Homenagem a Sindicato dos Músicos provoca desabafo de maestra
Maestra da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, Lígia Amadio diz que este é o Estado que paga salários piores a seus músicos.
“A Orquestra Sinfônica de Minas Gerais é a orquestra mais mal paga deste País”. Com esse protesto, que a levou às lágrimas, a maestra da Orquestra Sinfônica, Lígia Amadio, fez com que todos os participantes da audiência pública realizada nesta quarta-feira (26/11/25) pela Comissão de Cultura, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), se levantassem em ovação. O aplauso se somou ao voto de congratulações entregue a ela pelo deputado Leleco Pimentel (PT), autor do requerimento para realização da reunião.
O desabafo de Lígia Amadio veio após outros participantes lamentarem a situação de músicos autônomos que recebem um cachê de apenas R$ 100,00 para tocar durante cinco horas seguidas, em uma noite.
Diante disso, a maestra revelou que um músico iniciante da Orquestra Sinfônica recebe R$ 1.618,72 por mês. “Fazendo uma conta rápida, pelos 24 dias de trabalho por mês, eles ganham R$ 66,00 por dia”, indignou-se Lígia Amadio, acrescentando que eles não tocam menos que as cinco horas relatadas anteriormente na reunião.
Ela acrescentou que não dizia que os artistas autônomos deveriam receber menos, mas sim que os profissionais da Orquestra deveriam ser respeitados. “Não é possível que o governo considere justo pagar R$ 1,6 mil para um músico. São anos observando essa precarização e eu não suporto mais”, declarou a maestra.
“A cegueira deste Estado para uma orquestra tão importante como esta me dói e me dói outra coisa: eu fui aluna do maestro Eleazar de Carvalho, e jamais o vi não ser recebido por um governador, por um secretário de Cultura, por um presidente da República. Isso é indigno não para o maestro, mas para esses políticos”, afirmou Lígia Amadio.
Ela contou que nunca foi recebida por um político em Minas para discutir a contribuição da Orquestra Sinfônica para projetos culturais e sociais em nosso Estado. “Será que é porque sou mulher?”, questionou ela.
Sindicato dos Músicos cobra direitos autorais e pede apoio para acervo
A maestra Lígia Amadio não foi a única homenageada da audiência pública. O Sindicato dos Músicos do Estado foi celebrado por seus 80 anos de história, em um debate que buscou soluções para os principais problemas que afetam a classe em Minas Gerais, tais como informalidade, má remuneração, condições ruins de trabalho ou imposição de atuar como microempresa individual (MEI), a fim de burlar o vínculo empregatício.
As duas homenagens foram uma iniciativa do deputado Leleco Pimentel, que apresentou, durante a audiência pública, um projeto de lei (PL) recém-elaborado como um gesto de solidariedade à categoria. O PL 4.878/25, segundo ele, determina a destinação de 100% do couvert artístico aos músicos e artistas contratados para se apresentar, e também o fornecimento de alimento e intervalo de descanso para os profissionais contratados.
Leleco Pimentel recordou sua própria atuação como músico, quando chegou a receber R$ 6,00 e meio prato de comida por uma noite de trabalho.
O presidente do Sindicato dos Músicos Profissionais de Minas Gerais, Antônio Pompeu Viola, cobrou apoio do Estado para a recuperação e digitalização do acervo histórico e musical da instituição sindical. Assim como a produtora cultural Marcela Bertelli, ele destacou que nem mesmo a Rádio Inconfidência e a TV Minas, que pertencem ao Governo do Estado, cumprem a obrigação de recolher direitos autorais aos músicos. “Cinco mil rádios (em Minas) simplesmente não recolhem”, lamentou Viola.
Marcela Bertelli destacou ainda os problemas específicos das mulheres que atuam no setor, como a falta de uma licença-maternidade e de segurança nos locais de trabalho.
Durante a audiência pública, também foi proposta a realização de um seminário estadual para discutir soluções para a precarização do trabalho dos músicos. Leleco Pimentel se comprometeu a requerer um evento com este objetivo e também a cobrar esclarecimentos ao Governo do Estado sobre o pagamento de direitos autorais aos músicos pelas empresas públicas.