ALBERTO SIMON SCHVARTZMAN, Mestre em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos.
Discurso
Discursa sobre o tema do painel: "Políticas Públicas para o
desenvolvimento e o combate à escassez de água"
Reunião
18ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 16ª legislatura, 1ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 31/03/2007
Página 54, Coluna 2
Evento "VI Fórum das Águas para o Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais".
Assunto RECURSOS HÍDRICOS. MEIO AMBIENTE.
Legislatura 16ª legislatura, 1ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 31/03/2007
Página 54, Coluna 2
Evento "VI Fórum das Águas para o Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais".
Assunto RECURSOS HÍDRICOS. MEIO AMBIENTE.
18ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 1ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 16ª
LEGISLATURA, EM 21/3/2007
Palavras do Sr. Alberto Simon Schvartzman
Boa-tarde a todos. Cumprimento o Deputado José Henrique, em cuja
pessoa cumprimento os demais membros da Mesa. Primeiramente
agradeço a oportunidade de estar aqui. Fico muito honrado em fazer
parte da Mesa com o ilustre Prof. Lanna e o Prof. José Roberto
Scolforo. Ative-me exatamente ao tema “As políticas públicas e a
escassez de água”. À minha exposição darei uma conotação diferente
dos outros depoimentos e das palestras anteriores. Pretendo ser
mais otimista que as outras pessoas, dizendo o que está sendo
planejado e feito, particularmente em Minas Gerais, conduzido pelo
Igam.
O Estado possui um panejamento denominado Plano Mineiro de
Desenvolvimento Integrado - PMDI -, criado a partir de um
diagnóstico realizado pelo BDMG, em 2003, chamado Minas Gerais do
Século XXI. Nesse diagnóstico, procurou-se conhecer toda a
realidade do Estado por meio de uma reflexão feita por 10
especialistas - 10 volumes - em todas as áreas onde o Estado atua
ou onde deva atuar. Levantaram-se todas dificuldades, fizeram uma
reflexão de todas as políticas passadas, da nossa posição em
relação ao Brasil e em relação ao mundo, onde as nossas políticas
são deficientes. Esse documento serviu de base para a elaboração
do PMDI, que possui um horizonte até 2020. Aliás, esse plano está
sendo revisto. A partir da sua elaboração, foram tirados alguns
projetos estruturadores que compuseram o Programa Geraes, que
reúne os programas prioritários do Estado. Há também outros
projetos prioritários que compõem a carteira que diz onde o Estado
deve atuar prioritariamente. A partir daí, serão definidas as
políticas públicas. Em vista do PMDI, são definidos os projetos
prioritários, as políticas e o PPAG no período de 2004 a 2007 e,
agora, de 2007 a 2010.
Por coincidência, esse plano identifica uma linha imaginária nas
regiões Norte e Nordeste do Estado de Minas Gerais, uma área mais
carente, onde há o mais baixo IDH. Exatamente nessa região há
escassez de água. Nessa região, não há somente eventuais problemas
de água. Associados a isso, há também outros, como o desemprego, o
desenvolvimento, o uso desordenado do solo e dos recursos
naturais. Exatamente numa região onde há escassez de água, o IDH é
baixo, acarretando atraso. Ali preferencialmente serão
desenvolvidas as políticas públicas; tanto assim é, que o Estado,
voltado para essa região, desenvolveu alguns projetos
prioritários, para acabar com as desigualdades sociais.
A escassez de água, tema deste fórum, ocorre por vários motivos.
Não ocorre somente nas regiões Norte e Nordeste do Estado, nos
Vales do Jequitinhonha, do Mucuri e do São Mateus, na bacia do
Pardo; pode existir em qualquer região do Estado, onde a demanda
for superior à oferta. Mesmo nas bacias do Rio Paracatu e do Rio
Araguari, onde há água, eventualmente poderá haver escassez, pois
as demandas são superiores às ofertas, às disponibilidades
hídricas. Portanto a escassez é um conceito relativo, tem que ver
com o uso, os costumes, as demandas, os usuários. Também está
relacionada com a poluição. Numa região onde a água é abundante,
pode ocorrer de ela estar indisponível para o consumo, pois pode
estar poluída.
A escassez ocorre não apenas na região semi-árida, não apenas no
Nordeste brasileiro, no Norte e no Nordeste do Estado de Minas
Gerais, ocorre também onde as demandas são superiores e
eventualmente onde há escassez natural. Esta está ligada a um
conceito de aridez. Em nosso país, temos a região semi-árida, onde
a evapotranspiração é superior ao volume precipitado. Ali há uma
aridez relativa.
No Estado de Minas Gerais, o Igam, órgão gestor de recursos
hídricos, tem estudos que nos informam sobre a disponibilidade
hídrica das regiões. Esse é um mapa temático e informa sobre os
rendimentos mínimos específicos das águas superficiais. Verifica-
se que, nas regiões Norte e Nordeste, a região mais avermelhada é
onde há baixo rendimento específico de água superficial.
Provavelmente ali teremos problemas de escassez de água. Mas não
somente ali. No Triângulo também temos uma ponta onde há problemas
de escassez de água, e em todo o Estado temos diversos pontos.
Muitas vezes o atraso de chuvas pode causar um episódio de seca e
eventualmente um episódio de escassez de água.
Quanto às águas subterrâneas, também temos mapeados, de uma
maneira especializada, a disponibilidade das águas subterrâneas no
Estado de Minas Gerais. Na região azul, temos mais disponibilidade
de águas subterrâneas; na região vermelha, há menor
disponibilidade específica. Na região Nordeste do Estado, mais uma
vez, uma escassez de águas subterrâneas. Essa escassez não impede
que haja um abastecimento ou um suprimento de água. Não estamos
num clima desértico, estamos em uma região tropical semi-árida.
Ali temos precipitações da ordem de 700mm anuais. O que surge aí
não induz a outras questões, a questões de gerenciamento, de
gestão de recursos hídricos, de gestão de ofertas e demandas.
Surgem, então, os conflitos pelo uso das águas. Parece que o
Procurador, no painel passado, nos falou sobre os conflitos
ocorridos no País e em Minas Gerais. Eles sempre existiram. As
civilizações sempre se localizaram próximas aos cursos d´água, aos
mananciais e sempre houve disputas entre vizinhos, conflitos de
interesses. O Prof. Lanna contou-nos sobre um conflito entre os
interesses da agricultura irrigada e do abastecimento humano, da
indústria, e assim por diante. Os conflitos são de diversas
magnitudes e têm de ser dirimidos. Prevêem-se conflitos locais no
âmbito de uma bacia hidrográfica, e, se o assunto extrapola a
questão local, podemos contar com a participação de um órgão
gestor de recursos hídricos, do Ministério Público, dependendo da
condição do conflito. Então, o conflito pode ocorrer em região de
escassez, que, notadamente, é uma região propícia a essa
discussão, mas pode ocorrer também onde há água disponível, mas em
que o uso é conflituoso. É para isso que temos uma política. Aqui
quero dar minha ênfase otimista, contrapondo o discurso pessimista
de que não estamos fazendo nada, de que estamos apenas comemorando
o Dia Mundial da Água. Estamos agindo, cada um na sua trincheira.
Há diversos atores no palco do meio ambiente, da água, cada um
dentro da sua trincheira. Existem órgãos gestores de recursos
hídricos, existe uma política definida no País. Temos a Lei
Federal nº 9.433, que tem 10 anos; temos a Lei nº 13.199, de 1999,
a lei mineira; temos diversos decretos que regulamentam essas
leis, temos Conselho Nacional de Recursos Hídricos e Conselho
Estadual de Recursos Hídricos.
Há diversas instâncias, comitês, fóruns de comitês e organizações
particulares que atuam em prol dos recursos hídricos. Está cada um
dentro de sua trincheira fazendo a parte que lhe cabe. Uns dirão
que estamos muito atrasados em relação à política, que não
avançamos muito; outros dirão que já fizemos muito - são as
diversas óticas; mas não podemos negar que algo está sendo feito.
Tanto a política estadual quanto a federal estabelecem quais são
os instrumentos de gestão: os planos de recursos hídricos, o
enquadramento, a outorga, a cobrança, etc. Eles estão sendo
implementados no País, como um todo, e em nosso Estado, em
particular. Temos o Plano Nacional de Recursos Hídricos, concluído
recentemente - agora estão sendo detalhados seus programas e
subprogramas -, iniciamos, em 2006, a elaboração do Plano Estadual
de Recursos Hídricos -, fizemos uma primeira etapa e devemos
complementar ao longo do ano de 2007: o enquadramento, a outorga,
a cobrança, etc. Os instrumentos estão sendo implementados à
medida que o Estado está amadurecendo e o órgão gestor vai
adquirindo capacidade de implementar. Provavelmente amanhã teremos
a discussão da formação de uma agência, pois estão sendo propostas
as formações de agências e bacias que discutirão as cobranças no
âmbito dos comitês de bacias. Tudo isso está sendo construído
conjuntamente com a sociedade, os empresários e a população em
geral.
Um documento importante para o combate à escassez de água são os
planos de recursos hídricos - os de bacias, os diretores e o
estadual -, que nos dirão qual o estado das bacias, onde estão as
prioritárias e os problemas de escassez de água e quais as
intervenções necessárias.
Vimos que não bastam instrumentos como a outorga, a cobrança,
etc. Em uma região onde há um rio intermitente, como iremos
repartir o zero, como enquadraremos rios que pararam de correr?
Como faremos a cobrança em uma região depauperada, com escassez de
água? Portanto, não somente os instrumentos de gestão da política
de recursos hídricos serão suficientes para combater a escassez:
serão necessários outros programas e projetos.
Aí cito o programa Pró-Água Semi-Árido, de que sou coordenador há
cinco anos. Esse programa do governo federal tem apoio do Banco
Mundial e contrapartida do Estado de Minas Gerais e dos Estados
nordestinos onde é aplicado. Desde 1998, temos ampliado a oferta e
o abastecimento de água em comunidades rurais no semi-árido
mineiro: nas bacias dos Rios Pardo e Jequitinhonha. Há diversas
comunidades, e são mais de 50 projetos da ordem de
R$80.000.000,00, que foram e continuam sendo aplicados.
No mês de abril, iniciaremos o Pró-Água Nacional. O Pró-Água Semi-
Árido atendia a Minas Gerais e aos Estados Nordestinos; já o
Nacional abrangerá todo o Brasil. Os recursos serão aplicados na
ampliação da oferta de água onde há escassez. Concordamos com o
Prof. Lanna que, eventualmente, haverá necessidade de um estudo
aprofundado a respeito dos projetos prioritários e dos retornos
para que o dinheiro seja bem aplicado em projetos realmente
adequados.
Um outro projeto que gostaria de citar é o Vida no Vale, que foi
discutido nesta Casa. É um projeto do governo do Estado - da
Seplag e da Copasa - que visa à universalização, à ampliação da
oferta de água, em primeiro lugar, e do serviço de saneamento
básico para todos os Municípios das bacias do Jequitinhonha,
Mucuri e São Mateus. Essas são ações concretas, políticas públicas
que visam mitigar problemas de escassez de água e ampliar o acesso
das pessoas a ela.
Falei sobre o PMDI, particularmente sobre a política de recursos
hídricos, mas existem várias outras que são intervenientes, que
têm interfaces, como é o caso da política de saneamento: temos
política nacional de saneamento, lei estadual de saneamento, etc.
Temos também uma política de irrigação. Quando essas políticas não
são coadunadas e olhamos apenas para a irrigação ou para o
abastecimento ou a geração de energia, há conflitos, portanto há
necessidade de integração delas.
Finalmente, é necessária a inserção dos Municípios nessa
política.
Era o que tinha a falar. Obrigado.
- No decorrer do pronunciamento, procede-se à exibição de
“slides”.