Crucial para a transição energética, a extração do lítio representa a promessa de um futuro melhor para quem mora na região de Araçuaí e em todo o Vale do Jequitinhonha. Mas, para que esse futuro não se transforme em pesadelo com impactos negativos na qualidade de vida da população, é preciso, desde já, avaliar alternativas para que o crescimento da atividade aconteça de forma sustentável.

Com esse objetivo, a Comissão de Desenvolvimento Econômico da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) reuniu, na manhã desta segunda-feira (10/11/25), lideranças políticas, comunitárias e moradores na Câmara Municipal de Araçuaí. A reunião atendeu a requerimento do deputado Duarte Bechir (PSD), 2º-vice-presidente da ALMG. Quem comandou o debate foi o deputado Vitório Júnior (PP).

No Vale do Jequitinhonha estão 85% das reservas brasileiras e 8% das reservas mundiais de lítio, mineral usado na fabricação de diversos produtos, como baterias de carros, celulares e remédios. 

A extração comercial de lítio em Araçuaí e na vizinha Itinga começou há quase 35 anos, com as operações da Companhia Brasileira de Lítio (CBL). Em 2023, a canadense Sigma Lithium também começou suas atividades em Araçuaí, dando novo impulso na economia regional, investimentos que devem ser imitados por outras mineradoras em breve.

No centro do debate sobre a xploração do lítio está a Área de Preservação Ambiental (APA) Municipal Chapada do Lagoão, que concentraria parte das reservas do mineral, mas é defendida por ambientalistas.

A maioria dos chamados chapadeiros, cerca de 400 famílias de pequenos produtores rurais que se identificam como uma comunidade tradicional da região, veriam com bons olhos a expansão da mineração e defenderiam a redução da área protegida.

Uma lei municipal teria diminuído a área de proteção para permitir a exploração do lítio e, na outra ponta, tramita na ALMG o Projeto de Lei (PL) 3.331/25, que cria, em âmbito estadual, a mesma APA, sobrepondo-se à lei municipal. A proposição é de autoria do deputado Doutor Jean Freire (PT).

Nesse aspecto, segundo Duarte Bechir, a audiência servirá para embasar o debate na ALMG sobre o conteúdo do projeto e futuros aprimoramentos.

O vice-presidente da Associação dos Chapadeiros, Demário Batista, defende a redução da área de proteção para não inviabilizar o desenvolvimento de outras atividades econômicas, como a mineração, que podem ser benéficas para toda a região.

“Na APA, de fato, o que tem de ser preservado é o platô, lá em cima. As vertentes, a caatinga, lá embaixo, onde não tem nascentes, não justifica estar dentro de uma APA e assim impedir as pessoas de fazer sua roça, de criar sua vaca, seu cavalo”, ponderou.

O prefeito de Araçuaí, Tadeu Barbosa, disse que os recursos oriundos da mineração são fundamentais para viabilizar mais justiça social no município.

“Nós temos necessidades sociais ainda não atendidas no nosso município. Por isso temos que usar esses recursos com sabedoria. É fundamental manter o diálogo com as empresas sem ficar ancorado a um lado ou outro. Não podemos liberar tudo, mas também não podemos restringir tudo”, avaliou.

Do Vale do Jequitinhonha para o mundo

O lítio transformou a região em área estratégica para o mundo, na avaliação de Vitório Júnior. “É uma cadeia produtiva muito grande e a exploração do lítio não pode servir apenas para alavancar o desenvolvimento econômico, mas tem que deixar um legado pra região, sobretudo para as pessoas que mais precisam. Por isso na audiência também foram levantadas preocupações sociais, ambientais e até de saúde”, disse.

Para o deputado Bim da Ambulância (Avante), o debate em Araçuaí serviu para dar equilíbrio ao debate na ALMG, já que, até o momento, somente ambientalistas e representantes de outras comunidades tradicionais teriam sido ouvidos. No início de setembro, a Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável realizou duas visitas à região para ouvir comunidades impactadas.

“Era importante a Assembleia voltar à região, agora para ouvir as demais partes interessadas na questão. Eles puderam agora manifestar sua posição favorável à mineração. Com essa audiência, esperamos que haja uma convergência das posições para resolver essa situação”, explicou o deputado.