DEPUTADO CRISTIANO SILVEIRA (PT)
Discurso
Legislatura 20ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 04/09/2025
Página 71, Coluna 1
Indexação
54ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 20ª LEGISLATURA, EM 2/9/2025
Palavras do deputado Cristiano Silveira
O deputado Cristiano Silveira – Presidente, preciso estabelecer alguns fatos desse processo do julgamento dos golpistas. A grande verdade é que o ex-presidente já havia alertado que não aceitaria o resultado das eleições caso não fosse o vencedor. Essa é aquela mesma turma que sempre duvidou da urna eletrônica, mas que, a vida toda, se elegeu pelas urnas eletrônicas. Poderiam ter aberto mão do mandato. O Eduardo Bolsonaro, por exemplo, poderia ter dito: “Não, não vou assumir, porque não confio nem acredito nas urnas. Esses votos que me deram são falsos”. O inelegível se tornou presidente com uma votação falsa? Então é um negócio de realidade paralela, sem parâmetros ao longo da história, sem nada igual. Nós nunca presenciamos nada igual a isso.
Vejam que eles tiveram dificuldade de assumir, de fato, a derrota. O próprio ex-presidente não fez todo aquele processo de reconhecer a derrota. Eu me lembro do Fernando Haddad quando foi candidato a presidente. No mesmo dia, Fernando Haddad deu uma coletiva, reconheceu a vitória do então eleito à época e hoje inelegível, foi trabalhar e, no outro dia, tomar conta da vida. O presidente Lula, quando perdeu em 1989, foi tocar a vida para a frente, lamber as feridas, rodar o Brasil, organizar o partido e a base social para voltar novamente. Ele perdeu em 1989; perdeu para Fernando Henrique na eleição que me parece que foi em 1994 e ainda perdeu, de novo, para Fernando Henrique, mas lambeu a ferida e pôs a viola no saco: “Vamos reconstruir, vamos continuar trabalhando”. Perdeu três vezes seguidas: em 1989 e duas para Fernando Henrique, mas nem por isso propôs um golpe neste país nem tomar de assalto o poder. Ele foi eleito e, depois, reeleito, fez a sucessão e agora retorna. É uma história, gente!
O inelegível deveria ter como inspiração a trajetória do próprio presidente Lula, que foi perseguido da forma como foi perseguido. Um instrumento do aparato jurídico judicial deste país foi utilizado à conveniência de uma mentalidade política. É só ver o que foi a Vaza Jato e tudo o que ela denunciou, todos os processos da forma que ocorreram, a negociação que o Sérgio Moro fez para poder ter vaga no governo e virar ministro – e era até vaga no Supremo lá adiante para poder fazer o que fez.
Então, assim, é tudo muito claro. E aí o presidente Lula aceitou a condenação, ficou preso mais de 500 dias, reorganizou, foi para a rua, fez campanha e venceu as eleições. Perdas inestimáveis! Ele nunca fez enfrentamento às decisões das instituições deste país. Você viu o Bolsonaro nas manifestações subir no caminhão para dizer: “Este presidente não aceitará mais nenhuma decisão do Sr. Alexandre de Moraes! O Sr. Alexandre de Moraes é um canalha!”. Na frente da turma dele, é corajoso, mas, na hora em que se senta na frente do Alexandre: “O senhor não quer ser o meu vice, não?”. Ah, gente! Poderia ter seguido o exemplo do presidente Lula. Perguntaram a ele à época: “Presidente, por que o senhor não coloca tornozeleira para ir para casa?”. Ele disse: “Não sou pombo-correio nem bandido. Quem põe tornozeleira é pombo-correio e bandido. Não sou nenhum dos dois. Vou provar a minha inocência”. E foi até o final. É uma história inigualável dentro da história política deste país! Mas o outro não! Ele é pirracento, quer anistia e quer que livrem a cambada dele toda, ou seja, aqueles que estão sendo investigados. Foi isso, gente! Que ponto… Quem está acompanhando esse processo…
É o seguinte: “Vamos parar”. “Ah, mas o deputado Cristiano disse isso; e o deputado da direita, aquilo. Disseram coisas distintas”. Todo o mundo tem celular e pode pesquisar na internet as fontes. Só que eles criam este negócio: “Não consuma informação que não seja dos nossos grupos de WhatsApp! A Globo é golpista, a Globo não pode, a Globo é comunista, assim como a CNN, as rádios e o jornal. Só se pode consumir a informação que chega aos nossos grupos de WhatsApp”. Aí fica difícil, porque você não acredita em mais nada, não é? É como o deputado que nos antecedeu aqui. A turma não acredita em nada, ou melhor, acredita: acredita que o alienígena pode salvá-los, porque iam perder a eleição, acredita que a Terra é plana, acredita que vacina faz a pessoa virar jacaré, acredita naquelas bizarrices todas. Para todo mundo que tem um pingo de sanidade, de bom-senso e de senso crítico, basta só olhar, apurar e ler o que está nos autos dos processos: tentativa de assassinato, minuta de golpe!
Acabei de dizer aqui que, quando se fala de tentativa de golpe, imagina-se isto: “Cadê os tanques na rua? Cadê as metralhadoras?”. Nem sempre… Na história mundial, muitas tomadas de poder aconteceram das mais variadas formas. E ali, como estava estabelecido, um golpe ia acontecer – o que não retira a presença da violência. São coisas distintas. Podem não ter achado a metralhadora e não ter havido tanques, mas 44 policiais foram gravemente feridos. Policiais preparados e treinados, que, inclusive, estavam armados, foram gravemente feridos. Aí vão me dizer que foram gravemente feridos pelas doninhas do terço, pelas Bíblias, pelo estilingue? Oh, gente!
O que acho engraçado é que essa turma ficou muito conhecida por ser grande defensora das forças de segurança e dos policiais. Só que, exatamente no momento em que essa turma das forças de segurança e dos policiais colocou a sua vida em risco para defender as instituições brasileiras, nenhum subiu para fazer a defesa deles. Continuam ainda bajulando os criminosos que destruíram as sedes dos Três Poderes e que tentavam criar o ambiente do golpe! Ninguém fez a defesa dos policiais. É bom que os policiais de Minas Gerais que estão nos acompanhando saibam que, se em algum momento tiverem que optar entre vocês e a conveniência da condição deles na política, no poder, vocês vão ser rifados.
Vejam, em depoimentos, PMs dizem que quase foram mortos pelos golpistas no 8 de janeiro. Vou ler de novo para vocês: “Policiais militares afirmaram à Justiça do Distrito Federal que foram agredidos e enfrentaram dificuldades para conter a invasão dos vândalos criminosos no dia 8. As declarações integram o material obtido pela TV Globo e outros veículos de comunicação sobre a posse da CPI dos atos golpistas”. Vejam vocês: “Segundo Marco Aurélio Feitosa, a tropa tinha ao todo 20 homens, além de 16 voluntários. Do outro lado, os policiais estimaram a presença de 200 criminosos, vândalos, na sede da presidência”. E aí declarou: “Esse era todo o efetivo escalado pelo BP Choque por ordem superiores para o dia”. Ou seja, alguém também foi conivente, porque, sabendo da dimensão do problema, escalar um efetivo tão pequeno é dizer a essas pessoas: “Vão lá, que nós queremos colocar a vida de vocês em risco. A vida de vocês não vale nada para defender o Estado brasileiro”. Isso também tem que ser mais bem apurado. E o Feitosa pontuou: “Inicialmente, os policiais não deveriam nem estar no local. De acordo com ele, a tropa havia recebido ordem para permanecer posicionada em um hotel na região central de Brasília. Por decisão do 2º-tenente, o grupo se deslocou ao Congresso Nacional”. E aí ele afirmou: “Fui inicialmente repreendido. Relatei que era iniciativa minha que, se ele determinasse que eu voltasse, eu voltaria, mas que, no meu entender, a tropa de choque tinha que estar próxima ao Congresso. A ausência de reforços, a escassez de materiais, a superioridade numérica dos golpistas foram apontados pelos policiais como fatores para o sucesso do embate. Dois policiais ouvidos no processo disseram ter sofrido lesões : a Cb. Marcela Pinto e o Subten. Beroaldo José. As imagens mostram que os dois caíram de uma altura de quase 3m e foram agredidos pelos golpistas no Congresso. Em depoimento, o subtenente disse quase ter sido morto. Ele classificou o episódio como o pior de todos os distúrbios civis do Distrito Federal que ele já havia vivido”.
Fala do policial que estava trabalhando naquele dia, fala do policial que foi agredido naquele dia, fala de um policial que quase não voltou para a casa ou que quase não voltou para a sua família naquele dia – e hoje estão querendo pedir anistia para essa turma toda, tentando salvar a pele de Bolsonaro e dos golpistas. “O clima no interior era de caos. A gente fala que é do caos total, até porque a nossa tropa estava com aproximadamente vinte homens, talvez um pouco mais, um pouco menos, mas acredito que eram mais de duzentas pessoas lá no interior do palácio. E nós tínhamos enfrentado eles lá fora. O ânimo deles era totalmente agressivo. Inclusive eu quase fui morto. Eu e a Sd. Marcela quase morremos nesse confronto. Nesse primeiro momento, eu estava ferido, fui socorrido. Depois disso, todo ensanguentado, porque nem sabia que estava ferido, mas depois eu fui identificado como lesionado”. Essa é a fala de um policial que agiu naquele dia para ajudar a impedir o golpe que tentou se instalar neste país. Essa é a fala de um policial, e não é de ninguém de esquerda, não; não é de sindicalista petista, não, mas de um policial, provavelmente eleitor daquele que era o responsável por todo o caos que foi instalado.
E eles continuam ameaçando e dizendo que, se forem condenados, o Brasil vai parar – que o Brasil vai parar. Continuam ameaçando todo o mundo. Ameaçam lá dos Estados Unidos. Tramam atentados contra a economia brasileira, que é o que Eduardo vem fazendo com o Trump em relação aos tarifaços, à taxação: se não aliviarem, se não houver anistia, se não “passarem pano” para a nossa turma, outras sanções poderão ser aplicadas”. Isso, na minha opinião, por si só, já é motivo mais do que suficiente para qualquer condenação. E digo: a gente costuma dizer que ninguém deveria produzir prova contra si mesmo, mas o que essa turma tem de habilidade de produzir provas contra eles mesmos é um negócio inimaginável, inimaginável.
Vejam vocês que a imprensa internacional tem falado sobre o que está em curso no Brasil. The Washington Post, um jornal lá dos Estados Unidos: “No julgamento de Bolsonaro, o Brasil enfrenta Trump e o próprio passado”. Diz que, se os Estados Unidos fossem também uma democracia séria, Trump teria tido o mesmo caminho – ele e aqueles golpistas que invadiram, à época, o Capitólio. Portanto o nosso país, ainda que tenha muitas falhas e defeitos, consegue ensinar muita coisa para o mundo. E este país tem responsabilidade para com a democracia; este país tem responsabilidade para com a vida humana; este país tem responsabilidade para com a paz, para com o respeito às instituições e para com a harmonia institucional. E é por isso que eu tenho certeza de que, em breve, nós afastaremos da vida pública todos aqueles que não conhecem mais o sentido do que é democracia e todos aqueles que utilizam os seus espaços, as suas condições de poder para atentar contra, inclusive, a integridade das pessoas, a vida humana, a cultura de paz e a tolerância.
Então, meus amigos, não há dúvida: há muita responsabilidade, sim, de todos esses que são hoje apontados e envolvidos no que aconteceu no dia 8 de janeiro. Repito: mais de quarenta policiais feridos, policiais que acharam que iam morrer, foram machucados, violentados e ensanguentados – policiais que enfrentaram mais de duzentas pessoas extremamente agressivas, policial que teve a cabeça machucada com barra de ferro. Não foram as doninhas do terço, não foram as doninhas da Bíblia, não foi a doninha do batom; foram criminosos altamente violentos. Repito: estão lá as imagens para todos verem, para todos verem o que aconteceu naquele dia. Minuta de golpe, tentativa de assassinato, e chegamos ao ponto de ver um general do Exército alertar o ex-presidente: “Não faça isso, senão terei que dar ordem de prisão para o senhor”. Se alguém acha que isso é menor, honestamente, não está vivendo a realidade deste país. Obrigado, presidente.