Ações para a transição climática são debatidas no Águas para o Futuro
Assembleia apresenta resultados do seminário realizado no ano passado e que tem desdobramentos pelo menos até 2026.
04/06/2025 - 19:44A Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) segue presente no seminário internacional Águas Para o Futuro 2025, no auditório do Minas Tênis Clube, em Belo Horizonte. Na tarde desta quarta-feira (4/6/25), a servidora Mariana Paolucci apresentou os resultados do Seminário Técnico “Crise climática em Minas Gerais: desafios na convivência com a seca e a chuva extrema”, realizado pelo Legislativo no ano passado.
Mariana, que atua como consultora de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável na ALMG, falou na mesa redonda "Orientando a ação em nível local e nacional – Agenda 2030 e outros mecanismos de planejamento, monitoramento e avaliação de resultados para a transição climática". Ela salientou que o seminário focou na adaptação à nova realidade climática e inovou ao articular poder público, sociedade civil e academia, resultando em um relatório final com 332 diretrizes que irão orientar a atuação da Assembleia em torno do tema nos próximos anos.
A consultora destacou que tais diretrizes envolvem não apenas a atuação parlamentar, mas também ações educativas/culturais e o impulsionamento de políticas públicas. Essa última diretriz levou ao “Prêmio Assembleia de Incentivo à Inovação - Crise Climática”, que selecionou e premiou dez propostas inovadoras nessa área, em parceria com o Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-TEC).
O Legislativo também estabeleceu projetos prioritários. Segundo Mariana, eles abordam acesso à água, previsibilidade de clima, resposta estruturada a calamidades e planejamento ambiental. Entre os desafios apontados pela consultora, está o de fazer com que as sugestões da sociedade sejam consideradas nas decisões políticas.
A estruturação de um sistema capaz de responder às calamidades foi destacada, ainda, pelo Major Felipe, diretor de Gestão de Desastres da Defesa Civil do Rio Grande do Sul. Ao abordar as enchentes que assolaram o Estado há um ano, ele afirmou que o mapeamento de risco é muito importante para salvar vidas, mas que a maioria dos municípios pequenos não tem sequer um técnico para cuidar disso.
Questão é também econômica
A jornalista Silvia Castro, produtora de conteúdos socioambientais, tratou dos planos estratégicos que visam a um futuro mais sustentável, como a Agenda 2030, das Nações Unidas (ONU). No Brasil, segundo ela, apenas 7,73% das 169 metas dessa agenda tiveram progresso suficiente, índice que salta para 22% na América Latina.
O resultado, de acordo com a palestrante, é que o País pode perder 4,4 milhões de empregos e R$ 17 trilhões no acumulado do PIB até 2050. Em todo o mundo, o custo anual resultante da falta de engajamento é estimado em U$ 450 bilhões. “A questão ambiental é também econômica”, frisou.
Ao abordar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, Sílvia destacou o chamado ODS Zero, que trata do capitalismo consciente, o discernimento sobre o que deve ser feito. “A partir dele, os outros objetivos ficam mais fáceis”, pontuou.
Já a situação das vilas e favelas no contexto de urgência climática foi tratada pelo líder comunitário Júlio Fessô, do projeto Realidade Climática. Segundo ele, as mudanças já impactam esse público, seja por enchentes, pelos barracos mal ventilados ou pelo alto preço dos alimentos considerados saudáveis.
Por outro lado, lembra Fessô, as favelas já fazem ações de mitigação, como mutirões, reciclagem ou plantio em barrancos. “Isso não entra em relatório. Uma transição climática justa tem que considerar isso”, afirmou.
Patrimônio
Por fim, o presidente do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), João Paulo Martins, tratou dos impactos das mudanças climáticas sobre os patrimônios material e imaterial. Ele citou como exemplo o deslizamento do Morro da Forca, que destruiu um casarão em Ouro Preto, na Região Metropolitana da BH, em 2022.
A coleta de flores sempre-vivas e as estâncias hidrominerais também foram apontadas como potencialmente afetadas pela seca ou chuva extrema. João Paulo citou ainda a Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, em Chapada do Norte (Jequitinhonha-Mucuri), impactada pela onda de calor em 2023. Portaria recente do Iepha criou um grupo de trabalho sobre o tema, conforme anunciou o presidente.
Paulo Araújo, do Tribunal de Contas da União, fez a mediação da mesa redonda.
A programação do seminário prossegue até esta quinta-feira (5), durante todo o dia, sempre com debates em busca de soluções inovadoras e estratégicas capazes de tornar as cidades mais resilientes aos desafios climáticos. O evento é preparatório para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), a ser realizada em novembro, na cidade de Belém (PA).
