Macaúba pode revolucionar produção de combustível sustentável de aviação
Inauguração de novo centro de pesquisa no Norte de Minas, para viabilizar esse uso da planta, foi destacada nesta segunda (12), em audiência da Comissão de Minas e Energia da ALMG.
- Atualizado em 13/05/2025 - 13:30De um lado, a dificuldade de se eletrificar aviões comerciais em função, por exemplo, do peso das baterias. Do outro, a macaúba, uma árvore típica do semiárido e do Cerrado, que produz de sete a dez vezes mais óleo para biocombustível por hectare do que a soja e com a vantagem de poder ser usado largamente na aviação.
A exploração em grande escala dessa planta promete unir as duas pontas desse mercado por meio de um centro de tecnologia e inovação do agronegócio que deve ser inaugurado no próximo mês na região de Montes Claros (Norte).
Esse avanço foi destacado em audiência pública da Comissão de Minas e Energia realizada na tarde desta segunda-feira (12/5/25), na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). A reunião atendeu requerimento do presidente da comissão, deputado Gil Pereira (PSD).
Além do potencial energético, Gil Pereira lembrou que a macaúba é uma cultura perene e que não compete com a produção de alimentos, já que pode ser usada para recuperar terras degradadas. Por esse motivo, segundo ele, a empresa de energia Acelen se programa para, por meio da melhoria genética e de cultivo, estabelecer em Minas Gerais uma cadeia de produção de biocombustíveis a partir dessa planta.
Graças ao investimento de R$ 314 milhões, o Centro de Tecnologia e Inovação do Agronegócio, o Acelen Agripark, foi construído em uma área de 138 hectares. Ele terá no futuro capacidade para produção de 1,7 milhão de sementes por mês e 10,5 milhões de mudas por ano, conforme lembrou o presidente da Comissão de Minas e Energia.
O investimento inicial da Acelen no Brasil é de US$ 3 bilhões, com potencial de gerar até 85 mil postos de trabalho diretos e indiretos, sobretudo voltados para a agricultura familiar, e movimentar até 2035 um total R$ 40 bilhões na economia nacional.
Tudo isso graças à palmeira bem conhecida pela população norte-mineira que alcança até 25 metros de altura, frutos marrom-amarelados, espinhos e, o melhor, boa tolerância a ambientes secos, ao estresse hídrico e a variações climáticas. Uma biorrefinaria baiana será o destino do óleo produzido em solo mineiro.
A deputada Carol Caram (Avante), que também integra a Comissão de Minas e Energia, reforçou o otimismo do colega com esse novo empreendimento. “Precisamos explorar novas fronteiras na produção de energia. Temos o exemplo da Cemig, que não consegue mais dar conta das demandas de infraestrutura em nosso Estado. E nada melhor do que achar novos caminhos de desenvolvimento de forma sustentável”, completou.
Solução de problema global pode surgir no Norte de Minas
É pela possibilidade de uso na produção de biocombustível para aviação comercial que a macaúba parece mais promissora. É o que explicou, em sua apresentação na audiência, o vice-presidente Operacional da Acelen Renováveis, Marcelo Cordaro.
Segundo ele, atualmente, 23% da emissão de gases de efeito estufa deriva da mobilidade, e a aviação em geral é responsável por 3% disso. Embora possa parecer pouco, trata-se de um custo alto, com poucas alternativas. É aí que entra a macaúba como matéria-prima do combustível sustentável de aviação, ou SAF, sigla em inglês que representa esse filão de mercado.
Essa opção pelo Norte de Minas, segundo ele, pareceu a mais lógica e rápida após cerca de dois anos e meio de prospecção da empresa, tanto que o Acelen Agripark a ser inaugurado no próximo mês levou apenas dez meses para ser erguido.
“Nosso ponto de partida foi o contexto das mudanças climáticas e a necessidade de novos combustíveis renováveis como solução em termos de mobilidade para reduzir o aquecimento global”, justificou.
“Não podemos desmatar ou substituir a produção de alimentos. O fato de a macaúba ser nativa traz vantagens até pelo conhecimento acumulado de forma popular e pelas universidades para explorar essa cultura de forma vertical e em grande escala, mas também sustentável”, avalia Marcelo Cordaro.
O biocombustível emite até 80% menos emissão do combustível fóssíl e a expectativa da empresa é de que a macaúba se torne a biomassa mais competitiva do mundo tanto em termos de SAF quanto para motores movidos a biodiesel (HVO), no caso de veículos terrestres e navios.
Além da aptidão regional para o cultivo e do clima favorável, a empresa levou em conta a disponibilidade de terras para plantio e, futuramente, instalação dos hubs de extração de óleo. “E as biorrefinarias do futuro também serão instaladas nas áreas de produção de óleo”, antecipa, o que pode trazer mais investimentos para o Norte de Minas.
“O Brasil tem duas Alemanhas de terras degradadas. Se explorarmos apenas 1% disso, chegaremos perto de produzir todo SAF que o mundo precisa”, comparou Marcelo Cordaro.
Projeto tem ligação com Montes Claros e Salvador
Também participaram da audiência diversas lideranças políticas do Norte de Minas, unânimes em elogiar o projeto. Entre eles, o prefeito de Montes Claros, Guilherme Augusto Guimarães de Oliveira, que venceu a concorrência de Salvador, onde já funciona uma refinaria de biodiesel da mesma empresa.
“O poder hoje no mundo está na produção de energia e Montes Claros, que já é um importante polo farmacêutico da América Latina, quer ser a Arábia Saudita da energia sustentável”, definiu.
A audiência da Comissão de Minas e Energia contou ainda com representantes de instituições superiores de ensino e pesquisa, de entidades de produtores e trabalhadores rurais e órgãos de fomento financeiro e atração de investimentos, como a Agência de Promoção de Investimento e Comércio Exterior de Minas Gerais (InvestMinas).
O diretor de Atração de Investimentos da Invest Minas, Ronaldo Alexandre Barquette, também destacou a importância do empreendimento, tanto na perspectiva de desenvolvimento estratégico da região quanto no contexto social, já que pode gerar empregos de todos os níveis de conhecimento, agregando valor em todo o processo.


