Campanha pela redução da jornada deve ser ampliada
Seminários em Minas, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro estão entre as estratégias para ampliar o Movimento Vida Além do Trabalho.
Exibindo sua carteira de trabalho, o coordenador do Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), Rick Azevedo, vereador eleito pelo Rio de Janeiro (RJ), fez um desafio ao deputado federal mineiro Nikolas Ferreira (PL-MG) para debater, nos shoppings de Belo Horizonte, a proposta de redução da jornada de trabalho e fim da chamada escala 6x1, de uma folga semanal por seis dias trabalhados.
A cena aconteceu durante a audiência pública realizada pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) na sexta-feira (13/12/24) para discutir os benefícios sociais da proposta de redução de jornada, que consta em Proposta de Emenda à Constituição (PEC) elaborada pela deputada federal Érica Hilton (Psol-SP).
A reunião, realizada pela Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social da ALMG, atendeu solicitação de 14 parlamentares estaduais de esquerda. Com seu desafio, Rick Azevedo deu o tom dos próximos passos da campanha pelo fim da escala 6x1: ampliar a mobilização dos trabalhadores em favor da proposta, levando debate às ruas e intensificando o uso das redes sociais.
O coordenador do movimento lembrou que o deputado Nikolas Ferreira vem se posicionando contra a redução da jornada de trabalho alegando possuir vários estudos que mostram a inviabilidade da medida. “Eu desafiaria o deputado a ir no shopping comigo para mostrar esses estudos para a classe trabalhadora. Que ele leve a carteira de trabalho dele. Eu tranquei três faculdades por causa da escala 6x1, porque quem está nessa escala não consegue estudar, não consegue ter lazer, não consegue ter família”, afirmou Azevedo.
Rick Azevedo recordou como surgiu o Movimento Vida Além do Trabalho, a partir de um vídeo publicado por ele na internet em 13 de setembro de 2023 e que se tornou viral. Segundo ele, o movimento não se dedica apenas a buscar a redução da jornada mas também a denunciar abusos de empresários que "impõem escalas criminosas ainda mais abusivas que a escala 6x1".
Ele lembrou que atualmente, em muitos shoppings, há trabalhadores que estão enfrentando uma escala de 15 dias de trabalho sem folgas. “A gente está falando de um modelo de trabalho escravocrata. É um país que se recusa a romper com o período mais obscuro de sua história”, declarou Azevedo.
O presidente do Sindicato dos Comerciários de Belo Horizonte e Região, João Pedro Periard, confirmou as denúncias de Rick Azevedo. “Os shoppings funcionam de 10 às 22 horas, e eles já querem abrir de 9 às 23. Tem gente que vai trabalhar 10, 12 horas”, declarou o sindicalista.
De acordo com Periard, hoje há milhares de empregos que não são preenchidos em Belo Horizonte por causa das péssimas condições de trabalho. “Hoje eu assinei 30 abandonos de emprego. Não aguenta e vai embora. Não é que ele não quer trabalhar. O jovem quer trabalhar, mas ele quer viver”, afirmou ele.
Defensores da proposta preparam eventos pelo País
Coautor da PEC divulgada por Érica Hilton, o deputado federal Rogério Correia (PT-MG) disse que os apoiadores da redução da jornada já programaram a realização de diversos eventos pelo Brasil em 2025, incluindo em Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. A intenção é não permitir que a pauta seja esquecida. “Tudo que esses grupos estão esperando é que a pauta esfrie”, afirmou Rick Azevedo, referindo-se aos críticos da redução da jornada.
Diversas deputadas e deputados que solicitaram a audiência pública celebraram o movimento como algo capaz de unir e revitalizar o campo progressista na política nacional. Foi o caso das deputadas Bella Gonçalves (Psol), Lohanna (PV) e Beatriz Cerqueira (PT), assim como o deputado Betão (PT), presidente da Comissão do Trabalho.
Betão lembrou que o problema da jornada excessiva se soma ao tempo desperdiçado no transporte precário. “Você leva duas horas para ir para o trabalho e duas horas para voltar, dependendo de onde você mora”, enfatizou. Bella Gonçalves, por sua vez, disse esperar o retorno de Rick Azevedo a Minas Gerais para receber o título de Cidadão Honorário do Estado, que será proposto como uma consequência da audiência pública.
Argumentos contrários à redução da jornada são contestados
Economista e pesquisador no Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Diogo Santos se contrapôs a alguns argumentos daqueles que se opõem à redução da jornada de trabalho. Segundo ele, a maioria dos países tem hoje uma jornada média de 40 horas semanais, menor que a brasileira, de 44 horas.
Sobre o argumento de que a redução da jornada levaria a redução da produtividade, o economista afirmou que estudos confirmam que as longas jornadas de trabalho é que contribuem para essa queda de produtividade. Sobre a ideia de aumento de custo e inflação, ele afirmou que isso poderia acontecer apenas no momento inicial de transição.
Um outro integrante do Movimento Vida Além do Trabalho, Lucas Cristian de Oliveira, argumentou que a escala de três folgas por quatro dias de trabalho deverá ser implantada em Tóquio, no Japão, a partir de abril, como uma forma de fortalecer a vida familiar. “O nome dessa PEC não é PEC contra escala 6x1, é a PEC da família. A gente não quer trabalhar menos, a gente quer trabalhar melhor”, explicou.
Lucas pregou a necessidade de desmascarar líderes políticos que dizem apoiar a família e a vida, mas se opõem à melhora das condições de vida da classe trabalhadora. “Temos a obrigação de desmascarar esse discurso falacioso, imoral, que não defende a vida. Defendem as famílias: as próprias e as de mais ninguém”, criticou.
