
mas foi o possível de ser construído. Nossa expectativa é que, com
a mobilização da sociedade, a regulamentação seja colocada para
consulta pública ainda em julho, para ser debatida por todos os
setores.
Basicamente, a regulamentação define parâmetros do que sejam esses
alimentos ricos em sódio, gordura e açúcar, a fim de que de fato
sejam restritos na programação. Ela prevê a restrição de horários.
O Walmir disse bem: alguns programas infantis são recheados de
promoção de produtos não saudáveis. A restrição de horário precisa
estar contida, então. A limitação de patrocínios e brindes também
é uma recomendação, assim como frases de advertência para esses
produtos, algo indicando que seu consumo excessivo não faz bem à
saúde e pode acarretar doenças crônicas não transmissíveis. Esse é
o ponto principal em que estamos trabalhando, entendendo que é
necessária uma grande mobilização.
Recentemente o Conar lançou uma proposta de auto-regulamentação,
sinalizando que o setor produtivo está preocupado com o assunto.
Percebemos anteriormente, até na fala do Deputado, que muitas
empresas de refrigerante dos Estados Unidos já mudaram seu perfil
e já não vendem nas escolas. No Brasil, isso ainda não foi
assumido por parte do setor produtivo. Precisamos agilizar e
potencializar essa ação.
Esta é uma ação específica da saúde, o "Caderno de Atenção Básica
- Obesidade", lançado recentemente. No contexto epidemiológico
atual e na ótica de promoção da alimentação saudável, o objetivo é
orientar os profissionais de saúde para o diagnóstico, o
tratamento e o acompanhamento nutricional da obesidade em todas as
fases da vida. Indica as atribuições e competências da equipe de
saúde, com uma parte específica voltada para o nutricionista. Ele
será distribuído às equipes do Saúde da Família. É uma publicação
nova do Ministério e será divulgada para que os profissionais
estejam mais bem-qualificados para a abordagem da questão da
obesidade na rede de atenção básica.
Eu não poderia deixar de falar da campanha publicitária Pratique
Saúde, lançada pelo Ministério, enfocando alguns fatores de risco.
Ela ainda não teve grande divulgação, mas está presente em algumas
mídias nacionais. É basicamente uma ação de comunicação, que visa
à educação para a saúde, com ênfase em alimentação saudável,
atividade física e prevenção do diabetes, da hipertensão e da
obesidade. O público é toda a sociedade brasileira.
Quais são as perspectivas que encontramos? Aprofundar o debate
sobre a implementação de ações de prevenção e controle da
obesidade nos três níveis de governo, nos demais setores da
sociedade e no setor produtivo de alimentos. Este fórum é um
exemplo do aprofundamento desse debate e da busca do
amadurecimento da sociedade para o enfrentamento desse problema,
que hoje é uma epidemia na saúde pública nacional. Esta é uma ação
muito importante. Queremos que ela seja replicada e continuada por
muitos setores. Os fóruns estaduais e municipais vêm tendo um grau
de adesão, têm levado a uma mobilização interna da população
brasileira em relação ao tema.
Para nós, do Ministério da Saúde, a proteção e a promoção da saúde
pública devem ter precedência sobre todas as questões de mercado
ligadas à melhoria da qualidade de vida da população, pois são
direitos humanos fundamentais. Por exemplo, quando se fala da
regulamentação dos alimentos, pode-se achar que essa é uma
iniciativa livre. Tudo bem, é mesmo, devemos incentivar a
atividade econômica em todos os sentidos, mas a proteção e a
promoção da saúde são um direito de todos e um dever do Estado.
Esse é o pensamento do Ministério da Saúde.
O endereço da nossa página na internet está aqui. Algumas das
nossas publicações, como o "Caderno de Atenção Básica da
Obesidade" e o "Guia Alimentar", podem ser baixadas por
"download". Precisamos aumentar a divulgação disso.
Agradeço a atenção de todos e coloco-me à disposição para os
esclarecimentos que se fizerem necessários.
- No decorrer do pronunciamento, procede-se à apresentação de
"slides".