Criação do Monumento Serra do Lenheiro é debatida em São João del-Rei
A consulta à comunidade é uma das exigências para instituição desse tipo de unidade de conservação.
Mais uma etapa para a criação do Monumento Natural Estadual da Serra do Lenheiro (Mona Lenheiro), no Município de São João del-Rei (Central) foi cumprida na última sexta-feira (31/10/25), com a realização de audiência pública, na cidade, da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). A reunião é uma exigência burocrática para a tramitação de projetos que propõem criação desse tipo de unidade de conservação.
No caso do Mona Lenheiro, a proposição foi apresentada pelo deputado Cristiano Silveira (PT), autor do Projeto de Lei (PL) 2.080/24, que já recebeu aval da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e aguarda parecer de 1º turno da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.
O deputado, que coordenou a audiência pública, explicou que durante o encontro foram apresentadas 28 questões que devem ser respondidas durante a tramitação. “Podemos fazer um substitutivo e adequar o projeto às exigências que a gente sabe que precisam ser cumpridas”. Um dos resultados da consulta popular foi a criação de uma comissão formada por representantes de todos os segmentos impactados para analisar e acompanhar o desfecho da proposta.
Riqueza histórica, cultural e ambiental
A Serra do Lenheiro é um conjunto de montanhas que abriga muitas riquezas culturais e ambientais, além de ser um marco histórico da região. Localizada numa área de transição entre mata atlântica e cerrado, possui uma rica biodiversidade, que inclui 22 espécies de plantas ameaçadas de extinção.
Com quase 5 mil hectares, ainda preserva pinturas rupestres datadas do período Paleoíndio – era dos primeiros grupos humanos da América, quando viveram os ancestrais indígenas, há cerca de 3 mil anos.
A pesquisadora Maria Leônia Chaves de Resende, professora da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) ressaltou a importância dos registros de arte rupestre como constatação do processo de ocupação do território brasileiro muito antes do período colonial. “É possível você identificar uma série de características que a gente chama de tradições para distinguir estilos de vida e grupos culturais pretéritos que ocuparam esses espaços”, ensina.
Ulisses Passarelli, organizador do livro Dossiê Serra do Lenheiro, pesquisador e folclorista, considera a criação do monumento “um momento significativo desse avanço que vem a se somar com a legislação patrimonial para preservar a área”.
Segundo o pesquisador, a busca pela proteção da área começou em 1988 com o tombamento administrativo da serra. Dez anos depois foi transformada em parque municipal, mas, apenas em 2014, foi criado o conselho para gerir o espaço. Em 2023 foi formalizado o tombamento processual.
Ao mesmo tempo em que busca a proteção integral da área, esse modelo de unidade de conservação, segundo o Instituto Estadual de Florestas (IEF) inclui a comunidade local no processo de preservação. O monumento natural permite a agricultura de baixo impacto, o turismo ecológico e a pesquisa científica.
Origem do nome
A denominação da Serra do Lenheiro remete à própria trajetória histórica de São João del-Rei. Membro do Instituto Histórico e Geográfico do município, Luiz Antônio Sacramento Miranda relata que os nativos da região já utilizavam a madeira da área para aquecer lares e cavernas, hábito repassado aos bandeirantes que exploraram o local.
Com o desenvolvimento da cidade e a chegada das fábricas de tecido, as lenhas também eram usadas como combustível das caldeiras e, depois, das locomotivas. Ele conta que até os curtumes retiravam os barbatimões (planta típica do cerrado) , para curtir o couro. A extração da serra amplificou a partir do século XVIII e inclui também o uso de plantas medicinais.
“Então, a Serra do Lenheiro recebeu esse nome, devido à sua grande devastação, à grande quantidade de madeira que foi extraída das suas matas”, afirma o especialista.