DEPUTADO CRISTIANO SILVEIRA (PT)
Discurso
Legislatura 20ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 04/09/2025
Página 70, Coluna 1
Indexação
54ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 20ª LEGISLATURA, EM 2/9/2025
Palavras do deputado Cristiano Silveira
O deputado Cristiano Silveira – Presidente, gostaria de solicitar o art. 164, porque houve uma citação difamatória aos petistas na fala do colega. Então eu gostaria de recorrer ao art. 164.
O presidente – Com a palavra, pelo art. 164 do Regimento Interno, o deputado Cristiano Silveira.
O deputado Cristiano Silveira – Presidente, eu só queria aproveitar este espaço para me contrapor aos argumentos que estão sendo ditos aqui pelos defensores do ex-presidente inelegível e agora, também, preso.
Olha, quando a gente fala de golpe, necessariamente não há que se exigir a presença, por exemplo, de tiro, de arma. O golpe de 1964 deu certo porque havia apoio institucional. Naquele momento, o início de todo o golpe que o País sofreu se iniciou também sem aspectos claros de qualquer tipo de violência. Então eu queria dizer que não deu certo dessa vez porque houve uma reação das instituições brasileiras. As instituições não compraram esse projeto.
Já foi dito e comprovado que havia a minuta do golpe, que o próprio ex-presidente disse que chegou a ler, que teve acesso a ela. Foi dito que havia plano para matar o presidente Lula, o vice Alckmin e o Alexandre de Moraes. Isso foi dito. Nós vimos a delação de Anderson Torres e outros, que trouxeram à luz informações que são gravíssimas. E quando a gente fala do crime de tentativa de golpe, é exatamente essa figura jurídica, já que não há o crime de golpe, porque, se o golpe for dado, não há mais a instituição para você fazer a punição pelo ato criminoso ou pela tentativa do ato criminoso. Então está claro.
Aí o parlamentar volta à tribuna e diz: “As armas que eles dizem que foram usadas nesse golpe eram a Bíblia das doninhas, eram os textos das doninhas, no máximo, talvez, um estilingue”. Aí faço a seguinte pergunta… A fala de um policial: “Quando caí no chão, recebi um golpe de barra de ferro na minha cabeça”. Outra, de 8 de janeiro: “PMs que agiram quase foram linchados. Ao menos 44 ficaram feridos”. Como essas doninhas ficaram tão violentas e conseguiram ferir policiais treinados apenas com os terços? Como essas velhinhas, essas doninhas, conseguiram ferir os policiais com as suas Bíblias ou com um estilingue? Está aqui nas matérias. Houve o depoimento da policial que agiu e atuou no ato, e ela falou na CPMI: “A cabo da Polícia Militar do Distrito Federal Marcela da Silva Morais Pinno, que atuou na repressão aos atos golpistas de 8 de janeiro, disse, em depoimento, que jamais presenciou tamanha agressividade ao se referir aos ataques à sede dos três Poderes”. A policial chegou a ser empurrada pelos invasores na cúpula do Congresso quando atuou na contenção direta aos atos de violência. Ela depôs na CPMI. Mais de 40 policiais feridos, um acabou de falar da barra de ferro na cabeça. Olhe o nível de violência que foi esse 8 de janeiro. Não dá para banalizar, não. Não foi só um batom na estátua, não foram as doninhas; foi um ato violento extremamente agressivo e perigoso. Nós estamos falando de um setor da sociedade – as forças de segurança, os policiais militares – que, em via de regra, em sua grande maioria, é apoiador de Jair Bolsonaro, do bolsonarismo. Porém foram eles que disseram do nível de violência que aconteceu: mais de quarenta policiais agredidos por doninhas com terço e Bíblia na mão? Não.
Então, a Justiça está se cumprindo. Todo o processo está sendo seguido, com amplo direito de defesa daqueles que são réus nesse processo. Mas não dá para banalizar nem diminuir o que está sendo dito, o que está sendo feito. Não dá para fazer isso. Tentativa de explosão de bomba, tentativa de homicídio. Olhem, vou dizer mais: se boa parte desse golpe não foi adiante, foi porque um general alertou o Bolsonaro. A gente gosta de dizer que os militares deram o golpe em 64, mas que, dessa vez, se o golpe não foi levado a cabo, foi porque houve a presença de militares que tiveram coragem de dizer: “Nós não vamos repetir essa história, não”. O presidente – ex-presidente, aliás, ex-presidente inelegível – foi alertado: “Se o senhor fizer isso, sou obrigado a dar voz de prisão para o senhor”.
Então, será que esse povo todo está mentindo, e o santo Bolsonaro é esse homem inocente, que merece receber anistia, perdão e absolvição? Vamos lá: quem está acompanhando de fato o que está acontecendo sabe exatamente a gravidade do risco que este país sofreu. Obrigado, presidente.